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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Cavaleiro Andante


A minha geração teve uma relação especial com a revista “Cavaleiro Andante”, dirigida por Adolfo Simões Müller. Apesar da resistência que encontrávamos em alguns dos nossos professores de Português relativamente às histórias aos quadradinhos, hoje referidas como 9ª Arte ou Banda Desenhada, pudemos encontrar no “Cavaleiro Andante” e na sua escola um bom aliado na demonstração de que era possível ter qualidade no uso da língua e no incentivo à leitura.  A revista que recebíamos ao sábado, com prazer e alvoroço, permitia termos bons argumentos a favor da qualidade das narrativas ilustradas. Recordo os debates amenos, mas incisivos, no Liceu Pedro Nunes, com alguns professores resistentes e a evolução no sentido do reconhecimento de que esse era um importante contributo para a boa leitura. E assim fomos vendo passarem para o nosso campo os antigos críticos.   

Na Exposição sobre Hergé na Fundação Calouste Gulbenkian recordei esse tempo com António Cabral, o grande impulsionador da iniciativa. Hoje reconhece-se a qualidade excecional do autor belga e o papel fundamental que desempenhou no campo cultural. Do mesmo modo, o introdutor de Tintin em Portugal, Simões Müller, pôde contribuir decisivamente para incentivar o prazer da leitura, com exigência de qualidade. E quando alguns de nós passámos a assinar a revista “Tintin” belga foram as nossas professoras outrora críticas as primeiras a reconhecer os efeitos positivos da BD nos progressos no ensino das línguas, como modo de ligar o multilinguismo, o enriquecimento pedagógico e a abertura de horizontes de um humanismo universalista. António Mega Ferreira já recordou, mais de uma vez, como o Tintin foi um marco de liberdade para a nossa geração. E no caso de Adolfo Simões Müller podemos lembrar os testemunhos de Luísa Ducla Soares, a afirmar que o jornalista e escritor foi um herói da sua infância – “que através dos seus livros, que não esqueço, me iniciou na literatura”; ou de Alice Vieira, a dizer da alegria que era no dia em que chegava o “Cavaleiro Andante”. E David Mourão-Ferreira, recordando o Serviço das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian, lembrava o papel desempenhado pelo diretor do “Cavaleiro Andante” “ao tornar acessíveis e aliciantes, a sucessivas gerações de jovens, algumas obras-primas da literatura universal e, particularmente, da literatura portuguesa”. E João Paulo Paiva Boléo refere Müller como “um dos monstros sagrados da direção de revistas juvenis e de banda desenhada, de que inicialmente nem gostava”.

Nas férias de verão, em casa de meus avós, no Algarve, como não tínhamos acesso ao “Cavaleiro Andante” ao sábado, recebíamos religiosamente, à segunda feira, pelo correio, enviado pelo nosso pai, um pequeno rolo, que era acolhido com entusiasmo. Os correios eram ciosos cumpridores dos prazos e a leitura da revista estava devidamente escalonada, para que, com os meus irmãos, pudéssemos usufruir daquele néctar escrito e ilustrado nas melhores condições. Era uma equipa heroica que cuidava com esmero da revista. Os nomes não podem ser esquecidos – Maria Amélia Bárcia, no secretariado da redação, e Fernando Bento, referência fundamental ao lado dos melhores europeus, na direção gráfica. Depois havia tudo o mais – e sobretudo a magia dos continuados e o “suspense” cuidadosamente cultivado de uma semana para outra. E assim tornámo-nos apaixonados da literatura, do cinema, das artes plásticas, da história e da ciência, acompanhando a mais bela das histórias de uma amizade em “Tintin no Tibete”, seguindo as pegadas no Yéti, o abominável homem das neves, como antes fôramos à lua ou partilháramos a luta pelos direitos humanos em “Coke en Stock”.

Guilherme d'Oliveira Martins, DN, 12/10/2021

 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Quim e Filipe

Entre 1984 e 1986 foi produzida uma série de animação com Quim e Filipe (Quick et Flupke no original). No IMDB são indicados 260 episódios. A duração era de pouco mais de 1 minuto cada.

A obra teve a colaboração de Johan de Moor.

A série deu em Portugal mas em data não conhecida. 

Um dos episódios, com dobragem em português, foi partilhado no youtube por Mónica Albuquerque.




https://www.youtube.com/watch?v=neRfz6M_INc

Production Companies:

Atelier Graphoui / Casterman Animation / Communauté Française de Belgique / Graphoui / Herge Studios

Distributors:

Radio Télévision Belge Francophone (RTBF)

(Belgium, 1984) (TV)

Verenigde Arbeiders Radio Amateurs (VARA)

(Netherlands, 1987-1989) (TV)

https://www.imdb.com/title/tt0432672/

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Deputado Borges de Carvalho


15 DE JULHO DE 1982 - DEBATE PARLAMENTAR

O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Jorge Miranda.

O Sr Jorge Miranda (ASDI): - Sr Presidente, Srs Deputados Entendeu por bem o Sr Deputado Borges de Carvalho anteceder a sua declaração de voto de uma afirmação, segundo a qual a ASDI neste debate se teria pautado por uma submissão a chantagem do Partido Comunista Português Esta expressão e tão descabida e tão injusta que eu limito-me a repudia-la.

Contudo, não deixarei de lembrar ao Sr Deputado Borges de Carvalho que, se chantagem houve, ela foi exercida sobre toda esta Assembleia, incluindo o partido do Sr Deputado...

Aplausos do Sr Deputado César de Oliveira.

...na medida em que, tendo sido agendada para determinado dia da semana passada a votação do artigo 113.º da Constituição, com as alterações vindas da Comissão Eventual para a Revisão Constítucional, essa votação não se fez nesse dia - só hoje foi feita - devido exactamente à iniciativa política do Partido Comunista Português, iniciativa que provocou a celebração de um acordo de que e signatário o partido do Sr Deputado - não o nosso! -, tendente à resolução da questão das disposições transitórias.

Nos e que não cedemos a chantagens, pois nem sequer celebramos nenhum acordo!

Apenas quero dizer que a nossa posição foi a de que, sendo posta a questão, ela devia ser discutida no órgão competente, da Assembleia, e não fora da própria Assembleia.

Aplausos da ASDI, da UEDS e de alguns deputados do PS.

O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Lopes Cardoso.

O Sr Lopes Cardoso (UEDS): - Eu diria que o Sr Deputado Borges de Carvalho perdeu a ocasião de parafrasear um colega seu da bancada AD anunciando uma declaração de voto De facto, o Sr Deputado não fez uma declaração de voto, mas sim declarações sobre os votos alheios.

O Sr. António Vitorino (UEDS) - Muito bem!

Não sabe fazer uma declaração de voto própria!

O Orador: - Aliás, o Sr Deputado Borges de Carvalho comporta-se como o albanês da AD. Eu explico-lhe, se o Sr. Deputado não percebe: no momento mais aceso do conflito sino-soviético e da velha amizade sino-albanesa, nos congressos internacionais os albaneses eram geralmente encarregados de dar os recados mais ou menos malcriados que os chineses julgavam inoportuno dar E o comportamento do Sr Deputado em relação a AD.

Aplausos da UEDS e da ASDI e risos do PCP.

Quanto ao substantivo da questão, o Sr. Deputado vem de certa maneira

acusar-nos, ao dizer que tomamos uma posição de ultima hora, de termos dado uma pirueta. Ai, eu hesito um pouco, pois em matéria de piruetas o Sr. Deputado e o seu partido são, realmente, uma autoridade.

O que acontece é que o Sr Deputado não e capaz de distinguir entre coerência e piruetas, pois se é uma autoridade em piruetas, em coerência não tem autoridade nenhuma!

Aplausos da UEDS e da ASDI.

O Sr Presidente: - Sr. Deputado Borges de Carvalho, embora tenha pedido a palavra para contraprotestar, são já 20 horas.

O Sr Borges de Carvalho (PPM)- - Sr. Presidente, se não houvesse objecção da Câmara, responderia já.

Protestos do PS, do PCP, da ASDI, da UEDS e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que não há bom ambiente para que possa responder agora, o que poderá fazer as 22 horas, quando retomarmos os nossos trabalhos.

Está suspensa a sessão.

Eram 20 horas.

O Sr Presidente: - Esta reaberta a sessão.

Eram 22 horas e 25 minutos.

O Sr. Presidente: - Pedia a atenção da Câmara para o tacto de que a sumula distribuída na sequência da Conferência dos Presidentes dos Grupos Parlamentares hoje realizada, suscitou algumas duvidas e, porventura, até pode conter algum lapso em relação ao calendário e ao horário das reuniões previstas.

Queria esclarecer a Câmara de que as decisões tomadas hoje se referem as próximas semanas e não a semana que esta em curso.

Em relação à semana em curso, portanto às sessões de hoje, amanhã e sexta-feira, o que ficou acordado e o que consta da sumula n.º 50 da reunião da passada segunda-feira, dia 12, onde se diz, nomeadamente, o seguinte na semana corrente haverá reunião na terça-feira ate às 21 horas - não foi assim pelas razões que conhecem -, na quarta-feira e na quinta-feira, portanto hoje e amanhã, haverá reunião de manhã as 10 horas, à tarde ate as 20 horas e à noite ate à l hora da madrugada, na sexta-feira, haverá reunião das 10 às 13 horas.

Isto é o que está acordado, e que confirmo, em relação à semana em curso As alterações que introduzimos, na sequência da conferência realizada esta tarde, dizem respeito às reuniões das próximas semanas.

Se houve qualquer falta de clareza na comunicação que foi distribuída aos grupos parlamentares, peço que ma revelem. Mas a situação e esta.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP) - Dá-me licença. Sr Presidente!

O Sr. Presidente: - Faça o favor.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Sr. Presidente, do nosso lado não temos nada a objectar ao que o Sr Presidente acaba de dizer.

No entanto, queria solicitar, desde já, ao Sr Presidente aquilo que, por falta de tempo, não chegou a ser resolvido na reunião Haveria interesse que o Sr. Presidente determinasse que os serviços distribuíssem os "borrões" do Diário.

O Sr. Presidente: - Esse assunto foi abordado na reunião, Sr. Deputado.

O Orador: - com 48 horas de antecedência em relação ao envio para a Imprensa Nacional Porque, de contrario, e totalmente impossível fazer as correcções - e algumas são indispensáveis - porque de todo em todo não se percebe o que ía esta Isto porque nesta altura tratando-se da matéria que se trata, seria importante que elas tossem feitas.

O Sr Presidente: - Sr. Deputado, mantenho o que disse ao Sr Deputado Jorge Lemos na Conferencia, ou seja, que vamos procurar uma solução que, por um lado, não comprometa um estorço que, como todos sabem, temos estado a fazer, no sentido de um menor atraso na publicação do Diário e por outro lado não comprometa o registo das declarações dos Srs Deputados aqui na Assembleia.

O Orador: - Sr Presidente não e uma questão de registo, e uma questão de emendar gralhas que tornam o Diário ilegível Nos somos pela publicação atempada do Diário mas desde que ele seja legível.

O Sr Presidente: - Certamente Sr Deputado Tem a palavra o Sr Deputado Sousa Tavares.

O Sr. Sousa Tavares (PSD): - Sr Presidente ainda não temos o programa de trabalhos para a próxima semana.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o seu grupo parlamentar esteve representado na conferencia, suponho que pelo Sr Deputado Reinaldo Gomes, que o poderá informar Por outro lado. suponho que o Gabinete já fez a distribuição da sumula que. justamente, ocasionou as dificuldades de compreensão a que me referi. Mas se há qualquer atraso, vamos procurar supri-lo imediatamente.

Antes do intervalo para jantar tinham sido proferidos vários protestos a propósito de uma declaração de voto do Sr. Deputado Borges de Carvalho.

Para contraprotestar, tem a palavra aquele Sr. Deputado.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr Presidente. Srs Deputados Tenho aqui alguns apontamentos de ha bocado mas não sei se estarão completos se darei as respostas cabais, ou se já me terei esquecido de algumas partes importantes dos protestos que foram feitos a minha declaração de voto.

Começaria pelo Sr Deputado Jorge Miranda. Aliás, vejo que este Sr Deputado não esta presente, mas peço aos seus colegas de bancada que lhe transmitam o meu contraprotesto.

Propriamente, antes de contraprotestar, queria prestar as minhas homenagens ao Sr Deputado Jorge Miranda. Terei talvez sido demasiado duro na forma como protestei contra aquilo que, de facto, para mim. merece um protesto veemente Terei talvez sido um pouco duro, e por isso não quero deixar de começar por homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda pela forma como tem entendido a sua missão de deputado e pela forma como contribuiu e continua a contribuir para a revisão constitucional.

Quero homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda, a sua figura de democrata, de professor, de cidadão, de português.

Também não posso esquecer que das intervenções talvez mais profundas e dignas de nota acerca do Conselho da Revolução, terá sido a própria tese de doutoramento do Sr. Deputado Jorge Miranda. Foi de facto, um dos poucos professores portugueses de Direito que teve a coragem de dizer que o Conselho da Revolução era um orgão de soberania não democrático Por isso também a minha homenagem.

A diferença que ha no entendimento das coisas entre mim e o Sr. Deputado Jorge Miranda e talvez uma diferença naquilo que diz respeito ao que e ou não uma cedência a uma chantagem.

O Sr. Deputado Jorge Miranda afirmou que tinha havido chantagem e acrescentou que ela tinha sido exercida sobre todos nos Depois disso disse que quem tinha cedido era a AD e não a ASDI.

Ora para nos a extinção do Conselho da Revolução e linear, e liquida, não tem adiamentos Entre nos não se discute, isso e adquirido Nem podemos pensar, da maneira como entendemos a democracia e os democratas, que para algum democrata possa haver duvidas ou hesitações a esse respeito.

Por isso, mesmo que tosse formalmente, achamos que a atitude da ASDI nesta matéria foi uma surpresa desagradável. Essa, sim, foi uma cedência formal as exigências do PCP Nessa medida a critiquei, nessa medida a continuo a criticar, e não dou qualquer espécie de razão aos argumentos aduzidos.

Quanto ao Sr Deputado Herberto Goulart, queria apenas fazer duas observações V. Ex.ª classificou a l a fase dos trabalhos de revisão constitucional - que antecederam a elaboração do relatório - como atribulada e repentina Se V. Ex.ª estava, realmente, atribulado, devo dizer-lhe que o problema e seu Nos não sentimos grandes atribulações, não nos constou nem nos foi comunicado que houvesse partidos atribulados nesta Casa. Assim, julgamos que o processo se desenvolveu e se encerrou de forma perfeitamente normal.

Quanto ao artigo 113.º propriamente dito.

O Sr. Vilhena de Carvalho (ASDI): - Já há quorum.

Risos.

O Orador: - Faço vénia ao sentido de humor do Sr. Deputado Vilhena de Carvalho, e tomo nota da comunicação de que já ha quorum Vou ser mais rápido.

Em relação ao Sr Deputado Herberto Goulart, devo dizer que quando V. Ex. ª afirma que foi por causa desse final repentino dos trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional que não se discutiu ai esse problema, devo dizer-lhe - como já aqui disse hoje - que o artigo 113.º foi discutido na Comissão Eventual para a Revisão Constitucional, como VV. Ex.ªs sabem, ha muitos e muitos meses Se ninguém levantou o problema foi porque não quis e não porque não pensasse nele.

Quanto ao Sr Deputado Lopes Cardoso, terei que dizer que não sei falar albanês e como já que sou o - albanês da AD", não sei como lhe hei-de responder.

De qualquer maneira, julgo que o que ha de mais substancial no seu protesto e a referência a que não ouviu, da minha parte, nenhuma declaração de voto.

Isso faz-me lembrar uma figura - não do albanês, mas outra muito conhecida na minha juventude e que ainda hoje leio com prazer -, que é a do professor Tornesol.

Quando eu era jovem, traduzia-se para professor Pintadinho de Branco. Uma das suas características fundamentais era ser surdo. Usava uma corneta acústica. Verifico que o Sr Deputado não tem corneta acústica, não ouviu a minha declaração de voto. O mais que lhe posso aconselhar é que se dirija aos serviços de redacção, onde encontra a declaração de voto, inclusivamente, escrita.

Finalmente, foi formulado um protesto pelo Sr Deputado Veiga de Oliveira Este Sr Deputado brindou-nos com uma declaração de voto maximalista, ortodoxa, recuperadora de todos os slogans da mais pura ortodoxia do PCP. Brindou-nos com uma declaração de voto de tal maneira cheia de "molho que ate houve deputados mal intencionados que interpretaram ser essa a causa da saída da Camará, nessa altura do Sr. Deputado Vital Moreira.

Eu não o faço, evidentemente, mas não deixo de notar que o Sr. Deputado Veiga de Oliveira, logo a seguir, teve a preocupação de me tratar por chairman Essa expressão, na língua da Sr. Thatcher e do Sr. Ronald Reagan, talvez seja uma espécie de compensação. Enfim...

Disse o Sr. Deputado Veiga de Oliveira que durante os trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional tinha ficado bem patente que os deputados pensavam que esta matéria só podia ser discutida nesta ocasião e que os deputados pensavam isto, aquilo ou aqueloutro Eu não sei o que os deputados pensam, não tenho dotes de hipnotizador, nunca fiz lavagens ao cérebro a ninguém, para ver o que ía esta dentro.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Dá-me licença que o interrompa?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Desculpe, mas eu não disse isso. O que eu disse e que era proverbial nos trabalhos da Comissão, a sua relativa falta de memória. Isto foi um ponto.

O outro foi que tinha sido discutida a questão de se considerar este artigo 113.º como um artigo de chegada e não de partida. Isto e, o artigo pressupunha a discussão e votação de muitos outros Por outro lado, em subcomissão colocou-se a questão das normas transitórias que poderiam garantir o conhecimento exacto do sentido da votação deste artigo.

Esta é a verdade isto e factual e foi por isso que eu, não querendo chamar-lhe nenhum nome nem imputar-lhe nenhuma mentira, disse simplesmente que era conhecida a sua relativa falta de memória.

O Orador: - Talvez eu tenha falta de memória. Sr Deputado No entanto, a minha falta de memória não e tanta que não me lembre perfeitamente que nenhum partido - muito menos o partido de V. Ex.ª - fez qualquer proposta nesse sentido, que nenhum partido quis que as disposições transitórias tossem discutidas aquando do debate do artigo 113.º. Isso fica tudo dito em relação as acusações que fiz ao seu partido e que neste momento renovo.

De resto, não sei se no fim não nos e legitima uma ultima reflexão. Sr Deputado Não sei já hoje e aqui, se os entraves que o Partido Comunista, com algum sucesso, conseguiu pôr a votação não terão saído furados E isto não porque a votação se tenha feita mas porque tenha sido feita hoje. Amanhã VV. Ex.ªs teriam outra "claque" para os apoiar nestas matérias.

Aplausos, do PPM do PSD e do CDS.

(...)

Debates Parlamentares (1982)

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Tornesol : um indicador do PH


Surdo como uma porta, o professor Girassol é conhecido por nunca perceber o que lhe dizem e andar sempre de cabeça no ar. Exemplo de um diálogo entre o professor e o capitão Haddock, tirado do álbum "O Caso Girassol": Com que então vocês apostaram todos em pôr-me maluco?... Não sei o que me impede de vos correr a todos a tiro de carabina...", barafusta o capitão. "Escarlatina??? Na sua idade?!... Meu Deus!..." O facto de Hergé ter dado este nome ao cientista que, nas aventuras de Tintim anda sempre a inventar de engenhocas estranhas, não deverá ser alheio ao facto de andar distraído a olhar para cima e a virar a cabeça para todos os lados. Um pouco como a flor dos girassóis, sempre à cata da luz do Sol.

Mas há quem diga que o nome de Girassol não deveria ser traduzido para português, e assim deveríamos ter nos álbuns portugueses o professor Tournesol. Ora, em francês esta palavra tem um duplo sentido - de girassol (a esguia planta com as enormes flores amarelas) e de tornesol (a substância química usada como indicador do pH).

O tornesol é uma substância solúvel de cor púrpura extraída de certos líquenes. É composta por diversos corantes e muda de cor. Passa a vermelho, quando está na presença de uma solução ácida (com pH inferior a 5), e a azul, na presença de uma solução básica ou alcalina (com pH superior a 8). A este indicador do pH chama-se azul de tornesol.

Os árabes usavam o tornesol como corante vegetal de tecidos. Foram também os árabes a avançar na classificação dos químicos, fazendo o reconhecimento das soluções de ácidos, bases e sais. Para tal usaram vários corantes vegetais, incluindo o tornesol, que hoje é familiar a qualquer estudante de química. Este indicador pode aplicar-se usando o chamado "papel de tornesol", que é uma banda de papel embebida em solução de tornesol. Mas quem quiser pode fazer papel de tornesol caseiro. Basta embeber um papel poroso, como o papel pardo das mercearias, numa solução aquosa de amoras roxas esmagadas. O papel de tornesol feito com amoras fica vermelho rosado nos ácidos e roxo escuro nas bases.

Sinal de que o nome do cientista algo estouvado se presta a muitas interpretações é o que diz a Tintim e ao capitão Haddock um dos raptores do professor no álbum "O Caso Girassol", ao mesmo tempo que é forçado a abrir a bagageira do carro. "Girassol? Que é isso, Girassol?... Uma planta?... Um animal?... Um produto químico?..." Mais adiante, ironiza ainda: "Pronto, onde está o vosso Mirassol... Na caixa dos primeiros socorros, talvez?"

Teresa Firmino, Público, 16 /01/2004

Copyright: © 2004 Público; TF


Em Portugal chamou-se Professor Pintadinho, Tornesol e Girassol. 

Professor Calculus em inglês. 

Silvestre Tornasol em espanhol (mas esteve previsto Mariposa).

Zonnebloem em holandês. 

Girasole em italiano.

Bienlein em alemão.


quarta-feira, 20 de agosto de 2025

100 anos de BD



A revista Quadrado nº 3 da 2ª série foi lançada em Outubro de 1996. Nessa edição dedicada aos "100 anos de BD" aparecem dois desenhos interessantes com várias personagens incluindo Tintin. Os autores dos dois desenhos são Bruno e Tozé Lopes.

Agradecemos a Pedro Cleto pelo envio da cópia dos desenhos.

O que nos interessa mais são os desenhos e as ligações a Tintin mas aproveitamos no entanto para partilhar informação que encontrámos ao procurar pela origem da efeméride.

+

"100 anos de BD: Yes ou Non" - Inquérito realizado pela extinta Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto-ASIBDP, em 1996, cem anos após o aparecimento do "balão da BD"

Perguntas:

1ª - Concorda com a data escolhida para comemorar os 100 anos do nascimento da BD, coincidente com a publicação de The Yellow Kid, de Richard F. Outcault? Porquê?

2ª - Acha importante as comemorações dos 100 anos da Banda Desenhada? Porquê?

3ª - Destaque os três momentos que considera mais importantes na História da Banda Desenhada.

A resposta seguinte de Geraldes Lino foi uma das várias publicadas no fanzine QUADRADO (nº 3 - Out. 96) pela ASIBDP.´:

1ª - Não concordo.

Reconheço que o Yellow Kid constituiu valiosa contribuição para a divulgação da banda desenhada, visto que a sua publicação nos jornais americanos permitiu atingir camadas vastas e etariamente heterogéneas de leitores. Mas considero ter sido uma decisão artificial e forçada a escolha dessa obra e, por inerência, a respectiva data, para marcar o nascimento da BD.

Porque o processo para se chegar a tal decisão é pouco conhecido, apesar de histórico no âmbito da banda desenhada, julgo imprescindível saber-se quem a tomou, onde, e quando.

Em 1989 reuniu-se em Lucca, Itália, um grupo de especialistas na matéria, expressamente convidados para o efeito. Foram eles:

Álvaro de Moya (Brasil), Claude Moliterni (França), Claude Bertieri (Itália), David Pascal (Estados Unidos da América), Denis Gifford (Inglaterra), Javier Coma (Espanha), Luís Gasca (Espanha), Maurice Horn (E.U.A.), Richard Marschall (E.U.A.), Rinaldo Traini (Itália) e Vasco Granja (Portugal).

Por informação pessoal de Vasco Granja (que inicialmente defendeu os Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa) e de Claude Moliterni, na votação final apenas Denis Gifford votou contra o Yellow Kid, defendendo inabalavelmente Ally Slopper, personagem pioneira da BD inglesa.

Ficou portanto decidido, por maioria, que The Yellow Kid passaria a ser a origem histórica da banda desenhada, por ter sido a primeira obra a integrar balões, cumprindo dessa forma todos os requisitos por ele exigidos.

Assim passou a constar, ad eternum, que a BD apenas existe desde 1896, data em que as falas daquela personagem começaram a ser sistematicamente inseridas em filacteras, popularmente designadas por balões.

É muito controverso um purismo deste tipo. Tanto mais que, em dezenas de definições de banda desenhada, elaboradas por estudiosos tão credenciados quanto os de Lucca, não existe nenhuma que indique obrigatoriedade do balão.

Obrigatória tem sido a exigência de existir sequência nas imagens, e serem publicadas (ou susceptíveis de o ser).

A considerar-se o balão como elemento absolutamente indispensável, muitas obras de qualidade deixariam de poder considerar-se bandas desenhadas. Como, por exemplo, o Príncipe Valente. Além disso, seria tão absurdo como se, no que concerne ao Cinema, nos quisessem impor o conceito de que a sua origem seria datada a partir do primeiro filme sonoro.

2ª- Não. Porque não considero que a banda desenhada tenha passado a existir apenas em 1896.

3ª -

Primeiro:

O ano de 1827, quando o professor, escritor e pintor suiço Rodolphe Töpffer realizou, para os seus alunos, a sua primeira histoire en estampes, intitulada Histoire de M. Vieux Bois. Trata-se, indubitavelmente, da primeira banda desenhada. (Ainda não fora impressa nesse ano, mas era susceptível de o ser, e foi-o, em álbum, em 1837, sob o título Les Amours de M. Vieux Bois.

Segundo:

O ano de 1833, quando, pela primeira vez, foi publicada uma banda desenhada. Intitulou-se Histoire de M. Jabot, era também da autoria de Töpffer, e foi editada sob a forma de álbum.

Terceiro:

O aparecimento do balão na boca do Yellow Kid, em 25 de Outubro de 1896.

Foi isso no episódio The Yellow Kid and his new phonograph. E, por coincidência, é aí que pela primeira vez nesta obra, aparecem imagens em sequência, como é obrigatório na linguagem visual da banda desenhada.

Geraldes Lino, Divulgandobd, 19/11/2006

A resposta apareceu bastante truncada nessa edição do "Quadrado" e o texto foi reproduzido na íntegra no fanzine Tertúlia BDzine, nº 8, Janeiro de 1997.

+

Artigo de João Ramalho Santos (JL) sobre as polémicas com a referida efeméride.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Traduções Portuguesas


Castafiore - Branca Flor (Diabrete), Brancaflor (Zorro)

Cipaçalouvishni - Mal-Uki-Nho (Cavaleiro Andante)


Dupont & Dupond - Zigue & Zague (Cavaleiro Andante, Zorro), Zig & Zag (Diabrete)

General Alcazar - Manduca (O Papagaio)

Tournesol/Girassol - Pintadinho de Fresco (Cavaleiro Andante), Pintadinho de Branco, Professor Pintadinho

Haddock - Capitão Rosa (O Papagaio, Diabrete, CA, Zorro)

Hipollyte Calis - Hipólito Calisto (O Papagaio)

Milou - Rom-Rom (O Papagaio, Diabrete, Cavaleiro Andante, Zorro)

Muller -  Silva (O Papagaio)

Nestor - Ulisses (Cavaleiro Andante, Zorro) - em "Zorro" também parece indicado como Nestor

Oliveira de Figueira - Oliveira de Málaga (O Papagaio)

Tintin - Tim-Tim (O Papagaio, Diabrete, CA, Zorro)

https://tintinofilo.weebly.com/traduccedilotildees.html

As normas do Estado Novo para a publicação de literatura juvenil impunham, por vezes, a tradução para português dos nomes próprios.

[ver vários exemplos na ligação seguinte:]

https://tintinemportugal.blogspot.com/2011/06/o-caso-da-arma-secreta.html

«No entanto, fruto de uma imposição legal que vinha dos anos 50 (da qual Simões Müller seria um fiel cumpridor!), muitos nomes originais foram “nacionalizados”: Dan Dare foi o Capitão Marte; Michel Vaillant rebaptizou-se Miguel Gusmão; Valhardi deu em Valente; o crisma de Gaston Lagaffe transformou-o em Zacarias (!); e até ali alinharam Tim-Tim mais o cão Rom-Rom, o capitão Rosa (Haddock) e o professor Pintadinho (Tournesol)…» (AM/Largo)

Nota: alguns nomes traduzidos já vinham de antes da década de 1950.

TESE DE RICARDO LEITE PINTO

O aportuguesamento das personagens estrangeiros não foi introduzido com a Censura infanto-juvenil. Dos anos 30 e 40 vêm vários exemplos: Weary Willie e Tired Tim por Serafim e Malacueco, Lieutnant Daring e Jolly Roger por Pedro Lemos Tenente e Manel Dez réis de Gente, de Quick e Flupke por Trovão e Relâmpago ou Katzenjammer Kids por Necas e Tonecas, apenas para referir algumas das personagens publicadas no "Mosquito" e no "Diabrete". E são bem conhecidos os nomes pelos quais foram batizados entre nós alguns dos personagens de Hergé aquando da sua publicação nos anos 30 no semanário "O Papagaio" sob a égide de Adolfo Simões Muller. Se a grafia "Tintin" se trasmudou em "Tim-Tim" mais imaginativos foram os re-baptismos do cão que acompanha o jornalista, de Milou em Rom-Rom, do Capitão Haddock em Capitão Rosa ou do Professor Tournesol em Professor Pintadinho. E é claro que o "TinTin no Congo" foi transformado em "Tim-Tim em Angola".

O director da revista justificou a sua opção quase 50 anos depois da seguinte forma: "troquei os nomes de várias personagens do Tim-Tim com o consentimento dos editores e de outras histórias, não em obediência a quaisquer instruções de qualquer censura, mas porque sempre achei disparatado dar a ler aos compradores dos nossos jornais nomes que eles, muitas vezes, nem compreendem. Na adaptação do Tintin, comecei por substituir este nome por Tim-Tim. Na verdade, ou se lê o nome à francesa, ou então está mal escrito à portuguesa". [Entrevista de Adolfo Simões Muller ao Correio da Manhã de 16/01/1982]

(...) Uma campanha teve início em 1950 com a divulgação das "Instruções sobre Literatura Infantil” que previam a criação de uma Comissão Especial para a Literatura Infantil e Juvenil (CELIJ) encarregue de velar por essas instruções. A CELIJ foi efectivamente instituída em finais de 1950 tendo sido  substituída em 1952 pela Comissão para a Literatura e Espectáculos para Menores(CLEM).

«A Censura e as Publicações Periódicas Infanto-Juvenis no Estado Novo: o papel da Comissão Especial para Literatura Infantil e Juvenil e da Comissão para a Literatura e Espectáculos para Menores (1950-1968)» - tese de Ricardo Leite Pinto.

Mais Alguns:

Professor Topolino - Professor Ratola (CA)

Talho Sanzot - Talho Carneiro

Moulinsart - Mil Moinhos

Hergé "TinTin por TinTin" - TinTin em Portugal


A revista ”O Papagaio” fez algumas adaptações das aventuras de TinTin à situação portuguesa, aportuguesando igualmente o nome de algumas personagens, uma condição também para escapar à censura, que obrigou muitas vezes a esse tipo de adaptação de outras obras de banda desenhada estrangeira publicadas no país.

(...)

TinTin foi designado como Tim-Tim, um repórter “português”, o cão Milou transformou-se, primeiro em Pom-Pom e, depois, na “cadela” Rom-Rom, para que o seu nome não fosse confundido com a cantora Milú (...).

O Capitão Haddock foi transformado no Capitão Rosa que, em vez de beber Whisky, passou a beber Vinho do Porto, o professor Tournesol foi baptizado como senhor Pintadinho de Branco e, mais tarde, professor Girassol.

Um dos casos mais estranhos foi transformar um dos poucos “portugueses” originais da série, o “vendedor ambulante” Oliveira da Figueira, que apareceu pela primeira vez na aventura “Os Charutos do Faraó” (1934), num espanhol de Málaga, fugido da Guerra de Espanha (altura em que essa aventura foi editada n’”O Papagaio”), talvez porque fosse considerado uma figura pouco abonatória do ideal do “português” propagandeado pelo Estado Novo.

Venerando


Dossier Tintin 1971 - Tournesol 2







Capitão Rosa


Na versão portuguesa de "A Estrêla Misteriosa", publicada em 1961 pela Flamboyant, vemos fotos dos iminentes investigadores que se juntariam à expedição em busca do aerólito (o fragmento da estrela cadente que caiu na Terra). Neste primeiro álbum publicado com o Capitão Haddock [antes do lançamento de "O Caranguejo..." em 1962], era tratado por Capitão Rosa, como constava na revista semanal "O Papagaio", publicada em Portugal desde a década de 30 [e seguintes]. Foi também apresentado como presidente da "Liga dos Marinheiros Anti-álcoolicos". Em álbuns posteriores, foi renomeado como Capitão Haddock (...).

FS, 27/04/2025

Assim, o nome Rosa surgiu nos anos 30 e 40 em Portugal, na revista "O Papagaio" [e nas seguintes]. Aliás, nessa altura, Milou chamava-se "Rom-Rom" e até Tintim se escrevia Tim-Tim! De qualquer modo, quando a Flamboyant começou a publicar os primeiros álbuns no início dos anos 60, e só no primeiro álbum publicado em que aparece o Capitão Haddock ("A Estrêla Misteriosa"), Haddock foi nomeado Capitão Rosa. Depois desse único álbum da Flamboyant, creio que em todas as edições seguintes de todas as histórias de Tintim, foi chamado Haddock. Depois da falência da Flamboyant no início dos anos 70, assumiu o cargo outra editora brasileira, a Record [a partir de 1969]. Durante um curto período, relançaram algumas histórias utilizando o que era da Flamboyant, pelo que os álbuns ainda eram de capa dura e idênticos aos da Flamboyant, com excepção do nome da editora, mas isso foi apenas durante algumas edições ao longo de alguns anos, na década de 70. Depois disso, a Record começou a publicar todas as histórias em capa mole (para meu horror) e seguindo a ordem pela qual Hergé as publicava (até colocaram um número no canto superior direito da capa: 1-A Estrela, 3 América, 7 Congo [5ª série], etc.). Se alguém deste grupo tiver um exemplar da Record, penso que já o veremos nomeado como Haddock em "A Estrela Misteriosa", embora não tenha 100% de certeza, pois não tenho todos os álbuns da Record, apenas alguns, pois tive um verdadeiro problema com as capas moles. Depois da Record, como disse o Orlando Moreira, veio o Verbo de Portugal e sabemos que já se chamava Haddock nessa altura.

FS, 27/04/2025


[O Papagaio - Tim-Tim No Deserto-1942, A Estrela Misteriosa-1943, O Segredo da Licorne-1947; "Diabrete" - O Tesoiro do Cavaleiro da Rosa-1950 e As Setes Bolas-1951; "Cavaleiro Andante" a partir de 1952 com "O Templo do Sol"; "Zorro" em 1953]

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Revista Tintin

Estava à venda no ebay uma carta dirigida aos leitores da edição portuguesa da revista Tintin datada de 1978. Deve ter acompanhado uma das edições do início de 1978. Foi antes da revista nº 46 de 1 de Abril e procurava angariar assinantes ou novos leitores para a revista que estava no 10º aniversário de publicação. Iam começar novas histórias e também ia começar o 4º grande concurso Tintin com prémios como bicicletas, motorizadas, máquinas de filmar e fotográficas, etc O primeiro prémio era uma Honda Camino.

18/03/1978 - https://revistatintin.blogspot.com/2013/10/10-ano-n-44.html

25/03/1978 - https://revistatintin.blogspot.com/2013/10/10-ano-n-45.html

01/04/1978 - https://revistatintin.blogspot.com/2013/10/10-ano-n-46.html


domingo, 3 de agosto de 2025

António Martinó


António Martinó de Azevedo Coutinho é um estudioso da banda desenhada e no seu tempo de professor teve grande actividade em prol da BD, conforme referiu G. Lino.

blogue "Largo dos Correios" do Prof.  António Martinó tem muitas coisas interessantes mas podemos não reparar em algumas preciosidades que por lá existem. Muitas sobre Tintin...

O uso no blogue da etiqueta Tintin é uma boa ideia mas agrupa demasiadas coisas (301 posts!). E "Tintin no Irão" tem 47 entradas. E 21 entradas no caso de "Lótus Azul". Já para não falar de "Histórias aos Quadradinhos" (1798 neste momento)!

Em breve planeia colocar no blogue um trabalho sobre as quatro versões da obra "A Ilha Negra" de Hergé. De que já falou algumas coisas (e mais ainda...).

Por aqui já partilhamos umas poucas de entradas do seu interessante blogue. Uma delas até era o post "Regresso à Ilha Negra" usando a fotografia de A.M. em pequeno junto a Tintin.


É pena que as etiquetas nem sempre sejam usadas de forma a agrupar tudo o que fosse possível associar. Foram publicadas algumas séries longas de posts e poderia ter sido adequado juntar várias entradas em outras tags adicionais.

Sugestões de outras etiquetas e associação de posts com novas tags/etiquetas. Usar por exemplo uma tag chamada "Tintin e a Medicina".

Tintim Na Catalunha - 2

Jamais Só - 76

Tintim Segundo Marabout - 3

1969 – o Homem (e Tintin) na Lua – 10

Tintin no Congo – 29

From Scotland with Love - 16

Banda desenhada e maçonaria - 2

Tintim e A Medicina - 24

O estranho caso do submarino voador - 20

Tintin volta ao irão - 28

Tintin um herói católico - 15


https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/06/20/tintin-visto-por-herge-ha-cinquenta-anos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/05/04/as-aventuras-de-herge/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2013/04/18/uma-data-de-datas-xxiii-o-papagaio/

* Especial Tintin / Hergé

https://largodoscorreios.wordpress.com/2018/04/01/le-dossier-herge-1971-um/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2019/11/02/1919-1929-dois-georges-belgas-que-ficaram-na-historia-ii/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2019/11/01/1919-1929-dois-georges-belgas-que-ficaram-na-historia-i/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/11/09/as-proximas-edicoes-de-tintin/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/11/02/o-eterno-tintin/

https://largodoscorreios.wordpress.com/category/historias-aos-quadradinhos/tintin/page/22/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/10/02/os-russos-estao-de-volta-restaurados-e-a-cores-dois/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/10/01/os-russos-estao-de-volta-restaurados-e-a-cores-um/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/05/06/mau-morto-e-menosprezado/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/04/30/um-portugues-das-arabias-2/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/04/07/je-suis-tintin/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/03/30/um-anjo-da-guarda-chamado-tintin/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/03/24/tintin-o-belga/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/03/11/tintin-a-edicao-definitiva/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/02/14/para-os-amigos-arranja-se-sempre-um-cantinho/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2018/12/16/um-perigoso-biocida/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2017/02/08/nada-de-confusoes/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2017/01/21/tintin-ao-vivo-e-a-cores/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/12/24/o-sustentavel-peso-de-tintin/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2016/11/28/chachada-em-africa/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/03/22/tintin-embaixador-dos-belgas/

* Tintim Comemorações

https://largodoscorreios.wordpress.com/2019/01/10/tintin-faz-hoje-90-anos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2017/05/23/herge-nao-morreu-fez-ontem-110-anos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2020/03/03/herge-morreu-em-3-de-marco-de-1983/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2019/03/03/herge-morreu-ha-36-anos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2020/01/10/tintin-faz-hoje-91-anos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2019/04/21/feliz-pascoa-3/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2018/10/27/logo-muda-a-hora/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/04/17/feliz-pascoa-com-tintin/

(...)

* TINTIN NOS 80 ANOS EM PORTUGAL – VIII

No site tem uma colaboração já longa com Carlos Gonçalves.  Foi destacado pelo fanzine brasileiro QI onde refere a ideia de ser lançada uma separata sobre Tintim mas que foi abortada pela Moulinsart.

https://largodoscorreios.wordpress.com/2018/09/19/a-bd-vista-por-carlos-goncalves-cinquenta-e-oito/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2018/09/12/a-bd-vista-por-carlos-goncalves-cinquenta-e-sete/

(...)

Suplemento Hobbies

https://largodoscorreios.wordpress.com/2020/11/04/hobbies-vinte-e-nove/

irão irao 0 iraa0 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12 13 13 14 14 15 15 ANEXO A 0 0 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12 13 13 14 14 15 15 16 16 17 17 18 18 19 19 20 20 21 21 22 22 23 23 24 24 25 25 27 27 26 26

SUBMARINO VOADOR SV1 SV2 SV3 SV4 SV6 SV7

A Nossa Banda

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/06/16/a-nossa-banda-dois/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/04/13/a-nossa-banda-44-continua-no-proximo-numero/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/04/06/a-nossa-banda-43/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/01/05/a-nossa-banda-30/ PLIC PC T+H+C

https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2015/01/30-3.jpg PLIC

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/09/22/a-nossa-banda-16/ PLIC

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/10/13/a-nossa-banda-19/ JOAO / VG / MALEFICIOS

ASTERIX

https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2015/01/30-1.jpg A NOSSA BANDA / T+H+M

https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2015/02/35-new-20.jpg MEIO CAMINHO ANDADO

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/10/06/a-nossa-banda-18/ ASTERIX UMA MESA REDONDA

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/07/28/a-nossa-banda-oito/ ASTERIX MESA REDONDA

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/11/10/a-nossa-banda-23/ ASTERIX UMA MESA REDONDA

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/06/30/a-nossa-banda-quatro/ PAIS DO JOÃO


HERGÉ

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/06/20/tintin-visto-por-herge-ha-cinquenta-anos/

GHY FAISCA

https://largodoscorreios.wordpress.com/category/historias-aos-quadradinhos/page/158/

https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2014/10/19-19.jpg

(entre outras entradas que poderão ser encontradas... )

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Os dias do “Já”


Este foi o derradeiro cartoon editorial do “Já”. Recordo-o aqui não só pelo valor sentimental; parece-me também uma óptima metáfora para a busca de uma esquerda “reinventada”, capaz de cumprir sonhos e gerar sentidos, pronta para “transformar a vida”. Infelizmente, o processo ainda não resultou em coisa aproveitável. De híbrido em híbrido, de desilusão em desilusão, lá vai a malta cantando e rindo…

Luis Rainha, 5dias.net, 17 de Fevereiro de 2008

"Já" foi um jornal semanário que existiu entre 1995 e 1996. 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Loto Sumol

O refrigerante Sumol e a revista Tintin lançaram em 1978 um loto em que as peças eram as caricas das garrafas Sumol e os cartões eram oferecidos na revista Tintin. O jogo era constituído por 72 cápsulas com os heróis da revista Tintin e por seis cartões. No que diz respeito ao nosso herói, havia seis caricas (uma por cartão) com as personagens das aventuras do Tintin.

https://sojogo.pt/arquivo/loto-sumol/

-- 6 cartões numerados

– 72 cápsulas de refrigerante Sumol com as imagens dos personagens das revistas Tintin

SUMOL

Beber Sumol é beber saúde!

A frescura da juventude numa garrafa de saúde.


LOTO SUMOL


1 - Quem bebesse SUMOL podia também coleccionar as 72 figuras impressas nas cápsulas (caricas) das garrafas do SUMOL. Tanto nas cápsulas vermelhas (sumol de laranja) como nas verdes (sumol de ananás).    

2 - As revistas Tintin ofereciam os 6 cartões para podermos jogar o Loto Sumol. Em cada revista Tintin eram oferecidos dois cartões para o Loto Sumol. A oferta dos cartões durou pelo menos 12 semanas de 09/09/1978 (11º ano - 17) a 25/11/1978 (11º ano - 28). A tiragem de cada revista era de 30.000 exemplares.  No total seriam 24 cartões em que cada conjunto de 6 cartões teria espaço para as 72 figuras. Depois podíamos convidar até cinco amigos para jogarem connosco.

3 - As caricas eram colocadas dentro de um saco e depois eram tiradas uma a uma.

4 - Cada cápsula tinha um desenho, número e nome de um herói da revista Tintin. Quem tivesse o cartão com essa figura colocava-a na casa respectiva.

5 - Ganhava o jogo quem primeiro preenchesse o cartão.

cartão 1 - 1/12 (1 - Tintin)
cartão 2 - 13/24 (13 - Cap. Haddock)
cartão 3 - 25/36 (25 - Milou) 
cartão 4 - 37/48 (37 -Tournesol)
cartão 5 - 49-60 (49 - Dupond I)
cartão 6 - 61/72 (61 - Dupond II)

A carica mais rara era a nº 68 com o desenho da marca sumol.
.

NOVO LOTO SUMOL TÓNIUS

Algum tempo depois houve um loto mais pequeno da Sumol com as personagens de Tónius, o lusitano. Eram 4 cartões com 12 personagens cada. 

Bebe Sumol e colecciona as caricas.

As tampas do SUMOL têm as figuras do «TÓNIUS» e dos seus companheiros; colecciona-os e podes jogar este NOVO LOTO SUMOL. 


https://brindemania.wordpress.com/2024/10/04/loto-sumol-sumol/

Coleção composta por: 72 caricas com personagens de banda desenhada franco-belga e seis cartões

https://www.biddingleiloes.pt/pt/auction/lot/id/46856

https://tarsasjatekok.com/tarsasjatek/loto-sumol-1986

https://tintinofilo.weebly.com/loto-sumol.html

https://amojogos.wordpress.com/category/loto/

http://vaillantfanclub.free.fr/sumoloto.htm

ans les années 70, le limonadier portugais "Sumol" lançait dans la version portugaise de Tintin magazine hebdo un jeu de loto vraiment original . En fait il s'agissait de collecter les capsules du soda orange ou ananas du fabricant qui contenaient à l'intérieur la reproduction des têtes célèbres des héros de BD de l'époque . Ces capsules numérotées prenaient places sur six cartons différents qui permettaient de jouer à une variante de jeu de loto ....

terça-feira, 15 de julho de 2025

Novidades da ASA

A editora ASA, pertencente ao grupo editorial LeYa, já divulgou algumas das novidades para o segundo semestre de 2025. Uma das mais importantes é a aventura de Astérix por terras lusas. Mas também está previsto o lançamento do 1º volume da Integral dedicada a Tintin (6 volumes) e de uma edição comemorativa dos 70 anos de "O Caso Girassol".

A - O CASO GIRASSOL - Edição comemorativa dos 70 anos

É uma edição comemorativa dos 70 anos e que inclui um dossier extra de 16 páginas.

"O Caso Girassol" completa 70 anos desde a sua primeira publicação. A aventura "L'Affaire Tournesol" foi lançada originalmente na revista "Tintin" entre 22/12/1954 e 22/02/1956. Foi o décimo oitavo álbum de Tintim.

B - INTEGRAL TINTIN EM 6 VOLUMES

Esta é uma coleção integral nova. Todas as 24 histórias do TINTIN agora em 6 volumes.

O primeiro volume será lançado no último trimestre e conterá as aventuras "Tintin no País dos Sovietes", "Tintin no Congo" e "Tintin na América". Um dos volumes terá 5 histórias e os restantes quatro volumes terão 4 histórias cada.

(imagens apenas ilustrativas)


Vinheta2020, 04 julho 2025

quarta-feira, 9 de julho de 2025

À suivre

Continua

Se quisermos definir o que e a essência da banda desenhada, eu diria que ela esta na descontinuidade - nas imagens que faltam entre as imagens que existem. Como na vida, que e uma coleção de imagens descontínuas, o essencial e o que falta a unir essas imagens que contam a historia.

Para mim, o gosto pelas histórias começou com as bandas desenhadas. As BD.

Primeiro foram os livros da Disney, na versão brasileira da editora Abril, distribuídos em Portugal nos anos 1960. Histórias aos quadradinhos. No Brasil diz-se quadrinhos, ou gibis (por causa de uma personagem, um moleque, que deu nome a uma revista muito popular lançada no final dos anos 1930).

Em Espanha são os tebeos (também por causa de uma revista que durou décadas, TBO), soa igual a te veo", vejo-te. Em Itália, fumetto, fuminho, por causa dos balões de fala das personagens. No Japão, as mangas, que são lidas no sentido contrário ao do Ocidente, "de trás para a frente".

E na cultura anglo-americana os comic books, os comics.

Em Portugal ficou a tradução do francês, banda desenhada, BD.

Nos meus anos 1960, depois dos Patinhas da Disney veio a Turma da Mónica, de Maurício de Sousa, o "Disney brasileiro".

No fim da infância comecei a ler o Mundo de Aventuras, editado pela Agência Portuguesa de Revistas, com as histórias a preto e branco do Fantasma, do Rip Kirby, do Garth (que viajava no tempo), do Flash Gordon e do meu favorito, Mandrake.

E também o Falcão, com as aventuras da líder da resistência francesa Mam'selle X, ou do heroico piloto luso-britânico (na tradução portuguesa, Estado Novo oblige) Major Jaime Eduardo de Cook e Alvega, o Major Alvega.

A paixão pela banda desenhada, a "nona arte", tem o seu esplendor por volta dos meus 11, 12, 13 anos, uma revolução paralela à revolução de Abril e ao PREC, o meu período bedéfilo em curso.

Havia um boom de publicação de revistas de banda desenhada em Portugal, com a novidade de serem no modelo franco-belga de histórias em continuação, à suivre.

Ainda antes de 74 tinha havido o Jacto, havia o Jornal do Cuto e, sobretudo, havia o Tintin.

O Tintin trazia o melhor da banda desenhada franco-belga, da revista Tintin belga e do francês Pilote. Saía todas as quintas-feiras, trinta e tal páginas de histórias em continuação, duas páginas cada semana (com dois Tintins Super por ano, com o dobro das páginas).

Foi lá que li pela primeira vez, antes de ler depois em álbum, o Astérix, o Lucky Luke (e tudo o mais do genial Goscinny), o Blake e Mortimer, o Bernard Prince, o Bruno Brazil, o Alix, o Valérian, o Martin Milan, o Luc Orient, o Olivier Rameau, o Jonathan, o The Spirit (nos Tintins Super), e muitíssimos mais. E o Tintin, claro. E o Corto Maltese.

Era um ritual, a espera pela continuação das histórias. A alegria das quintas-feiras, era passar depois da escola pela tabacaria da minha rua, onde o senhor Antunes tinha reservado o meu exemplar, correr para casa e lanchar (pão com Tulicreme) a ler de uma ponta à outra a revista dessa semana. À noite, antes de deitar, ler de novo, na cama, de seguida, as histórias do início, a partir dos números anteriores da revista.

Na escola (Manuel da Maia), depois no liceu (Pedro Nunes) discutíamos com fervor os nossos heróis e histórias favoritas.

Logo aos 11 anos organizei um clube de banda desenhada, o Clube Kósmikus, com os amigos da preparatória. Reuníamo-nos para trocar revistas e planeávamos um fanzine com histórias nossas. No liceu fizemos a Etc., um fanzine impuro, meio revista literária (só depois soubemos que afinal havia outra, a &etc).

Por essa altura, em 1975, foi lançada uma revista de banda desenhada portuguesa, um empreendimento coletivo, só com autores portugueses, a Visão. Uma pedrada visual e visionária num charco que nem sequer existia.

O grande dinamizador da banda desenhada em Portugal era o Vasco Granja, era ele o editor da revista Tintin (juntamente com o Dinis Machado, mal sabia eu que, nessa altura, ele estava a congeminar O Que Diz Molero, que viria a ser um dos livros da minha vida, e o Dinis, um querido amigo).

Eu bem queria ser autor de banda desenhada, argumentista (visto que para desenhador não tinha talento absolutamente nenhum).

Mas fiquei-me por meia dúzia de tentativas com o meu amigo Miguel Mallaguerra, desenhador, no Etc., o fanzine que não era bem fanzine.

Só na década de 1990 me estrearia por fim como argumentista a sério com o António Jorge Gonçalves como desenhador (que, curiosamente, eu tinha conhecido no final dos anos 1970 no Clube Português de Banda Desenhada). Foi no semanário Se7e, uma história em continuação, uma página por semana, a história chamava-se "Ana" e iniciava a série As Aventuras de Filipe Seems, da qual viemos a editar três álbuns.

Há certas coisas que demoram muito tempo a acontecer.

Nunca perdi completamente a ligação à banda desenhada, mas fui fazendo outras coisas noutras áreas de expressão.

Um dia, no início de 1996, recebo uma chamada inesperada. Era o António Mega Ferreira a contar-me que no âmbito da Expo'98 ia acontecer o Festival dos Cem Dias e a desafiar-me para escrever o guião para um musical de homenagem à banda desenhada. O convite era, claro, irrecusável.

A música seria do Pedro Abrunhosa. Lembro-me do entusiasmo que tínhamos os três nas primeiras reuniões a partilhar os nossos heróis e séries de BD favoritos (o Mega adorava o Mandrake, como eu; o Pedro também, mas preferia o Blake e Mortimer; eu o Philémon e o Corto Maltese). Era um entusiasmo juvenil, que eu sempre associei à banda desenhada, um regresso a um tempo de uma certa ingenuidade, uma disponibilidade para acreditar, uma desmedida "suspensão da incredulidade".

A peça veio a chamar-se O Rapaz de Papel (a versão que se estreou no Festival dos Cem Dias acabou por ser, por opção do encenador Juan Font, muito diferente da que eu escrevi. A peça que eu escrevi foi depois editada pela Cotovia, com o apoio da Bedeteca de Lisboa, ilustrada com desenhos do João Fazenda e diversos textos de muitas personalidades portuguesas sobre os heróis nela evocados).


Era a clássica história de um rapaz com um quotidiano banal e das suas aventuras sonhadas num mundo povoado de heróis e de aventuras.

Como Philémon (a maravilhosa personagem criado por Fred), que ele encontra perdido na ilha do A de oceano Atlântico e lhe diz: "... tens de pôr na cabeça que, numa ilha que não existe, tudo pode existir."

As bandas desenhadas são o sonho em papel dessas ilhas. Foi sempre esse contraste que me interessou nessa arte popular tão ao alcance de todos: as histórias com essas figurinhas desenhadas, sequências frágeis de papel que nos fazem sonhar sonhos maiores.

A vida é como as BD, somos todos frágeis figuras imaginadas, com as nossas luas de papel e os nossos corações e sonhos de papel.

Se quisermos definir o que é a essência da banda desenhada, eu diria que ela está na descontinuidade - nas imagens que faltam entre as imagens que existem.

Como na vida, que é uma coleção de imagens descontínuas, o essencial é o que falta a unir essas imagens que contam a história.

Hoje há as séries da indústria audiovisual, os jogos virtuais, a internet, toda a parafernália multimédia. O papel da banda desenhada, literalmente, já não é o que era.

O fascínio das histórias em imagens, porém, de uma ou de outra forma, permanece, hipnótico como nunca.

A elipse, suspensa entre uma e outra imagem. O fio da história que seguimos ou inventamos, como na vida.

E a curiosidade pelo que vem a seguir. O "e depois?", que enquanto houver vida, enquanto houver história, se remata, inconclusivamente, com a palavra: continua.

Nuno Artur Silva, DN, 11/09/2019

Opinião

@ Global Media Group

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Festa do Tintin

«Spirou» é o nome da nova revista portuguesa de banda desenhada ontem apresentada publicamente em salas de espectáculos de Lisboa e Porto. Tal como «Tintin», «Spirou» é essencialmente a tradução de uma publicação belga com o mesmo nome, embora contenha também produções de autores portugueses. Lançamento semanal da Editora Bertrand, tem como director Vasco Granja e como chefe de redacção Dinis Machado.

«Spirou» é de formato médio e tem 32 páginas, a maior parte das quais a cores. O seu lançamento coincidiu com as comemorações dos 50 anos da publicação de «Tintin», realizada simultaneamente em Lisboa, no cinema Monumental e no Porto cinema Rivoli.

Na primeira das salas foi exibido o filme «A Quimera de Oiro» e na segunda «Tempos Modernos», ambos de Charlie Chaplin, a que, aliás «Spirou» homenageia com a publicação a partir deste número inicial, de uma biografia em banda desenhada subscrita pelo português José Ruy.

A celebração do aniversário de «Tintin» incluiu ainda sorteios de álbuns de banda desenhada.

Diário de Lisboa, 09/04/1979


Para participar na Festa do Tintin bastava levar a edição nº 47 da Revista Tintin. Além da comemoração dos 50 anos de Tintim foi apresentada a Revista Spirou.

A 2ª série da edição portuguesa da revista Spirou começou em Abril de 1979 mas terminaria no mesmo ano com apenas 32 números editados. Na capa aparecia Tónius o Lusitano. Custava 17$50 e tinha 32 páginas. A Tintin custava 20$00 e tinha 36 páginas.

A primeira série da Spirou, iniciada em 21 de outubro de 1971, tinha tido apenas 26 edições. Custava 5$00 por isso menos do que os 7$50 da revista Tintin.


quinta-feira, 26 de junho de 2025

Tuntun, repórter do "Sem Vintém"


Pastiche criado a partir das vinhetas de Hergé e adaptado pelos cronistas Lurdes e Bento.





- para quem quiser ver mais:

https://almadodiabo.blogs.sapo.pt/quadradinhos-48254

https://almadodiabo.blogs.sapo.pt/quadradinhos-47870

https://almadodiabo.blogs.sapo.pt/quadradinhos-47237


sexta-feira, 20 de junho de 2025

H de Haddock


Dicionário de Literatura Infantil e Juvenil

Personagem secundária de um incontornável universo imagético literário, visual e cultural do século XX: a internacionalíssima coleção de banda desenhada Tintin, a preferida do seu genial criador Hergé (Georges Remi, 1907 / 1983). Talvez inspirada em Edgar P. Jacobs (autor de Blake & Mortimer), em Bob de Moor ou num irmão militar de Hergé, nem os críticos e especialistas estão de acordo quanto às origens deste anti-herói que tantas vezes rouba protagonismo ao jovem repórter. Apesar de ter nascido na 15ª edição da revista Le Soir Jeunesse (2 de janeiro de 1941), apenas na nona aventura, "O Caranguejo das Tenazes de ouro" (1941), assume as funções de capitão do cargueiro Karaboudjan, sofrendo com delirium tremens e com alucinações em formato de garrafas de whisky Loch Lomond. Só em "Tintim e os pícaros", em 1976, ficamos a saber que o seu nome próprio é Archibald.

Personagem complexa e controversa, a merecer a atenção prolífera, muitas vezes acusatória, de especialistas das mais diversas áreas (médicos, psiquiatras e psicanalistas, filósofos, linguistas, biógrafos, críticos e tintinófilos), o Capitão Haddock sofre de múltiplas patologias: alucinações, falhas de memória, perturbações de visão e alcoolismo. Tem propensão para o acidente e é irascível e temperamental. Mas, com mil milhões de macacos, Haddock é também a personagem mais deliciosamente malcriada e cavalheiresca, generosa, mal humorada, leal, distraída, cómica, corajosa, viciada, rude, nobre, paternal, fanfarrona, imaginativa, poética, bondosa, humana, pluridimensional e inesquecível do universo da banda desenhada (enquanto literatura, ilustração e texto contando uma história, em inextricável ligação).

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O registo discursivo haddockiano gora sistematicamente as expetativas do desprevenido leitor: à rudeza convencional do linguajar dos marinheiros sobrepõe-se a mestria das imprecações mais enfáticas, dos mais bizarros palavrões, de científicos insultos, de invetivas eruditas e musicais, de injúrias operísticas, de ofensas misteriosas e sofisticadas; cultor da arte do insulto, em explosões intrincadas, criador de neologismos, arcaísmos e de outros termos merecedores de rigorosa exegese e investigação comparativa em estudos de tradução. Os diálogos magistrais, de uma expressividade vigorosa e cénica, os júbilos imagéticos, as sonoras onomatopeias barrocas e as inesperadas metáforas, em nuances surrealistas, tornaram desafiadora a tarefa de tradução, hoje em dezenas de línguas, mas expandem o longo e fabuloso glossário.

Nota: dedicamos esta entrada aos ectoplasmas, protozoários, mamelucos, zuavos, fariseus, catacreses, anacolutos e apotegmas, bibelôs, cataplasmas, brontossauros, canibais emplumados, polichinelos grotescos, extratos de hidrocarboneto, piratas de água doce e afins que porventura dúvidas possam ter acerca dos benefícios linguísticos, nomeadamente sobre o impacto da leitura da obra de Hergé, no desenvolvimento da consciência fonológica e interlinguística, ou sobre os contributos da leitura de banda desenhada para a ampliação do léxico de crianças, jovens e adultos.

Paula Pina, Professora universitária, co-autora do blogue Cria-Cria

versão integral de um texto originalmente publicado na revista Blimunda n.º 27, de agosto 2014

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Lego

já tinha sido comentado por aqui mas agora foi aprovada a construção de um set da lego com o foguetão das aventuras de Tintin.

FOGUETÃO

Projeto português torna-se produto oficial da LEGO

A construção de um português vai tornar-se, oficialmente, um produto LEGO. O foguetão do Tintim, criado por Alexis Dos Santos, de 39 anos, foi esta terça-feira confirmado como um dos próximos conjuntos a integrar o catálogo oficial da marca dinamarquesa.

O projeto foi submetido por Alexis em agosto de 2022 na plataforma LEGO Ideas, um espaço oficial onde fãs de todo o mundo podem partilhar as suas criações, reunir apoios e, eventualmente, ver os seus modelos transformados em produtos comerciais. O foguetão do repórter mais famoso da BD franco-belga reuniu 10.000 apoiantes em junho de 2023, passando à fase de revisão interna. Em março deste ano, avançou para o chamado Parking Lot, uma segunda fase de avaliação, e agora chega a consagração final.

Apesar de ainda não haver data de lançamento, design final ou preço definidos, o projeto já tem lugar assegurado na coleção oficial da LEGO. Como recompensa, Alexis terá direito a 1% das vendas líquidas do conjunto, conforme estipulado pelas regras da plataforma.

Alexis Dos Santos é webdesigner e programador informático. Em declarações à SIC, em abril, o criador admitia que o foguetão do Tintim não era a sua construção favorita, mas sim a que mais se assemelhava, tecnicamente, a um conjunto oficial da LEGO.

O interesse pelos blocos começou na infância, mas foi interrompido durante a adolescência. “Não construía nem comprava conjuntos. Só depois de visitar, já em adulto, uma exposição da Comunidade 0937 é que voltei a sentir o bichinho. Percebi que o hobby também se estendia aos adultos, que criavam coisas magníficas. A partir daí, também eu quis fazer parte desta aventura”, contou à SIC.