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sábado, 24 de dezembro de 2022

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Boneco Rebelde

O boneco rebelde será uma versão portuguesa de Tim-Tim. O herói belga aparecera três anos antes em "O Papagaio" e entra nas três folhas iniciais da primeira aventura do Boneco Rebelde.

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"Aventuras do Boneco Rebelde" de Sérgio Luís

Um lugar mágico da BD portuguesa

Um boneco rebelde, saído de um frasco de tinta, abre portas no oceano, percorre destinos exóticos. Se se disser que o boneco saltou, em finais dos anos 30, do frasco de tinta do seu criador, Sérgio Luís, para as páginas de "O Papagaio", permite-se descobrir um dos legados mais invulgares da BD portuguesa.

A 20 de Maio de 1943 houve uma notícia necrológica, claramente adocicada, para os leitores da publicação infanto-juvenil "O Papagaio". Escrevia-se que Sérgio Luís, "esse moço cheio de talento (...) partiu para essa grande viagem donde não se volta". Deixava concluída a derradeira aventura de "O Boneco Rebelde", cuja última prancha surgia nessa data.

Sérgio Luís, que alguns consideram um dos autores mais relevantes da BD portuguesa, havia falecido três meses antes, aos 21 anos, de tuberculose. Seis meses mais tarde, seguia-se, em circunstâncias idênticas, Guy Manuel, seu irmão, um ano mais novo, e nome que aparece igualmente ligado à génese de "O Boneco Rebelde" - como se esta fosse uma obra marcada pela fatalidade, que o tempo trataria de apagar os vestígios, os mesmos de um boneco que animou durante cerca de quatro anos e que surgem agora reunidos, na sua totalidade, num volume recentemente editado pela BaleiAzul.

Nas concepções de "O Boneco Rebelde" surgem sínteses que Sérgio Luís levaria ao paroxismo, na forma com jogou com as convenções narrativas da BD. Em impurezas gráficas, que tiverem igualmente paralelo, lá fora, em "Little Nemo", de Winsor McCay, e em "Felix The Cat" de Pat Sullivan. Sérgio Luís seria ainda um dos percursores do cinema de animação em Portugal, num pequeno filme de 10 minutos que curiosamente não deixa de estar ligado à sua doença (as radiografias serviriam-lhe de transparências para traçar as sequências). "Os Bonecos Rebeldes", a mostra que a Bedeteca de Lisboa dedicou, no princípio deste ano, à obra dos irmãos Sérgio Luís e Guy Manuel, permitiu ver essas imagens, que aparecem ainda num "flip book", inserido no catálogo.

O prefácio crítico e a organização do álbum da BaleiAzul, pertence a Carlos Bandeiras Pinheiro e João Paiva Boléo, e apresenta, para além de material inédito, algumas pranchas remontadas a partir das páginas do "O Papagaio", por questões, segundo os prefaciadores, que se prendem com a uniformização do álbum.

Quatro aventuras constituem o núcleo do livro, incluindo assim a totalidade dos trabalhos de "O Papagaio"- 1939 /1943 - sobre um boneco, conotado desde o início pela sua rebeldia aos dispositivos da criação. Inspirado vagamente em Tintin - com quem aliás se encontra na aventura inaugural - o boneco rebelde submete-se, logo aí, à sátira, surgindo gags recorrentes à obra de Hergé. Na forma caricatural como é castigado pelo autor, os meios de deslocação tornam-se variados, sublinhando ainda que é um boneco saído de um frasco de tinta; mas estão lá também as súbitas transgressões matéricas: sai de tinteiros, abre portas em tábuas destinadas ao seu salvamento, desenha-se a si próprio ou voa constantemente de terra em terra.

Como fica inscrito no prefácio, "(...) a naturalidade com que passa de uma sequência de suspense para um universo poético e surreal(...)" justifica um género onde surgem premissas do fantástico: quando o boneco se confronta com duas bruxas, uma má e outra boa, que se fundem numa só, irrompe um fluxo de impurezas que joga na apropriação de matérias tão diversas como os romances de cavalaria e contos de fadas. É no resgatar dessas marcas de singularidade - e onde podem ser vistas as figuras femininas desenhadas pelo seu irmão Guy Manuel, sobretudo nas aventuras "O Livro Mágico" e "A Ilha Misteriosa"- que surgem óbvias conotações lúdicas, conferindo uma particularidade a este lançamento da BaleiAzul.

"As Aventuras do Boneco Rebelde" são imagens que habitam um lugar mágico da BD portuguesa que aparece agora à luz do dia.

Título: "Aventuras do Boneco Rebelde"

Editor: Edições BaleiAzul, colecção Bedeteca

Autor: Sérgio Luís

5.775$00, 151 pgs

Nuno Franco, Público


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Revista Tintin / Spirou - Bertrand (sacos plásticos)

 


Publicado no facebook por Alberto Ferreira (2014)



Publicado no facebook por Joao Gonçalves (2021)


Saco da Bertrand - Publicado no facebook por Alberto Ferreira (2022)


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Tintim Na Lousã

É perfeitamente dispensável, quando se fala de Tintim, referir atitudes cheias de selecta paixão, como o fez Hergé por suas próprias palavras, a respeito de algumas qualidades do seu herói: “… o heroísmo, a coragem, a sinceridade, a malícia e o desembaraço”.

Tintim não usa porta-moedas, não preenche declarações de IRS, não tem horário de trabalho e, se sai de casa, não deixa atrás de si preocupações ou compromissos de pais, irmãos ou avós. Não é adepto de nenhum clube de futebol, não tem religião e, como se tudo isto fosse pouco, também não é casado nem sequer tem namorada.

Por tudo isso, Tintim entra no domínio da abstracção, do encantamento distanciado de quem se dá ao luxo de ignorar toda a realidade e arredores. Por arredores quero eu dizer: o amor, o compromisso, a dor, o sacrifício e todas as outras coisas que – diz-se – fazem da vida uma coisa que merece ser vivida. E no entanto… quem não tenha mergulhado numa aventura de Tintim com toda a alegria desprendida deste mundo que atire a Hergé a primeira pedra.

Na minha família mais chegada já vamos na terceira geração de tintinófilos e, atendendo à idade de oitenta anos a que chegou o herói, não é possível pedir mais à tintinófilia familiar. Com uma grande diferença: quando eu era miúdo esperava uma semana longamente ansiosa por mais uma magnífica prancha de saborosas aventuras. Os meus filhos já se regalavam com um álbum inteiro de cada vez, Natais, aniversários, etc. 

Quanto ao Senhor meu neto, recebeu de uma vez todos os álbuns que havia disponíveis na livraria, com encomenda feita dos números que faltavam. Depois queixamo-nos que a juventude é consumista, que exagera nas suas reivindicações e que é insolente: nós é que temos a culpa. Sirva-nos como indulgência o facto de ter mergulhado com entusiasmo na leitura real e dedicada dos álbuns da primeira à última página, o que não deixa de ser obra num petiz que apenas agora começa os seus anos de escola e já domina com gosto a arte da leitura. De quem é a virtude? da arte de Hergé, não tenhamos quaisquer dúvidas.

Tintim funciona agora como funcionou no passado em tudo aquilo que tem de mais deliciosamente eficaz. Não faz falta a este breve escrito definir com rigor o que foi e é o fenómeno Tintim. Tomo a liberdade de falar apenas de uma obra que fiz com carinho paternal, isto é, uma tela com 0,75 m x 0,85 que ilustra a meu modo a noção da “linha clara”, a fórmula plástica que terá sido reinventada na Bélgica para as histórias de quadradinhos. 

Representa vinheta e meia da prancha número 25 do álbum “O caso Girassol”, ofereci-o ao meu filho mais velho, para pôr no seu quarto, em 1981, e está bem guardado na cave das recordações afectivas de toda a família.

Digo reinventada porque, nada havendo de novo sob o sol, já muitas artes antigas visitaram com lucidez esse mundo pitoresco que Hergé também nos oferece, como documento vivo e palpitante de coisas, pessoas e paisagens que faz do nosso mundo aquilo que ele é no quem tem de melhor e, às vezes, de menos bom. Limito-me a referir, muito de passagem a arte fabulosa das estampas japonesas e dos desenhos da Pérsia, da Índia, da China e de tantos outros mundos conhecidos e desconhecidos.


“Last but not the least”, não esqueçamos outros atributos inerentes à figura do ladino repórter que não tem que se maçar a escrever notícias. Sendo uma espécie de cavaleiro andante de causas bem intencionadas, está muito longe dos super-heróis que as histórias de quadradinhos produziram às toneladas. É baixito, tem uma fraquíssima figura, as miúdas não lhe ligam bóia e – embora seja praticamente invulnerável a toda a espécie de acidentes sérios – não se livra, de vez em quando, de levar umas boas tareias!… 

Valha-nos o mito para acreditarmos que há em nós o fermento da divindade e que, se for intenso o talento de sonhar, também podemos um dia ir por uma ribanceira abaixo e levantarmo-nos logo de seguida para lutar por uma causa desinteressada, seja ela a mais acidental.

Quem não salva a alma com muito terá de salvá-la com pouco e a alegria infantil é um universo cheio de virtudes que todos deveríamos saber habitar, para proveito e consolo de toda a nossa humanidade.

Costa Brites

texto e ilustração foram publicados na Revista de informação do SBC, no número de Jan/Fev de 2009. (acrílico sobre tela de 0,75 x 0,85, copiado de HERGÉ, L’Affaire Tournesol, prancha 25, por Costa Brites, 1981)

https://conteudos.sibace.pt/revista/revista_009.pdf


sábado, 10 de dezembro de 2022

Dossier Centenário de Hergé - BDjornal


BDjornal #19 (junho/julho 2007)

O BDjornal surge em novo formato (275 x 205 mm) e com mais páginas (76) e em impressão digital – capa em cartolina de 200 grs. plastificada brilhante e com papel do miolo de 115 grs. - agora com tiragem limitada e distribuição centrada nas lojas da especialidade, apostando decididamente em reforçar o número dos assinantes. O preço de capa é de € 6,00 e a assinatura por 1 ano (6 números) é de € 30,00.

(...)

À habitual crónica de José Carlos Fernandes, "Quatro Aparições Sobrenaturais", desta vez ilustrada por ele próprio, juntamos nesta edição um texto de David Soares, "A Ilusória Invisibilidade" *, sobre a importância do argumentista na banda desenhada e que deverá ser matéria de reflexão obrigatória para autores ou candidatos a autores.

Não querendo deixar passar em branco o facto de este ano ser o do Centenário de Hergé, num pequeno dossier reunimos matéria um pouco diferente daquilo que tem sido publicado ultimamente nos media a propósito das celebrações centenárias do criador de Tintin.

Destaca-se à partida a entrevista, por Pedro Cleto, com Ana Bravo, a autora do livro/tese "A Invisibilidade Do Género Feminino Em Tintin – A Conspiração Do Silêncio", que promete vir a dar muito que escrever nestas páginas (ver o que sobre este livro dizem José Carlos Fernandes e Pedro Vieira de Moura). Juntámos ainda algumas notas de Geraldes Lino sobre Hergé e as apreciações de Pedro Vieira de Moura a duas edições sobre Tintin e o seu criador.

Prosseguindo o seu "Dicionário Universal De Banda Desenhada – Pequeno Léxico Disléxico", Leonardo De Sá apresenta neste número a continuação das letras E e F, que ainda continuarão no próximo BDj. De Leonardo De Sá apresenta-se ainda um texto sobre o Centenário De António Cardoso Lopes (TioTónio). Por outro lado Sara Figueiredo Costa escreve sobre "Dois Livros DE Aandré Lemos" e João Miguel Lameiras apresenta um texto sobre um curioso livro da série "Dampyr", da casa Bonelli, passado em Portugal, com o título Lo Sposo della Vampira.

E para além das críticas de Pedro Cleto e das notícias variadas de Clara Botelho, três BDs curtas merecem destaque: "O Tigre E O Rato", de Ruben Lopez, "O Regresso Do Amok Verde", de Álvaro e a prancha "O Menino Remi", de Pedré... ou seja, de Pedro Alves, no início do Dossier Hergé.

Das bandas desenhadas em continuação, saliente-se que chega ao fim o 2º Capítulo de BRK e chamamos a atenção para o facto de "SEXO, MENTIRAS E FOTOCÓPIAS", a BD de Álvaro, que tinha vindo a ser publicada de modo a poder ser destacada e coleccionada, ter perdido essa característica. Com a alteração do formato, não fazia sentido continuar a publicá-la da mesma forma.

SUMÁRIO

4. A BANDA DESENHADA NA PLANÍCIE ALENTEJANA, J. Machado-Dias

6. ENTREVISTA COM DAVID B., Nuno Franco

8. ENCONTROS DE STO. TIRSO COM POUCA BD, Clara Botelho + UM FESTIVAL ASSUMIDAMENTE MICRO, Mário Freitas

9. QUATRO APARIÇÕES SOBRENATURAIS, José Carlos Fernandes

10. A ILUSÓRIA INVISIBILIDADE, David Soares

13. DICIONÁRIO UNIVERSAL DE BANDA DESENHADA, Leonardo De Sá

15. VALORES SELADOS – RONALD SEARL – 2, Nuno Franco

16. OS 20 MELHORES FRANCO-BELGAS DE 2007 (1º SEMESTRE), Clara Botelho

17. BD – O TIGRE e O RATO, Ruben Lopez

23. BD – BRK, Filipe Pina (arg.) e Filipe Andrade (des.)

30. BD – O MENINO REMI, Pedro Alves (Pedré, Toonman)

31. HERGÉ 1907/2007 – ECOS DO CENTENÁRIO, Clara Botelho

32. TINTIN É UMA OBRA PERFEITA, entrevista de Pedro Cleto com Ana Bravo

34. NOTAS SOBRE HERGÉ, Geraldes Lino

35. TINTIN NO TERTÚLIA BDZINE, J. Machado-Dias

36. HERGÉ, Pedro Vieira de Moura

37. TINTIN AND THE SECRET OF LITERATURE, Pedro Vieira de Moura

43. BD – O REGRESSO DO AMOK VERDE, Álvaro

47. BD – OS MONÓLOGOS MONÓTONOS DE UM VAGABUNDO, Hugo Teixeira

53. NOTAS SOBRE DOIS LIVROS DE ANDRÉ LEMOS, Sara Figueiredo Costa

54. DAMPYR EM PORTUGAL, João Miguel Lameiras

56. CRÍTICAS, Pedro Cleto

60. COLECCIONISMO & BD, Pedro Cleto

61. FANZINE – EFEMÉRIDE #2, Geraldes Lino

62. LANÇAMENTOS INTERNACIONAIS, Clara Botelho

64. MANGÁ EM CRISE NO JAPÃO? Clara Botelho

66. ECOS DO FESTIVAL DE CANNES, Clara Botelho

70. A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DE CARDOSO LOPES (TIOTÓNIO), Leonardo De Sá

COLABORAÇÕES – Clara Botelho, Dâmaso Afonso, David Soares, Geraldes Lino, João Miguel Lameiras, José Carlos Fernandes, Mário Freitas, Nuno Franco, Paulo Monteiro, Pedro Cleto, Pedro Vieira de Moura e Sara Figueiredo Costa.

AUTORES DE BANDAS DESENHADAS E ILUSTRAÇÕES – Álvaro, José Carlos Fernandes, Filipe Andrade (des.), Filipe Pina (arg.), Hugo Teixeira, Pedro Alves e Ruben Lopez.

(*) O texto de David Soares surgiu cortado (faltam 5 linhas na página 11, 3ª coluna, 4º parágrafo) por um acidente de montagem.

in KUENTRO - 27/07/2007

BDjornal#19

Nesta edição do BDjornal, que tem ilustração de capa de Álvaro, os destaques vão para os artigos sobre o 3º Festival Internacional de BD de Beja, os Encontros de BD de Sto. Tirso, o centenário de Cardoso Lopes, e as entrevistas de Nuno Franco a David B., realizada em Beja, quando do Festival de BD; e de Pedro Cleto a Ana Bravo, a autora do livro/tese "A Invencibilidade do Género Feminino em Tintin – A Conspiracão do Silêncio". Sobre o Tintin, o BDjornal juntou, ainda, algumas notas de Geraldes Lino sobre Hergé e as apreciações de Pedro Vieira de Moura a duas edições sobre Tintin e o seu criador.

Como é habitual, há, igualmente, destaque à publicação de histórias em banda desenhada. Desta vez, o BDjornal preenche algumas das suas páginas com as seguintes histórias: "O Tigre e o Rato", de Ruben Lopez, "O Regresso do Amok Verde", de Álvaro e a prancha "O Menino Remi", de Pedro Alves. Das bandas desenhadas em continuação, saliente-se que chega ao fim o 2º Capítulo de BRK.

O BDjornal#19 surgiu renovado e com um preço diferente: 6 euros. Mais uma vez, esta publicação merece a compra e a sua leitura.

https://arquivo.pt/wayback/20100529015505/http://www.amadorabd.com/novidades_editoriais.php?a=119

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A Aventura da Banda Desenhada


"As Minhas Aventuras Na República Portuguesa", com texto de Miguel Esteves Cardoso e desenhos de Jorge Colombo, é uma banda desenhada publicada em 28/04/1989 no suplemento "Vida 3" do jornal "O Independente". MEC aparece transformado em Tintim quando refere que comprou livros do nosso herói e não os conseguiu ler. 

sábado, 26 de novembro de 2022

A Porta da China

Pedro Rolo Duarte é o jornalista responsável pelo suplemento DNa que o Diário de Notícias inclui na sua edição de Sábado.

E sem qualquer pré-aviso, não é que, subitamente, no dia 24 de Julho de 1999, P.R.D. faz publicar naquele suplemento que dirige a primeira parte (32 páginas), de uma banda desenhada intitulada A PORTA DA CHINA. E para aguçar o apetite do leitor, bedéfilo ou não, nada mais nada menos que uma capa a cores com o título Macau, acompanhada da legenda: A PORTA DA CHINA, PRIMEIRA PARTE DE UMA HISTÓRIA EM BANDA DESENHADA INÉDITA, EXCLUSIVA, NO ANO DERRADEIRO DA PRESENÇA OFICIAL DOS PORTUGUESES NO TERRITÓRIO.

Note-se que a edição aparece no grande formato 39x27,5 cm, o que valoriza imenso o grafismo, tipo linha clara, em que foi realizada esta excelente banda desenhada.

O seu autor é Paulo Carmo, pintor, 36 anos de idade, e desconhecido até agora no mundo da BD. Na realidade, esta sua estreia faz-se com uma banda desenhada que tinha na gaveta desde 1992. A história que ele conta em dois episódios - Macau, parte I e A Porta da China, parte II - passa-se, obviamente, naquele território.

O herói da história é o jornalista Reinaldo Neves que, de súbito, se deixa envolver numa trama policial onde entra a máfia que domina o sub-mundo do jogo, e onde se movem algumas interessantes personagens que vale a pena conhecer: Laura Lay Lee, uma charmosa morena; Suzana, uma outra rapariga, desta vez loura (com um rosto e um cabelo que lembra o estilo de Milo Manara), esta desaparecida e que é preciso encontrar; James Ray, um americano, conhecimento recente do nosso amigo jornalista, que o ajuda a desembaraçar-se de furiosos perseguidores; e, como não podia deixar de ser, também participa um adivinho, que sabe muita coisa, mas que se chama Nou Sei.





Escusado será dizer que qualquer bedéfilo que se preze, se não comprou tem de comprar os exemplares de 24 e 31 de Julho do Diário de Notícias (passe a publicidade), visto que os dois episódios que compõem a banda desenhada são destacáveis e encadernáveis. UM LUXO INVULGAR! Vê-se que o responsável pelo DNa fez aquilo que muitas vezes desejou que lhe fizessem: uma bd que se poderá guardar como peça rara.


Paulo Carmo 1992 publicado em 1999 no DNa. Com cheiro a Lotus azul e visita do Sr. Georges Remi. (imagens e descrição de Marcelo Andrade)

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

José Ruy

Faleceu José Ruy (1930-2022).

«Já com 4 páginas a mais na revista [Tintin], embora com impressão só a preto e branco, o Dinis Machado ficou com mais espaço para poder anunciar as histórias que iam substituindo as que acabavam entretanto. Deu-me carta-branca para essas apresentações.

Acontece que nas variadas peripécias que aconteciam na redação, por vezes (muitas vezes) caricatas e de grande comicidade, em dez segundos eu riscava num papel a situação, caricaturando a cena, sempre com uma legenda adequada. O Dinis Machado achou que seria interessante passarmos a fazer o mesmo nessas apresentações das histórias.

(...)

Nesta história dos «Charutos do Faraó», substituímos os balões com a frase atribuída a cada um, por hieróglifos. O Henrique Trigueiros tinha uma espiga, o Dinis Machado tinha o machadinho, eu tinha o Coquer, o Vasco Granja que exibia diariamente uma nova gravata ultrapassando-se nos mais inimagináveis padrões, deixava-a pender das ligaduras de múmia e o Mário Correia espalhava todo o conteúdo da sua pasta de couro, concorrente à «Caixa de Pandora». Gostava de tirar partido dos contrastes existentes entre nós, principalmente entre a diminuta altura do Mário Correia e do «pé direito» do Vasco Granja. O António Ramos sempre a ligar, ou a tentar fazê-lo, para a Lombard, a Maria Quirino preocupada com os contratos e à procura do sítio em que os tinha guardado da última vez, o Luís Nazaré a saborear o seu cafezinho, o que ia repetindo ao longo do dia, e o Mário Correia com a sua pasta a despejar mais coisas do que a sua capacidade estimada.»

Apresentação Tintin: Os Charutos do Faraó - 1972
BDBD

Lembramos aqui também um artigo que José Ruy publicou com as peripécias para a ida, em 1958, à Exposição Universal e Internacional em Bruxelas. Numa das fotografias podemos ver o stand dedicado a Tintin.

Bloguedebd



terça-feira, 8 de novembro de 2022

Tintim contra Bush


Odeio o Bush! arghhh! Granda camelo FDP! (perdão aos dromedários e afins), desenho de 2003 como se pode ver. (Gonçalo Pena)

http://goncalopena2.blogspot.com/2008/04/tintim-contra-bush.html


domingo, 30 de outubro de 2022

Desenho de Zé Manel

 


https://www.facebook.com/groups/413955410681748/search/?q=dedicat%C3%B3ria

Marcelo Andrade 25/09/2022 (Tertúlia Bdzine de 1999)

domingo, 23 de outubro de 2022

Carnaval de Torres Vedras - 2008

O Carnaval de Torres Vedras de 2008 foi dedicado à banda Desenhada.

Dupondt - estão a ler o jornal "Freladas do Oeste" que tem uma notícia do Tintin como enviado especial 



Tintin e Milou a passear

Foguetão

O livro aberto tem vários heróis sendo Tintin um deles .

A Banda Desenhada foi o tema escolhido para o Carnaval de Torres Vedras de 2008.

Foliões preparam poção mágica

Preparem-se super-homens e super-mulheres, Manchas Negras e Madames Min, Zés Cariocas e Tios Patinhas, Rucas e Puccas, Patetas e políticos. É hora de sátira, alegria, folia e fantasia. O “Carnaval Mais Português de Portugal” arranca amanhã. Suas Majestades assumem o trono, o presidente da Câmara vai a banhos e vale tudo menos beber em copos de vidro. Suas Altezas Dom Sódigo ONomeAmanhã e Dona RealConfraria NãoSe Descose já anunciaram o tema para 2008: A Banda Desenhada. Na aldeia torriense todos correm aos baús, surripiam fatiotas às irmãs e aos avós e obrigam mães de família a autênticas maratonas de costura. A poção mágica está pronta para ser dada a quem não caiu à nascença no caldeirão do Carnaval. A festa está prestes a levantar voo só ainda não sabe onde irá aterrar. Mas será, com certeza, em algum aeroporto onde seja permitido fumar.

Por enquanto ainda é tempo de martelos e não de martelinhos; do som das máquinas de costura e não do batuque dos saltos altos das míticas matrafonas; do cheiro das colas e vernizes dos estaleiros e não dos perfumes de marca ou de bafio que se soltam das coloridas máscaras e cabeleiras; de cores feitas a tinta para madeiras e não de tintas para o rosto.

É tempo de preparativos e de contagem decrescente para os foliões.
É tempo de contra-relógio nos bastidores do Carnaval de Torres Vedras. Aqui não há tempo para pensar na folia até ao início da história que, este ano, será feita aos quadradinhos com a Banda Desenhada a dar o tema ao “Carnaval mais Português de Portugal”.

Soma a centena os homens e mulheres sem rosto e sem direito a figurar na ficha técnica deste “livro” que trabalha com afinco desde Dezembro para a festa que a Promotorres, empresa municipal, pretende transformar num produto de “marketing territorial”.

Pintores, escultores, carpinteiros, designers, electricistas, motoristas, bilheteiros, cozinheiros, seguranças, polícias, autarcas e técnicos camarários trabalham com afinco na construção dos carros alegóricos, na iluminação e instalação sonora das ruas cidade e na organização dos corsos carnavalescos.

No total são 500 mil euros de orçamento, o maior investimento de sempre para o Carnaval de Torres Vedras. “Os territórios hoje precisam de uma imagem de diferenciação em relação aos restantes, ou seja, do seu marketing territorial”, diz António Esteveira, presidente do conselho de Administração da Promotorres. “O Carnaval tem essa potencialidade e para ser um instrumento visível tem de ter qualidade”, reforça justificando o investimento. Meio milhão de euros, dos quais 280 mil euros são destinados aos oito carros alegóricos e ao monumento que figura, desde dia 19, na Praça da República. Mais de metade do investimento (52 por cento) para a “face mais visível” desta festa.

Assumida, até à data, pela Câmara Municipal como uma festa que dá prejuízo aos cofres do município, o Carnaval 2008 poderá ser a excepção. Além da duplicação do subsídio camarário para 200 mil euros, há uma aposta assumida nos patrocínios iniciando um caminho que António Esteveira pretende incrementar nos próximos anos: obter receitas cada vez mais através da publicidade e menos das bilheteiras, estas últimas dependentes das condições climatéricas. Este ano, se S. Pedro ajudar, “as contas ficarão equilibradas”, acredita a Promotorres. O novo cocote transformado este ano em cubo de esponja com 6 faces vendáveis será um dos trunfos para obter mais proveitos. As quatro ruas do corso e as entradas no recinto do corsos passam a ter patrocinadores. Para o ano, a estas apostas irá juntar-se um patrocinador do monumento.

“É preciso termos uma pessoa a vender Carnaval o ano inteiro”, acrescenta Sérgio Lopes, secretário-geral da Promotorres.

CARNAVAL TODO O ANO
A profissionalização cada vez maior da organização do Carnaval de Torres Vedras, tem repercussões também nas empresas que trabalham para a festa. A Guliver, empresa de animação visual, é um dos exemplos. Bruno Melo é o responsável da equipa que projectou e executou o monumento, assim como sete dos oito carros alegóricos. Uma equipa de 60 pessoas assegura, desde Setembro, o trabalho para o Carnaval de Torres e para as encomendas da empresa. No “pico” dos trabalhos, em Janeiro, 70 por cento da equipa da Guliver, está dedicada ao Carnaval torriense.
“Sempre defendi que o investimento nos carros de Carnaval era um desperdício”, diz o criativo torriense. “São milhares de euros de investimento e horas de trabalho para oito horas de desfile (4 horas no domingo e 4 horas na terça). Daí que, este ano, comecem a ser dados os primeiros passos de um Carnaval que Bruno Melo defende que deve “interagir com os torriense mais tempo”. Além do monumento, a Guliver engendrou uma espécie de “dois em um” com o “conteúdo” de dois carros alegóricos a figurar em permanência na cidade até à data dos corsos em dois locais distintos: rotunda na confluência da Avenida 5 de Outubro e R. Henriques Nogueira (carro “Nas Teias da Justiça”) e cruzamento R. Henriques Nogueira e R. José Lopes Junior (carro Capitão América).
Este ano, também, é ambição da Promotorres dedicar uma rotunda ao Carnaval de Torres Vedras transformando a festa num “produto de marca da cidade o ano inteiro”.

MATRAFONAS MAIS VAIDOSAS
O ano inteiro é quanto esperam os foliões torrienses pela festa que decorrerá de 1 a 6 de Fevereiro, embora na cidade já se “respire” Carnaval desde a passagem do ano… pelo menos.
Na cidade não há costureira que escape aos foliões, ou mãe de família que consiga fugir às linhas e agulhas. No atelier Alda Faria, os pedidos começaram em Dezembro, mas foi no início de Janeiro que o trabalho chegou em força, obrigando a equipa de três costureiras fazer serões e a pedir reforços. “Surpreendentemente são os homens que dão mais atenção aos pormenores”, revela Alda Faria que pode ser das poucas costureiras do país a viver o insólito de hoje poder estar a medir umas pernas peludas para fazer uma mini-saia, ou um peito para um top de lantejoulas. “Uns querem soutien, outros não”. É à vontade da matrafona.
Mas o Carnaval torriense atinge todos de igual forma sejam homens ou mulheres, crianças ou seniores. No grupo da Associação da Orjariça, vencedor de vários concursos de máscaras, são quase 80 os elementos com idades entre os três meses (sim, meses) e os 56 anos que irão desfilar pelas ruas torrienses.
Além da vontade de “divertir e dar boa imagem ao Carnaval de Torres Vedras” todos têm um denominador comum: não revelar as máscaras aos jornalistas. Afinal, nunca se sabe quem, nesta história aos quadradinhos, vai sair satirizado.

CARNAVAL EM NÚMEROS
Orçamento: 500 mil euros
Livre trânsito: 10 euros (acesso aos três corsos de Carnaval).
Ingressos: 5 euros para cada um dos corsos (sábado à noite, domingo e terça-feira à tarde).
Corso escolar: 6.500 alunos
Concurso Grupo de Mascarados: mais de 3 mil participantes
Cavalinhos e grupos de animação musical: 300 participantes
Tripulantes de carros alegóricos – 60

NOVIDADES
- Substituição dos tradicionais cocotes por cubos de esponja.
- Proibição da comercialização e consumo de bebidas em garrafas e copos de vidro.
- Animação na zona do corso na tarde de sábado, 2 de Fevereiro. Acesso condicionado a portadores de bilhetes ou livres trânsito ao recinto a partir das 16h00.
- Abertura do Baile Tradição à população, na segunda-feira, no pavilhão Multiusos, pelas 15h00.
- Concurso de mascarados aberto a um mínimo de 20 participantes por grupo.

PROGRAMA OFICIAL
- Sexta-feira, 25 de Janeiro, 21h30 - Festa de Apresentação do Carnaval 2008 pela Real Confraria do Carnaval, no Teatro-Cine.
- Sexta-feira, 1 de Fevereiro, 09h30 – Corso escolar; 21h30 – Chegada dos Reis do Carnaval aos Paços do Concelho.
- Sábado, 2 de Fevereiro, 16h00 – Tocandar; 21h30 - Corso nocturno/concurso de mascarados.
- Domingo, 3 de Fevereiro, 14h30 – Corso diurno.
- Segunda, 4 de Fevereiro, 15h00 - Baile Máscaras Tradição; 21h00 - Corso Trapalhão.
- Terça-feira, 5 de Fevereiro, 14h30 – Corso Diurno.
- Quarta-feira, 6 de Fevereiro, 21h00 – Enterro do Entrudo com cortejo da Praça da República ao Tribunal e fogo de artifício.
Em todas as noites haverá animação feita por disc-jockeys na Praça da Batata e no parque de estacionamento dos Jardins de Santiago.
Os Tocandar assumem a animação de todos os corsos da cidade.

O CUBO-COCOTE
Caberá à empresa torriense Opio – Objectos de Publicidade e Imagem Organizada a feitura dos cerca de 100 mil cubos de esponja que, este ano, vão colorir os corsos do Carnaval de Torres Vedras.
O fim do cocote tradicional – um pequeno embrulho de papel com serradura – feito manualmente, nos últimos anos, pelos sócios da Associação de Reformados de Torres Vedras, anda a ser ponderado de há dois anos a esta parte e tem dois motivos: “O primeiro tem a ver com a segurança das pessoas pois temos um histórico de registos de alguns incidentes, sobretudo oculares”, explica António Esteveira. Segundo, “o cubo é mais limpo, não deixa resíduo e as pessoas poderão levar como recordação pois haverá um cubo para cada Carnaval”. Os que ficarem, podem ser reciclados.
“Foram apresentadas várias alternativas mas esta acabou por se revelar a mais interessante por possuir faces que podem ser personalizadas por patrocinadores”, complementa Luís Besteiro, da Opio.
O cubos são também uma inovação em termos de objecto publicitário quer para a Opio, quer para a fábrica que efectuou os cortes e empresa que procedeu à impressão das faces. Com todos os testes superados, só falta agora atestar nos foliões.

MONUMENTO À BANDA DESENHADA: É o projecto mais arrojado de sempre da Guliver. Com núcleo na Praça da República estende-se até ao Jardim da Graça e Rua 9 de Abril. São 16 metros de altura, 80 m2 e 55 mil euros de investimento, menos que o Pai Natal Marioneta. Batman, Homem-Aranha, Super-Homem e Hulk são as figuras centrais desta história que conta ainda com um assalto dos irmãos Dalton, dos inspectores Dupont e Dupont disfarçados pelo “Freladas do Oeste” ou do pateta sem licença para pescar nas límpidas água do Obelisco torriense. Pormenores que parecem não ter fim, para ver, ler e rever.

O SENHOR DOS APITOS: Carro da We Dream/Guliver que utiliza duas técnicas inovadoras de impressão e corte digital que permite a transposição mais fiel das caricaturas para grandes formatos. O dirigente do Futebol Clube do Porto surge montado num super-dragão enquanto Carolina Salgado prepara uma poção mágica ao jeito da Madame Min. Maria José Morgado aproveita e dá uma estocada no Dragão… desconhece-se se a figura vai reagir.

O INCRÍVEL MINISTRO DAS FINANÇAS: O Ministro das Finanças surge personificado no Incrível Hulk que persegue pequenos porquinhos mealheiros espremendo-os até ao último cêntimo. Concepção e execução da WeDream/Guliver.

MILLION DOLLAR TOYS: Um carro que mostra o entusiasmo dos políticos portugueses José Sócrates, Cavaco Silva e Paulo Portas a desembrulharem os seus “brinquedos de milhões”: aviões, submarinos e helicópteros. Sofreu as alterações possíveis à última hora devido à mudança súbita de rota do brinquedo do primeiro-ministro. Concepção e execução da WeDream/Guliver.

CAPITÃO AMÉRICA: O gigante super-herói americano Bush aplica um golpe de wrestling ao planeta terra, num carro concebido e executado pela WeDream/Guliver.

CARRO DOS REIS: Concebido pela WeDream/Guliver o Carro dos Reis será dedicado à Banda Desenhada com Suas Altezas a fazerem parte das diversas histórias aos quadradinhos que vão sendo folheadas nas costas.
É o maior carro do corso alegórico que este ano surge com menos carros e de menor dimensão para possibilitar um ritmo mais rápido ao desfile.

ESPÍRITO DOS OCEANOS: Carro concebido e executado pela empresa de animação torriense Impacto Visual, da responsabilidade de Fernando Sarzedas e Hélder Silva. São utilizadas pela primeira vez tintas totalmente ecológicas à base de água. Inspirado no evento Ocean Spirit é dedicado à sátira local. O Rei dos Mares distraiu-se com os líquidos mais festivos, esqueceu-se do vento e das ondas, e deixou em terra o executivo camarário já preparado para as manobras radicais.

NAS TEIAS DA JUSTIÇA: Carro concebido e executado pela WeDream/Guliver datado de 2058, ano em que os Casos Casa Pia, Apito Dourado e Fátima Felgueiras ainda duram perante uma Justiça já envelhecida e coberta de teias de aranha.

BRINCADEIRAS DE JARDIM: Aqui o lendário presidente da Ilha da Madeira é o filho de duas bananas que passeiam o rebento num carrinho decorado com um móbil repleto de políticos do continente, que balançam ao toque do menino… Concepção e execução da WeDream/Guliver.



https://vedrografias2.blogspot.com/search?q=tintin

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Com Um Escaldão

O Alberto Quintas, que é um designer do caraças e também um rapaz muito tímido, está sempre a ceder-me alguns dos seus bonecos para eu fazer vistaço na minha página e ganhar muitos likes à conta dele no Facebook. Seria uma injustiça se eu não citasse as fontes.

Esta manhã o Quintas decidiu criar uma nova capa para o "Tintim em Lisboa Com Um Escaldão" que de certa forma contrariasse a capa diluviana do "Tintim em Lisboa" que circulou há uma semana pelo Facebook (cuja capa não era do Quintas). 

Já fui censurado aqui uma vez por ter postado uma foto de dois turistas a tomarem banhos de sol em pelota no Cais das Colunas em Lisboa. Ao publicar esta capa do Tintim em topless arrisco-me a ser novamente admoestado pela administração. Mas também posso dizer que a culpa é do Quintas.

MC Somsen, 20 de Outubro de 2014  · 

2011

https://www.flickr.com/photos/divingbetweentherocks/5643137095/

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Premiados

Separata com os premiados no Passatempo Walt Disney- Revista Tintin 15° ano, n°2 - 22/05/1982



terça-feira, 11 de outubro de 2022

Tintim por Tintim


maio 3, 2022

por David Siqueira, em portuguesices, T

Tintim por Tintim é uma expressão usada para dizer que algo é bem explicado, aos pormenores, nos mínimos detalhes.

https://portuguesices.com/tintim-por-tintim/

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Variantes - Uma homenagem à BD portuguesa

«Desde aquela que é considerada a primeira BD Portuguesa (Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro Sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb Pela Europa) em 1872, até ao fim do século XX, com Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, dos jovens João Fazenda e Pedro Brito em 2000, este livro traça um percurso pelas bandas desenhadas produzidas em Portugal, e homenageia criadores e personagens, numa tentativa de realçar momentos e autores que se foram destacando pela qualidade e significado, numa arte que teima em persistir, mesmo não existindo no contexto nacional».

É assim - em tom de provocação - que Júlio Eme, editor deste projecto inédito começa por apresentar o livro colectânea que se propõe fazer a devida homenagem à BD portuguesa, concretizada numa obra extensa, atenta, representativa da diversidade da 9º arte nacional até ao ano de 2000. Variantes – Homenagem a BD Portuguesa começa desde logo com a descoberta de Bordallo Pinheiro como precursor de uma aventura com muitos nomes a destacar a partir daí. Mesmo enfrentando a difícil penetração num mercado que teima em não se abrir, apesar do reconhecimento internacional e prémios.

http://biblobd.blogspot.com/2022/09/variantes-uma-homenagem-bd-portuguesa.html

 "O Boneco Rebelde" de Sérgio Luiz era uma versão portuguesa de Tim-Tim que aparecera três anos antes em "O Papagaio" e entra nas três folhas iniciais da primeira aventura do Boneco Rebelde. No livro "Variantes - Uma Homenagem à BD portuguesa" aparece uma homenagem de Paula Cabral ao Boneco Rebelde com a recriação desse encontro com o herói belga.



sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Tintin Anual

Foram publicadas cinco revistas anuais, entre Dezembro de 1974 e Dezembro de 1978. A primeira "Tintin Anual" apresenta uma capa interessante onde se pode ver Tintin, Milou, Haddock, Prof. Girassol e Dupond & Dupont junto aos destaques da edição.


Mais informação no blog dedicado à Revista Tintim:

Os Tintins Anuais!

Capas de revistas "Tintin" com as aventuras de Tintin e outras em que aparece na capa.

https://tintinofilo.weebly.com/portugal1.html







sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Algarve 1973

 

No site de leilões Delcampe está à venda uma fotografia a preto e branco com uma criança a ler um exemplar da revista Tintin.

Legenda:  Ilha do Farol, Olhão, Agosto de 1973

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Maria João Marques enquanto tintinóloga


Ora o Tintin é um assunto sério para mim. Se calhar na minha biografia/apresentação aqui da Capital Mag devia constar o epíteto de ‘tintinóloga’ – e com toda a justiça e falta de modéstia, porque sou. A minha devoção por este tema é tal que quando casei as mesas tinham nomes das personagens dos livros do Tintin.

Em minha casa pululam artefactos with all things Tintin. Desde um bule (a que infelizmente já parti a tampa e agora serve de jarra de flores) com umas impressões do Tintin e do Capitão Haddock no fundo do mar e no submarino-tubarão de "O Tesouro de Rackham, o Terrível". (Mas ainda permanecem duas chávenas de chá, as chávenas de café e duas leiteiras. Ufa.) Tenho mais umas chávenas de chá de outra fornada mais recente, que a loja da Avenida de Roma mandou vir de propósito para mim, estas com desenhos dos "Charutos do Faraó" em tons sépia. Os miúdos, quer gostem ou não, têm vários quadros [no quarto] do Tintin. E nem sequer são quadros normais como os posters das capas dos livros – isso toda a gente tem. São uma série de quatro gravuras com partes dos desenhos do "Ceptro de Ottokar" e, a pièce de résistance, uma pintura em pastel misturado com uma gravura do Tintin na Lua que comprei ao autor na loja de brinquedos ao pé do Romerberg em Frankfurt. E mais umas (numerosas) coisas.

Além, claro, dos livros com a banda desenhada que tenho em casa, por vezes repetidos. E de livros sobre os livros do Tintin. Afinal Hergé, o autor, é um artista de mão cheia. A ligne claire, a sua forma de desenhar, merece ser apreciada por si mesma. E é um autor e um contador de história de primeira água. O ritmo da narrativa agarra-nos, as histórias são inteligentes, Hergé chegou mesmo ao ponto de desenhar um livro inteiro em que não se passa nada ("As Jóias de Castafiore") – e que delícia que é, tal a mestria do desenhador.

É certo que os primeiros três livros são de uma falta de densidade avassaladora (tanto que por muitos anos "Tintin no País dos Sovietes" não voltou a ser editado). Mas os livros finais vão ganhando nuance, profundidade, ativismo, desencanto.

Nada o ilustra tanto como "Tintin e Os Pícaros", o último livro da série. Aquele em que Tintin, Haddock e Girassol viajam para um país ditatorial da América Latina (que na altura eram praticamente todos) para salvarem Bianca Castafiore, prisioneira do ditador General Tapioca. Para lograrem o objetivo mudam o regime: o novo ditador será o General Alcazar. Mas a mudança política deixa a miséria do país exatamente na mesma. O último quadradinho do livro mostra o avião dos amigos a levantar, visto de uma lixeira onde as famílias mais pobres viviam (uma realidade sul-americana de então; cresci a ouvir falar das pessoas que viviam nas lixeiras de Lima), com os arranha-céus da cidade rica ao longe no horizonte. O quadradinho é em tudo igual ao da chegada de avião, mudam apenas as fardas dos guardas que policiam os favelados das lixeiras.

Mas também existiu ativismo. "Carvão no Porão" denuncia a escravatura de africanos. "O Lótus Azul", passado na China aquando da invasão japonesa de 1937, é um livro político. Os japoneses são mostrados como brutais e até a saída do Japão da S.D.N. lá consta. Hergé foi acusado de ter escrito um livro com mensagem política pouco adequada para dar a ler às criancinhas. E há outros casos.

A Alemanha nazi e, mais tarde, a União Soviética são representadas pela Bordúria, a primeira n’"O Ceptro de Ottokar", a segunda no "Caso Girassol". Neste livro, em plena guerra fria, com os bordurienses-soviéticos a tentarem apoderarem-se de uma arma poderosa descoberta pelo pacífico e distraído Girassol.

Além da presença da política e da História nos livros de Tintin, as personagens que Hergé criou, aparentemente simples, estão longe de lineares. Tintin, um repórter que nunca se vê a fazer reportagens, não hesita em usar o alcoolismo de Haddock quando pretende manipulá-lo para o convencer. Haddock, claro, é um alcoólico nunca totalmente recuperado, que se sente indisposto quando bebe um copo de água (em "O Caranguejo das Tenazes de Ouro"), e que nos diverte com a invenção de uma lista infindável de insultos virulentos.

O que falta nos livros de Tintin são as mulheres. Existem poucas, sempre longe de atraentes, autoritárias, levemente assustadoras. Certamente algumas observações psicanalíticas poderiam advir deste facto. Mas eu, que não sou apoiante de obliterar as obras passadas que não mostrem (nem poderiam mostrar) a moral e os valores do início do século XXI, pendo mais para a inserção de Hergé dentro da sua época, até para evidenciar como estes apagamentos das mulheres são incorretos e injustos e empobrecedores. Hergé mostra o  mundo quando se considerava que todo o espaço visível e público era naturalmente só ocupado por homens. E, na verdade, é bom para usar como caricatura da atualidade. A ausência de mulheres nas chefias e administrações das empresas (por todo o mundo), a falta de representação das mulheres no poder político, a naturalidade com que se excluem as mulheres de eventos mediáticos (a quantidade de painéis inteiramente masculinos, da política às conferências aos programas de televisão)  faz-nos corar de vergonha alheia. Não estamos assim tão distantes de Hergé.

No entanto a vida de Hergé com as mulheres aparece nos livros. O divórcio e o segundo casamento, que provocaram uma crise no católico George Remi (o nome verdadeiro) originaram "Tintin no Tibete", uma das melhores histórias de amizade da literatura, com desenhos ou não. O branco das neves do Tibete são uma procura de pureza por Hergé; e a busca incessante de Tchang (o amigo chinês cujo avião se havia despenhado) por Tintin, uma prova da lealdade que Hergé quebrara com a primeira mulher. Atualmente ainda há quem pretenda que deve chegar, que devemos aparecer apenas desta forma indireta, afinal as mulheres que se expõem publicamente não se podem queixar se lhes atirarem lama, em boa verdade os homens têm o direito ancestral de insultar mulheres sem consequências e a ficarem muito ofendidos se as mulheres tão somente descrevem a realidade a uma luz que lhes é desfavorável.

No ponto das mulheres, Hergé e Tintin são um ótimo ‘not to’ para mostrar. Mas mostre-se, e leia-se. Pelos desenhos e a arte da ligne claire, pela representação dos países onde Tintin teve as suas experiências, pelo que se aprende da História, pelo humor, até por serem um testemunho histórico da forma como se viam determinados grupos na sociedade. E porque são livros que falam de amizade e lealdade e da procura do Bem.

Maria João Marques / Capital Mag, 11/01/2019

É cronista do Público e escreve ocasionalmente ensaios sobre livros e leituras na Ler. Já foi blogger e cronista do Observador e Diário Económico.


EXTRA

«Talvez ainda não se tenha percebido por aqui, mas eu sou uma tintinóloga – não no sentido de expert em Tintin, sabe-se só o que se consegue, mas de consumidora de tudo relacionado com o Tintin, além dos livros da gloriosa série, dos livros sobre a gloriosa série e dos livros sobre o criador da gloriosa série. O meu bule preferido (e já sabem que o chá é um assunto vital) e usado quase todos os dias é em porcelana de Limoges com desenhos do Tesouro de Rackam (as chávenas e a leiteira têm figuras diferentes, mas o bule mostra o Capitão Haddock montado no submarino inventado pelo Girassol depois de inevitavelmente cair do bote para a água na volta da inspecção da ilha do tesouro e ser resgatado em posição duvidosa pelo mencionado submarino). O meu hall tem umas preciosas gravuras do Tintin, emolduradas em azul e verde (que na mudança de casa vão para o quarto do meu filho) do Ceptro de Ottokar e do Lótus Azul. Também há cá em casa um quadro que mostra Tintin no seu fato espacial cor-de-laranja na lua, juntamente com o Milou, numa muito bonita junção de uma impressão de um poster e pintura a pastel, comprada em Frankfurt naquela loja de brinquedos no Romerberg, ao empregado da loja que pintava aqueles quadros e era, inevitavelmente, outro tintinólogo (e que nunca mais encontrei lá na loja, apesar de ter insistido). Por fim, e só para verem o tamanho da tara, as mesas do meu casamento tiveram nomes dos personagens do Tintim. A minha mesa respondia ao nome, claro, de Capitão Haddock, uma das personagens mais geniais de sempre.»

Blog Farmácia Central, 01/11/2008

«O único livro em francês que me dei ao trabalho de ler foi o das entrevistas do Numa Sadoul ao Hergé. E, claro, de tempos a tempos tenho de regressar aos livros para saborear as piadas com o talho Sanzot, as confusões acústicas de Girassol, os disfarces dos Dupondt, as diabruras de Abdallah, a maldade (crescente) de Rastapopoulos, a invasão japonesa da China, os vilões, os terroristas do Irgun (que, em edição posterior, foram renomeados), a passagem da Bordúria de um estado parecido com a Alemanha nazi a outro semelhante à URSS estalinista. E as quedas e desgraças sortidas e palavrões de Haddock, a sua tentativa de se tornar um gentleman farmer depois da descoberta do tesouro de Rackham e da recuperação de Moulinsart, as fugas da Castafiore, as fúrias com o mundo inteiro. Haddock – esse bêbado recuperado pela amizade de Tintin, que não hesitava em manipulá-lo, quando necessário, com uma módica dose de álcool. E, para mim, os livros de Tintin são sobretudo isso, livros sobre a amizade – o melhor livro sobre amizade que já li foi o Tibete, o livro psicanalítico que Hergé escreveu para expiar a culpa que sentia pelo seu divórcio – tanto melhores por não serem amizades perfeitas, mas amizades com zangas, incompreensões, fúrias, manipulações, necessidades de distância, segredos, teimosias.»

O Insurgente, 10/01/2014

A - referências encontradas em artigos de opinião:

«Escolho o livro Tintin e os Pícaros. Lá, Tintin planeia e implementa um golpe de estado que leva o General Alcazar a presidente. A condição que coloca a Alcazar é de, quando no governo, não fuzilar os anteriores governantes nem os seus apoiantes, o que gera discussões acesas com o truculento aspirante. Depois do golpe, o próprio General Tapioca, o presidente deposto, protesta por não ser fuzilado, sente-se desonrado e termina partilhando um desabafo com Alcazar contra os idealistas como Tintin.»

Sobre o General Alcazar, perdão, António Costa - Observador, 11/11/2015

«Nenhum bom pai ou mãe de família resiste a uma eloquente história de amizade. Sabem quem retratou bem amizades? Hergé, com a amizade entre Tintin e o Capitão Haddock ou o jovem chinês Tchang. Para os amigos do mundo animal podemos também incluir Milou, que prescinde uma vez ou outra de roer uns saborosos ossos para ajudar Tintin.»

Lindas histórias de amizade e amor familiar – Observador, 14/06/2017

B - e no facebook:

«Hoje, apesar do pouco frio, pareci[a] o milionário Carreidas, que até nos trópicos tinha de andar agasalhado e se constipava. Foi com certeza punição divina (de uma Hera invejosa, ou por aí) do vestido de alças e das sandálias do fim de semana e da vaporosa túnica de ontem.»

Facebook, 21/04/2015

«E mais um quadradinho do Voo 714. Um que eu adoro: quando Rastapopoulos e Carreidas discutem qual dos dois é detentor de maior ruindade. (E eu prefiro pessoas assim aos sonsos que gostam de apregoar as suas bondades.)»

Facebook, 21/04/2015

«A esquerda por estes dias parece os Dupondt perdidos no deserto, andando em círculos intermináveis e julgando que afinal encontraram um trilho muito requisitado. Só que a esquerda sabe que está a andar às voltas - o objetivo é mesmo não ir a lado nenhum - e está convencida que os outros (que são imbecis) estão também dispostos a ficarem ano após ano às voltas sem irem a lado nenhum, que não notam a mais que evidente vontade de continuarem exatamente com o mesmo percurso (porque têm pavor do possível destino e da viagem), e nem percebem que as supostas tentativas para acertar com o caminho foram nada mais que mentiras encenadas para enganar os tolos. Nunca é tarde de mais para desejar boa viagem e deixar esta gente a andar às voltas enquanto finge que quer ir a algum lado. Sozinha. (E que se atole na areia, é o que desejo.)»

Facebook, 21/02/2015

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Rádio Klow não fala verdade



Texto: Hélder A.

Desenhos: pampam (Pedro Morais)

Cadernos Politika! nº 3, Maio 1989 (Edições Avante / JCP)


Duas das imagens já tinham aparecido em http://tintinemportugal.blogspot.com/2020/03/pastiches-de-pedro-morais.html

sábado, 27 de agosto de 2022

Revisitar um clássico: A Estrela Misteriosa

A verdade é que, quando fiz a trouxa para o mês e meio que iria passar fora de Lisboa, atendendo a várias actividades de formação, fui bastante exagerado na provisão de livros a ler. Para além de uma volumosa história de Cristóvão Colombo, o genovês, da autoria do historiador Luís Filipe F. R. Thomaz, com um delicioso subtítulo – Meu Tio por afinidade – ainda acrescentei um muito interessante estudo histórico-jurídico paterno sobre A Sucessão da Casa e Ducado de Aveiro, uma recente publicação da Editora 2020, Os judeus de Pio XII, de Johan Ickx, e um romance de Camilo Castelo Branco: mais de 1.500 páginas, no total!

Não obstante a abundante literatura trazida de casa, ao chegar ao Caramulo deparei-me com um clássico a que não consegui resistir: L’Étoile mystérieuse, de Hergé, em francês, numa primorosa edição Casterman! Sim, mais uma das muitas aventuras de Tintin, que deliciaram inúmeras gerações de jovens e menos jovens, dos 7 aos 77 anos.

A história resume-se em breves palavras: um meteorito incandescente, que ameaçava colidir com o nosso planeta, provocando a sua destruição, desintegra-se e um troço deste desconhecido minério cai no oceano polar ártico. Ao mesmo tempo que se organiza uma expedição científica internacional – em que não falta um português: “o Prof. Pedro João dos Santos, célebre físico da Universidade de Coimbra” – que se propõe resgatar esse estranho material, que pretende investigar, outra embarcação dirige-se para o local da queda, com o intuito de capturar esse mineral para fins perversos. Nesta luta entre o bem e o mal desenvolve-se a aventura que é, por esse motivo, especialmente aliciante e pedagógica, sobretudo para os mais novos, não fosse o protagonista uma espécie de jovem escuteiro empenhado em fazer boas acções!

Ante uma noite de verão extraordinariamente quente – na altura ainda não se falava de aquecimento global, nem de alterações climáticas! – Tintin apercebe-se de que a elevada temperatura, que até derrete o alcatrão, se deve à insólita proximidade de uma estrela misteriosa, que avança vertiginosamente em direcção à Terra. Apavorado com a ocorrência, dirige-se para o Observatório Astronómico, onde é confirmada a hipótese da destruição mundial. Felizmente, os cálculos astronómicos estavam errados e a fatal colisão não acontece. Contudo, na sua iminência, um tal Philippulus, o Profeta, percorre as ruas da cidade anunciando o fim do mundo e espalhando o terror. Tintin não cede à demagogia do falso profeta e, quando o ouve gritar, sob as janelas da sua casa, aproveita para lhe refrescar as ideias com a água de um jarro despejado, em cheio, na sua generosa careca.

O divertido episódio fez-me lembrar que, também agora, não faltam profetas da desgraça: primeiro eram os que anunciavam o arrefecimento do planeta, depois foram os do aquecimento global, mais tarde optou-se por uma expressão menos comprometedora e mais abrangente – as alterações climáticas – mas sempre no mesmo tom alarmista que, felizmente, a ciência não só não confirma como desmente. Com certeza que a preocupação ambiental faz parte da Doutrina Social da Igreja, mas o sensacionalismo de alguns meios de comunicação social, que tão depressa falam de uma iminente catástrofe, como depois a esquecem – quem fala hoje do buraco do ozono?! – é injustificado e contraproducente: recorde-se a conhecida história de Pedro e o lobo.

As personagens das aventuras do Tintin não são ídolos, mas seres humanos cujas fragilidades são simpáticas. Hyppolyte Calys, o director do Observatório Astronómico, ao descobrir um novo metal, apressa-se a dar-lhe o seu nome, numa divertida alusão à vaidade a que também não são imunes os mais consagrados cientistas. O próprio Capitão Haddock, não obstante a sua bravura de velho lobo do mar, é uma figura contraditória: apesar de presidente da Liga dos Marinheiros Antialcoólicos, é um assíduo consumidor de bebidas espirituosas! Contudo, está longe de ser um hipócrita de refinada duplicidade: é, como todos nós somos também, uma boa pessoa, com defeitos que nem sempre consegue ultrapassar e, por isso, mais do que o desprezo que provocam os fariseus, merece a compaixão de que carecem os fracos.

Quando, depois de inúmeras peripécias, o L’Aurore está prestes a chegar ao local em que caiu o meteorito, para onde também se dirige, a todo o vapor, o Peary, o concorrente barco inimigo, uma mensagem de rádio chega ao Capitão Haddock: um navio, nas imediações, enviou um urgente pedido de socorro. Consternado, o capitão convoca os sábios que integram a expedição científica para os pôr a par da situação. Os cientistas são unânimes no seu parecer: o interesse científico deve ceder ante uma emergência humanitária e, por isso, o barco deve-se desviar da sua rota, para ir ao encontro da embarcação em perigo. Felizmente, Tintin descobre que era um falso SOS, lançado pelo Peary para que, desviando L’Aurore do seu rumo, chegasse primeiro à meta.

Quando se levanta um generalizado coro de impiedosos justiceiros laicos, que querem apedrejar a Igreja pelos crimes de pedofilia dos seus sacerdotes, mas nada fazem contra a chaga dos abusos de menores em tantos outros âmbitos da sociedade, é inevitável pensar que, também agora, os que mais invocam a moral são, muitas vezes, os que menos a praticam. E talvez não seja temerário pensar que também querem assim desviar a barca de Pedro do seu fim, que é a salvação das almas pela proclamação do Evangelho, que é verdade e vida. Nestes tempos de furiosa perseguição anticristã, são também necessários jornalistas isentos que denunciem essa hipocrisia.

Quando Tintin parte, no hidroavião, em direcção ao meteorito, o Milou começa a ladrar desalmadamente. O capitão tenta sossegá-lo, garantindo-lhe o regresso próximo do seu dono. Note-se: do dono! Não é o papá, nem a mamã, nem o cão tem nome de gente, nem ninguém lhe pega ao colo: é cão, tem nome de cão, tem trela e tem dono! Bons tempos aqueles, em que os cães eram cães, tinham nomes de cães e não de pessoas, tinham dono e não papás, nem mamãs, tinham trela e estavam bem cuidados, porque basta haver bom-senso para tratar bem os animais domésticos, que também são dons de Deus.

Uma das características do meteorito, a boiar no oceano ártico, é a forma acelerada como nele se desenvolvem todos os seres vivos. Tintin, ao ver que uma pequena aranha se transforma num bicho imenso, exclama, apavorado: “Senhor, que monstro!”. Uma oração? Talvez, ou então, simplesmente, uma interjeição, que expressa uma convicção universal: a de que, ante uma urgência, o ser humano sente a necessidade de apelar ao Criador. É curioso como o nome de Jesus Cristo é tão frequentemente invocado, nem sempre respeitosamente, nas grandes produções norte-americanas, que não primam pelos valores religiosos e morais. Mesmo que dito inconscientemente, esta referência recorda o cunho essencialmente cristão da civilização ocidental que, apesar de descristianizada em muitos dos seus actuais costumes, mantém ainda uma explícita referência a Cristo, a quem deve o que de melhor tem.

Quando as vagas oceânicas ameaçam submergir o aerólito, onde Tintin espera o hidroavião que o há-de resgatar, o repórter, arriscando a vida, retrocede, para deixar a bandeira da expedição científica sobre o seu cume. Idealismo? Decerto, mas essa é, precisamente, a principal missão dos heróis: a de nos recordar que vale bem a pena dar a vida por um ideal, que vale a pena correr riscos pela verdade, que vale a pena o patriotismo, que vale a pena lutar por um mundo mais justo. Mas a melhor aventura é, sem dúvida, a dos bem-aventurados que tudo deixaram, e perderam, pela glória de Deus e o amor dos irmãos.

Padre Portocarrero in Observador, 20.08.2022