100 LIVROS DO SÉCULO uma exposição - Centro Cultural de Belém, de 7 de Março a 21 de Maio de 1998, todos os dias das 11h às 20h.
ciclo de debates Centro Cultural de Belém - 6 de Março a 4 de Junho de 1998 às 18.30h na Sala Polivalente do Centro de Exposições
Comissário da exposição - Fernando Pinto do Amaral
Moderador dos debates - Eduardo Prado Coelho
Ninguém poderá dizer quais foram os melhores livros do século XX. Contudo talvez nos seja possível indicar alguns daqueles que, por motivos muito diversos, transformaram o modo de pensar, de sentir e de viver do século XX. É sobre esses livros que mudaram o mundo que vale a pena conversar. (Eduardo Prado Coelho)
15 colóquios para 15 livros
Com base nos quinze destaques pensados para a exposição "Cem Livros do Século", o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas organiza, entre 6 de Março e 4 de Junho, uma série de debates no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, moderados por Eduardo Prado Coelho. São quinze obras que emergiram de conversas entre o comissário da exposição, Fernando Pinto do Amaral, e os dois arquitectos que conceberam a montagem, Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, do atelier Contemporânea. Escolhas a que o organizador dos debates, Eduardo Prado Coelho, não quis sobrepor outras: "Agarrámos os destaques que já tinham sido feitos por razões específicas à própria exposição - os livros que aí eram encenados."
À excepção de hoje, de forma a coincidir com a inauguração da exposição, os debates terão lugar todas as quintas-feiras, às 18h30, na sala polivalente do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém.
Hoje, será o livro "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, num debate com Maria Alzira Seixo e Augusto Abelaira. No dia 12 de Março, "O Processo", de Franz Kafka, com Luísa Costa Gomes e Jorge Listopad. No dia 19 de Março, "A Interpretação dos Sonhos", de Sigmund Freud, com José Gabriel Pereira Bastos e Linda Santos Costa. No dia 26 de Março, "O Amante", de Marguerite Duras, com Lídia Jorge e Maria Velho da Costa. No dia 2 de Abril, "África Minha", de Karen Blixen, com Agustina Bessa-Luís e José Eduardo Agualusa. A 9 de Abril, "Citações do presidente Mao Zedong (O Livro Vermelho)", com Francisco Louçã e Saldanha Sanches. No dia 16 de Abril, "À Espera de Godot", de Samuel Beckett, com José Gil e António Pinto Ribeiro. No dia 23 de Abril, "Ficções", de Jorge Luís Borges, com António Mega Ferreira, António Alçada Baptista e Carlos da Veiga Ferreira. No dia 30 de Abril, "Ensaios Críticos", de Roland Barthes, com Manuel Gusmão e Fernando Pinto do Amaral. No dia 7 de Maio, "Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa, com Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura. No dia 14 de Maio, é o dia da banda desenhada, com "O Pequeno Nemo", de Winsor McCay, e "Tintin no País dos Sovietes", de Hergé, com João Paulo Cotrim e Rui Zink. No dia 21 de Maio, "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, com Abel Barros Baptista e Rui Rocha. No dia 28 de Maio, "Toda a Internet: Guia do Utilizador e Catálogo", de Ed Krol, com José Afonso Furtado e Victor Constâncio. Por último, a 4 de Junho, "Breve História do Tempo", de Stephen Hawking, com José Vitor Malheiros e Carlos Fiolhais.
I.S. Público, 03/03/1998
Quinta-feira 14 de Maio
Winsor McCay, Hergé
O Pequeno Nemo, Tintim e outros heróis... com João Paulo Cotrim e Rui Zink
O Pequeno Nemo na Terra dos Sonhos e Tintim no País dos Sovietes são exemplos, entre "100 Livros do Século", de uma forma literária que mudou a maneira de ler no século XX: a Banda Desenhada.
Livros esgotados e não traduzidos na exposição "Cem Livros do Século"
Cem livros menos 25
A lista de livros apresentada pela exposição "Cem Livros do Século" serve para comparar a nossa escolha com a do comissário. Mas uma outra leitura possível é confrontar o mercado livreiro com as ausências - 25 por cento não estão disponíveis. Nunca traduzidos ou sempre esgotados. A culpa, dizem os editores, é de quem não os compra.
Chegar a uma livraria e comprar os títulos escolhidos para a exposição "Cem Livros do Século", ou apenas aqueles que faltam na estante, revela-se uma tarefa árdua e quase impossível para os leitores portugueses.
Das 100 obras escolhidas para esta exposição, que estará no Centro Cultural de Belém até 21 de Maio, não estão disponíveis no mercado livreiro 25 títulos, ou seja, um em cada quatro dos autores seleccionados pelo comissário Fernando Pinto do Amaral.
Dos 25 títulos, nove estão esgotados nas editoras, o que, para o comissário responsável pela escolha dos cem títulos, é à partida positivo, pois "mostra o interesse das pessoas em ler". Mas "não haver reedições revela a falta de espírito comercial das editoras", acusa também Fernando Pinto do Amaral.
As editoras argumentam que a falta de interesse é do mercado que não absorve estas obras. A Editorial Bertrand é detentora de três dos títulos esgotados, sendo que dois deles são obras de referência do feminismo - "O Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir e o "Relatório Hite" de Shere Hite (esgotado na editora mas ainda à venda em algumas livrarias) -, e vão voltar a ser reeditados na próxima semana. Quanto ao "Arquipélago de Gulag", de Alexandre I. Solzhenitsin, "não se justifica, porque são três volumes para um mercado que não existe", afirmou Maria Piedade Ferreira, directora editorial.
"Um Estudo de História" de Arnold J. Toynbee, foi há muito editado pela Ulisseia e, segundo o director comercial, José Luís da Fonseca, trata-se de "um livro muito antigo que já esgotou há cerca de 20 anos". Entretanto a editora perdeu os direitos de autor e está a tentar renegociá-los, "para voltar a publicar essa obra, agora inserida na nossa colecção de história".
À lógica desapiedosa do mercado obedecem os títulos de teatro. Ao todo são quatro os clássicos ausentes dos escaparates das livrarias: "Seis Personagens à Procura de Autor" de Pirandello, "Esperando por Godot" de Beckett, "Mãe Coragem e seus Filhos" de Brecht e "A Cantora Careca" de Ionesco. Tudo peças já encenadas por companhias portuguesas, mas que estão esgotadas há já alguns anos no circuito livreiro.
"A razão é óbvia: o teatro não vende e leva muitos anos a esgotar - explicou Fernanda Barros, das Edições Cotovia, uma das editoras que teima em publicar teatro. "Quando esgota não interessa voltar a reeditar, a menos que haja uma exigência do público, o que não existe".
Já para Jaime Salazar Sampaio, dramaturgo, é "extremamente importante voltar a reeditar estas obras, que são fundamentais e que ajudaram a mudar o mundo". No entanto, compreende que não sejam publicadas porque "é incómodo ler teatro já que é feito não para ser lido, mas para ser representado", e propõe a reedição com introduções didáctico-pedagógicas para uma melhor compreensão das peças.
Faltam 16 traduções
Além das nove edições esgotadas, existem 16 autores que ainda não foram traduzidos nem publicados por editoras nacionais, mas que podem ser adquiridos em livrarias portuguesas.
Na opinião do comissário da exposição "Cem Livros do Século", a falta de 16 obras "é crítica, apesar de haver alguns títulos para os quais não haja público ou que não são comercialmente interessantes". Fernando Pinto do Amaral cita alguns exemplos como o "Tratado de Radioactividade" de Marie Curie, "Negritude e Humanismo" de Leopold Senghor, a "Trilogia do Cairo" de Mahfouz Nagib e "A Escrita e a Diferença" de Jacques Derrida: "são obras marcantes para um público restrito", admitiu.
Para o comissário, é "estranho e revelador do pouco interesse por parte das editoras" títulos como "Ser e Tempo" de Heidegger e "Uma Teoria Geral do Emprego, da Moeda e do Juro" de Keynes não estarem ainda editados: "são livros centrais da Filosofia e da Economia que só podem ser lidos em inglês ou francês".
Entretanto, sugere que as editoras traduzam e editem títulos como "Ofício de Viver", um diário "belíssimo" de Pavese, "A Região mais Transparente" de Carlos Fuentes, uma análise da sociedade latino-americana que "merecia ser traduzida", e "A Política do Êxtase" de Timothy Leary, sobre a liberalização das drogas, "um tema tão actual que não percebo porque é que ainda não pegaram nisso..."
O único título que "não interessa" traduzir é "Toda a Internet: Guia de Utilização e Catálogo", um guia dedicado ao público norte-americano, escolhido "apenas" porque se trata do primeiro guia da Internet, um tema já muito editado em Portugal.
Dos três autores brasileiros escolhidos, apenas Jorge Amado está editado em Portugal. "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa e "Sentimento do Mundo" de Carlos Drummond de Andrade continuam disponíveis apenas em edições brasileiras.
O número de 25 títulos ausentes do mercado livreiro português vai diminuir ainda este ano. Além dos títulos reeditados pela Bertrand, a Verbo vai lançar a versão original do primeiro álbum de Hergé, "Tintin no País dos Sovietes", com as tiras a preto e branco tal como surgiram nos jornais franceses (?), em 1929. Uma boa novidade para os amantes da BD.
Bárbara Wong / Público, 21/03/1998