Um projecto do FIBDA 2004 elegeu as 100 bandas desenhadas do século XX. As dez mais votadas foram Little Nemo, Krazy Kat, Tintim, Batman, Spirit, Peanuts, Astérix, Blueberry, Corto Maltese e Maus.
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100 Melhores BD do séc. XX
A 15.ª edição do FIBDA decorre a partir de hoje na estação de metro Amadora-Este
Para comemorar o seu 15.º aniversário, o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), que hoje abre ao grande público e se prolonga até 7 de Novembro, pensou em grande. Não só o espaço do festival surge completamente renovado, situando agora o seu núcleo central no segundo piso da estação de metro Amadora-Este, como foi escolhido como tema e exposição central uma ambiciosa mostra, intitulada 100 BD's do Século XX, que percorrerá as personagens mais marcantes produzidas pela Nona Arte praticamente desde a sua origem.
As expectativas são altas, sobretudo depois de o festival ter sido obrigado a três anos de travessia do deserto, na Escola Intercultural da Venda Nova. Desde que a Fábrica da Cultura fechou as suas portas por falta de condições logísticas, o FIBDA teve de se conformar com um espaço acanhado e dividido em pequenas salas, que comprometia a qualidade das exposições. Além disso, a Escola Intercultural estava mal servida de acessos, transportes públicos e estacionamento, o que provocou um decréscimo relevante de público pagante e o consequente desagrado das editoras, que viram cair significativamente os lucros obtidos no espaço comercial.
Todos estes problemas poderão ser resolvidos com a nova localização, dentro de uma estação de metro e com bastante estacionamento exterior. O FIBDA irá ocupar um espaço de 2500 metros quadrados (pouco menos do que aquele que tinha disponível na Fábrica da Cultura), que irá servir no futuro como galeria comercial. Contudo, tal só deverá acontecer após o crescimento da área que circunda a estação de metro, nomeadamente com o desenvolvimento da Quinta da Falagueira, ainda bastante atrasada. Assim sendo, há fortes probabilidades de o festival se manter no local durante mais alguns anos.
núcleo central.
Acompanhando este novo impulso logístico, a programação do FIBDA pôs igualmente de pé a sua exposição mais ambiciosa de sempre. 100 BD's do Século XX é o resultado de um vasto inquérito, promovido junto de críticos e investigadores de BD do mundo inteiro (responderam perto de uma centena), e prevê-se que seja realizado um levantamento bastante completo das personagens que marcaram a Nona Arte. Os responsáveis, sem desvendarem totalmente os nomes escolhidos, anunciaram já os dez primeiros classificados: Tintim, Batman, Corto Maltese, Astérix, Maus, Little Nemo, Blueberry, The Spirit, Peanuts e Krazy Kat.
Para além das 100 bandas desenhadas encontradas através do inquérito, os organizadores reservaram-se o direito de introduzir mais dez nomes, para corrigir injustiças geográficas (ou seja, para evitar o absoluto predomínio da BD franco-belga e americana) e incluir três autores portugueses, todos eles escolhidos entre a fornada clássica, o que é uma opção discutível, embora politicamente correcta, tendo em conta a mais-valia de alguma da BD portuguesa actual. Os três autores portugueses que foram incluídos em 100 BD's do Século XX são Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento e Vítor Péon.
DN, 23/10/2004
Inquérito internacional dita as "100 mais" da BD mundial do século XX
Uma lista de 100 séries e outra de 100 autores mais representativos da banda desenhada mundial do século XX foi a forma encontrada pelo Festival Internacional de BD da Amadora para celebrar a mudança do século. A iniciativa foi lançado ainda durante a edição de 2002 daquele certame, mas vicissitudes várias levaram a que ela só se concretizasse este ano. Os resultados do inquérito deram lugar a uma exposição que esteve patente ao público até ontem, no âmbito da décima quinta edição do festival da Amadora.Os responsáveis pelo inquérito, João Paiva Boléo e Luís Salvado, sustentam que o se pretendia era "um conjunto de 100 BD e não as 100 BD", como é referido no catálogo central do festival. O número de respostas recolhidas - por sinal, em número de 100, oriundas de vários países do mundo - permite concluir que aquele objectivo foi atingido: "[Cem votantes] constitui um conjunto indiscutivelmente representativo para permitir ter uma noção da excelência de uma arte".Em defesa desta perspectiva é citada a diversidade geográfica e cultural dos votantes, que são maioritariamente portugueses, franceses e americanos. Esta característica justificaria, assim, algum desequilíbrio final nas citações, com prejuízo da fraca representação de países como a Itália, Espanha, Inglaterra e mesmo a Bélgica. Em contrapartida, 50 por cento das séries são americanas e outros 30 por cento provêm de França e Bélgica. Portugal fica de fora, mas há um número de menções relevante para três autores - Fernando Bento, Eduardo Teixeira Coelho e Stuart Carvalhais. Essa relativa injustiça foi corrigida pelos organizadores ao acrescentarem à lista mais 10 "evocações especiais", onde as séries "Quim e Manecas" (Stuart Carvalhais), "O Caminho do Oriente" (Teixeira Coelho) e "Beau Geste" (Fernando Bento) ombreiam com obras de autores que também ficaram de fora (Osamu Tezuka, Ziraldo, Cosey, Carlos Gimenez, Sergio Toppi, Scott McCloud e Marjane Satrapi).Numa breve análise dos resultados, é realçado o equilíbrio geral entre as diversas tendências e géneros, temáticas e correntes estéticas. Ou seja, os adeptos incondicionais da BD de aventuras ou cómica, dos registos alternativo ou "para adultos", dos super-heróis ou do "western" têm razões para se reconhecerem na lista apurada. A reforçar esta conclusão surgem os resultados da lista de autores, também em número de 100, e que deve ser vista como um complemento da primeira.Apesar disso, há inevitáveis omissões, que Boléo e Salvado não se eximem a mencionar. Num "louvor dos ausentes", citam a série El Eternauta (Alberto Breccia) e o argumentista argentino Carlos Trillo. Mas apontam também o dedo a autores excluídos, como Jules Feiffer, Auclair, Emílio Freixas, Enric Siò, Derib, Cosey, Tillieux, Hermann ou Wiliam Vance.São factos como estes que levam o investigador Leonardo de Sá a não ver "nenhum interesse" num inquérito deste tipo, aberto a um leque demasiado heterogéneo de participantes: "Uma metodologia deste tipo equivale a perguntar ao homem da rua e não a especialistas". Afirmando "não acreditar muito nos 'best of'", o mesmo estudioso sustenta que "teria apesar de tudo mais sentido se a eleição fosse feita unicamente por especialistas, pois são eles quem tem o conhecimento profundo e amplo do que foi a BD do século XX". João Miguel Lameiras, pelo contrário, defende o interesse e utilidade de uma iniciativa desta natureza - na qual, aliás, votou. "As listas são sempre subjectivas e dizem mais sobre quem vota do que outra coisa. A maior utilidade é fornecer alguma informação que nos permite avaliar a popularidade das séries", afirma. Segundo este crítico e divulgador, "um inquérito destes é mais um pretexto para falar de banda desenhada, levando os leitores a conhecer séries e obras que de outra forma nunca leriam". Quanto à ausência de portugueses, ela "era previsível, embora possa ser dolorosa para alguns": "A BD portuguesa não tem peso internacional."
Carlos Pessoa, Ipsilon, 08/11/2004

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