sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Primeiras versões de Tintin e Popeye passam a domínio público em 2025


A partir de 1 de Janeiro de 2025, as icónicas personagens Popeye e Tintin passarão a estar em domínio público nos Estados Unidos. Isto significa que qualquer pessoa poderá criar conteúdos baseados nestas figuras animadas sem necessidade de autorização ou pagamento aos detentores dos direitos de autor.

Até agora, a utilização de qualquer obra que incluísse imagens ou referências às personagens exigia autorização e implicava o pagamento de licenças aos respetivos proprietários dos direitos.

Há cerca de um ano, foi anunciado que as versões originais de Mickey e Minnie também entrariam no domínio público. Esta iniciativa inclui não só criações da Walt Disney, mas também obras de artistas reconhecidos, como Virginia Woolf e John Steinbeck.

Contudo, apenas as versões mais antigas das personagens poderão ser usadas livremente. No caso de Tintin, o domínio público só se aplicará aos Estados Unidos, uma vez que a propriedade intelectual em muitos outros países só se torna pública 70 anos após a morte do criador. Georges Prosper Remi, conhecido como Hergé, morreu em 1983.

O domínio público de 2025 abrangerá também várias composições musicais. Entre elas, destacam-se clássicos como “What Is This Thing Called Love?” de Cole Porter (1929) e “Ain’t Misbehavin” de Fats Waller e Harry Brooks (1929). Estas obras serão apenas dois exemplos de um conjunto mais vasto que passará a estar disponível para utilização livre.

in NIT

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Anúncio ao número duplo

Na página 3 da Revista Tintin (Portugal) nº 17/1972 (5º ano) anuncia-se para a semana seguinte a edição do número duplo "Super" correspondente a esse semestre. O mais curioso neste anúncio é a utilização de vários desenhos de Tintin e Milu iguais aos da colecção ver E Saber.


Dados sobre os desenhos (informação fornecida por Chromos Voir et Savoir):

Cromo Ver e Saber, coleção automóvel n°40: 1894. Phaëton elétrico de Jeantaud (França)· 


Cromo Ver e Saber, coleção automóvel, n°15 : 1834. Carro a vapor de Scott Russel (Grã-Bretanha)


Cromo Ver e Saber, coleção aerostation n°2 : 1783. La Montgolfière (France)


Cromo Ver e Saber, coleção aviação guerra 1939-1945, n°44: 1942. Douglas A-26/ B-26 " Invader " (U.S.A.)


Cromo Ver e Saber, coleção aerostation n°10: 1794. Ballon «L'Entreprenant» (França)·


Mais informações na página FB Chromos "Voir et Savoir"

https://www.facebook.com/chromosvoiretsavoir/



quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Da BD à História: túmulo de figura ligada ao Capitão Haddock entra na lista de património da Historic England

O túmulo histórico de uma figura ligada ao Capitão Haddock, amigo inseparável de Tintin, foi recentemente incluída na lista de património da Historic England. Situado em Leigh-on-Sea, Essex, é agora oficialmente reconhecido e oferece uma ligação única entre a ficção da banda desenhada e a história real.

Em 2024, a Historic England incluiu na sua lista de património 17 locais e entre eles destaca-se o túmulo de Mary Haddock, situada no cemitério da igreja de St. Clement, em Leigh-on-Sea, no condado de Essex, conta o The Guardian.

Esta descoberta é um verdadeiro tesouro para os fãs de Tintin, pois a personagem do Capitão Haddock foi inspirada pela figura histórica de Richard Haddock, filho de Mary, um destacado marinheiro e figura central da família Haddock, conhecida pelo seu legado naval.

O túmulo de Mary Anna Haddock, datado de 1688, é considerado pelos especialistas em património uma obra notável, não só pela sua qualidade arquitectónica, mas também por ser um dos raros monumentos dedicados a uma mulher durante uma época de profunda desigualdade de género. Além disso, a sua ligação à famosa personagem dos quadradinhos de Hergé torna-a ainda mais intrigante para os entusiastas da obra de Tintin.

O nome Haddock é célebre entre os fãs de Tintin, pois foi a inspiração para o temperamental e alcoólico Capitão Haddock, amigo e protetor do jovem repórter.

A inclusão de um local tão peculiar na lista de património de Historic England não é apenas uma homenagem ao passado, mas também uma provocação ao público, convidando as pessoas a explorarem a diversidade e a riqueza histórica do país. No total, 256 novos locais foram adicionados à lista nacional de património da Inglaterra este ano.

in SAPO24

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Sorriso aos quadradinhos

Hoje acordei a sorrir, 

Estava uma noite difícil e desesperada
Quando me decidi juntar às tuas aventuras,
Quando decidi saltar para as tuas páginas,

Espero que não te importes, claro que não te importas,

Contigo subi aos Himalaias, Atravessei as florestas do Peru,
Fui ao fundo do mar, subi ao espaço e pisei a lua,
Descobri tesouros, vi o mundo à beira do fim,
Conheci a Índia, a China, o Tibete, África e Américas,

Bebi whisky às escondidas com o capitão,
Enlouqueci com a surdez e com o "sempre a sul" do professor, Ri e como ri com as trapalhadas dos gémeos,

Obrigado Tintim, Haddock, Girassol, Dupond e Dupont,
Nestor, Abdalah, Rastapopoulos, Tchang,
Serafim Lampião, Bianca Castafiore,

Obrigado a todos,
Obrigado por existirem,

Por me fazerem sonhar e por me trazerem sempre um sorriso 


imagem de João Fazenda / Visão, 2007



sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

As Aventuras de Tintin no Bairro de Benfica, a partir de amanhã

 


A partir de amanhã, 7 de Dezembro, o Palácio Baldaya, em Benfica, passa a ter disponível um vasto acervo literário relacionado com o Tintin, para consulta e leitura:

- Todos os álbuns do Tintin;

- Várias edições da revista portuguesa Tintin, lançada em Portugal a 1 de Junho de 1968;

- Memorabilia das icónicas personagens.

Toda esta colecção, pertencente ao acervo particular de António Costa, ex Primeiro-Ministro, foi generosamente doada pelo próprio, à Junta de Freguesia de Benfica.

In blogue Juvebêdê

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Idade das personagens

Recentemente, perguntava-me Geraldes Lino qual era a idade de Tintin, e se Hergé se teria pronunciado sobre isso. A minha ideia era de que não, mas parece que o terá feito numa carta a um leitor, atribuindo-lhe 15 anos. Independentemente da idoneidade do criador de Tintin, e de outras abalizadas concordâncias, permito-me discordar. Mesmo sem ir investigar qual seria a idade mínima para se poder ser jornalista na Bélgica da época (se é que havia),  o que provavelmente não preocupou  o jovem Hergé, a análise de toda a obra, a psicologia e maturidade de Tintin mas mais variadas circunstâncias, apontam para um mínio de 17/18 anos - e será até mais legítimo pôr-lhe mais uns anitos do que tirá-los. (...)

JP Boléo, Quadrado nº 1  Vol. 3 (2000)

ANTIGA VERSÃO PORTUGUESA DO SITE TINTIN.BE

Bom dia!

Que idade tinha o personagem Tintim nas bandas desenhadas?

Resposta : Para : Client InterLinx, 02:59 pm 23 de Abril 1996

De : info@tintin.be

Caro senhor (...),

Com o intuito de dar resposta à sua questão, pedimos-lhe que leia duas cartas seguintes, escritas pela mão de Hergé a propósito da idade dos seus personagens.

1) Carta de 20 de Abril 1976.

Caro amigo,

As perguntas que me colocou na sua carta do dia 9 do corrente são relativamente embaraçosas pois, ao criar as minhas personagens, não me preocupei em lhes dar uma idade precisa.

Sem garantia alguma, poderíamos dar, aproximadamente:

50 anos ao professor Girassol

45 anos a Rastapopoulos

45 anos à Castafiore

40 anos aos Dupondt

40 anos a Nestor

e 10 anos a Tchang

Quanto à outra questão: Tintim veste um tipo de roupa que não variou durante 47 anos. Foi somente para os PICAROS, album que acaba de sair, que ele trocou as velhas calças de golf por jeans azuis.

Atenciosamente,

Hergé

  2) Carta de 28 de Dezembro 1970

Querida menina,

Estou-lhe a responder à carta que me enviou no dia 17 de Dezembro.

As suas perguntas embaraçam-me um pouco, visto que (salvo Tintim) são perguntas às quais nunca tive de responder até hoje. A sua curiosidade (ou a do seu tio) leva a interrogar-me a mim próprio sobre esses pontos de grande importância!!!...

Tintim tinha cerca de 14 anos no início; 41 anos mais tarde, tem cerca de 17. É curioso mas é assim... relativamente aos outros, dava 12 anos a Joana e João (bem mais gémeos que os Dupondt), 10 anos a Quim e 8 a Filipe.

Estes últimos nasceram em 1929. O nascimento de Joana e João deu-se aquando da publicação primeiros números da revista "Coeur Vaillants" onde eles apareceram pela primeira vez: acho que foi em 1936. Se Quim e Filipe são claramente belgas, Joana e João são de nacionalidade francesa.

Diga à sua mãe que não sei se o signor Cartofoli voltará a aparecer...

Agradecido pelos seus votos, também lhe endereço os meus com amizade.

Hergé.

tintin. be Traduzido e adaptado do francês por CGM

Infelizmente não existe nenhum newsgroup dedicado ao Mundo de Hergé nos dias que correm. Todavia, inúmeras são as perguntas que nos chegam por correio electrónico que, pelo interesse demonstrado, merecem um tratamento especial. Deste modo, encontrará aqui algumas respostas dadas por Hergé às vossas interrogações.

Para a primeira, escolhemos um tema bem clássico:

Que idade tem Tintim?

E se, em vez de nós, fosse o autor a responder à pergunta...

Pergunta: De : Cliente InterLinx, 08:17 am 21 de Abril 1996

Tintin.be



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Tintim em Macau


Adquiri, há alguns anos, numa loja da movimentada Rua da Palha, umas camisolas de algodão que tinham estampados quadrinhos tirados dos álbuns de Tintim, ou mesmo, nalguns casos, uma prancha completa. A loja já desapareceu. É agora uma sapataria. E as camisolas do Tintim, diferentes todas elas das versões oficiais vendidas nas lojas que mantém a presença de Hergé um pouco por todo o Mundo, continuam a servir no Verão, sobretudo quando vou a banhos. Sempre que passo na mesma rua, ainda tento descobrir o paradeiro da loja desaparecida, na busca de uma nova peça de vestuário, naturalmente contrafeita, que me lembre o velho e saudoso companheiro dos meus tempos de juventude e que continuo a reviver agora, com o mesmo proveito e a mesma alegria. Ando, por isso, aqui, em Macau, à procura do Tintim. Não, como os Dupond e Dupont, a percorrer, disfarçado, a cidade chinesa. Mas com a plena serenidade de quem está, não obstante a língua e os costumes, numa cidade cristã.

Falar de Tintim nesta cidade pode, à primeira vista, lançar alguma confusão. É que tin-tin era o nome que se dava às lojas de bricabraque chinesas que, no século passado, existiam em vários locais, sobretudo para os lados do Porto Interior, num largo dito “das melancias”, a que os chineses chamavam Lan-Kuoi-Lau, sendo também conhecida como “Feira da Ladra”. Ou aos vendedores ambulantes de ferro-velho que tudo vendiam e, aparentemente, consertavam. O nome, creio, tinha a ver com o barulho que o vendedor fazia batendo incessantemente um prego num pedaço de ferro, para chamar a atenção da interessada clientela. Esses tintins praticamente desapareceram. Hoje falar em Tintim – dingding, em mandarim – é lembrar os seus livros, sobretudo "O Lótus Azul", a mais conhecida aventura do nosso herói na China e o álbum que mais rapidamente se esgota nestas paragens. Nele, como sabemos, é-nos apresentado um jovem chinês, estudante da Academia de Belas Artes de Bruxelas, e cuja história e amizade com Hergé se tornou lendária.

Zhang Chongren (1907-1998), artista e escultor que ganhou merecida fama e tem, em Xangai, sua cidade natal, um museu que lhe é dedicado, deu origem, no álbum, à figura de Tchang (transcrição fonética de Zhang),   grande amigo de Hergé, na vida real, e que reaparece, de forma comovente, em "Tintim no Tibete". Publicado inicialmente na revista Petit “vingtième”, entre Agosto de 1934 e Outubro de 1935, com o título de "Tintim no Extremo Oriente", o álbum "O Lótus Azul" é verdadeiramente inovador, dando-nos uma visão mais correcta e realista da China de então, ainda pouco conhecida no Ocidente. Nele, ao contrário do álbum anterior, "As Aventuras de Tintim, repórter no Oriente", título inicial da versão moderna de "Os Charutos do Faraó", onde surge pela primeira vez o nosso simpático compatriota Oliveira da Figueira, não há qualquer personagem portuguesa. Como sabemos, são apenas três os nossos compatriotas que se cruzam com Tintim. Além de este amigo de toda a hora e dos momentos mais difíceis e inesperados, há o jornalista do Diário de Lisboa, em "Tintim no Congo" – cuja primeira versão entre nós foi "Tim-Tim em Angola", na revista O Papagaio – e o Professor Pedro João dos Santos, o célebre físico da Universidade de Coimbra, em "A Estrela Misteriosa".

E por que não, pergunto eu ao deambular por esta cidade, onde o Ocidente se cruza com o Oriente, um "Tintim em Macau", como continuação de "O Lótus Azul", passado em pleno período da Segunda Grande Guerra? Nesta cidade que já foi comparada, nesse período, à Casablanca que o cinema mitificou ou à velha capital portuguesa que, quando a Europa ardia em chamas, mantinha uma paz digna e difícil, embora não isenta de muitos sacrifícios. Uma paz de uma enorme grandeza, transformada na extraordinária Exposição do Mundo Português, em que Macau naturalmente participou, e tanto impressionou o criador de O Principezinho, Antoine Saint-Exupéry.

Para a feitura de este álbum podia muito bem contribuir o livro de João F. O. Botas, que o Instituto Internacional de Macau soube, em boa hora, editar. Estudo sério e muito bem documentado, que consegue dar uma boa visão de uma das épocas mais difíceis de este conturbado oásis de paz, entre 1937 e 1945. Oásis de paz, quando à sua volta grassava a guerra, a fome, a doença e a morte, e cujas consequências se faziam sentir também aqui diariamente. Traz-nos este livro figuras dignas de um bom álbum de Hergé e de episódios que dariam magníficas e coloridas pranchas. É certo que a violência parecia correr a par e passo, muitas vezes, com a pacatez do quotidiano. Mas outros álbuns do Tintim, como o próprio O Lótus Azul, já referido, se passam também em plena guerra, com ódios, traições e violências desmedidas. A arte de Hergé saberia, por certo, tudo dosear e fazer de Macau o centro inesquecível de mais uma fabulosa aventura de Tintim.

Fico a pensar em tudo isto quando leio o livro "Macau 1937-1945. Os Anos da Guerra". E nele vejo Tintim a falar com Pedro Lobo e com Monsenhor Manuel Teixeira. Imagino Hergé a relatar a chegada a Macau de várias malas de livros do historiador britânico Charles Boxer, quando os japoneses ocuparam Hong Kong. Como Danilo Barreiros, grande amigo do historiador inglês, possuía a chave de sua casa conseguiu assim salvar a preciosa biblioteca. Impressionante é também a vivacidade e o colorido que o criador de Tintim dá ao quartel-general do pirata Wang Kong Kit, situado na Avenida Horta e Costa. O contraste é Henrique Senna Fernandes – um dos meus escritores da estante reservada – a contar, com toda a graça e encanto que só ele tinha, as trapalhadas dos “detectives” Dupond e Dupont, perdidos entre os refugiados chineses, os macaenses de Hong Kong e os japoneses que se passeiam na cidade. Tudo isto sob o olhar atento do jovem Padre Lancelote Rodrigues, enquanto o pintor russo George Smirnoff tenta transformar rapidamente esta cena numa aguarela. Mas um dos melhores momentos do álbum é, sem dúvida – e penso que o leitor amigo é da mesma opinião -, o episódio, superiormente tratado por Hergé, da intrusão sub-reptícia de Tintim na casa do representante japonês em Macau e, ao sentir-se descoberto, a fuga apressada por um túnel, situado na cave do edifício, que, pensava ele, o traria rapidamente para o exterior. Mas o túnel ligava com a casa do vizinho que era, nem mais, nem menos, a do cônsul inglês em Macau!... Mais a frente, é o espanto de Tintim ao cruzar-se, na Avenida Almeida Ribeiro, com o americano William Gardner, fardado de oficial japonês. Espanto ainda maior, quando na última prancha do álbum, o vê fardado agora de oficial americano e ostentando, garboso, vistosa condecoração.

"Tintim em Macau", afinal, existe. Embora seja apenas na minha imaginação.

António Leite da Costa, 30/03/2013

O Prof. Dr. António Leite da Costa é historiador, Durante algum tempo esteve na blogosgera com o blog Tertúlia Invisível.

https://tertuliainvisivel.blogspot.com/2013/03/tintim-em-macau_30.html

Texto descoberto através do blog Macau Antigo:

http://macauantigo.blogspot.com/2013/10/tintim-em-macau.html

sábado, 30 de novembro de 2024

Um livro, uma vida

O Tintim "poluído" de Sérgio Godinho

[Convidado por Rui Reininho, o cantor lembrou o herói de Hergé no Porto 2001]

A escolha foi aleatória e imperfeita, porque é impossível a qualquer leitor compulsivo escolher o livro que mais revolucionou uma adolescência. Sérgio Godinho hesitou entre "O Crime do Padre Amaro", a estreia literária de Eça de Queirós, que foi também a sua primeira incursão queirosiana, e o romance-viagem de uma geração, "Pela Estrada Fora", de Jack Kerouac, que o amigo Manuel António Pina lhe recomendou numa cumplicidade de liceu, e o empurrou para o estrangeiro. Mas a participação do músico portuense no ciclo "Um Livro, Uma Vida, Um Objecto ou Um Gesto - Conversas e Confissões com Rui Reininho", ao final da tarde de anteontem na Biblioteca Municipal de Almeida Garrett, acabou por fazer-se sob o signo de Hergé, e a pretexto de "Tintim no Templo do Sol". A páginas tantas, a data aproximava-se e já não havia volta a dar-lhe: "Já dizia a Alice que um livro sem imagens não vale nada. E depois o Rui Reininho fez um 'putsch' e eu fui confrontado com o facto de ter dito que o Tintim poderia ser uma boa escolha", explicou Sérgio Godinho a uma plateia recheada de gente com idades compreendidas entre os 7 e os 77.

Durante pouco mais de uma hora, dissecaram-se então as idiossincrasias de Hergé, a ambiguidade de Tintim, a surdez do Professor Tournesol, o fraquinho pelo álcool e a exuberância verbal do Capitão Haddock. Mas a verdadeira vedeta da tarde foi Milou, uma sósia do inseparável companheiro de Tintim, que não parou de correr pelo palco e de distrair o público, para desespero de Sérgio Godinho, que confessou ter "medo de cães" e chegou a sugerir "uma pistola ou carne envenenada" para acabar de vez com a invasão. "A seguir vem o Capitão Haddock... E este magnífico sarau vai acabar com a Castafiori a interpretar aquela ária do Gounod, o 'Ah, Je Ris'", ironizou.

Embora Tintim fosse o pretexto da conversa, a primeira personagem a receber as atenções do convidado de Rui Reininho foi mesmo o irascível Capitão Haddock, a propósito das garrafas de "whisky" e de vinho branco que repousavam em cima da mesa, convenientemente cobertas por um disfarce negro, para não ferir susceptibilidades comerciais. "Este estaminé faz lembrar a paixão pela botelha do Haddock", observou Sérgio Godinho, que gastou, de resto, o seu direito de antena a defender a tese de que Haddock e Tournesol são desdobramentos humanizantes de um Tintim insuportavelmente imaculado: Haddock pelo lado excessivo, colérico e voluntarista, Tournesol pelo lado falhado que tem na surdez um poderoso alibi. Personagens que, insistiu o músico, "Hergé inventou para poluir Tintim" e o resgatar da sua ambiguidade. 

Quanto ao herói propriamente dito, a conversa foi inconclusiva. Até porque Sérgio Godinho se remeteu à sua condição de "curioso": "Não valia a pena vir para aqui com uma comunicação escrita, para depois o Rui contestar a tese, e eu bloquear a resposta e pedir a ajuda do público ou os 50/50". "O Tintim é de uma ambiguidade a todos os níveis. Não tem família, só uma cara redonda com aqueles dois olhos quase nada. O próprio nome significa 'nada de nada'. No fundo, é um espelho de nada, uma página branca onde se vão escrevendo as histórias", sustentou. Quase como o Mickey, sugeriu Rui Reininho: um repórter assexuado e sem família, levemente misógino. "Sim, mas o Mickey tem namorada, e o Tintim não é erotizado", corrigiu o convidado.

Georges Remi, ou Hergé, o homem por trás de Tintin, também não foi poupado à língua viperina dos dois interlocutores. Sérgio Godinho entreteve-se a lembrar as ressonâncias genealógicas entre a vida do autor e as aventuras de Tintim - o pai de Hergé tinha um irmão gémeo, quais Dupond e Dupont, e foi criado por uma condessa de traços castafiorianos -, enquanto Rui Reininho lembrou a sua faceta de coleccionador de arte, aproveitando para comentar que essa queda "lhe deve ter feito bem, porque ele devia ser uma criatura reaccionaríssima".

A sessão terminou não com uma prestação operática da Castafiori, como chegou a insinuar-se, mas com uma catártica demonstração de insultos haddockianos protagonizada pelos dois interlocutores.

Na despedida, os dois músicos fizeram um brinde à plateia e Sérgio Godinho voltou a citar Haddock: "Ah, já me sinto mais instruído".


Sérgio Godinho evoca Tintim herói da sua adolescência

A espaços, entrava em cena a cadela Milou atrás do biscoito que alguém lançava dos bastidores. Tintim, o seu dono, emergia nas palavras de Sérgio Godinho, que o escolheu como um dos heróis da sua adolescência. Foi mais uma sessão de "Um livro, uma vida, um objecto ou um gesto", iniciativa da Porto 2001.

Sérgio Godinho, não sendo "especialista" em Hergé, demonstrou ser um bom conhecedor das aventuras de Tintim, "um adolescente com curiosidade pelo mundo". O cantor chegou mesmo a apresentar a obscura árvore genealógica de Hergé. A sua avó, empregada de uma condessa, "engravidou não se sabe de quem". Nasceram gémeos; um deles foi o pai de Hergé.

Acompanhado pelo comissário da iniciativa, Rui Reininho - que amiúde cortava a palavra ao convidado -, Godinho avançou uma teoria sobre as personagens criadas por Hergé: Tintim, Capitão Haddock e Professor Tournesol, afinal, são faces da mesma pessoa, próximas do criador.

O cantor desvalorizou as referências anti-semitas e racistas nos primeiros álbuns de Tintim. Nos trabalhos seguintes, Hergé, que foi tomando "consciência política", acabou por dar à sua personagem um papel positivo.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Tintinomania


GALERIA TINTINOMANIA: TINTIN COMO VOCÊ VÊ...

Esta página tem mais de uma centena de quadrinhos talentosos e artistas de todos os estilos entre os seus "amigos" ...

Por que não publicar sua opinião sobre Tintin nesta página? Tenho a certeza que seria muito apreciado. (Envie-me seus desenhos via messenger)

Continuamos a série com o amigo Jose Abrantes ilustrador, autor de banda desenhada e editora portuguesa, (que por vezes também assina Kundry), cujo nome completo é José Maria da Piedade de Lencastre e Távora, nasceu a 9 de setembro de 1960, em Lisboa. O nome pelo qual é conhecido deve-se ao facto de ser Marquês de Abrantes.

Tradução bruta: "... Na manhã desta quinta-feira, o jovem Martin está tão sério e determinado a começar uma nova semana, que nem percebe os olhos bonitos e fluentes que a Madame Milu lhe atira... "


quinta-feira, 28 de novembro de 2024

K - Fanzine contestatário estudantil

Este Fanzine K foi editado em 1977 pela Associação Académica de Coimbra.

São anónimos os editores do zine, presumindo-se terem sido estudantes universitários os autores de textos de cariz contestatário, tendo por alvo Sottomayor Cardia, Ministro da Educação nos anos conturbados pós 25 de Abril, cuja caricatura aparece logo na capa.


Quanto à componente gráfica: os desenhadores (anónimos) recorrem abundantemente às figuras de personagens da banda desenhada - Astérix, Obélix, Panoramix, Popeye, Olrik, Pato Donald, Dupond e Dupont, Andy Capp, Rato Mickey, Super-Homem, Batman, Professor Tournesol, entre outros - o que demonstra terem sido entusiastas da BD que editaram, escreveram e desenharam o K, um dos zines pertencentes ao período pioneiro da década de 1970.


Ficha técnica

Título: K

Editor: Associação Académica de Coimbra

Local: Coimbra 

Data da edição: [Maio 1977]

Formato A4

Capa e contracapa em cartolina

Total de páginas: 12

Imagens da capa, da contracapa e do conteúdo a preto e branco

Geraldes Lino, Sitio dos Fanzines

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Hergé

(Scout Luzitano, Covilhã, 1927)

O autor do mundialmente famoso Tintin deu os primeiros passos na banda desenhada ainda no Escutismo, ao qual pertenceu.

Georges Remi nasceu a 23 de Março de 1907, em Etterbeek, perto de Bruxelas, na Bélgica. Em 1920, passou a estudar no colégio católico de Saint-Boniface, entrando para o Grupo de Escuteiros ali existente. O seu totem pessoal era Raposa Curiosa, embora tenha sido Guia da Patrulha Esquilo.

Os seus primeiros desenhos foram publicados no jornal escutista do seu grupo, o “Jamais Assez”. Em 1923 já tinha os seus trabalhos publicados na revista mensal “Le Boy-Scout Belge” e, no ano seguinte, começou a assinar as suas bandas desenhadas com o pseudónimo de Hergé. O seu pseudónimo provém das iniciais do seu nome, por ordem inversa: R.G.

Depois de sair da escola, passa a trabalhar no jornal diário “Le XXe Siècle”, em 1925, na área das assinaturas de clientes, continuando a desenhar as “Extraordinárias aventuras de Totor” (banda desenhada criada em 1926) na revista escutista “Le Boy-Scout Belge”.

Em 1927 cumpriu o serviço militar obrigatório e no ano seguinte regressa ao jornal, sendo nomeado redator-chefe do “Petit Vingtième”, um suplemento semanal para jovens do “Le XXe Siècle”.

Em Janeiro de 1929 nasce “Tintim e Milú”, neste mesmo suplemento. O primeiro álbum de Tintim, “Tintin, reporter au pays des Soviets” publicou-se em 1930, lançando-o definitivamente no caminho do sucesso.

Hergé colaborou durante vários anos com os Escuteiros belgas, ilustrando revistas, calendários e postais. Faleceu em Março de 1983, em Bruxelas.

in "Carolas", boletim do Clube Português de Coleccionadores de Objectos Escutistas, Abril 2006

Está a comemorar-se o centenário da primeira publicação onde apareceu pela primeira vez o nome RG (Hergé) precisamente nos desenhos de Totor.

Totor apareceu em Portugal logo em 1927 a ilustrar uma das páginas do número único de "Scout Luzitano" publicado na Covilhã.

«De resto, conta-nos João Paiva Boléo (,,, que) a BD de Hergé tinha sido apresentada em Portugal por intermédio do seu herói-escuteiro Totor, numa aparição pontual na revista Scout Lusitano, logo em 1927 (Boléo, Hergé em Portugal, 2021, pp. 9-11).» FCG

Escoteiros - em Portugal, a palavra escoteiro escrita com o refere-se à componente laica, visto que os pertencentes à componente religiosa escrevem-se com u, escuteiros. GL



Totor


O desenho de Totor apareceu em Portugal logo em 1927 no número único de "Scout Luzitano" publicação editada na Covilhã.

«De resto, conta-nos João Paiva Boléo, na referida brochura, que, mesmo antes da chegada de Tintin, já a BD de Hergé tinha sido apresentada em Portugal por intermédio do seu herói-escuteiro Totor, numa aparição pontual na revista Scout Lusitano, logo em 1927 (Boléo, Hergé em Portugal, 2021, pp. 9-11).» FCG



 Publicações Periódicas Portuguesas Existentes na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (1927-1945)

SCOUT LUSITANO . Covilhã , 1927 . 
Scout lusitano / dir . Alberto Ferreira d ' Almeida Neto ; adm . João de Paulo Fino . - Covilhã : J. P. Fino , 1927 
Existência : N. único ( 1927 )
 10-3-23-41


imagens cedidas pela Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Exposições Antigas

A primeira exposição séria sobre o percurso do autor de Tintim foi feito no decorrer do "Sobreda-BD 85".

Em 1989, a Comicarte leva a efeito a exposição "60 anos de Tintin", durante o 5º salão Internacional de Banda Desenhada.

Em 1993, tive o grato prazer de organizar a vinda da exposição  "O Mundo de Tintim" para Viseu. Era a primeira vez que estava patente ao público na Península Ibérica. Nessa altura fazia parte do núcleo de BD do GICAV, associação promotora do evento.

João Magalhães, Cincinato, Outubro de 1995

«Cincinato, o fanzine anual realizado em Viseu por João Magalhães, já se encontra em distribuição. Uma campanha de assinaturas que permitam viabilizar o projecto está também em marcha (Cincinato, Apartado 231, 3503 Viseu Codex). Neste número, são publicadas bandas desenhadas de Carlos Rocha e Agonia Sampaio, e textos sobre Spiegelman, o panorama editorial português e o salão de BD do Porto realizado no começo deste mês, e ainda um pequeno «dossier» sobre «Tintin em Portugal», além de abundante noticiário.»

Público, 24/10/1995

SOBREDA-BD 85

Realizou-se de 02 a 10 de Março de 1985.

Começou esta manhã na Sobreda da Caparica a IV Jornada de Banda desenhada de expressão latina, com iniciativas que se prolongam até ao próximo dia 10 de Março.

Estarão expostas criações de todos os países de expressão latina, e ainda de Moçambique e Guiné-Bissau.

A Sobreda-BD/85 vai ainda homenagear este ano Hergé (no segundo aniversário da sua morte, ocorrida a 3 de Março de 1983), Jacques Martin, Franco Caprioli e o português Fernando Bento.

Carlos Pessoa, Diário de Lisboa, 04/03/1985

60 ANOS DE TINTIN - 1989


A exposição realizou-se no Mercado Ferreira Borges, no Porto, entre 30 de Setembro e 8 de Outubro, por ocasião do 5º Salão Internacional de Banda Desenhada.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/preparativos-do-5o-salao-internacional-de-banda-de-desenhada/

O MUNDO DE TINTIM - VISEU 1993


«O Mundo de Tintim» (Le Monde de Tintin) realizou-se em Viseu, no pavilhão C da Feira de São Mateus, entre 26 de Agosto e 19 de Setembro de 1993.

O "Mundo de Tintim" é uma exposição apresentada no Salão de Angoulême deste ano e foi montada para assinalar os 10 anos da morte de Hergé (em 3 de Março de 1993). Trata-se de uma visita guiada ao universo fascinante da principal criação do autor, dividida por quatro módulos temáticos, que abordam sucessivamente, "A Família Tintin", "As Portas do Mundo", "Os Sinais da Aventura" e "A Arte de Hergé". Este último evoca as diversas etapas que Hergé percorria na criação dos seus álbuns, desde a primeira ideia até á impressão, a partir de material existente do álbum "Vol. 714 Pour Sidney", material esse já editado (...). A exposição é complementada com diversas vitrines que reproduzem objectos extraídos das principais aventuras do "repórter que nunca escreveu uma linha".

Pedro Cleto, Clube Comicarte nº 47, Setembro 1993

A revista Cincinato nº 4 publicou uma reportagem de António Rocha sobre a exposição.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Luiz Beira



A última entrevista feita a Hergé por um português foi realizada por Luiz Beira, sendo publicada na revista «O Mosquito» (V Série - nº 6) de Março de 1985. A entrevista fora realizada em 15 de Dezembro de 1982.

Luiz Beira já havia entrevistado o criador de Tintin em Outubro de 1966 nos Estúdios Hergé em Bruxelas, cujo trabalho foi publicado na «Plateia» nº 360 de 13 de Dezembro de 1966.

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Luiz Beira, pseudónimo artístico de Armando Corrêa, é o nome pelo qual o próprio prefere ser conhecido. Actor, escritor, jornalista e crítico de BD, amante incondicional de Viseu e das suas gentes, decidiu generosamente doar, numa primeira fase, uma pequena parte da sua bedeteca particular.

Em 1991, em sessão pública, Luiz Beira entregou simbolicamente o primeiro álbum - Le Monde de Hergé - ao GICAV, desde logo um incansável intermediário, representativo dos mais de seiscentos volumes que iniciavam um primeiro acto de doacção. Era o início feliz daquela que viria a tornar-se numa das mais ricas bedetecas do país. A 31 de Maio de 2002, no acto de inauguração oficial da Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva, e numa justíssima prova de gratidão e reconhecimento por parte da Autarquia Viseense, a Bedeteca, parte integrante da Biblioteca Municipal, era dada a conhecer ao público com a designação BDteca Luiz Beira.

Desde então, o acervo documental da BDteca Luiz Beira tem vindo a crescer exponencialmente, tendo já ultrapassado mais de 5000 documentos. Integrada no espaço da sala de leitura de adultos, ela constitui, por si só, um núcleo de documentação autónomo muito significativo, colocando à disposição dos utilizadores/leitores e estudiosos desta arte, um manancial riquíssimo de literatura alternativa que, estamos certos, não defraudará as expectativas do público mais exigente.

Devemos salientar que a BDteca dispõe ainda de cerca de 400 álbuns que pela sua raridade e valor - desde exemplares únicos, obras com dedicatórias personalizadas pelos maiores autores de BD a nível mundial, primeiras edições, obras inexistentes no mercado livreiro não se encontram em livre acesso ao público. Exemplo disso é o volume que reproduz as pranchas originais de François Craenhals para o álbum Le Piège, da série Chevalier Ardent.

Os desafios são muitos, as exigências maiores ainda! Desde logo, as tarefas de tratamento técnico - a catalogação, classificação e indexação - que se impõem, para que seja permitida uma rápida e eficaz recuperação e difusão da informação para benefício dos utilizadores.

Outro aspecto diz respeito à dinamização da BDteca através da realização de actividades diversas como encontros com autores, debates, exposições temáticas, etc. para o qual estamos sensíveis, não só porque pretendemos ser dignos deste enorme gesto benemérito, mas também porque temos noção da riqueza do espólio que deve ser divulgado.

Um dia, assim esperamos, concretizaremos o sonho do Luiz Beira: a sua BDteca dará lugar a um Museu-BDteca já que estão a caminho de Viseu objectos vários, como fotografias, registos BD, quadros, pranchas, etc, que fazem parte da vida de um homem que desde cedo se dedicou ao mundo da BD.

CM Viseu

BDteca Luiz Beira

A BDteca Luiz Beira está integrada na Sala de Adultos e constitui por si só um núcleo de documentação de reconhecido valor. A BDteca coloca à disposição de todos os utilizadores e estudiosos desta arte um manancial riquíssimo de literatura alternativa, designadamente álbuns de BD, revistas, fanzines, recortes de jornais, etc.

Pela sua raridade, singularidade ou pelas dedicatórias exclusivas a Luiz Beira, alguns exemplares encontram-se nos reservados com acesso limitado. Bedeteca é, por definição, uma biblioteca de Banda desenhada (BD) que pode - e deve integrar diversos tipos de suportes, designadamente revistas, jornais, fanzines e material não livro, como CD, cartazes, postais, pranchas, etc.


(recorte Cincinato)

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Guilherme Lucas

Eu comecei a colecionar os álbuns do Tintin, bem como a revista semanal com o mesmo nome, tinha exatamente 10 anos, em 1974...

O MEU 25 DE ABRIL DE 1974

Não tive noção do que esse acontecimento histórico ia significar para todos os portugueses nesse momento, pois não tinha até então o mínimo de consciência de que vivíamos num regime repressivo, de cariz fascista. A minha família era muito conservadora e sempre fez por esconder da educação e da vivência com os seus filhos qualquer questão política que desse azo a ter essa perceção da situação política nacional. Percebi mais tarde, que houve momentos e assuntos, que eram imediatamente interrompidos pelos meus pais, tia e avós, quando terceiros começavam a falar sobre o Américo Tomás ou sobre Marcelo Caetano. Eu vivia numa bolha onde falar de política era um não assunto. A única coisa que fazia sentido para mim nesse período era comprar semanalmente a revista Tintin e convencer o meu pai para me oferecer mais um álbum do Tintin para ir completando a sua coleção. 

Quando a minha mãe foi-me buscar à escola, foi uma surpresa agradável, porque foi ótimo saber que não ia ter mais aula nesse dia, apesar da preocupação que ela demonstrava, dizendo-me que tinha havido um golpe de Estado e que havia soldados na rua, podendo haver uma “guerra” – nesse momento, enquanto caminhávamos os dois, algo apressados, para casa, procurava ver alguns, mas nada, não vi nenhum, era uma manhã perfeitamente normal até esse momento.

Chegados a casa, passei o dia a reler as revistas do Tintin e a acompanhar na RTP1 o noticiário do que ia acontecendo. Fiquei chateado porque não foram para o ar os habituais desenhos animados diários que nunca perdia de os ver, sendo estes substituídos pelas imagens do que estava a acontecer nas ruas em todo o país. 

Não estava nada preocupado, tinha os Tintins comigo, por isso o resto do mundo podia ir dar uma volta, que era-me igual.



CARTA 1977

Alguém aqui da geração X que na sua adolescência escreveu uma carta ao Hergé? Fiz isso em 1977, e fiquei surpreso por ele me ter respondido. Guardo religiosamente essa carta, pois o Tintin era em termos de BD tudo para mim... ainda é, mas de outra forma. (FB, 2023)

(...) e durante esse tempo, pelo menos até 1977 (ano em que escrevi ao Hergé), não consegui encontrar o "Perdidos no Mar" [Coke En Stock] em capa dura.



                                                                       Psycho Tintin

Desenho de Neno Costa feito ainda nos anos 80. Partilhado no facebook pelo amigo Guilherme Lucas.

CURIOSIDADE

Os Rackham apresentaram-se, na noite de 05/10/2019, no Woodstock 69. Este quarteto instrumental de Monção, cujo nome foi inspirado na personagem de um pirata relacionado a dois álbuns de banda desenhada do meu herói de sempre, o Tintin, (O Segredo do Licorne e o Tesouro de Rackham, o Terrível), ofereceu ao público presente os temas do seu mais recente EP, de nome Tchim Plim! As espadas soam assim, editado em Fevereiro último, bem como um punhado de outros temas que seguramente farão parte do seu próximo registo discográfico.

Os Rackham são um grupo de rock de fusão, para os classificar de forma muito objetiva, formados em 2017. Os seus temas evidenciam uma composição que deriva do rock progressivo e que denota muito bom gosto e competência. (...)

domingo, 3 de novembro de 2024

Foguetão


A revista juvenil de banda desenhada Foguetão – Semanário Juvenil para o Ano 2000 publicou-se do número 1, em 4 de Maio de 1961, até ao número 13, em 27 de Julho de 1961. Portanto foi mesmo digna do nome, isto é, desapareceu das nossas vistas num ápice…

Era impresso em papel de jornal, com 16 páginas de grande formato (35x50cm), algumas impressas a cores. Depois de ter sido pioneiro na apresentação nacional de Tintin (desde o saudoso O Papagaio) e de Lucky Luke, o director da publicação apostava agora na estreia de outro famoso herói: Astérix, de Goscinny e Uderzo.

O conteúdo do Foguetão era muito variado pois, para além das histórias aos quadradinhos, de continuação, apresentava contos (alguns de Yves Duval, famoso argumentista), concursos, secções temáticas diversas -futebol, cinema, filatelia, actualidade, história, biografias, ciência, etc.- e passatempos. Entre as aventuras desenhadas, para além de Astérix, ali surgiriam Dan Dare, Sexton Blake, Michel Vaillant, Blake e Mortimer, Gaston Lagaffe, Jean Valhardi, Tanguy e Laverdure e outros, e também uma história de Tintin (Tintin au Tibet) no original em língua francesa, para ajudar os jovens na sua aprendizagem escolar. Para os que tivessem mais dificuldades na tradução, era-lhes fornecida uma relação de legendas e balões, devidamente numerados, em português.

Mas a concorrência era feroz e o preço do semanário, 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos, pouco mais de um cêntimo, hoje!), provou ser caro para a época. Embora O Mosquito já tivesse desaparecido, também o Diabrete e outros títulos, havia ainda O Mundo de Aventuras, o Cavaleiro Andante, o Camarada (da MP) e O Falcão (2.ª série), pelo que o lançamento do Foguetão se revelou falhado…

No entanto, houve dignidade na despedida, pois as suas histórias de continuação seriam prosseguidas no Cavaleiro Andante (também “herdeiro” do Bip-Bip), que ainda lhe sobreviveu alguns meses, para dar lugar ao Zorro.

O número 13 foi mesmo de azar e o dia 27 de Julho de 1961 assistiu ao final do ambicioso mas curto voo do Foguetão.

Fora lançado no dia 4 de Maio…

https://largodoscorreios.wordpress.com/2014/05/04/um-foguetao-que-voou-baixinho/

Comandado por um homem com provas dadas na área, Adolfo Simões Müller, teve um percurso difícil na competição com os seus adversários, sobretudo O Mundo de Aventuras, o Cavaleiro Andante, o Camarada (da Mocidade Portuguesa) e O Falcão (na sua 2.ª série).

O Foguetão surgiu com expressas pretensões de marcar a diferença, disponibilizando uma revista inovadora sob o lema: Um jornal crescido para os novos; um jornal novo para gente crescida.

Era impresso num grande formato (35x50cm), estreando entre nós um famoso herói: Astérix, de Goscinny e Uderzo. Para além das histórias aos quadradinhos, de continuação, publicou contos (alguns de Yves Duval, um famoso argumentista), concursos, secções temáticas diversas -futebol, cinema, filatelia, actualidades, história, biografias, ciência, etc.- e passatempos. Entre as aventuras desenhadas, para além de Astérix, apresentou Dan Dare, Sexton Blake, Michel Vaillant, Blake e Mortimer, Gaston Lagaffe, Jean Valhardi, Tanguy e Laverdure e outros, e também uma história de Tintin (Tintin au Tibet) no original em língua francesa, para ajudar os jovens na sua aprendizagem escolar. Aos que tivessem mais dificuldades na tradução era fornecida uma relação de legendas e balões, devidamente numerados, em português.

(...)

António Martinó

Cópia das revistas em formato pdf e html na Hemeroteca Digital


http://www.bdportugal.info/Comics/Col/ENP/Foguetao/index.html

https://operadepapel.blogspot.com/2014/10/foguetao-semanario-juvenil-para-o-ano.html

https://outrasleiturasdopedro.blogspot.com/2011/05/asterix-50-anos-em-portugal-i.html

https://outrasleiturasdopedro.blogspot.com/2011/05/asterix-50-anos-em-portugal-iii.html

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

TinTin e eu

Tintin é uma das raras personagens da BD cuja fama atravessou várias gerações ao longo de quase cem anos, êxito e conhecimento talvez ultrapassado pelo universo de Walt Disney.

Pessoalmente, o meu primeiro contacto com Hergé fez-se, não pelas aventuras de Tintin, mas de outra das séries da sua autoria, quase esquecidas pelo êxito do célebre “repórter”, os trapalhões Quick e Flupke, traduzidos para português como o Quim e o Filipe, cujas tropelias foram publicadas em Portugal na revista Diabrete, entre 1941 e 1943, sob a designação de “Tropelias do Trovão e do Relâmpago”,  e que eu descobri no espólio da minha mãe, que possui 4 álbuns encadernados dessa revista, que eu desfolhei avidamente durante a  minha infância.

Encontrei as primeiras imagens do Tintin num número solto do suplemento Pajem, da revista Cavaleiro Andante, onde se publicou a aventura “O templo do Sol”, a mesma aventura que acompanhei de forma mais continuada na revista Foguetão (*), editada em 1961, cujos 13 exemplares publicado cheguei a receber, quando tinha os meus 5 anos, mas cuja aventura nunca se completou nessa revista de curta duração.

Ainda antes de começar a conhecer as aventuras completas de TinTin, conheci as aventuras de uma outra série de Hergé, Jo, Zette e Jocko, publicada noutra das minhas revistas de infância, o “magazine para a juventude” Zorro, série publicada entre 1962 e 1966 nesta revista, exactamente nos anos em que ela me foi oferecida.

Só mais para meados dos anos 60 comecei a ler histórias completas do TinTin, umas em álbuns, de edição brasileira, que me eram emprestados pelo amigo “Zico”, lidos avidamente nas tardes de Verão na praia de Santa Cruz e, pouco depois, quando, a partir de 1969, o meu avô me começou a oferecer, semanalmente,  a revista TinTin, fundada em Portugal em 1968.

Lembro-me, igualmente, de ter recebido o meu primeiro álbum de TinTin por essa altura, em 1968 ou 1969, o “Voo 715 para Sidney”, que me foi oferecido na 1ª edição em francês, com o objectivo pedagógico de aprofundar o meu francês, álbum editado em 1968 e hoje muito valorizado no mercado franco-belga.

Nesses anos pensava que as aventuras de TinTin eram recentes, só mais tarde descobrindo que a série tinha sido criada quase 30 anos antes de eu nascer. Também não tive a noção, na altura, da ordem cronológica dessas aventuras.

Penso que entre as primeiras aventuras que li de TinTin, estiveram o “TinTin no Tibet” e o “Caso Tornesol”, esta última aventura, curiosamente, editada em álbum em França no ano do meu nascimento.

Se me perguntarem quais as aventuras de que mais gostei, a escolha é difícil, mas penso que o “Objectivo Lua” e “TinTin na Lua” foram marcantes, pela actualidade do tema na década de 60, embora ambos tenham sido escritos e desenhada na década de 1950, ainda antes do meu nascimento. Pela originalidade, penso que a melhor história da série tenha sido, quanto a mim, “As Jóias de Castafiore”, original de 1963.

Pessoalmente, sempre preferi as séries Blake e Mortimer e Astérix, pois considerava TinTin um personagem muito certinho. Penso que o interesse da TinTin está mais relacionada com a profundidade psicológica de personagens “secundárias”, como o Capitão Hadock, o meu preferido, ou o professor Tournesol, entre tantas outras, e, muitas vezes, foram os pequenos apontamentos humorísticos, colocados por Hergé no meio da história principal, que mais as valorizaram. 

Venerando António Aspra de Matos, Blog BêDêzine

(*) No Foguetão apenas foi publicada a versão em francês de Tintin au Tibet. Zorro foi publicada de 1962 a 1964

Nasceu em Torres Vedras em 1956, é licenciado em história pela Faculdade de Letras de Lisboa, Mestre em história social contemporânea pelo ISCTE, e docente na Escola Henriques Nogueira, em Torres Vedras.

No total foram criadas por Hergé 24 aventuras de TinTin, a última delas incompleta e a primeira, “Tintin no País dos Sovietes”, a única que nunca foi revista e colorida pelo autor, renegada por Hergé que só autorizou a sua edição, como curiosidade, à beira da morte.

Num dos seus blog tem mais posts sobre Tintin e Hergé.

https://bedezine.blogspot.com/2021/10/herge-tintin-por-tintin-1-parte-tintin.html

https://www.blogger.com/profile/14847848207009444566

https://bedezine.blogspot.com/search/label/Herg%C3%A9


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Os Grisalhos

Os Grisalhos visitaram no museu da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, a exposição dedicada ao belga Georges Remi, mais conhecido como Hergé, nascido em 1929 e autor de Tintin, o mais icónico personagem da banda desenhada do século XX. 

Zépestana registou o encontro do casal de aposentados com Tintin e Haddock aquando da visita à exposição de 2021.

Da imaginação fecunda de Hergé brotaram aventuras inesquecíveis, que deliciaram, ao longo dos últimos noventa anos, gerações de leitores, dos 7 aos 77 anos. 

E do seu talento criativo nasceu uma vasta galeria de heróis singulares e de sinistros vilões. 

Para lá do protagonista - o jovem repórter Tintin -, quem não se lembra do capitão Haddock, irascível marinheiro de impropério fácil, dos gémeos detectives Dupond & Dupont, da temperamental diva Bianca Castafiore, do circunspecto mordomo Nestor, do colérico General Tapioca, do absorto Professor Girassol (surdo como uma porta), de Serafim Lampião, angariador de seguros, de Tchang, o amigo asiático, ou até de um nosso compatriota, o lisboeta Oliveira da Figueira, persuasivo vendedor ambulante de quinquilharias inúteis, capaz de vender uma cama de casal ao papa?

Pela mão de Tintin, Hergé levou-me ao fundo dos oceanos e ao espaço sideral, às neves eternas dos Himalaias e aos tórridos desertos das arábias, às ditaduras sul-americanas e à misteriosa selva africana. 

Hergé foi o indiscutível e verdadeiro pai da banda desenhada europeia. Mas não só. Destacou-se ainda, assim o mostra esta exposição, como ilustrador, fino humorista, publicitário e artista plástico de múltiplos talentos.

Os seus 24 álbuns de aventuras do Tintin estão traduzidos em mais de cinquenta línguas. Incluem títulos tão sugestivos como aqueles que se seguem: “Os Charutos do Faraó”, “As Jóias de Castafiore”, “O Tesouro de Rackham, o Terrível”, “Explorando a Lua”, “O Lótus Azul”, “O Ídolo Roubado”, “O Segredo do Licórnio”, “Tintin e os Pícaros”, “O Caso Girassol”, “A Estrela Misteriosa”, “As Sete Bolas de Cristal”, “Perdidos no Mar”, “O Ceptro de Ottokar”, “O Voo 714 para Sidney”, “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”, “Tintin no Tibete”…

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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Tin-tin por Tin-tin


Tin-Tin por Tin-Tin em África - Nuno Saraiva

14/04/2010

Nuno Saraiva, desenhador português de BD, teve no semanário Sol, na sua revista Tabu, uma rubrica semanal de duas pranchas intitulada «Na Terra e no Céu». Na edição de 12 de Março de 2010, Nuno parodiou o Tintin com a história «Tin-tin por Tin-tin em África».



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terça-feira, 8 de outubro de 2024

Uma aventura em portugal



Hergé achou a ideia boa, mas Müller não encontrou apoios

Adolfo Simões Müller tinha "um plano gigantesco" e em Abril de 1939 escreveu uma carta a Hergé com a proposta: fazer-se uma aventura de Tintim em Portugal.

O filho de Simões Müller, Luís Müller, lembra-se do projecto. "Hergé chegou a falar com o meu pai, pedindo-lhe informação sobre a História de Portugal", contou ao P2 (Público).

Também se lembra de ouvir o pai dizer que a ideia era encontrar, para a história, um elo de ligação entre o Brasil, Portugal e a Índia. A resposta do criador belga foi prudente.

Achou boa a ideia, mas manteve alguma distância, pois queria assegurar o controlo das coisas.

Nomeou seu representante Jean-Louis Duchemin, do Syndicat de la Proprieté Artistique (SPA, Paris) que apresentou uma estimativa de custos a Simões Müller e propôs uma repartição dos encargos: 10 por cento do preço de cada álbum teria de ser suportado pelo português, e 40 por cento desse montante entregue directamente ao SPA.

A ideia não teve seguimento porque não houve capacidade financeira para investir no projecto, nem possibilidade de encontrar apoios públicos ou privados.

Carlos Pessoa / Público, 22/05/2007




domingo, 6 de outubro de 2024

Cão ou cadela?

 


Texto de Rui Garcia (RG)

A primeira Bedeteca portuguesa foi inaugurada em 1990, na sede da Comissão de Jovens de Ramalde (CJR), no Porto, como um dos projectos do Comicarte que então também organizava o Salão Internacional de BD do Porto. Com a saída daquele núcleo de BD do seio da CJR, em 1995, a Bedeteca estagnou, apesar do acervo ainda existir. - JN

A Bedeteca do porto voltou a funcionar sendo de destacar também o site.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A Ilha Negra



Difusão Verbo - 1988
Depósito legal nº 20314/88
Impresso por Resopal - Mem Martins
Casterman 1956 / Verbo Publicações Periódicas 1988


imagens de José Oliveira



Difusão Verbo - 1989 (Bedetheque)


Boletim nº 1 do Clube Comicarte, Janeiro - 1989

PRIMEIRAS EDIÇÕES

Para quem gosta de colecionar as primeiras edições de qualquer álbum como eu, tentar encontrar as primeiras edições do Tintim em português de Portugal não foi tarefa fácil!!

Como todos sabemos a Verbo foi a primeira a publicá-lo.

Como curiosidade os três primeiros álbuns saíram com o fundo da contracapa em branco. [E a reedição da Ilha Negra saiu ainda com o fundo da contracapa em branco.]

Para chegar a eles foi preciso primeiro tentar descobrir o primeiro de todos publicados e ao saber que saiu em 1988, fui procurar por esse ano no Depósito Legal de cada álbum que eu encontrava e após várias tentativas o primeiro foi a Ilha Negra, o seguinte O Ceptro de Ottokar e o terceiro O Caranguejo das Tenazes de Ouro e depois é só seguir a ordem de publicação original através do título que aparece na contracapa na parte onde diz "A Publicar:".

Se na contracapa o primeiro título que aparece na zona de álbuns já publicados for a Ilha Negra, é garantido que seja uma primeira edição do titulo que está na capa desse álbum. Ou seja, a Verbo começou a publicar a partir da Ilha Negra e seguiu a ordem cronológica de publicação do Tintim a partir daí e sempre aparece nas primeiras edições como sendo a Ilha Negra o primeiro da lista de publicados na contracapa até ao álbum Tintim e os pícaros inclusive. Tendo chegado ao último álbum da coleção, o próximo foi a Orelha Quebrada que é mencionado no "A Publicar:" a seguir foi os Charutos do FaraóLotus AzulTintim na AméricaTintim no Congo e por último o Lago dos Tubarões, este último já com uma contracapa diferente.

Outra dica, se na contracapa tiver os álbuns todos publicados mas tendo fotos das capas, são todos reedições.

José Oliveira, Facebook Bd Rara em Português, 2023