sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Tintin Anual

Foram publicadas cinco revistas anuais, entre Dezembro de 1974 e Dezembro de 1978. A primeira "Tintin Anual" apresenta uma capa interessante onde se pode ver Tintin, Milou, Haddock, Prof. Girassol e Dupond & Dupont junto aos destaques da edição.


Mais informação no blog dedicado à Revista Tintim:

Os Tintins Anuais!

Capas de revistas "Tintin" com as aventuras de Tintin e outras em que aparece na capa.

https://tintinofilo.weebly.com/portugal1.html







sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Algarve 1973

 

No site de leilões Delcampe está à venda uma fotografia a preto e branco com uma criança a ler um exemplar da revista Tintin.

Legenda:  Ilha do Farol, Olhão, Agosto de 1973

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Maria João Marques enquanto tintinóloga


Ora o Tintin é um assunto sério para mim. Se calhar na minha biografia/apresentação aqui da Capital Mag devia constar o epíteto de ‘tintinóloga’ – e com toda a justiça e falta de modéstia, porque sou. A minha devoção por este tema é tal que quando casei as mesas tinham nomes das personagens dos livros do Tintin.

Em minha casa pululam artefactos with all things Tintin. Desde um bule (a que infelizmente já parti a tampa e agora serve de jarra de flores) com umas impressões do Tintin e do Capitão Haddock no fundo do mar e no submarino-tubarão de "O Tesouro de Rackham, o Terrível". (Mas ainda permanecem duas chávenas de chá, as chávenas de café e duas leiteiras. Ufa.) Tenho mais umas chávenas de chá de outra fornada mais recente, que a loja da Avenida de Roma mandou vir de propósito para mim, estas com desenhos dos "Charutos do Faraó" em tons sépia. Os miúdos, quer gostem ou não, têm vários quadros [no quarto] do Tintin. E nem sequer são quadros normais como os posters das capas dos livros – isso toda a gente tem. São uma série de quatro gravuras com partes dos desenhos do "Ceptro de Ottokar" e, a pièce de résistance, uma pintura em pastel misturado com uma gravura do Tintin na Lua que comprei ao autor na loja de brinquedos ao pé do Romerberg em Frankfurt. E mais umas (numerosas) coisas.

Além, claro, dos livros com a banda desenhada que tenho em casa, por vezes repetidos. E de livros sobre os livros do Tintin. Afinal Hergé, o autor, é um artista de mão cheia. A ligne claire, a sua forma de desenhar, merece ser apreciada por si mesma. E é um autor e um contador de história de primeira água. O ritmo da narrativa agarra-nos, as histórias são inteligentes, Hergé chegou mesmo ao ponto de desenhar um livro inteiro em que não se passa nada ("As Jóias de Castafiore") – e que delícia que é, tal a mestria do desenhador.

É certo que os primeiros três livros são de uma falta de densidade avassaladora (tanto que por muitos anos "Tintin no País dos Sovietes" não voltou a ser editado). Mas os livros finais vão ganhando nuance, profundidade, ativismo, desencanto.

Nada o ilustra tanto como "Tintin e Os Pícaros", o último livro da série. Aquele em que Tintin, Haddock e Girassol viajam para um país ditatorial da América Latina (que na altura eram praticamente todos) para salvarem Bianca Castafiore, prisioneira do ditador General Tapioca. Para lograrem o objetivo mudam o regime: o novo ditador será o General Alcazar. Mas a mudança política deixa a miséria do país exatamente na mesma. O último quadradinho do livro mostra o avião dos amigos a levantar, visto de uma lixeira onde as famílias mais pobres viviam (uma realidade sul-americana de então; cresci a ouvir falar das pessoas que viviam nas lixeiras de Lima), com os arranha-céus da cidade rica ao longe no horizonte. O quadradinho é em tudo igual ao da chegada de avião, mudam apenas as fardas dos guardas que policiam os favelados das lixeiras.

Mas também existiu ativismo. "Carvão no Porão" denuncia a escravatura de africanos. "O Lótus Azul", passado na China aquando da invasão japonesa de 1937, é um livro político. Os japoneses são mostrados como brutais e até a saída do Japão da S.D.N. lá consta. Hergé foi acusado de ter escrito um livro com mensagem política pouco adequada para dar a ler às criancinhas. E há outros casos.

A Alemanha nazi e, mais tarde, a União Soviética são representadas pela Bordúria, a primeira n’"O Ceptro de Ottokar", a segunda no "Caso Girassol". Neste livro, em plena guerra fria, com os bordurienses-soviéticos a tentarem apoderarem-se de uma arma poderosa descoberta pelo pacífico e distraído Girassol.

Além da presença da política e da História nos livros de Tintin, as personagens que Hergé criou, aparentemente simples, estão longe de lineares. Tintin, um repórter que nunca se vê a fazer reportagens, não hesita em usar o alcoolismo de Haddock quando pretende manipulá-lo para o convencer. Haddock, claro, é um alcoólico nunca totalmente recuperado, que se sente indisposto quando bebe um copo de água (em "O Caranguejo das Tenazes de Ouro"), e que nos diverte com a invenção de uma lista infindável de insultos virulentos.

O que falta nos livros de Tintin são as mulheres. Existem poucas, sempre longe de atraentes, autoritárias, levemente assustadoras. Certamente algumas observações psicanalíticas poderiam advir deste facto. Mas eu, que não sou apoiante de obliterar as obras passadas que não mostrem (nem poderiam mostrar) a moral e os valores do início do século XXI, pendo mais para a inserção de Hergé dentro da sua época, até para evidenciar como estes apagamentos das mulheres são incorretos e injustos e empobrecedores. Hergé mostra o  mundo quando se considerava que todo o espaço visível e público era naturalmente só ocupado por homens. E, na verdade, é bom para usar como caricatura da atualidade. A ausência de mulheres nas chefias e administrações das empresas (por todo o mundo), a falta de representação das mulheres no poder político, a naturalidade com que se excluem as mulheres de eventos mediáticos (a quantidade de painéis inteiramente masculinos, da política às conferências aos programas de televisão)  faz-nos corar de vergonha alheia. Não estamos assim tão distantes de Hergé.

No entanto a vida de Hergé com as mulheres aparece nos livros. O divórcio e o segundo casamento, que provocaram uma crise no católico George Remi (o nome verdadeiro) originaram "Tintin no Tibete", uma das melhores histórias de amizade da literatura, com desenhos ou não. O branco das neves do Tibete são uma procura de pureza por Hergé; e a busca incessante de Tchang (o amigo chinês cujo avião se havia despenhado) por Tintin, uma prova da lealdade que Hergé quebrara com a primeira mulher. Atualmente ainda há quem pretenda que deve chegar, que devemos aparecer apenas desta forma indireta, afinal as mulheres que se expõem publicamente não se podem queixar se lhes atirarem lama, em boa verdade os homens têm o direito ancestral de insultar mulheres sem consequências e a ficarem muito ofendidos se as mulheres tão somente descrevem a realidade a uma luz que lhes é desfavorável.

No ponto das mulheres, Hergé e Tintin são um ótimo ‘not to’ para mostrar. Mas mostre-se, e leia-se. Pelos desenhos e a arte da ligne claire, pela representação dos países onde Tintin teve as suas experiências, pelo que se aprende da História, pelo humor, até por serem um testemunho histórico da forma como se viam determinados grupos na sociedade. E porque são livros que falam de amizade e lealdade e da procura do Bem.

Maria João Marques / Capital Mag, 11/01/2019

É cronista do Público e escreve ocasionalmente ensaios sobre livros e leituras na Ler. Já foi blogger e cronista do Observador e Diário Económico.


EXTRA

«Talvez ainda não se tenha percebido por aqui, mas eu sou uma tintinóloga – não no sentido de expert em Tintin, sabe-se só o que se consegue, mas de consumidora de tudo relacionado com o Tintin, além dos livros da gloriosa série, dos livros sobre a gloriosa série e dos livros sobre o criador da gloriosa série. O meu bule preferido (e já sabem que o chá é um assunto vital) e usado quase todos os dias é em porcelana de Limoges com desenhos do Tesouro de Rackam (as chávenas e a leiteira têm figuras diferentes, mas o bule mostra o Capitão Haddock montado no submarino inventado pelo Girassol depois de inevitavelmente cair do bote para a água na volta da inspecção da ilha do tesouro e ser resgatado em posição duvidosa pelo mencionado submarino). O meu hall tem umas preciosas gravuras do Tintin, emolduradas em azul e verde (que na mudança de casa vão para o quarto do meu filho) do Ceptro de Ottokar e do Lótus Azul. Também há cá em casa um quadro que mostra Tintin no seu fato espacial cor-de-laranja na lua, juntamente com o Milou, numa muito bonita junção de uma impressão de um poster e pintura a pastel, comprada em Frankfurt naquela loja de brinquedos no Romerberg, ao empregado da loja que pintava aqueles quadros e era, inevitavelmente, outro tintinólogo (e que nunca mais encontrei lá na loja, apesar de ter insistido). Por fim, e só para verem o tamanho da tara, as mesas do meu casamento tiveram nomes dos personagens do Tintim. A minha mesa respondia ao nome, claro, de Capitão Haddock, uma das personagens mais geniais de sempre.»

Blog Farmácia Central, 01/11/2008

«O único livro em francês que me dei ao trabalho de ler foi o das entrevistas do Numa Sadoul ao Hergé. E, claro, de tempos a tempos tenho de regressar aos livros para saborear as piadas com o talho Sanzot, as confusões acústicas de Girassol, os disfarces dos Dupondt, as diabruras de Abdallah, a maldade (crescente) de Rastapopoulos, a invasão japonesa da China, os vilões, os terroristas do Irgun (que, em edição posterior, foram renomeados), a passagem da Bordúria de um estado parecido com a Alemanha nazi a outro semelhante à URSS estalinista. E as quedas e desgraças sortidas e palavrões de Haddock, a sua tentativa de se tornar um gentleman farmer depois da descoberta do tesouro de Rackham e da recuperação de Moulinsart, as fugas da Castafiore, as fúrias com o mundo inteiro. Haddock – esse bêbado recuperado pela amizade de Tintin, que não hesitava em manipulá-lo, quando necessário, com uma módica dose de álcool. E, para mim, os livros de Tintin são sobretudo isso, livros sobre a amizade – o melhor livro sobre amizade que já li foi o Tibete, o livro psicanalítico que Hergé escreveu para expiar a culpa que sentia pelo seu divórcio – tanto melhores por não serem amizades perfeitas, mas amizades com zangas, incompreensões, fúrias, manipulações, necessidades de distância, segredos, teimosias.»

O Insurgente, 10/01/2014

A - referências encontradas em artigos de opinião:

«Escolho o livro Tintin e os Pícaros. Lá, Tintin planeia e implementa um golpe de estado que leva o General Alcazar a presidente. A condição que coloca a Alcazar é de, quando no governo, não fuzilar os anteriores governantes nem os seus apoiantes, o que gera discussões acesas com o truculento aspirante. Depois do golpe, o próprio General Tapioca, o presidente deposto, protesta por não ser fuzilado, sente-se desonrado e termina partilhando um desabafo com Alcazar contra os idealistas como Tintin.»

Sobre o General Alcazar, perdão, António Costa - Observador, 11/11/2015

«Nenhum bom pai ou mãe de família resiste a uma eloquente história de amizade. Sabem quem retratou bem amizades? Hergé, com a amizade entre Tintin e o Capitão Haddock ou o jovem chinês Tchang. Para os amigos do mundo animal podemos também incluir Milou, que prescinde uma vez ou outra de roer uns saborosos ossos para ajudar Tintin.»

Lindas histórias de amizade e amor familiar – Observador, 14/06/2017

B - e no facebook:

«Hoje, apesar do pouco frio, pareci[a] o milionário Carreidas, que até nos trópicos tinha de andar agasalhado e se constipava. Foi com certeza punição divina (de uma Hera invejosa, ou por aí) do vestido de alças e das sandálias do fim de semana e da vaporosa túnica de ontem.»

Facebook, 21/04/2015

«E mais um quadradinho do Voo 714. Um que eu adoro: quando Rastapopoulos e Carreidas discutem qual dos dois é detentor de maior ruindade. (E eu prefiro pessoas assim aos sonsos que gostam de apregoar as suas bondades.)»

Facebook, 21/04/2015

«A esquerda por estes dias parece os Dupondt perdidos no deserto, andando em círculos intermináveis e julgando que afinal encontraram um trilho muito requisitado. Só que a esquerda sabe que está a andar às voltas - o objetivo é mesmo não ir a lado nenhum - e está convencida que os outros (que são imbecis) estão também dispostos a ficarem ano após ano às voltas sem irem a lado nenhum, que não notam a mais que evidente vontade de continuarem exatamente com o mesmo percurso (porque têm pavor do possível destino e da viagem), e nem percebem que as supostas tentativas para acertar com o caminho foram nada mais que mentiras encenadas para enganar os tolos. Nunca é tarde de mais para desejar boa viagem e deixar esta gente a andar às voltas enquanto finge que quer ir a algum lado. Sozinha. (E que se atole na areia, é o que desejo.)»

Facebook, 21/02/2015

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Rádio Klow não fala verdade



Texto: Hélder A.

Desenhos: pampam (Pedro Morais)

Cadernos Politika! nº 3, Maio 1989 (Edições Avante / JCP)


Duas das imagens já tinham aparecido em http://tintinemportugal.blogspot.com/2020/03/pastiches-de-pedro-morais.html