terça-feira, 10 de novembro de 2020

Heróis da BD


Quer se queira, quer não, os protagonistas/heróis marcam o universo da banda desenhada. Em "Heróis da BD" Carlos Pessoa e Nuno Franco sugerem algumas boas pistas, portas de acesso a outros universos. O resto são critérios.

Para falar de banda desenhada todos os espaços são bons, todos os pretextos óptimos. A noção pode ser difícil de entranhar por quem se interessa por cinema ou literatura, formas com lugar garantido no caldo da Cultura. Não é o caso da BD. Presa num limbo variável que apenas se agita em momentos particulares (os Festivais da Amadora, Porto e Lisboa, por exemplo), à BD resta espreitar oportunidades. Foi o caso do desafio da PÚBLICA (revista dominical do PÚBLICO) aos jornalistas e críticos Carlos Pessoa e Nuno Franco. Uma página por semana, tendo como mote (definido pelos próprios) heróis que marcaram os quadradinhos. Agora coligidos num volume de arejado grafismo, esses textos constituem o miolo de "Heróis da BD". Como notam Pessoa e Franco, escrever sobre BD sem falar de heróis, que surgem repetidamente de aventura em aventura, é quase um contra-senso. Infelizmente, acrescente-se. Porque tal critério implica, no leitor ocasional, o vislumbrar automático

de lugares-comuns relacionados com actividades heróicas, monodimensionais, escapistas. Quando a BD não se resume a isso. Basta pensar num exercício semelhante feito em termos de cinema ou literatura. Quais as selecções possíveis, os heróis eleitos? Indiana Jones? Luke Skywalker? Miss Marple, Pepe Carvalho, Harry "Rabbit" Angstrom? Significativos, uns mais do que outros. Mas representativos das suas formas narrativas como um todo? Mais lógico seria citarem-se trabalhos, autores. Com a ressalva de que muitas obras se estendem por episódios, a BD merece o mesmo. Diga-se que Pessoa e Franco conhecem o espartilho, e sabem libertar-se dele. "Akira" de Otomo, por exemplo, é "apenas" isso, uma obra fulgurante (longa, é certo, mas não se considerarmos os códigos da BD japonesa) da qual a personagem-título nem sequer se pode considerar verdadeiro protagonista (Kaneda e Tetsuo dividem com ela o palco). Claro que, e aceitando-se o critério (defensável) dos autores, nada é mais estimulante do que listas e selecções. A razão é óbvia. São sempre, mas sempre, incompletas e discutíveis. E, nessa perspectiva, "obrigam" leitores a refazer o exercício na ânsia de uma selecção perfeita, utópica. A este respeito nada de ilusões: comentários aos critérios pessoais de outros são apenas reflexo de um outro critério, não menos pessoal.Logo à partida é interessante notar que as opções de Franco e Pessoa seguem de muito perto cânones que nos habituámos a reconhecer, não só em Portugal. A grande divisão é entre franco-belgas e norte-americanos; com um espanhol, dois italianos, dois argentinos, dois japoneses, e cinco portugueses à mistura. Mais: a chamada "BD clássica" resume-se, fora um ou outro incontornável ("Tintin", "Spirou"...), ao mundo das "strips" e "comics" norte-americanos, com as restantes escolhas a incidirem na contemporaneidade. É evidente que a operação tem de ter danos colateriais, como toda a BD inglesa e personagens clássicas das restantes ("Quim e Manecas", "O Boneco Rebelde", "Simão Infante", para apenas citar alguns portugueses). No entanto, nada há a dizer em relação às presenças nacionais. Gonçalves, Louro, Saraiva, Relvas são inquestionáveis, Fazenda e Marte mais do que promessas. De fora fica, por exemplo, José Carlos Fernandes, o mais espantoso autor português. Que, por ser mais anti-autor, apenas cria, como é óbvio, anti-heróis. Noutra perspectiva, da brilhante dupla Nuno Saraiva/Júlio Pinto resgata-se o formato mais clássico, e a criação menos interessante, pese embora o delírio inicial. É evidente que os autores concentraram escolhas naquilo que reconhecem como importante e, mais ainda, de que gostam. Não é difícil, de resto, distinguir uma coisa da outra. Veja-se, nomeadamente, o esforço efabulatório de Carlos Pessoa para que o leitor penetre nos universos ficcionados que descreve. A forte carga de assombro que se vive nessas entradas contrasta com outros textos de cariz mais informativo. (...)

João Ramalho Santos, Público, 13/10/2001

https://www.publico.pt/2001/10/13/jornal/o-regresso-dos-herois-162967


Heróis da BD, de Nuno Franco e Carlos Pessoa

Uma lista de 42 heróis da BD analisados pelos autores, cujas crónicas foram inicialmente publicadas no revista  dominical do jornal «Público». Uma crónica é dedicada a Tintim.

Público - Lisboa, 2001 - 89 páginas, Cor, Brochado, 250x295 mm 

A entrada sobre Tintin, "Repórter Andarilho", é da autoria de Carlos Pessoa.

antigo site do Público

Nome: Tintin

Criador: Hergé

Data de nascimento: 10-01-1929

Local: "Le Petit Vingtième", Bélgica

Época: século XX

Série: banda desenhada de aventuras e um dos grandes clássicos do género, que influenciou de forma muito vincada uma parte significativa da criação europeia contemporânea de BD Sinais particulares: Tintin é um jovem repórter, sempre vestido com calças de golfe e ostentando um inconfundível topete no alto da cabeça. É dono de um fiel e inteligente cão "fox-terrier", chamado Milou, e tem como companheiro inseparável, a partir de 1940, Haddock, um capitão de marinha colérico, beberrão e temperamental.

Carlos Pessoa

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