A Editorial verbo comemora os 75 anos de Tintim com a publicação de um álbum facsimilado, que reproduz a edição de 1934 publicada no “Petit Vingtième”- “Os Charutos do Faraó” e com a edição de um livro muito especial “Tintim e a Alph-Art”!
Tintim e a Alph-Art é o último trabalho do criador de Tintim. Trata-se de um álbum com uma «quase» aventura, uma série de pranchas onde se vê o desenho e o texto do que, com tempo, haveria de ser mais um álbum para os fãs de Tintim.
Aqui se encontram muitos personagens já conhecidos de outras histórias, implicados desta feita numa intriga que envolve o mundo da arte moderna. Apesar de incompleta, não faltam a esta aventura os ingredientes habituais de humor, os trocadilhos, as críticas inteligentes, as alusões a factos verdadeiros e os mal-entendidos, que geram sempre, por parte do leitor, reacções de surpresa e de gargalhada.
É um livro inédito, indispensável a qualquer fã, coleccionador ou apreciador da obra de Hergé!
Este álbum inédito é publicado por ocasião do 75º aniversário do nascimento do famoso personagem
Tintim e a Alph-Art
AUTOR Hergé
EDITOR Difusão Verbo
62 págs., € 10,99
Que mais há ainda a conhecer sobre Hergé e a sua mais notável criação, o famoso repórter Tintin? A resposta é este álbum, que vem completar a edição portuguesa das aventuras do herói. Discretamente, o editor refere na capa que é o "argumento" de uma derradeira história que o criador belga já não pode acabar, integrando a totalidade dos diálogos e algumas das pranchas esboçadas a lápis. É uma obra indispensável para fãs e admiradores incondicionais, mas de interesse um pouco mais problemático para leitores comuns que procuram sobretudo o prazer da aventura e do entretenimento nas histórias aos quadradinhos.
A derradeira aventura
Um pouco de história: a 3 de Março de 1983, Hergé falecia na Bélgica, aos 75 anos, vítima de leucemia e deixava incompleta aquela que deveria ser a 24.ª aventura de Tintin, o mais célebre repórter dos quadradinhos - mesmo se foram poucas as linhas por si escritas.
Eram apenas 42 páginas, só esboçadas, aqui e ali com o desenho um pouco mais avançado, ainda com indecisões de nomes, nalguns casos com sequências alternativas.
Em termos de argumento e diálogos, a obra estava mais adiantada, mas terminava igualmente nas primeiras quatro vinhetas da página 42. Nelas, Tintin encontra-se em situação desesperada, avançando devido à pressão de uma pistola nas suas costas, sendo o seu destino... a imortalidade. Não como o célebre herói de BD que é, mas transformado em estátua, quando o seu corpo for coberto com poliéster líquido, para ser trabalhado por um famoso escultor.
Isto porque, em "Tintim e a Alph-Art", o herói evolui no meio da pintura moderna. A arte foi, aliás, um dos temas que apaixonou Hergé no final da sua vida, enfrentando um bando de falsificadores e traficantes de arte, liderados por um místico que, a ter continuado a história, acabaria por se revelar um dos seus grandes inimigos, o pérfido Rastapopoulos.
Para acalmar os rumores de uma eventual conclusão da obra pelos seus colaboradores, três anos depois, em 1986, era editado um álbum com dois cadernos: um, reproduzia as 42 páginas esboçadas por Hergé; o outro, continha a transcrição dos diálogos. A partir dele, rapidamente surgiram no mercado, a preços exorbitantes e com pequenas tiragens, diversas versões pirata "finalizadas" da história, algumas das quais ainda circulam na internet.
No início deste ano, a 29 de Janeiro, aproveitando o pretexto dos 75 anos de nascimento de Tintin, e tentando revitalizar um catálogo onde há muito faz falta uma novidade, foi editado em França, no formato habitual e ao mesmo preço da restante colecção (tal como a Verbo faz agora no nosso país), "Tintin e a Alph-Art", que reproduz as tais 42 pranchas e transcreve os respectivos diálogos. O volume foi enriquecido com alguns documentos entretanto descobertos, quase todos respeitantes a uma fase mais inicial da obra. Aí, Hergé explorava ainda diversas possibilidades temáticas, nomeadamente o tráfico de droga.
E mesmo estando a história numa fase tão embrionária, uma justificação surge de imediato para a edição: descobrir a forma de trabalhar de Hergé. Como ele ia esboçando a narrativa, como aqui e ali uma ou outra imagem ganhava mais importância, levando-o a aperfeiçoá-la ainda no esboço, como as ideias iam surgindo, sendo postas de parte ou integradas no relato, obrigando, quantas vezes, a renumerar as páginas.
E ver, igualmente, a sua forma de desenhar, repetindo o traço diversas vezes, de forma sobreposta, até encontrar a versão ideal que, mais tarde copiaria, por decalque, para o original.
Há também um princípio de história - quase dois terços de um álbum - escrito já de forma consistente, com diálogos que, em muitos casos, se adivinham definitivos, com um fio condutor consistente e capaz de prender o leitor que chega à fatídica página 42, em que tudo fica em suspenso - desta vez para sempre -, sem se saber qual a sorte do herói. Mas confiando que ele se irá libertar, mais uma vez, de uma situação delicada e aparentemente irresolúvel.
Como nas outras 23 apaixonantes aventuras, que Hergé escreveu e desenhou, muitas delas autênticas obras-primas, que fizeram de Tintin um dos ícones mais celebrados da banda desenhada e do século XX.
F. Cleto e Pina, JN, 22/08/2024
http://jn.sapo.pt/2004/08/22/cultura/a_derradeira_aventura.html