Em 3 de Setembro de 1931 o repórter Tintim desembarca em Chicago. Acompanhado pelo seu fiel cão Milou, empreende uma das mais célebres cruzadas de todos os tempos contra o banditismo instalado em terras da América.
Herói positivo por excelência, ainda não tem a seu lado, nesta altura, o "imperfeito" Haddock com que Hergé comporia anos mais tarde um retrato de família mais equilibrado. O périplo americano de Tintim acontece, pois, num tempo em que todas as coisas eram "claras" e "simples". Não é verdade que "bons" e "maus" eram os dois termos da equação, quer se tratasse do país dos Sovietes ou do Congo, cenários das duas aventuras precedentes do herói? Assim volta a ser em "Tintim na América", uma das mais "velhas" e luminosas histórias da série, que só agora conhece a sua primeira versão portuguesa em álbum na colecção com que a Difusão Verbo está a proceder à edição integral da obra do mestre belga.
Se é certo que a história muito deve a esse encanto "naïf" que impregna a incansável e inquebrantável perseguição aos membros do Sindicato dos Bandidos de Chicago, não é menos verdade que algumas das preocupações de ordem social que Hergé sempre manifestou atravessam o álbum, e estão particularmente patentes nessa admirável sequência de cinco quadradinhos em que é denunciada a expulsão dos índios dos territórios onde foi encontrado petróleo.
Todos esses ingredientes temáticos, caldeados através de um traço de uma legibilidade extrema, fazem de "Tintim na América" um clássico cujo valor pode ser aferido pela resistência à erosão do tempo. Porque, hoje como há 60 anos atrás, o prazer da leitura é o mesmo.
© 1995 Público/Carlos Pessoa
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