Autor: Derradé - Título do episódio: "Tintim Vive"
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
domingo, 2 de novembro de 2025
L'Oreille Cassée
Apaixonado que sempre fui e assim continuo, deixo aqui memória do "L'Oreille Cassée" (o nosso "O Ídolo Roubado"), o sexto episódio da saga (1937), o qual sinto como um dos melhores livros (...).
Escolho este álbum e esta vinheta também por duas razões, mais "políticas". Pois nas últimas décadas têm surgido um conjunto de "denúncias" ao racismo em Tintin, emanadas dos contextos da esquerdalhada básica e emitidos por feixes de intelectuais de pacotilha. Li alguma dessa tralha, até lusa. Não vou elaborar muito sobre isso, nem sequer invocar o óbvio anacronismo dessas lérias. Apenas recupero este "L'Oreille Cassée": aqui surge este Ridgewell, explorador amazónico que há muito desaparecera e que vive entre os Arumbayas. O qual é um evidente proto-Haddock (que só aparecerá 4 anos depois, no "O Caranguejo das Tenazes de Ouro"), na forma vulcânica e desabrida com que trata os seus (amer)índios circundantes, tal e qual Haddock o fará em todos os outros contextos (em particular junto do séquito de Moulinsart). Sobre esta patente similitude, de enorme significado sobre as concepções antropológicas de Hergé, então ainda abaixo dos 30 anos, nada li em todas as lérias botadas nos "papers" e "conferências" dessa esquerdalhada "denunciatória". Pois desmontar-lhes-ia, por completo, as "academices" de treta com as quais vão fazendo currículos e cativando interesses de outros imbecis.
Um outro traço do "L'Oreille Cassée" explica este actual "Cancel Tintin". Pois Alcazar e Tapioca, os patuscos generais, já estão em frenético conflito. Como o estarão 40 anos depois, quando o já quase septuagenário Hergé publicou a última aventura completa, "Tintin e os Pícaros". E de facto é este livro - um sarcástico monumental pontapé nas ladainhas guevaristas e terceiro-mundistas, então tão em voga - que promove o "denuncionismo" de agora. Não é a candura colonial ou a deriva anticapitalista dos vinte aninhos de Hergé em "Tintin no Congo" e "Tintin na América". É mesmo a sua madura, pertinente e artisticamente genial refutação dos mitos que alimentam esta actual triste tralha identitarista - "pós" ou "decolonial".
O Homem do Rio
Em finais de 1935, inicia-se no "Le Petit Vingtiéme", mais uma aventura de Tintin. Desta vez parte para a América do Sul, onde vai viver movimentadas peripécias num pais imaginário – San Theodoros – onde conhecerá 2 generais, Alcazar e Tapioca que alternam no poder. (...)
Tintin parte à procura de uma estatueta Arumbaya, roubada (logo no início da historia) de um museu. Mais tarde, na década de 60, Philippe de Broca, baseia-se nesta aventura para criar o mais “tintineano” filme de aventuras realizado, - "O Homem do Rio", com Jean Paul Belmondo - mesmo incluindo aqueles com a figura de Tintin e desempenhados por J. P. Talbot. A ver (ou rever) com urgência!
Em Portugal aparece no número 247, de 04/01/1940 de "O Papagaio" com o título de "O Mistério da Orelha Quebrada". A aventura cobre todo o ano de 1940, finalizando no número 298 de 26/12/40.
Mais tarde o semanário Tintin reinicia a sua publicação a partir de 13/10/1973 com o título "A Orelha Quebrada".
As editoras brasileiras Flamboyant e Record tinham já editado o álbum na segunda metade dos anos 60 desta vez com o título "O Ídolo Roubado". Mais recentemente a Verbo publicou-o como "A Orelha Quebrada".
Uma estatueta brasileira da civilização malteca é roubada ao Musée de l'Homme. Fazia parte de um grupo de três estátuas, trazidas por três exploradores: o Professor Catalão (Jean Servais), que trabalha no Musée de l'Homme, o tragicamente falecido Professor Villermosa e André de Castro, um rico empresário brasileiro. O professor Catalão é raptado em frente ao museu. O soldado Adrien Dufourquet testemunha o rapto da sua noiva Agnès, filha de um famoso etnólogo. Vai em busca dela, o que o leva ao Brasil...
A imaginação de Philippe de Broca foi expressa nos seus primeiros filmes num estilo ainda imbuído da Nouvelle Vague. Sem fazer realmente parte do movimento, a sua forma de dinamizar o romance e o marivaudage clássico (Les Jeux de l'Amour e Le Farceur (1960)) fazia parte do mesmo desejo modernista. Com Cartouche (1962), um grande filme de aventuras históricas, era possível adivinhar a reviravolta mais popular que libertaria as obras seguintes. O Homem do Rio estabelece, assim, uma ponte ideal entre o De Broca inicial e o De Broca mais abertamente mainstream do resto da sua carreira, onde a energia artística da Nova Vaga colide com um horizonte mais vasto, com fuga e grande aventura.
O filme nasceu inicialmente de um projeto de adaptação de Tintim, no qual De Broca esteve envolvido (após a saída de Alain Resnais, inicialmente prevista), mas o realizador rapidamente se apercebeu dos limites de uma transposição literal dos painéis de Hergé e deitou a toalha ao chão. Em vez de uma adaptação verdadeira, considerará uma história original onde poderá misturar o seu próprio tom com a energia e o estilo das aventuras de Tintim. Uma estadia no Rio com Jean-Paul Belmondo para a promoção de Cartouche impôs-lhe imediatamente na mente esta estrutura para o futuro filme e, após uma longa sessão de argumento com o seu colaborador regular Daniel Boulanger e o seu amigo Jean-Paul Rappeneau, que ainda não tinha assumido a realização, L'Homme de Rio viu gradualmente a luz do dia.
A influência de Tintim é evidente, quer em termos visuais, narrativos ou narrativos. O roubo inicial da estatueta, a silhueta do ladrão e o cenário do Musée de l'Homme levam-nos imediatamente de volta a "A Orelha Quebrada". Os raptos e, mais tarde, a busca pelas estatuetas e pela maldição que as envolve, remetem, obviamente, para o díptico "As Sete Bolas de Cristal"/"O Templo do Sol".
O empréstimo mais belo, porém, será esta energia frenética e a velocidade da história e, da mesma forma que Hergé conseguia levar-nos de uma Europa acinzentada às terras mais exóticas em duas páginas e muitas aventuras, De Broca deixa Paris para o sol do Brasil em vinte minutos de introdução ideal.
Numa linha narrativa perfeita e clara, todas as informações e caracterizações das personagens são feitas num movimento perpétuo e jubiloso. Vai do mais explícito (o passado dos estudiosos, as três estátuas) ao mais subtil (o olhar furtivo e ligeiramente lascivo de Jean Servais sobre Françoise Dorléac, que nos permite suspeitar vagamente do que lhe acontecerá a seguir) e podemos sentir o toque de Jean-Paul Rappeneau, já tão hábil em casar anarquia e construção rigorosa. O casal Jean-Paul Belmondo/Françoise Dorléac traz o toque romântico adulto e atrevido que torna tudo tão brilhante.
Em vez do piegas Tintim, Belmondo estaria mais próximo de um Capitão Haddock juvenil, com este herói francês e rabugento dedicado a dois objectivos: salvar a sua noiva e regressar a tempo da sua licença em Paris.
É neste filme que nasce "Bébel", o herói ousado e debochado, mas mais do que o mecânico indestrutível dos anos seguintes, a sua silhueta frágil e elástica traz realmente este lado irresistível de banda desenhada/cartoon, fazendo-o levantar-se de cada queda, ripostar contra adversários muito mais imponentes. Françoise Dorléac está adorável como uma donzela caprichosa em perigo e as trocas tempestuosas entre o casal a meio da ação são uma delícia do início ao fim.
De Broca leva-nos numa viagem pelo cativante Brasil dos anos 60, explorando com igual brilhantismo a urbanidade moderna (com a sua quota-parte de edifícios de alta tecnologia) e os ambientes operários mais fervilhantes e festivos, mas também a natureza exótica e colorida (o lado da banda desenhada também não é esquecido, como o falso crocodilo à espera de Belmondo durante a sua aterragem de paraquedas). De Broca multiplica as aventuras e os ambientes com rara inventividade, sem nunca se cansar graças a pausas cómicas ou piadas em abundância (o carro cor-de-rosa com estrelas verdes!).
Este movimento perpétuo retoma também o princípio da linha clara que orienta o guião. Veremos que na sua perseguição frenética, Jean-Paul Belmondo terá sempre de seguir em frente para alcançar os malvados raptores de Françoise Dorléac.
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Tertúlia BD de Lisboa
A Tertúlia BD de Lisboa começou em junho de 1985 por iniciativa de Geraldes Lino.
A Tertúlia BD de Lisboa promove reuniões na primeira 3ª feira de cada mês, ultimamente no restaurante Entre Copos de Lisboa, com a participação de 20 a 40 aficionados de banda desenhada entre os quais se encontram autores (desenhadores, argumentistas/guionistas, coloristas, arte-finalistas e legendadores), editores (profissionais e amadores), fanzinistas, coleccionadores, livreiros, alfarrabistas, mas também simples leitores.
A tertúlia inicia-se às 20 horas e termina sempre três horas e picos mais tarde. Divide-se em três partes: 1) jantar; 2) sorteio de BD; 3) homenagem a um autor consagrado (ou veterano com obra realizada há muitos anos) e incentivo a um autor mais novo.
Esta tertúlia formaliza as suas homenagens aos consagrados com a entrega de um Diploma de Honra e os incentivos aos novos da BD também com um diploma menos formal.
A Tertúlia completou 40 anos de existência em junho de 2025.
PÁGINA NO FACEBOOK https://www.facebook.com/tertuliabddelisboa
A Tertúlia BD de Lisboa e o seu anfitrião, Geraldes Lino, estão de parabéns. Celebra-se hoje o seu 21º ano de existência e de reunião ininterrupta, comemoração que terá lugar em local extraordinário, mas situado perto do Parque Mayer; zona que tem sido a centro nevrálgico destes encontros mensais ao longo dos anos. Assim se marca duas décadas de rendez-vous bedéfilos, iniciados em 1985 de forma a preencher o vazio deixado pela descontinuação dos convívios regulares do Clube Português de Banda Desenhada.
Chamando a si a responsabilidade de estabelecer pontes entre os vários protagonistas do meio, ou ávidos consumidores e coleccionadores, bem como entre estes e as novas gerações de autores e leitores, Geraldes Lino criou o que hoje é já uma “instituição”, promotora de dinamismo cultural e encontro de ideias e pessoas, que em muito contribuiu para a moderna bd portuguesa. Com um percurso que chega a confundir-se com a evolução desta, o encontro foi palco da estreia e primeiros passos na área de muitos actuais valores da nossa bd, assim como foi local de justa distinção a vários dos mais veteranos criadores/editores do século passado.
De forma a prestar a devida homenagem à data, e contribuir para uma nova dimensão da Tertúlia, que tem vindo a aumentar a sua influencia em anos recentes, propus-me preparar uma surpresa para anunciar no encontro aos participantes, e aqui nos websites de informação aos restantes leitores do país. Tal como no acto transacto o 20º aniversário foi marcado pela edição do “TBDZ Arquivo 20 – Marte 2205” (edição especial de 12 páginas a cores, produzido em técnica 3D por Cris Lou (arg.), João Mascarenhas (des.) e Gastão Travado (3D)), este 21º dará inicio à era digital da Tertúlia, com a inauguração na internet de um QG dedicado à publicação regular desta, o “slimzine” Tertúlia BDzine, de modo a que a já vasta história desse fanzine e a da própria Tertúlia não se percam no tempo.
Premiado duas vezes como Melhor Fanzine pelos prémios Zé Pacóvio e Grilinho do FIBDA (2003 e 2004), e uma vez pelos Troféus Central Comics (2004), o Tertúlia BDzine mantém o recorde para mais duradouro e regular edição amadora nacional, tendo recentemente passado até a marca dos 100 números; número esse que só será apresentado em Julho para dar espaço à edição especial de aniversário deste mês, o Tertúlia BDZine Boletim!»
Daniel Maia, 06/06/2006
logo no nº3, Out. 1993, [do Tertúlia BDzine] há um divertido cartune [de Zé Manel] alusivo à Tertúlia BD de Lisboa e ao bigodudo e pencudo organizador. (GL)
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Foguetão
Num foguetão igual a este fui à lua, derivei para marte e ainda trouxe o Tintin, Capitão Haddock e Milou de volta à Terra.
Avenida EUA, Bairro de Alvalade | arquivo CM Lisboa
Lembro-me muito bem deste foguetão também fui muitas vezes à lua nele! Morava mesmo em frente... (Maria Paula Cayatte Azevedo)
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Tintin em Portugal
Numa iniciativa do GICAV (Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu), a Exposição «O MUNDO DE TINTIN» da Fundação Hergé, estará patente na Feira de São Mateus em Viseu até ao próximo dia 19 de Setembro [de 1993].
A iniciativa só se tomou possível através do interesse e apoio dos Serviços Regionais do Instituto da Juventude e da Câmara Municipal de Viseu.
O Grupo de Viseu que ainda há bem pouco levou a efeito as suas jornadas de Banda Desenhada onde tem homenageado vários artistas nacionais, tem desenvolvido um trabalho meritório na divulgação das histórias em quadrinhos, tornando Viseu um polo privilegiado da BD em Portugal, acolhendo pela primeira vez na Península Ibérica esta exposição sobre um dos heróis mais populares da banda desenhada, TINTIN.
A exposição, que estará patente no pavilhão C da Feira de S. Mateus, cobre uma superfície de 91 m2 e é constituída por quatro células de 16 m2 cada, com uma altura total de 2 metros e 75.
As quatro salas estão divididas por temas, onde poderemos encontrar os vários elementos que constituíram o universo fascinante das aventuras de Tintin e Milou. Na primeira sala poderemos encontrar os personagens que continuam a entusiasmar leitores em todo o mundo, como o capitão Haddock, o professor Tournesol, a soprano Castafiore ou os detectives Dupond e Dupont. A sala seguinte pretende mostrar os variados locais por onde as aventuras de Tintin nos transportaram. Na terceira sala, encontraremos os mais variados sinais da aventura. Por fim na sala 4, encontraremos a evocação de todo o trabalho de Hergé na criação de uma história aos quadradinhos, a partir do material do «Voo 714 para Sidney», recentemente editado [pela primeira vez] em Portugal pela Verbo.
Um momento a não perder para todos aqueles que admiram a Banda Desenhada e a obra de Hergé em particular.
FG (Francisco Baptista Gil), Algarve Região, 02/09/1993
ver também
https://zenodo.org/records/7954378
https://www.cienciavitae.pt/D817-E011-0B9A
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
quinta-feira, 9 de outubro de 2025
As Leituras do Pedro
A editora Escorpião Azul vai lançar o livro "As Leituras do Pedro - 40 anos de boas leituras" que é uma colectânea de textos de Pedro Cleto publicados por aqui e por ali, entre Dezembro de 1985 e Junho de 2025. Muitos incluídos no blog As Leituras do Pedro que existe desde Maio de 2009.
A primeira tentativa de escrita sobre BD foi na Comicarte #8 de Dezembro de 1985.
A capa do livro é de Paulo J. Mendes. Paulo Jorge iniciou-se para a BD no fanzine Comicarte e foi um dos colaboradores dos primeiros Salões de BD do Porto. Regressou em força à BD com "O Penteador".
O lançamento e apresentação do livro está previsto para o dia 2 de Novembro de 2025. Mas já estará disponível no Amadora BD, a partir de 25 de Outubro.
O livro terá de certeza bastantes informações sobre as personagens de Hergé. Textos deste conceituado autor também constam do nosso blog mesmo alguns com mais interesse para os fãs de Tintim e que podem não constar da colectânea.
Na excelente capa do livro tem vários motivos de banda desenhada incluindo o (inevitável) foguetão do Tintin e um desenho de um boneco de Tintin.
Na capa aparecem referências a locais onde escreveu como o Comicarte, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias e aos programas de rádio (Quadrifonia). Aparecem bonecos e estatuetas como Lucky Luke, Fantasma, Tex, Calvin e Hobbles, Tintin e também o já referido foguetão. Nas estantes tem volumes de Gaston Lagaffe, Blake & Mortimer, Batman, etc Na mesa estão ainda edições do "Mundo de Aventuras" e "(A Suivre) 12", "Jim del Monaco", etc Ainda aparece a edição de "Maílis" da série Simon du Fleuve bem como outras obras. A imagem do Mercado Ferreira Borges será uma referência aos Salões Internacionais de Banda Desenhada do Porto onde colaborou.
O BLOG
E pronto, aqui está o meu primeiro blog. A vontade já vinha de há muito, a ocasião propícia surgiu agora.
Sem grandes pretensões, quero utilizá-lo para fazer aquilo que me ocupa há alguns anos: escrever sobre banda desenhada. Em especial, mais do que escrever laboriosos tratados, partilhar impressões, sentimentos, vontades e emoções que me deixam as muitas leituras de BD que tenho o privilégio de poder fazer.
Sem periodicidade nem um modelo fixo; por prazer, não por obrigação.
Fiquem bem, leiam muito e passem por cá de vez em quando!
(Geraldes Lino foi uma das pessoas que comentou logo nos primeiros dias)
PEDRO CLETO
No Blogger desde maio de 2009
Blogs
As Leituras do Pedro mudaram-se
Outros
NOVO CABEÇALHO DA AUTORIA DE PAULO J. MENDES
Esta é uma boa oportunidade para abordarmos o cabeçalho do blog de Pedro Cleto onde também aparece o foguetão de Tintin.
13/02/2021
Assim nasceu um cabeçalho...
Há cerca de 15 dias, As Leituras do Pedro estrearam um novo visual, cujo principal elemento é uma bela ilustração do Paulo J. Mendes.
Dar a conhecer alguns aspectos da sua génese, é o propósito deste texto.
A vontade de mudar o visual deste blog - algo que já acontecera - de forma menos evidente - algumas vezes ao longo dos quase 12 anos que já tem de existência - era um propósito antigo, mas a intenção era ir mais além do que fundos, tipo de letra e disposição dos elementos. Não que houvesse algum problema com a imagem que acompanhava As Leituras do Pedro desde Maio de 2009, da autoria de Pedro Nogueira, não para este espaço, mas como elemento de um cartaz que anunciou durante meses o programa de rádio que mantive em duas rádios(-piratas...) da zona do Porto.
Se alguma inércia e falta de tempo foram adiando esta mudança, quando descobri as ilustrações (não utilizadas) feitas pelo Paulo J. Mendes para as guardas do seu surpreendente e muito aconselhável O Penteador, desde logo pensei que o seu estilo seria o ideal para a tal mudança. Curiosamente - não sei sequer se ele se lembra disso - foi ele que desenhou - há demasiados anos! - o meu primeiro cartão de visita...
Aproveitando algum tempo livre, no final do ano passado dispus-me a avançar e propus-lhe então ser o autor desta mudança. Na 'nota de encomenda' garantia "total liberdade" embora pedindo "que a imagem estivesse relacionada com a leitura e/ou divulgação de banda desenhada".
Adiantava algumas hipóteses de concretização: "eventualmente uma recriação da ilustração original", com a introdução de "um calendário - que servirá mensalmente para ilustrar o Calendário BD do blog - e uma outra imagem - uma prateleira com livros...? - que possa ilustrar os textos que resumem todos os lançamentos do mês..."
O convite foi aceite pelo Paulo "com todo o gosto; fazer um cabeçalho para o blogue que, ao longo destes anos em que estive afastado da BD, deu um importante contributo para que me fosse mantendo minimamente actualizado, é algo que não me dará muito trabalho e será divertido de se fazer". Passados quatro dias chegou o primeiro esboço - a primeira prenda do Natal 2020! - bem próximo já do desenho final: uma estante, à esquerda, repleta de livros e com algumas figuras, o calendário na parede e, principalmente, a forma como (eu) me reconhecia no leitor nela presente, pois, acrescenta o Paulo "imediatamente me ocorreu a ideia de que teria que ser o próprio a figurar, juntamente com os elementos que me eram pedidos - estante, calendário, etc."
Poucos dias depois, recebi uma nova versão, mais avançada, já passada a tinta, com um dos elementos que mais apreciei no conjunto: a introdução do cartaz original... actualizado, com o 'locutor' de há 30 anos substituído por alguém mais volumoso, com menos cabelo, de óculos... Ideias que os desenhadores de quadradinhos vão buscar sabe-se lá onde!
Entre estes dois desenhos, tinha andado indeciso quanto à edição que estava a ler. Após considerar várias possibilidades, a escolha recaiu no Mundo de Aventuras #47 (II série), a revista que me serviu de porta de entrada numa BD mais adulta e na qual me 'formei' enquanto leitor de BD.
Para além daquelas alterações, as figuras no topo da estante - outra escolha difícil! - desenhadas a partir de fotos que enviei ao Paulo, já eram as definitivas: o (inevitável) foguetão do Tintin, um (facilmente reconhecível) Tex e, um Iron Man escolhido por dois motivos: era na altura a última figura entrada na minha colecção e originária de um universo completamente diferente dos outros dois já representados.
Como o Paulo não se mostrava satisfeito com o título - "a maior dificuldade foram, contudo, as letras do cabeçalho, pois o desenho de letras é algo que não domino e tentei que saíssem o mais soltas e 'bedéfilas' possível" - fez rapidamente nova proposta, com uma fonte digital. Se numa primeira leitura parecia uma boa solução, com o tempo tornava-se algo cansativa e sem ligação ao lado 'artesanal' dos restantes elementos.
Diz o Paulo: "da troca de ideias e sugestões foram surgindo títulos de livros e figuras emblemáticas para figurarem na estante, e cheguei a pensar que não conseguiria encaixar tudo, dadas as pequenas dimensões do desenho original. Melhor ou pior, e para minha surpresa, funcionou!" E foram bem mais do que as pensadas inicialmente, que fui indicando conforme o espaço 'crescia'! Não as identifico, para que possam descobri-las - se estiverem para aí virados - sendo certo que todas elas foram - são - importantes no meu percursor de leitor de banda desenhada.
Havia no entanto um problema: se a nova versão do cartaz era uma mais-valia a manter, tinha desaparecido o Calendário BD. A solução foi 'apertar' o título do blog e colocá-lo à esquerda da ilustração.
E já com uma letragem manual mais de acordo com o estilo geral, chegou a versão seguinte.
O passo seguinte foi a introdução da cor. E que cor! Para além de dar vida ao cabeçalho, ajudou também a tornar mais facilmente identificáveis os álbuns nele representados. Entre eles e as figuras do topo, há um ponto comum, a diversidade de propostas e estilos.
Estava quase aprovada a ilustração final, havia pequenos pormenores a limar. Descubram as diferenças!
Um dos meus pedidos originais, era que o desenho pudesse ser 'desconstruído' para que os seus elementos ilustrassem algumas entradas recorrentes aqui no blog: o Calendário BD, os Lançamentos mensais, as minhas Leituras.
Foi o ponto final de um percurso cujo magnífico resultado está à vista aqui em As Leituras do Pedro desde o dia 24 de Janeiro.
Obrigado Paulo J. Mendes e... boas leituras!
(sugere-se a leitura do post original onde se pode ver as imagens relacionadas com as mudanças no cabeçalho)
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Painel de azulejos
Painel de Azulejos executado a pedido de cliente colecionador do Tintin.
— em Rota dos Saberes e Sabores (2024).
sábado, 4 de outubro de 2025
A Estrela Misteriosa
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
João Victor Teixeira
A exposição organizada pelo projecto Conversas de Ilustradores esteve em 2020 no Coimbra BD – 5ª Mostra Nacional de Banda Desenhada para ser apreciada.
Eis a lista dos 18 ilustradores que participaram:
1 - Delfim Ruas - desenha Corto Maltese
2 - João Victor Teixeira - desenha Tintin
3 - André Caetano - desenha Hellboy
4 - Hugo Besteiro - desenha Mafalda
5 - Antó Monteiro - desenha Batman
6 - Miguel De Veneza Ruivo - desenha Blacksad
7 - Guilherme Albino - desenha Spawn
8 - Alya Kuznetsova - desenha Snoopy
9 - Paulo Costa - desenha Head lopper
10 - Gabriela Torres - desenha i kill giants (Barbara)
11 - Diogo Carvalho - desenha Dr. Strange
12- @Joana Lopes - desenha Taako de TAZ
13 - Luis Miguel Fernandes - desenha tio patinhas
14 - Rossella Conversano - desenha Dylan Dog
15 - Abel Costa - desenha Pokémon
16- biakosta - desenha Mónica
17 - Ricardo Baptista- desenha Bone
18 - Paul Hardman - desenha Akira
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Explorando o filão Tintim (2004)
No ano em que se comemora o 75º aniversário da criação de Tintin, o herói de Hergé é notícia em Portugal, por várias razões, entre as quais, a publicação de “Tintin e a Alph-Art”, o álbum que a morte de Hergé em 1983 deixou inacabado, ainda em estado de esboço e que agora surge com a mesma apresentação gráfica do resto da colecção.
Apesar do estado ainda demasiado embrionário do álbum deixar apenas adivinhar que poderíamos estar perante uma boa aventura de Tintin, em que Hergé guia o seu herói pelos meandros da arte contemporânea, este “Tintin e a Alph-Art” revela-se uma óptima forma de o leitor descobrir as várias etapas do método de trabalho de Hergé e a complexidade dos trabalhos preparatórios que o depuramento e a aparente simplicidade da “linha clara” escondem.
Igualmente revelador da evolução do estilo de Hergé é a versão facsimilada da edição original a preto e branco de “Os Charutos do Faraó”, que a Verbo lançou no Verão passado e que, se não tem ainda a perfeição do traço e a eficácia narrativa da nova versão redesenhada e colorida pelos Estúdios Hergé, tem uma espontaneidade ingénua e dimensão da aventura em estado puro, que de alguma forma se perdeu na versão que a maioria dos leitores conhecem.
O aparecimento destas duas edições, prova que há público interessado e entusiasta em número suficiente para justificar o lançamento de obras destinadas mais ao coleccionador informado do que ao leitor casual, o que não é de estranhar pois Portugal foi o primeiro país não-francófono a publicar as aventuras de Tintin. E isso aconteceu a partir de Abril de 1936 no “Papagaio”, revista dirigida por Adolfo Simões Muller, onde Tintin apareceu a cores, numa altura em que na própria Bélgica as suas histórias ainda eram publicadas a preto e branco, tornando-se rapidamente num dos símbolos da revista, com participações especiais em outras séries (de que Hergé não deve ter tido conhecimento) como o fabuloso “Boneco Rebelde”, de Sérgio Luís.
Mas, apesar da popularidade da série em Portugal e do herói de Hergé ter dado o nome a uma revista que formou toda uma geração de leitores, actualmente entre os trinta e os quarenta anos, a verdade é que a bibliografia sobre Hergé em português é reduzidíssima. As (honrosas) excepções são o rebuscado “Tintin no Psicanalista” de Serge Tisseron, o excelente dossier sobre os 70 anos da série no nº 1 da 3ª série da revista “Quadrado” e o livro “As Aventuras de Hergé”, de Bocquet, Fromental e Stanislas, já aqui abordado nestas páginas (ver “Diário As Beiras” de 13/09/2003).
Assim, permanecem inéditas em português obras fundamentais como “Le Monde d’Hergé” e “Hergé, Fils de Tintin”, de Benoit Peeters; “Tintin et Moi” de Numa Sadoul; “Le Coloque de Moulinsart”, de Henry Van Lierde e Gustave du Fontbare; a biografia de Hergé, escrita por Pierre Assouline; “Tintin chez Jules Verne”, de J.P. Tomasi e M. Deligne, “Tracé RG: Le Phénomène Hergé”, de H. Van Opstal; “Tintin et les Heritiers”, de Huges Dayez e “Les Dupondts sans Peine”, de Albert Algoud, pelo que a publicação em livro dos textos que no jornal Público acompanharam a publicação da série, podia de alguma forma ajudar a minorar esta lacuna.
Infelizmente, o que “As Aventuras de Tintin no Público” recolhe, são precisamente os textos menos interessantes sobre os álbuns, em que Carlos Pessoa se limita, de forma algo acrítica e superficial, a debitar algumas banalidades sobre cada título, ficando ausente, talvez por uma questão de direitos, as bem mais interessantes declarações de Hergé a Numa Sadoul a propósito de cada história. Assim, este livro soa um pouco a oportunidade perdida, feita mais com o intuito de aproveitar o sucesso da colecção vendida com o “Público”, do que de constituir uma opção importante em termos da bibliografia nacional dedicada ao criador de Tintin.
(“Tintin e a Alph-Art”, de Hergé, Difusão Verbo, 56 pags, 14,50 €
“As Aventuras de Tintin no Público”, de Carlos Pessoa, Público/Oficina do Livro, 64 pags, 4 €
“Os Charutos do Faraó” (edição facsimilada), de Hergé, Difusão Verbo, 130 pags, 18 €).
João Miguel Lameiras, Diário As Beiras, 25/09/2004
Copyright: © 2004 Diário As Beiras; João Miguel Lameiras
NUMA SADOUL
Também sobre o universo de Tintin (ou Tintim?) e sobre o seu criador – entrando um pouco no domínio da investigação que se segue (entrevistas, inquéritos e dados estatísticos) - foram publicadas no jornal Público ao longo do ano de 2003 (continuando em 2004) 17 entrevistas de Numa Sadoul a Hergé sobre as diferentes histórias do Tintim que iam sendo publicadas juntamente com o jornal. De notar que todas as entrevistas se encontram disponíveis quer no site do Público, quer no site da Bedeteca.
«ficando ausente, talvez por uma questão de direitos, as bem mais interessantes declarações de Hergé a Numa Sadoul a propósito de cada história». JML
Entrevista de Carlos Pessoa a Numa Sadoul (1993)
A COLECÇÃO DO PÚBLICO
- A Ilha Negra 03-10-2003
terça-feira, 16 de setembro de 2025
Philippe Goddin (1944-2025)
O universo de Tintin perdeu um dos seus nomes maiores: o belga Phillipe Goddin, erudito enciclopédico da obra de Hergé e do seu herói, morreu aos 81 anos. Entre outros títulos de referência, Goddin escreveu a monumental 'Hergé-Chronologie d'Une Oeuvre', em sete volumes, a biografia 'Hergé: Lignes de Vie-Biographie' e 'L’Aventure du journal Tintin'.
O incansável "hergeólogo", como era conhecido, estava agora a publicar, com a colaboração de Dominique Maricq, a série de livros 'Tintin-Hergé: Les Coulisses d'Une Oeuvre', sobre os bastidores da criação dos álbuns de Tintin, um por álbum, tendo saído há pouco tempo o trabalho relativo a 'A Ilha Negra'.
Especialista também em Paul Cuvelier, o "pai" de Corentin, e grande apreciador de Edgar P. Jacobs e 'Blake e Mortimer', Philippe Goddin foi Secretário Geral da Fondation Hergé e era uma das figuras de proa da Association Les Amis d’Hergé, em cuja revista escrevia há várias décadas. Como escreveu Didier Pasamonik no site 'ActuaBD', "a sua desaparição deixa um vazio imenso (...) voltou-se uma página, é o fim de uma época".
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
David & Hergé
O encontro estava marcado para as 12h40. Cheguei à baixa trinta minutos antes, mas queria aproveitar a ida ao Porto para fazer algumas compras a granel. Corri entre a Rua do Rosário e o Centro Comercial Miguel Bombada e pelo rabo do olho entrevi dois leitores, sentados no interior de dois cafés distintos, junto às montras. A câmara fotográfica, fechada dentro da mala que levava ao ombro, pedia-me que parasse e aproveitasse as oportunidades — afinal de contas estava sem conteúdo para o Acordo Fotográfico havia quase dois meses. Mas o meu sentido de pontualidade falou mais alto e segui em frente. Quando por fim, já de compras feitas, entrei no restaurante Sabores & Açores, que era o meu ponto de encontro, parecia que o David esperava por mim, para me oferecer a fotografia e a conversa de que eu tanto precisava.
“Estou a ler um livro teórico, chamado “The comics of Hergé – When the lines are not so clear”, que saiu há dois anos sobre a obra do Hergé, o autor do Tintin. Estou a fazer um doutoramento sobre Banda Desenhada e esta leitura é uma atualização científica. Consiste num conjunto de ensaios, de vários autores. Estou a gostar muitíssimo, porque é uma perspetiva de fora, uma visão americana sobre uma obra que é belga, e há sempre novos detalhes em cada ensaio. É muito interessante mesmo!”
O David formou-se na área da Literatura e do Cinema. Também por isso, lê muito e de tudo um pouco, embora admita que não se dedica tanto à poesia e a textos dramáticos. Naturalmente, no meio dos muitos livros que já leu, torna-se difícil eleger um que tenha sido determinante, mas a este propósito David consegue surpreender-me ainda assim:
“Bem, já que tenho nas mãos um livro sobre o Hergé, devo dizer que as aventuras de Tintin foram sem dúvida importantes, porque foi com elas que aprendi a ler, tinha três ou quatro anos. Agora leio esses álbuns com uma perspetiva crítica e teórica que não tinha na altura, obviamente, mas continuam a ser tão maravilhosos e emocionantes como dantes. Levaram-me a viajar e deixaram-me este sonho de viajar a sério quando crescesse. E é isso que eu tenho vindo a fazer constantemente.”
Posted on November 19, 2018 by acordofotografico *
Acordo Fotográfico - Sandra Barão Nobre - David Pinho Barros - Hergé - 4
* Livros, pessoas e fotografias numa homenagem ao ato de ler.
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
Cavaleiro Andante
A minha geração teve uma relação especial com a revista “Cavaleiro Andante”, dirigida por Adolfo Simões Müller. Apesar da resistência que encontrávamos em alguns dos nossos professores de Português relativamente às histórias aos quadradinhos, hoje referidas como 9ª Arte ou Banda Desenhada, pudemos encontrar no “Cavaleiro Andante” e na sua escola um bom aliado na demonstração de que era possível ter qualidade no uso da língua e no incentivo à leitura. A revista que recebíamos ao sábado, com prazer e alvoroço, permitia termos bons argumentos a favor da qualidade das narrativas ilustradas. Recordo os debates amenos, mas incisivos, no Liceu Pedro Nunes, com alguns professores resistentes e a evolução no sentido do reconhecimento de que esse era um importante contributo para a boa leitura. E assim fomos vendo passarem para o nosso campo os antigos críticos.
Na Exposição sobre Hergé na Fundação Calouste Gulbenkian recordei esse tempo com António Cabral, o grande impulsionador da iniciativa. Hoje reconhece-se a qualidade excecional do autor belga e o papel fundamental que desempenhou no campo cultural. Do mesmo modo, o introdutor de Tintin em Portugal, Simões Müller, pôde contribuir decisivamente para incentivar o prazer da leitura, com exigência de qualidade. E quando alguns de nós passámos a assinar a revista “Tintin” belga foram as nossas professoras outrora críticas as primeiras a reconhecer os efeitos positivos da BD nos progressos no ensino das línguas, como modo de ligar o multilinguismo, o enriquecimento pedagógico e a abertura de horizontes de um humanismo universalista. António Mega Ferreira já recordou, mais de uma vez, como o Tintin foi um marco de liberdade para a nossa geração. E no caso de Adolfo Simões Müller podemos lembrar os testemunhos de Luísa Ducla Soares, a afirmar que o jornalista e escritor foi um herói da sua infância – “que através dos seus livros, que não esqueço, me iniciou na literatura”; ou de Alice Vieira, a dizer da alegria que era no dia em que chegava o “Cavaleiro Andante”. E David Mourão-Ferreira, recordando o Serviço das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian, lembrava o papel desempenhado pelo diretor do “Cavaleiro Andante” “ao tornar acessíveis e aliciantes, a sucessivas gerações de jovens, algumas obras-primas da literatura universal e, particularmente, da literatura portuguesa”. E João Paulo Paiva Boléo refere Müller como “um dos monstros sagrados da direção de revistas juvenis e de banda desenhada, de que inicialmente nem gostava”.
Nas férias de verão, em casa de meus avós, no Algarve, como não tínhamos acesso ao “Cavaleiro Andante” ao sábado, recebíamos religiosamente, à segunda feira, pelo correio, enviado pelo nosso pai, um pequeno rolo, que era acolhido com entusiasmo. Os correios eram ciosos cumpridores dos prazos e a leitura da revista estava devidamente escalonada, para que, com os meus irmãos, pudéssemos usufruir daquele néctar escrito e ilustrado nas melhores condições. Era uma equipa heroica que cuidava com esmero da revista. Os nomes não podem ser esquecidos – Maria Amélia Bárcia, no secretariado da redação, e Fernando Bento, referência fundamental ao lado dos melhores europeus, na direção gráfica. Depois havia tudo o mais – e sobretudo a magia dos continuados e o “suspense” cuidadosamente cultivado de uma semana para outra. E assim tornámo-nos apaixonados da literatura, do cinema, das artes plásticas, da história e da ciência, acompanhando a mais bela das histórias de uma amizade em “Tintin no Tibete”, seguindo as pegadas no Yéti, o abominável homem das neves, como antes fôramos à lua ou partilháramos a luta pelos direitos humanos em “Coke en Stock”.
Guilherme d'Oliveira Martins, DN, 12/10/2021
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Quim e Filipe
Entre 1984 e 1986 foi produzida uma série de animação com Quim e Filipe (Quick et Flupke no original). No IMDB são indicados 260 episódios. A duração era de pouco mais de 1 minuto cada.
A obra teve a colaboração de Johan de Moor.
A série deu em Portugal mas em data não conhecida.
Um dos episódios, com dobragem em português, foi partilhado no youtube por Mónica Albuquerque.
https://www.youtube.com/watch?v=neRfz6M_INc
Production Companies:
Atelier Graphoui / Casterman Animation / Communauté Française de Belgique / Graphoui / Herge Studios
Distributors:
Radio Télévision Belge Francophone (RTBF)
(Belgium, 1984) (TV)
Verenigde Arbeiders Radio Amateurs (VARA)
(Netherlands, 1987-1989) (TV)
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Deputado Borges de Carvalho
15 DE JULHO DE 1982 - DEBATE PARLAMENTAR
O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Jorge Miranda.
O Sr Jorge Miranda (ASDI): - Sr Presidente, Srs Deputados Entendeu por bem o Sr Deputado Borges de Carvalho anteceder a sua declaração de voto de uma afirmação, segundo a qual a ASDI neste debate se teria pautado por uma submissão a chantagem do Partido Comunista Português Esta expressão e tão descabida e tão injusta que eu limito-me a repudia-la.
Contudo, não deixarei de lembrar ao Sr Deputado Borges de Carvalho que, se chantagem houve, ela foi exercida sobre toda esta Assembleia, incluindo o partido do Sr Deputado...
Aplausos do Sr Deputado César de Oliveira.
...na medida em que, tendo sido agendada para determinado dia da semana passada a votação do artigo 113.º da Constituição, com as alterações vindas da Comissão Eventual para a Revisão Constítucional, essa votação não se fez nesse dia - só hoje foi feita - devido exactamente à iniciativa política do Partido Comunista Português, iniciativa que provocou a celebração de um acordo de que e signatário o partido do Sr Deputado - não o nosso! -, tendente à resolução da questão das disposições transitórias.
Nos e que não cedemos a chantagens, pois nem sequer celebramos nenhum acordo!
Apenas quero dizer que a nossa posição foi a de que, sendo posta a questão, ela devia ser discutida no órgão competente, da Assembleia, e não fora da própria Assembleia.
Aplausos da ASDI, da UEDS e de alguns deputados do PS.
O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Lopes Cardoso.
O Sr Lopes Cardoso (UEDS): - Eu diria que o Sr Deputado Borges de Carvalho perdeu a ocasião de parafrasear um colega seu da bancada AD anunciando uma declaração de voto De facto, o Sr Deputado não fez uma declaração de voto, mas sim declarações sobre os votos alheios.
O Sr. António Vitorino (UEDS) - Muito bem!
Não sabe fazer uma declaração de voto própria!
O Orador: - Aliás, o Sr Deputado Borges de Carvalho comporta-se como o albanês da AD. Eu explico-lhe, se o Sr. Deputado não percebe: no momento mais aceso do conflito sino-soviético e da velha amizade sino-albanesa, nos congressos internacionais os albaneses eram geralmente encarregados de dar os recados mais ou menos malcriados que os chineses julgavam inoportuno dar E o comportamento do Sr Deputado em relação a AD.
Aplausos da UEDS e da ASDI e risos do PCP.
Quanto ao substantivo da questão, o Sr. Deputado vem de certa maneira
acusar-nos, ao dizer que tomamos uma posição de ultima hora, de termos dado uma pirueta. Ai, eu hesito um pouco, pois em matéria de piruetas o Sr. Deputado e o seu partido são, realmente, uma autoridade.
O que acontece é que o Sr Deputado não e capaz de distinguir entre coerência e piruetas, pois se é uma autoridade em piruetas, em coerência não tem autoridade nenhuma!
Aplausos da UEDS e da ASDI.
O Sr Presidente: - Sr. Deputado Borges de Carvalho, embora tenha pedido a palavra para contraprotestar, são já 20 horas.
O Sr Borges de Carvalho (PPM)- - Sr. Presidente, se não houvesse objecção da Câmara, responderia já.
Protestos do PS, do PCP, da ASDI, da UEDS e do MDP/CDE.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que não há bom ambiente para que possa responder agora, o que poderá fazer as 22 horas, quando retomarmos os nossos trabalhos.
Está suspensa a sessão.
Eram 20 horas.
O Sr Presidente: - Esta reaberta a sessão.
Eram 22 horas e 25 minutos.
O Sr. Presidente: - Pedia a atenção da Câmara para o tacto de que a sumula distribuída na sequência da Conferência dos Presidentes dos Grupos Parlamentares hoje realizada, suscitou algumas duvidas e, porventura, até pode conter algum lapso em relação ao calendário e ao horário das reuniões previstas.
Queria esclarecer a Câmara de que as decisões tomadas hoje se referem as próximas semanas e não a semana que esta em curso.
Em relação à semana em curso, portanto às sessões de hoje, amanhã e sexta-feira, o que ficou acordado e o que consta da sumula n.º 50 da reunião da passada segunda-feira, dia 12, onde se diz, nomeadamente, o seguinte na semana corrente haverá reunião na terça-feira ate às 21 horas - não foi assim pelas razões que conhecem -, na quarta-feira e na quinta-feira, portanto hoje e amanhã, haverá reunião de manhã as 10 horas, à tarde ate as 20 horas e à noite ate à l hora da madrugada, na sexta-feira, haverá reunião das 10 às 13 horas.
Isto é o que está acordado, e que confirmo, em relação à semana em curso As alterações que introduzimos, na sequência da conferência realizada esta tarde, dizem respeito às reuniões das próximas semanas.
Se houve qualquer falta de clareza na comunicação que foi distribuída aos grupos parlamentares, peço que ma revelem. Mas a situação e esta.
O Sr. Veiga de Oliveira (PCP) - Dá-me licença. Sr Presidente!
O Sr. Presidente: - Faça o favor.
O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Sr. Presidente, do nosso lado não temos nada a objectar ao que o Sr Presidente acaba de dizer.
No entanto, queria solicitar, desde já, ao Sr Presidente aquilo que, por falta de tempo, não chegou a ser resolvido na reunião Haveria interesse que o Sr. Presidente determinasse que os serviços distribuíssem os "borrões" do Diário.
O Sr. Presidente: - Esse assunto foi abordado na reunião, Sr. Deputado.
O Orador: - com 48 horas de antecedência em relação ao envio para a Imprensa Nacional Porque, de contrario, e totalmente impossível fazer as correcções - e algumas são indispensáveis - porque de todo em todo não se percebe o que ía esta Isto porque nesta altura tratando-se da matéria que se trata, seria importante que elas tossem feitas.
O Sr Presidente: - Sr. Deputado, mantenho o que disse ao Sr Deputado Jorge Lemos na Conferencia, ou seja, que vamos procurar uma solução que, por um lado, não comprometa um estorço que, como todos sabem, temos estado a fazer, no sentido de um menor atraso na publicação do Diário e por outro lado não comprometa o registo das declarações dos Srs Deputados aqui na Assembleia.
O Orador: - Sr Presidente não e uma questão de registo, e uma questão de emendar gralhas que tornam o Diário ilegível Nos somos pela publicação atempada do Diário mas desde que ele seja legível.
O Sr Presidente: - Certamente Sr Deputado Tem a palavra o Sr Deputado Sousa Tavares.
O Sr. Sousa Tavares (PSD): - Sr Presidente ainda não temos o programa de trabalhos para a próxima semana.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o seu grupo parlamentar esteve representado na conferencia, suponho que pelo Sr Deputado Reinaldo Gomes, que o poderá informar Por outro lado. suponho que o Gabinete já fez a distribuição da sumula que. justamente, ocasionou as dificuldades de compreensão a que me referi. Mas se há qualquer atraso, vamos procurar supri-lo imediatamente.
Antes do intervalo para jantar tinham sido proferidos vários protestos a propósito de uma declaração de voto do Sr. Deputado Borges de Carvalho.
Para contraprotestar, tem a palavra aquele Sr. Deputado.
O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr Presidente. Srs Deputados Tenho aqui alguns apontamentos de ha bocado mas não sei se estarão completos se darei as respostas cabais, ou se já me terei esquecido de algumas partes importantes dos protestos que foram feitos a minha declaração de voto.
Começaria pelo Sr Deputado Jorge Miranda. Aliás, vejo que este Sr Deputado não esta presente, mas peço aos seus colegas de bancada que lhe transmitam o meu contraprotesto.
Propriamente, antes de contraprotestar, queria prestar as minhas homenagens ao Sr Deputado Jorge Miranda. Terei talvez sido demasiado duro na forma como protestei contra aquilo que, de facto, para mim. merece um protesto veemente Terei talvez sido um pouco duro, e por isso não quero deixar de começar por homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda pela forma como tem entendido a sua missão de deputado e pela forma como contribuiu e continua a contribuir para a revisão constitucional.
Quero homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda, a sua figura de democrata, de professor, de cidadão, de português.
Também não posso esquecer que das intervenções talvez mais profundas e dignas de nota acerca do Conselho da Revolução, terá sido a própria tese de doutoramento do Sr. Deputado Jorge Miranda. Foi de facto, um dos poucos professores portugueses de Direito que teve a coragem de dizer que o Conselho da Revolução era um orgão de soberania não democrático Por isso também a minha homenagem.
A diferença que ha no entendimento das coisas entre mim e o Sr. Deputado Jorge Miranda e talvez uma diferença naquilo que diz respeito ao que e ou não uma cedência a uma chantagem.
O Sr. Deputado Jorge Miranda afirmou que tinha havido chantagem e acrescentou que ela tinha sido exercida sobre todos nos Depois disso disse que quem tinha cedido era a AD e não a ASDI.
Ora para nos a extinção do Conselho da Revolução e linear, e liquida, não tem adiamentos Entre nos não se discute, isso e adquirido Nem podemos pensar, da maneira como entendemos a democracia e os democratas, que para algum democrata possa haver duvidas ou hesitações a esse respeito.
Por isso, mesmo que tosse formalmente, achamos que a atitude da ASDI nesta matéria foi uma surpresa desagradável. Essa, sim, foi uma cedência formal as exigências do PCP Nessa medida a critiquei, nessa medida a continuo a criticar, e não dou qualquer espécie de razão aos argumentos aduzidos.
Quanto ao Sr Deputado Herberto Goulart, queria apenas fazer duas observações V. Ex.ª classificou a l a fase dos trabalhos de revisão constitucional - que antecederam a elaboração do relatório - como atribulada e repentina Se V. Ex.ª estava, realmente, atribulado, devo dizer-lhe que o problema e seu Nos não sentimos grandes atribulações, não nos constou nem nos foi comunicado que houvesse partidos atribulados nesta Casa. Assim, julgamos que o processo se desenvolveu e se encerrou de forma perfeitamente normal.
Quanto ao artigo 113.º propriamente dito.
O Sr. Vilhena de Carvalho (ASDI): - Já há quorum.
Risos.
O Orador: - Faço vénia ao sentido de humor do Sr. Deputado Vilhena de Carvalho, e tomo nota da comunicação de que já ha quorum Vou ser mais rápido.
Em relação ao Sr Deputado Herberto Goulart, devo dizer que quando V. Ex. ª afirma que foi por causa desse final repentino dos trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional que não se discutiu ai esse problema, devo dizer-lhe - como já aqui disse hoje - que o artigo 113.º foi discutido na Comissão Eventual para a Revisão Constitucional, como VV. Ex.ªs sabem, ha muitos e muitos meses Se ninguém levantou o problema foi porque não quis e não porque não pensasse nele.
Quanto ao Sr Deputado Lopes Cardoso, terei que dizer que não sei falar albanês e como já que sou o - albanês da AD", não sei como lhe hei-de responder.
De qualquer maneira, julgo que o que ha de mais substancial no seu protesto e a referência a que não ouviu, da minha parte, nenhuma declaração de voto.
Isso faz-me lembrar uma figura - não do albanês, mas outra muito conhecida na minha juventude e que ainda hoje leio com prazer -, que é a do professor Tornesol.
Quando eu era jovem, traduzia-se para professor Pintadinho de Branco. Uma das suas características fundamentais era ser surdo. Usava uma corneta acústica. Verifico que o Sr Deputado não tem corneta acústica, não ouviu a minha declaração de voto. O mais que lhe posso aconselhar é que se dirija aos serviços de redacção, onde encontra a declaração de voto, inclusivamente, escrita.
Finalmente, foi formulado um protesto pelo Sr Deputado Veiga de Oliveira Este Sr Deputado brindou-nos com uma declaração de voto maximalista, ortodoxa, recuperadora de todos os slogans da mais pura ortodoxia do PCP. Brindou-nos com uma declaração de voto de tal maneira cheia de "molho que ate houve deputados mal intencionados que interpretaram ser essa a causa da saída da Camará, nessa altura do Sr. Deputado Vital Moreira.
Eu não o faço, evidentemente, mas não deixo de notar que o Sr. Deputado Veiga de Oliveira, logo a seguir, teve a preocupação de me tratar por chairman Essa expressão, na língua da Sr. Thatcher e do Sr. Ronald Reagan, talvez seja uma espécie de compensação. Enfim...
Disse o Sr. Deputado Veiga de Oliveira que durante os trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional tinha ficado bem patente que os deputados pensavam que esta matéria só podia ser discutida nesta ocasião e que os deputados pensavam isto, aquilo ou aqueloutro Eu não sei o que os deputados pensam, não tenho dotes de hipnotizador, nunca fiz lavagens ao cérebro a ninguém, para ver o que ía esta dentro.
O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Dá-me licença que o interrompa?
O Orador: - Faz favor.
O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Desculpe, mas eu não disse isso. O que eu disse e que era proverbial nos trabalhos da Comissão, a sua relativa falta de memória. Isto foi um ponto.
O outro foi que tinha sido discutida a questão de se considerar este artigo 113.º como um artigo de chegada e não de partida. Isto e, o artigo pressupunha a discussão e votação de muitos outros Por outro lado, em subcomissão colocou-se a questão das normas transitórias que poderiam garantir o conhecimento exacto do sentido da votação deste artigo.
Esta é a verdade isto e factual e foi por isso que eu, não querendo chamar-lhe nenhum nome nem imputar-lhe nenhuma mentira, disse simplesmente que era conhecida a sua relativa falta de memória.
O Orador: - Talvez eu tenha falta de memória. Sr Deputado No entanto, a minha falta de memória não e tanta que não me lembre perfeitamente que nenhum partido - muito menos o partido de V. Ex.ª - fez qualquer proposta nesse sentido, que nenhum partido quis que as disposições transitórias tossem discutidas aquando do debate do artigo 113.º. Isso fica tudo dito em relação as acusações que fiz ao seu partido e que neste momento renovo.
De resto, não sei se no fim não nos e legitima uma ultima reflexão. Sr Deputado Não sei já hoje e aqui, se os entraves que o Partido Comunista, com algum sucesso, conseguiu pôr a votação não terão saído furados E isto não porque a votação se tenha feita mas porque tenha sido feita hoje. Amanhã VV. Ex.ªs teriam outra "claque" para os apoiar nestas matérias.
Aplausos, do PPM do PSD e do CDS.
(...)
Debates Parlamentares (1982)
quarta-feira, 27 de agosto de 2025
Tornesol : um indicador do PH
Surdo como uma porta, o professor Girassol é conhecido por nunca perceber o que lhe dizem e andar sempre de cabeça no ar. Exemplo de um diálogo entre o professor e o capitão Haddock, tirado do álbum "O Caso Girassol": Com que então vocês apostaram todos em pôr-me maluco?... Não sei o que me impede de vos correr a todos a tiro de carabina...", barafusta o capitão. "Escarlatina??? Na sua idade?!... Meu Deus!..." O facto de Hergé ter dado este nome ao cientista que, nas aventuras de Tintim anda sempre a inventar de engenhocas estranhas, não deverá ser alheio ao facto de andar distraído a olhar para cima e a virar a cabeça para todos os lados. Um pouco como a flor dos girassóis, sempre à cata da luz do Sol.
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
100 anos de BD
A revista Quadrado nº 3 da 2ª série foi lançada em Outubro de 1996. Nessa edição dedicada aos "100 anos de BD" aparecem dois desenhos interessantes com várias personagens incluindo Tintin. Os autores dos dois desenhos são Bruno e Tozé Lopes.
Agradecemos a Pedro Cleto pelo envio da cópia dos desenhos.
O que nos interessa mais são os desenhos e as ligações a Tintin mas aproveitamos no entanto para partilhar informação que encontrámos ao procurar pela origem da efeméride.
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"100 anos de BD: Yes ou Non" - Inquérito realizado pela extinta Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto-ASIBDP, em 1996, cem anos após o aparecimento do "balão da BD"
Perguntas:
1ª - Concorda com a data escolhida para comemorar os 100 anos do nascimento da BD, coincidente com a publicação de The Yellow Kid, de Richard F. Outcault? Porquê?
2ª - Acha importante as comemorações dos 100 anos da Banda Desenhada? Porquê?
3ª - Destaque os três momentos que considera mais importantes na História da Banda Desenhada.
A resposta seguinte de Geraldes Lino foi uma das várias publicadas no fanzine QUADRADO (nº 3 - Out. 96) pela ASIBDP.´:
1ª - Não concordo.
Reconheço que o Yellow Kid constituiu valiosa contribuição para a divulgação da banda desenhada, visto que a sua publicação nos jornais americanos permitiu atingir camadas vastas e etariamente heterogéneas de leitores. Mas considero ter sido uma decisão artificial e forçada a escolha dessa obra e, por inerência, a respectiva data, para marcar o nascimento da BD.
Porque o processo para se chegar a tal decisão é pouco conhecido, apesar de histórico no âmbito da banda desenhada, julgo imprescindível saber-se quem a tomou, onde, e quando.
Em 1989 reuniu-se em Lucca, Itália, um grupo de especialistas na matéria, expressamente convidados para o efeito. Foram eles:
Álvaro de Moya (Brasil), Claude Moliterni (França), Claude Bertieri (Itália), David Pascal (Estados Unidos da América), Denis Gifford (Inglaterra), Javier Coma (Espanha), Luís Gasca (Espanha), Maurice Horn (E.U.A.), Richard Marschall (E.U.A.), Rinaldo Traini (Itália) e Vasco Granja (Portugal).
Por informação pessoal de Vasco Granja (que inicialmente defendeu os Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa) e de Claude Moliterni, na votação final apenas Denis Gifford votou contra o Yellow Kid, defendendo inabalavelmente Ally Slopper, personagem pioneira da BD inglesa.
Ficou portanto decidido, por maioria, que The Yellow Kid passaria a ser a origem histórica da banda desenhada, por ter sido a primeira obra a integrar balões, cumprindo dessa forma todos os requisitos por ele exigidos.
Assim passou a constar, ad eternum, que a BD apenas existe desde 1896, data em que as falas daquela personagem começaram a ser sistematicamente inseridas em filacteras, popularmente designadas por balões.
É muito controverso um purismo deste tipo. Tanto mais que, em dezenas de definições de banda desenhada, elaboradas por estudiosos tão credenciados quanto os de Lucca, não existe nenhuma que indique obrigatoriedade do balão.
Obrigatória tem sido a exigência de existir sequência nas imagens, e serem publicadas (ou susceptíveis de o ser).
A considerar-se o balão como elemento absolutamente indispensável, muitas obras de qualidade deixariam de poder considerar-se bandas desenhadas. Como, por exemplo, o Príncipe Valente. Além disso, seria tão absurdo como se, no que concerne ao Cinema, nos quisessem impor o conceito de que a sua origem seria datada a partir do primeiro filme sonoro.
2ª- Não. Porque não considero que a banda desenhada tenha passado a existir apenas em 1896.
3ª -
Primeiro:
O ano de 1827, quando o professor, escritor e pintor suiço Rodolphe Töpffer realizou, para os seus alunos, a sua primeira histoire en estampes, intitulada Histoire de M. Vieux Bois. Trata-se, indubitavelmente, da primeira banda desenhada. (Ainda não fora impressa nesse ano, mas era susceptível de o ser, e foi-o, em álbum, em 1837, sob o título Les Amours de M. Vieux Bois.
Segundo:
O ano de 1833, quando, pela primeira vez, foi publicada uma banda desenhada. Intitulou-se Histoire de M. Jabot, era também da autoria de Töpffer, e foi editada sob a forma de álbum.
Terceiro:
O aparecimento do balão na boca do Yellow Kid, em 25 de Outubro de 1896.
Foi isso no episódio The Yellow Kid and his new phonograph. E, por coincidência, é aí que pela primeira vez nesta obra, aparecem imagens em sequência, como é obrigatório na linguagem visual da banda desenhada.
Geraldes Lino, Divulgandobd, 19/11/2006
A resposta apareceu bastante truncada nessa edição do "Quadrado" e o texto foi reproduzido na íntegra no fanzine Tertúlia BDzine, nº 8, Janeiro de 1997.
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Artigo de João Ramalho Santos (JL) sobre as polémicas com a referida efeméride.
























