segunda-feira, 28 de abril de 2025

Easter Egg

Homenagens a Tintin que surgem como easter eggs nas obras "Watchers" (2018) e "Sentinel" (2019) do conhecido desenhador Luís Louro que está a comemorar 40 anos de carreira.








Visão 741

Na obra "Cogito Ego Sum" (2000, 2024) aparece ainda um boneco insuflável.

terça-feira, 22 de abril de 2025

25 de Abril aos quadradinhos



Como seria lógico, também o 25 de Abril constituiu tema que alimentou e alimenta o universo da banda desenhada. Para além de globalmente ter sido um factor decisivo para a eliminação de todos os traços de censura sobre os conteúdos abordados, a sua própria crónica, directa ou indirectamente, serviu de inspiração para muitas histórias criadas desde então. A questão da eliminação da censura seria em si mesma interessante desafio para uma abordagem que prometo aqui fazer qualquer dia destes, assim contribuindo para um melhor conhecimento de épocas de “resistência” dos quadradinhos contra regras asfixiantes da liberdade de expressão entre nós.

(...) 



A. Martinó

Diversos têm sido os caminhos dos artistas que deixaram marcas mais relevantes na BD de Abril. Quem se lembra hoje que António, cujos brilhantes e surpreendentes quadros satíricos são uma das imagens de marca fundamentais do Expresso, um dos maiores cartoonistas/caricaturistas do nosso tempo, foi também um dos mais significativos e originais autores de BD dessa época? Presente em várias publicações, autor de uma das páginas que, precisamente na fronteira entre cartoon e banda desenhada, mais genialmente resumem o 25 de Abril e a questão militar que esteve na sua origem, seria sobretudo com Kafarnaum, no Expresso e em livro que António, num hábil jogo gráfico-linguístico, desmistificaria as taras e tiques do PREC, reflectindo inclusivamente sobre a própria BD o seu papel, parodiando largamente personagens populares da BD.

A utilização das personagens da BD foi aliás uma prática abundante e que constitui só por si um capítulo à parte na caracterização da BD desta época, reflectindo a popularidade da própria BD e a sua eficácia imagético-simbólica. Estudantes, sindicatos, comissões de moradores usaram-nas largamente. Ficaram famosas as fotomontagens do Jornal Novo. Eanes pela mão de vários e sobretudo de Cid, foi Superman e foi Tarzan A Flama numa série de Manuel Vieira sobre algumas figuras da época, em que, por exemplo, Mário Soares é o Príncipe Valente e Álvaro Cunhal é Mandrake, foi advertida pelo autor e editor por ter caracterizado Rosa Coutinho como Tintin.

(...)

JPP Boléo, A BD e o 25 de Abeil

Há vários livros sobre a bd e o 25 de Abril.

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/04/25/25-de-abril-aos-quadradinhos/

https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/04/28/25-de-abril-aos-quadradinhos-um/

https://tintinemportugal.blogspot.com/2014/10/tintin-no-pos-25-de-abril.html

"Imagens de uma revolução, 25 de Abril e a Banda Desenhada". de João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva Boléo e João Ramalho Santos 

Um percurso em imagens e ilustrações por uma data marcante da história de Portugal. A Banda Desenhada, pela forma única como conjuga texto e imagem, foi um meio privilegiado para fixar a nossa História de forma dinâmica e atractiva, e também para apresentar este momento a quem nem era nascido. Uma revolução, quando desenhada, pode ser discutida e reflectida, e a sua memória pode evoluir mas nunca pode ser esquecida.

Assinado por três especialistas da história da banda desenhada no nosso país - João Paiva Boléo, João Miguel Lameiras e João-Ramalho Santos - "Imagens de uma Revolução" recupera alguns textos e obras anteriores, complementa-os com inúmeros exemplos e referências adicionais, e apresenta-nos o livro que nos mostra como as imagens perduram, e como uma revolução que foi desenhada dificilmente será esquecida.

Uma Revolução Desenhada - O 25 de Abril e a BD de João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva Boléo e João Ramalho Santos 

Crocodilo / Flama

Outros posts neste blog:

Figuras que Abril Deu (1977)

https://tintinemportugal.blogspot.com/2017/07/figuras-que-abril-deu.html

Largo dos Correios (Jornal Novo, Flama)

https://tintinemportugal.blogspot.com/2014/10/tintin-no-pos-25-de-abril.html

Cartoon de Manuel Vieira publicado em 1975 na revista Flama

https://tintinemportugal.blogspot.com/2011/07/tertulia-bdzine-26.html

Fotomontagens do Jornal Novo

https://tintinemportugal.blogspot.com/2013/03/fotomontagem-no-jornal-novo-de-6121875.html

José Antunes / A Chucha (1976)

https://tintinemportugal.blogspot.com/2023/01/jose-antunes.html

"Kafarnaum" de António (1975/1976)

https://tintinemportugal.blogspot.com/2016/09/cartoons-de-antonio-in-kafarnaum.html

https://tintinemportugal.blogspot.com/2014/10/cartoon-de-antonio-karfanaum-em-1976.html

https://tintinemportugal.blogspot.com/2025/04/humor-unido.html

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Humor Unido Jamais Será Vencido

"O Humor unido jamais será vencido - Os cartoons da Revolução (1974-1976)" foi o nome da exposição temporária do Museu Bordalo Pinheiro, patente entre 18 de Dezembro de 2024 e 9 de Março de 2025, que mostrava desenhos publicados na imprensa da época por autores tão representativos como António, Augusto Cid, João Abel Manta, José Vilhena, Sam e Vasco.

Esta exposição, integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, lançou um olhar bem disposto sobre um período agitado da História de Portugal através da obra gráfica dos artistas que aproveitaram o fim da censura para mostrar outros ângulos de observação, simultaneamente críticos e divertidos, sobre os acontecimentos da época.

O Kafarnaum de António

"(...)

A lógica deste álbum é a do caldeirão, o caldeirão é o PREC. Nascido a 4 de Novembro de 1975, o 'KAFARNAUM' sobreviveu, apesar de não ter recolhido as cinco mil assinaturas para se transformar em partido legal, apesar de não ter fundado nenhuma associação de amizade Portugal-KAFARNAUM, apesar de não ter conspirado nenhum golpe de estado, nem tampouco ter sido consultado com vista à elaboração de pactos, relatórios, auto-críticas revolucionárias, etc.

Os comentadores que vão surgindo ao longo do enredo (?) cumprem a estrita missão de meter na ordem - embora kafarnaúnica, mas ordem, contudo - os ingredientes que, do interior do caldeirão, são servidos a um Zé Povinho cada vez menos semelhante ao que Bordalo Pinheiro criou, baseado no PREC do século passado." 

Abertura

Em relação ao Kafarnaum [inspirado no PREC], o desafio era tão grande que eu me servia de tudo o que estivesse à mão. não era bem uma opção estética, era mais uma necessidade de me socorrer de tudo, marcas, símbolos, banda desenhada, pintura. É preciso lembrar que eu era um tipo muito novo, a viver um processo politico único, que era o nosso, muito complexo. Por isso, servia-me de tudo para tentar comunicar, para manter-me à tona.

Quando o Kafarnaum fez dois anos, o Balsemão lançou um desafio enorme: "Chegou a o número 100, ´um número bom para acabar,  agora inventa outra coisa."

Entrevista a António (Expresso)

Paulo Jorge Fernandes: «Na exposição  aparecem alguns cartoons da série "Kafarnaum" do cartoonista António. António usou nessa série várias referências da BD, desde a série Asterix O Gaulês, Tintin, Lucky Luke etc. O Capitão Haddock aparece explicitamente num dos cartoons expostos.»

Algumas das imagens da exposição não aparecem no livro homónimo publicado em 1976.









segunda-feira, 14 de abril de 2025

Dr. Kartoon


O novo tote bag da @livrariadrkartoon com ilustração da autoria de Joana Afonso


Imagens antigas relacionadas com a loja:


José Carlos Fernandes


Juan Cavia


A Livraria Dr. Kartoon abriu as portas em Março de 1998, por iniciativa de Fanny Denayer, uma belga que veio para Coimbra estudar no programa ERASMUS e por cá ficou. Em Outubro de 2006, quando a Fanny decidiu voltar à sua Bélgica Natal, contactou alguns clientes que estivessem disponíveis para não deixar morrer esse projecto único na cidade de Coimbra e foi assim que quatro antigos clientes, Fernando Ferreira, João Miguel Lameiras, João Ramalho Santos e Miguel Reis, se juntaram e criaram a empresa Andróides Lda., que gere esta segunda vida da Livraria Dr. Kartoon.

loja

www.drkartoon.com: Nasceu a 8 de Maio de 2000, com mais de 7000 títulos disponíveis e 4000 capas. Conta com leitores de Inglaterra, França, Bélgica, Macau, Brasil, Luxemburgo... e é claro, de todo o Portugal! Funciona em paralelo com a livraria, não é uma amazon pois só tem uma pessoa para toda a gestão: a patroa, que se esforça imenso!

Artigos não disponíveis na Dr. Kartoon: Senhas de autocarro, fotocópias, a Bola, livros escolares, canetas, selos fiscais, a versão picante do Tintin e outros!

https://arquivo.pt/wayback/20030806065624/http://www.eol.com.pt/Noticias.php?Flag=SE

sábado, 12 de abril de 2025

Páscoa Feliz

Na capa da revista "Cavaleiro Andante" nº 15 de 12/04/1952 aparecem vários heróis publicados na revista.

Cavaleiro Andante 1952

Imagem

Algumas das capas das revistas portuguesas, desenhadas por autores portugueses, eram baseadas em originais de autores estrangeiros. Outras eram a adaptação das capas originais às características técnicas e editoriais das publicações lusas. 

Contudo, e, surpreendentemente, a capa de Hergé para o número 13 do 8º ano de 1 de Abril de 1953 da revista belga Tintin parece baseada no desenho de Fernando Bento realizado para a capa do número 807 do Diabrete de 24 de Março de 1951. Desconhecemos se o autor de Tintin tenha tido acesso ao número do Diabrete,  mas a ideia pertence ao mestre português. 

Tintim 1953
Diabrete 1951


--


Depois do número de Páscoa (12 de Abril de 1952), com um sino prateado e repenicante de onde jorra uma catadupa de heróis, vamos encontrar Tintin na garrida capa do nº 23, empunhando um tradicional balão de papel, enquanto Tarzan, Sitting Bull, Alice, Beau Geste, Capitão Audaz e outras personagens que recheiam esse número, saúdam com esfuziante entusiasmo a imagem dos três Santos mais populares de Portugal, cujo balão ascende aos céus na noite em que vibram os primeiros clamores dos seus festejos.


Uma capa para recordar e apreciar longamente, com todo o prazer e admiração que a fantasia, o talento e o primor artístico de Fernando Bento ainda hoje nos inspiram.

https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/2014/06/13/capas-que-enchem-o-olho-4/




FP

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Tim-Tim e O Mistério das Laranjas Azuis


Folha de catálogo nº 912 (imagens cedidas por Fernando Marques)

ALEGRIA PARA TODOS!

Eis a sensação para as festas!

Filmes Castello Lopes

apresenta

TIM-TIM E O MISTÉRIO DAS LARANJAS AZUIS

(Tintin Et Les Oranges Bleus)

com todos os famosos personagens criados por Hergé, numa nova e exitante aventura...

Capitão Haddock, Prof. Tournesol, Dupont e Dupond e Milu

HOJE (21/12/1964) ESTREIA NO CONDES

às 15.15 18.15 (p.red) e 21.30

COLORIDO POR EASTMAN COLOR

PARA TODOS MAIORES 6 ANOS

O mais belo filme para a mais bela quadra do ano!

O nome do filme foi "Tim-Tim e O Mistério das Laranjas Azuis". A edição em livro pela editora brasileira Record, na década de 1970, trazia o nome "Tintim e As Laranjas Azuis".

TIM-TIM E O MISTÉRIO DAS LARANJAS AZUIS (Cinema, 1964)

AS AVENTURAS DE TINTIM NO CINEMA - TINTIM E AS LARANJAS AZUIS (Record, 1975)

Passaram-se três anos até que Tintim regressasse às telas em carne e osso. Aconteceu finalmente em 1964, em Tintim e as Laranjas Azuis, mais um argumento escrito directamente para o cinema, tal como já havia sucedido em O Mistério do Tosão de Ouro. Para o assinar, René Goscinny e Philippe Condroyer juntaram-se ao trio original formado por Hergé (que, a exemplo do primeiro filme, tinha direito de vetar a história), Remo Forlani e André Barret. Jean-Pierre Talbot, entretanto, tinha começado uma carreira de professor, e por isso teve que pedir uma licença especial para poder fazer o filme. 

Tirando Talbot, os outros actores principais mudaram quase todos, tendo Jean Bouise substituído Georges Wilson na figura de Haddock. Uma produtora espanhola participou também na produção de Tintim e as Laranjas Azuis, que foi realizado por Philippe Condroyer. Ao contrário da primeira, esta segunda aventura de Tintim em imagem real não entusiasmou o público, e o projecto de um terceiro filme foi posto de parte. Saiu também um álbum fotográfico.

DN, 12/12/2009

https://www.dn.pt/gente/nova-aventura-em-imagem-real--1445256.html/

O Mistério das Laranjas Azuis - 21/12/1964

http://casacomum.org/cc/diario_de_lisboa/dia?ano=1964&mes=12

https://tintinemportugal.blogspot.com/2014/10/estreia-em-portugal-do-filme-tim-tim-e.html

https://tintinemportugal.blogspot.com/2014/10/tintim-e-o-misterio-das-laranjas-azuis.html

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Os Charutos do Faraó (versão fac-similada)

Os Charutos do Faraó (edição fac-similada) - Hergé (Difusão Verbo)

É o facsimil da versão original de “Os Charutos do Faraó”, que reproduz as 124 pranchas a preto e branco, tal como foram publicadas nas páginas do jornal “Le Petit Vingtième”, a partir de 8 de Dezembro de 1932. Para além de cenas omitidas na versão colorida, apresenta pela primeira vez os detectives Dupont e Dupond, aqui ainda sob o nome de código de X33 e X33bis, Rastapopoulos e o nosso compatriota Oliveira da Figueira.

Pedro Cleto, JN, 10/01/2004



Tintim à moda antiga em "Os charutos do faraó"

A Editorial Verbo, responsável pelas edições Tintim em Portugal, resolveu assinalar o 75º aniversário do herói com uma iniciativa bem original: lançou a versão facsimilada de “Os Charutos do Faraó”. Esta história chega assim às nossas mãos tal como saiu originalmente no “Petit Vingtième” entre 1931 e 1934.

É um verdadeiro regresso ao passado de Tintim, já que o reencontramos a preto-e-branco e com um desenho bem mais simples do que surgiria anos mais tarde. Trata-se assim de uma excelente oportunidade para revisitar uma história marcante na série Tintim pois foi a primeira em que houve um argumentos com verdadeira intriga, ao contrário dos mais simples Tintim na América ou no Congo.

Tem ainda um significado especial para nós já que é a primeira aventura em que aparece o senhor Oliveira da Figueira, um vendedor português que mereceu outras atenções em álbuns posteriores. Também surgiram em estreia os polícias gémeos Dupont e Dupond e o milionário Rastapopulos.

Droga, maldições...

Em “Os Charutos do Faraó” Tintim e Milu caem sem saber no meio de uma história de tráfico de droga, quando estava envolvido na descoberta de uns túmulos egípcios. Do Egipto até à Índia, provando a sua vocação de viajante, vai enfrentar diversos perigos, como maldições mortais, clãs secretos e traficantes sem escrúpulos.

“Os Charutos do Faraó” são a quarta aventura de Tintim, depois das histórias na Rússia, no Congo e na América. O álbum custa cerca de 18 euros.

Rui Azeredo, Comércio do Porto, 10/01/2004


Tintim nos anos 30

A obra de Hergé é o mais próximo que em banda desenhada se pode encontrar do work in progress. Vários títulos foram sendo retocados, mais ou menos profundamente, ao longo dos anos, sobretudo após a editora Casterman iniciar o lançamento da série em álbuns de 64 páginas a cores, nos primeiros anos da década de 40, optando por um formato que se mantém até aos dias de hoje. Essa decisão conduziu Hergé a reformular todas as aventuras iniciais de Tintim, excepto o mal amado Tintim no País dos Sovietes, que ele entendeu ser demasiado ingénuo e preferiu deixar cair.

Aliás, foi por causa desse ambiciosíssimo projecto de reformulação das aventuras iniciais do pequeno repórter que o caminho de Hergé se cruzou com o de Edgar Pierre Jacobs, autor essencial na reelaboração da mise en scène e na transformação de histórias de centena e meia de páginas em álbuns de 62 pranchas. Esse trabalho, sempre supervisionado pela mão férrea do criador de Tintim, seria posteriormente continuado pela equipa que viria a constituir os Studios Hergé, já na década de 50. E é esse processo hercúleo que permite a constituição do próprio conceito de linha clara - uma legibilidade e elegância extrema de traço; uma planificação cinematográfica com enorme atenção ao detalhe; uma coerência de estilo, enfim, que percorre todas as 22 aventuras canónicas de Tintim.

Com as revistas originais onde Tintim foi publicado antes das várias operações plásticas transformadas em valiosíssimos itens de colecção, a Casterman acabou por se decidir a lançar, na primeira metade dos anos 80, edições fac-similadas das versões originais de Tintim, de forma a satisfazer os admiradores mais ferranhos da série. Ao todo são nove os títulos fac-similados, de Tintim no País dos Sovietes a O Caranguejo das Tenazes de Ouro. A aventura de Tintim na União Soviética já estava editada entre nós pela Verbo, mas a publicação em Portugal da versão original de Os Charutos do Faraó é um marco: o público português pode finalmente comparar as duas versões da história e entreter-se a detectar as suas imensas diferenças.

Os Charutos do Faraó, quarta aventura de Tintim,é um bom modo de iniciar a edição dos livros originais (embora não se saiba se a Verbo está decidida a publicar os restantes sete tomos, já que só tem previsto para 2004 o lançamento de Tintin et l'Alph-Art, a obra inacabada de Hergé), porque se trata do primeiro grande trabalho do autor belga. Não é tão bom quanto o álbum que se seguirá - a obra-prima O Lótus Azul -, mas está já a anos-luz de Tintim no Congo e Tintim na América, obras ainda a tactear a linguagem da BD, e onde o que sobra em preconceitos falta em documentação.

É também neste livro que surgem pela primeira vez três das personagens mais emblemáticas da série: o temível Rastapopoulos e os detectives Dupond e Dupont, que aqui ainda se chamam X33 e X33 bis, são ligeiramente mais inteligentes do que se revelarão no futuro e ainda não dizem as frases em eco. Já agora: é também aqui que aparece o comerciante lisboeta Oliveira da Figueira, e há uma frase de Milu que se perderá na versão de 1955: «Um português? Os portugueses estão sempre bem-dispostos! Boa! Vamo-nos divertir.»

Seria impossível listar aqui todas as diferenças entre edições, de tantas que são - 116 pranchas passam para 62, e o original tem por página cerca de metade das vinhetas -, mas vale a pena realçar que não se trata apenas de uma melhoria gráfica. A própria história tem alterações significativas, sempre para melhor. Afinal, quando Os Charutos do Faraó foi reformulado Hergé era já um mestre incontestado da banda desenhada.

João Miguel Tavares / Diário de Notícias. 02/02/2004

Aventuras originais de Tintin chegam a Portugal : Versão facsimilada de “Os Charutos do Faraó” já disponível

A Editorial Verbo, detentora dos direitos das aventuras de Tintin para Portugal, acaba de editar o facsimil da versão original de “Os Charutos do Faraó”, com 124 pranchas a preto e branco, tal como foram publicadas nas páginas do jornal “Le Petit Vingtième”, a partir de 8 de Dezembro de 1932.

Estas edições, iniciada há alguns anos no mercado franco-belga, permitem aos admiradores da obra de Hergé - e não só - a descoberta das versões originais das histórias que têm encantado gerações de leitores em todo o mundo. As principais razões para a existência de duas e, nalguns casos, três versões da mesma aventura são a pressão, a partir de 1940, por parte da Casterman, a editora original da obra, para que Hergé uniformizasse as aventuras de Tintin em álbuns coloridos de 62 páginas, e a constante busca da perfeição e da autenticidade por parte do autor, o que o levou a redesenhar diversos álbuns para os actualizar ou expurgar de aspectos menos conseguidos ou capazes de ferir eventuais susceptibilidades.

“Os Charutos do Faraó”, é o quarto álbum protagonizado por Tintin, e foi “construído semana após semana, sem sombra de um argumento pré-concebido, representando a quinta-essência do registo folhetinesco, no qual encontramos numerosos temas chave do romance popular: uma maldição misteriosa, uma temível sociedade secreta, um génio do mal de identidade desconhecida, o veneno que enlouquece e tráficos de todo o género”, escreveu Benoit Peeters, um estudioso da obra de Hergé. Nele surgem pela primeira vez os detectives Dupont e Dupond, aqui ainda sob o nome de código de X33 e X33bis, e também o malvado Rastapopoulos e o nosso compatriota Oliveira de Figueira.

Na transição do preto e branco para a cor, as diferenças mais significativas entre as duas versões agora disponíveis em português passam pelo desaparecimento dos textos de apoio, pela correcção das incongruências em termos de sentido do movimento, pela maior dinâmica e equilíbrio da narrativa, devido à remontagem que a redução do número de páginas implicou, pela perda de ingenuidade e apuramento do humor, pela perda de protagonismo dos Dupond/t e pela alteração ou mesmo corte de algumas cenas, nomeadamente as duas em que Tintin era ameaçado por serpentes. Como curiosidade, refiram-se dois “anacronismos” da versão colorida: o primeiro, a homenagem a E.P: Jacobs, presente num dos sarcófagos na pirâmide, que Hergé ainda não conhecia em 1932; a segunda, o álbum “Rumo à Lua” que o xeque mostra a Tintin, escrito apenas em 1950!

Pedro Cleto, JN, 25/10/2003


imagens https://www.bedetheque.com/BD-Tintim-As-aventuras-de-Fac-simile-Os-charutos-do-farao-424270.html

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Há muito tempo, queria mostrar esta versão de As Aventuras de Tintin: Os Charutos do Faraó que saiu apenas em Portugal, no ano de 2003.

A publicação traz a versão fac-simile que reproduz a edição de 1934 que foi publicada no suplemento infantil Le Petit Vingtième, parte integrante do periódico belga Le Vingtième Siècle.

São incríveis 129 páginas em preto e branco, mostrando uma história diferente daquela colorida que está à venda, hoje em dia, nas livrarias de todo o mundo.

Nesta aventura, Tintin se encontra envolvido, à revelia, com o tráfico de drogas. Isso o levará a enfrentar perigosos bandidos, passando pelo Egito e Índia. Tintin encontrará figuras mais tarde vistas em outras de suas empolgantes narrativas, como: o vilão Rastapopoulos, os atrapalhados detetives Dupont e Dupond, o português Senhor Oliveira da Figueira, entre outros.

A HQ tem a marca do antigo editor lusitano do personagem, a VERBO, que perdeu os direitos do herói para a ASA. Este luxuoso Os Charutos do Faraó (Les Cigares du Pharaon).

E me desculpem por não escrever Tintin com a letra M no final, como está impresso na capa da HQ, mas simplesmente, não consigo! Sigo o nome, de acordo com o original.

Se a crise brasileira não te afetou ainda, vale a pena comprar o livro, se conseguir achá-lo!

Por PH / Tujaviu, 2016/07

Nota: Curiosamente foi um dos 3 volumes fac-similados lançados em 2016 pela Globo Livros


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Tintin #4 – Os Charutos do Faraó

Hergé (argumento e desenho)

Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)

160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado

4 (ou talvez mais...) +1 Razões para ler este álbum [na nova versão da ASA]

1. A longa sequência inicial (até à página 32!), plena de movimento, acção, perseguições, mistério, suspense e humor! A mestria de Hergé no seu melhor no que à legibilidade e sequência narrativa diz respeito.

2. Duas sequências notáveis que fazem parte do melhor que Hergé fez em Tintin:

2a. O percurso no túmulo do faraó Kih-Oskh (pp.7-9), no qual Tintin descobre o seu próprio sarcófago e tem uma horrível alucinação provocada pela droga que o fazem inalar. Uma (curta e inesperada) mas autêntica sequência de terror!

2b. A bem construída cena da reunião da sociedade secreta (pp. 53-56) pelo elevado suspense criado e pela forma simples mas brilhante como é resolvida.

3. Pelas três cenas invulgares e de todo inesperadas no Tintin (sóbrio e mais adulto) que (mais tarde) nos habituámos a (re)conhecer (e a admirar):

3a. Tintin a “falar” com os elefantes (pp. 34-37);

3b. O artificio utilizado pelo herói para saltar o muro do hospício (p. 46);

3c. A forma como o repórter domina o tigre que ataca o marajá de Rawhajpoutalah (p. 51).

4. Porque, apesar de algumas derivações, esta é a primeira aventura de Tintin que segue uma linha condutora sólida e bem desenvolvida, desde o início até ao final.

Pedro Cleto, 11/11/2010