quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Tintim Na Lousã

É perfeitamente dispensável, quando se fala de Tintim, referir atitudes cheias de selecta paixão, como o fez Hergé por suas próprias palavras, a respeito de algumas qualidades do seu herói: “… o heroísmo, a coragem, a sinceridade, a malícia e o desembaraço”.

Tintim não usa porta-moedas, não preenche declarações de IRS, não tem horário de trabalho e, se sai de casa, não deixa atrás de si preocupações ou compromissos de pais, irmãos ou avós. Não é adepto de nenhum clube de futebol, não tem religião e, como se tudo isto fosse pouco, também não é casado nem sequer tem namorada.

Por tudo isso, Tintim entra no domínio da abstracção, do encantamento distanciado de quem se dá ao luxo de ignorar toda a realidade e arredores. Por arredores quero eu dizer: o amor, o compromisso, a dor, o sacrifício e todas as outras coisas que – diz-se – fazem da vida uma coisa que merece ser vivida. E no entanto… quem não tenha mergulhado numa aventura de Tintim com toda a alegria desprendida deste mundo que atire a Hergé a primeira pedra.

Na minha família mais chegada já vamos na terceira geração de tintinófilos e, atendendo à idade de oitenta anos a que chegou o herói, não é possível pedir mais à tintinófilia familiar. Com uma grande diferença: quando eu era miúdo esperava uma semana longamente ansiosa por mais uma magnífica prancha de saborosas aventuras. Os meus filhos já se regalavam com um álbum inteiro de cada vez, Natais, aniversários, etc. 

Quanto ao Senhor meu neto, recebeu de uma vez todos os álbuns que havia disponíveis na livraria, com encomenda feita dos números que faltavam. Depois queixamo-nos que a juventude é consumista, que exagera nas suas reivindicações e que é insolente: nós é que temos a culpa. Sirva-nos como indulgência o facto de ter mergulhado com entusiasmo na leitura real e dedicada dos álbuns da primeira à última página, o que não deixa de ser obra num petiz que apenas agora começa os seus anos de escola e já domina com gosto a arte da leitura. De quem é a virtude? da arte de Hergé, não tenhamos quaisquer dúvidas.

Tintim funciona agora como funcionou no passado em tudo aquilo que tem de mais deliciosamente eficaz. Não faz falta a este breve escrito definir com rigor o que foi e é o fenómeno Tintim. Tomo a liberdade de falar apenas de uma obra que fiz com carinho paternal, isto é, uma tela com 0,75 m x 0,85 que ilustra a meu modo a noção da “linha clara”, a fórmula plástica que terá sido reinventada na Bélgica para as histórias de quadradinhos. 

Representa vinheta e meia da prancha número 25 do álbum “O caso Girassol”, ofereci-o ao meu filho mais velho, para pôr no seu quarto, em 1981, e está bem guardado na cave das recordações afectivas de toda a família.

Digo reinventada porque, nada havendo de novo sob o sol, já muitas artes antigas visitaram com lucidez esse mundo pitoresco que Hergé também nos oferece, como documento vivo e palpitante de coisas, pessoas e paisagens que faz do nosso mundo aquilo que ele é no quem tem de melhor e, às vezes, de menos bom. Limito-me a referir, muito de passagem a arte fabulosa das estampas japonesas e dos desenhos da Pérsia, da Índia, da China e de tantos outros mundos conhecidos e desconhecidos.


“Last but not the least”, não esqueçamos outros atributos inerentes à figura do ladino repórter que não tem que se maçar a escrever notícias. Sendo uma espécie de cavaleiro andante de causas bem intencionadas, está muito longe dos super-heróis que as histórias de quadradinhos produziram às toneladas. É baixito, tem uma fraquíssima figura, as miúdas não lhe ligam bóia e – embora seja praticamente invulnerável a toda a espécie de acidentes sérios – não se livra, de vez em quando, de levar umas boas tareias!… 

Valha-nos o mito para acreditarmos que há em nós o fermento da divindade e que, se for intenso o talento de sonhar, também podemos um dia ir por uma ribanceira abaixo e levantarmo-nos logo de seguida para lutar por uma causa desinteressada, seja ela a mais acidental.

Quem não salva a alma com muito terá de salvá-la com pouco e a alegria infantil é um universo cheio de virtudes que todos deveríamos saber habitar, para proveito e consolo de toda a nossa humanidade.

Costa Brites

texto e ilustração foram publicados na Revista de informação do SBC, no número de Jan/Fev de 2009. (acrílico sobre tela de 0,75 x 0,85, copiado de HERGÉ, L’Affaire Tournesol, prancha 25, por Costa Brites, 1981)

https://conteudos.sibace.pt/revista/revista_009.pdf


sábado, 10 de dezembro de 2022

Dossier Centenário de Hergé - BDjornal


BDjornal #19 (junho/julho 2007)

O BDjornal surge em novo formato (275 x 205 mm) e com mais páginas (76) e em impressão digital – capa em cartolina de 200 grs. plastificada brilhante e com papel do miolo de 115 grs. - agora com tiragem limitada e distribuição centrada nas lojas da especialidade, apostando decididamente em reforçar o número dos assinantes. O preço de capa é de € 6,00 e a assinatura por 1 ano (6 números) é de € 30,00.

(...)

À habitual crónica de José Carlos Fernandes, QUATRO APARIÇÕES SOBRENATURAIS, desta vez ilustrada por ele próprio, juntamos nesta edição um texto de David Soares, A ILUSÓRIA INVISIBILIDADE*, sobre a importância do argumentista na banda desenhada e que deverá ser matéria de reflexão obrigatória para autores ou candidatos a autores.

Não querendo deixar passar em branco o facto de este ano ser o do Centenário de Hergé, num pequeno dossier reunimos matéria um pouco diferente daquilo que tem sido publicado ultimamente nos media a propósito das celebrações centenárias do criador de Tintin.

Destaca-se à partida a entrevista, por Pedro Cleto, com Ana Bravo, a autora do livro/tese A INVISIBILIDADE DO GÉNERO FEMININO EM TINTIN – A CONSPIRAÇÃO DO SILIÊNCIO, que promete vir a dar muito que escrever nestas páginas (ver o que sobre este livro dizem José Carlos Fernandes e Pedro Vieira de Moura). Juntámos ainda algumas notas de Geraldes Lino sobre Hergé e as apreciações de Pedro Vieira de Moura a duas edições sobre Tintin e o seu criador.

Prosseguindo o seu DICIONÁRIO UNIVERSAL DE BANDA DESENHADA – PEQUENO LÉXICO DISLÉXICO, Leonardo De Sá apresenta neste número a continuação das letras E e F, que ainda continuarão no próximo BDj. De Leonardo De Sá apresenta-se ainda um texto sobre o CENTENÁRIO DE ANTÓNIO CARDOSO LOPES (TioTónio). Por outro lado Sara Figueiredo Costa escreve sobre DOIS LIVROS DE ANDRÉ LEMOS e João Miguel Lameiras apresenta um texto sobre um curioso livro da série DAMPYR, da casa Bonelli, passado em Portugal, com o título Lo Sposo della Vampira.

E para além das críticas de Pedro Cleto e das notícias variadas de Clara Botelho, três BDs curtas merecem destaque: O TIGRE E O RATO, de Ruben Lopez, O REGRESSO DO AMOK VERDE, de Álvaro e a prancha O MENINO REMI, de Pedré... ou seja, de Pedro Alves, no início do Dossier Hergé.

Das bandas desenhadas em continuação, saliente-se que chega ao fim o 2º Capítulo de BRK e chamamos a atenção para o facto de SEXO, MENTIRAS E FOTOCÓPIAS, a BD de Álvaro, que tinha vindo a ser publicada de modo a poder ser destacada e coleccionada, ter perdido essa característica. Com a alteração do formato, não fazia sentido continuar a publicá-la da mesma forma.

SUMÁRIO

4. A BANDA DESENHADA NA PLANÍCIE ALENTEJANA, J.Machado-Dias
6. ENTREVISTA COM DAVID B., Nuno Franco
8. ENCONTROS DE STO. TIRSO COM POUCA BD, Clara Botelho + UM FESTIVAL ASSUMIDAMENTE MICRO, Mário Freitas
9. QUATRO APARIÇÕES SOBRENATURAIS, José Carlos Fernandes
10. A ILUSÓRIA INVISIBILIDADE, David Soares
13. DICIONÁRIO UNIVERSAL DE BANDA DESENHADA, Leonardo De Sá
15. VALORES SELADOS – RONALD SEARL – 2, Nuno Franco
16. OS 20 MELHORES FRANCO-BELGAS DE 2007 (1º SEMESTRE), Clara Botelho
17. BD – O TIGRE e O RATO, Ruben Lopez
23. BD – BRK, Filipe Pina (arg.) e Filipe Andrade (des.)

30. BD – O MENINO REMI, Pedro Alves (Pedre, Toonman)

31. HERGÉ 1907/2007 – ECOS DO CENTENÁRIO, Clara Botelho

32. TINTIN É UMA OBRA PERFEITA, entrevista de Pedro Cleto com Ana Bravo

34. NOTAS SOBRE HERGÉ, Geraldes Lino

35. TINTIN NO TERTÚLIA BDZINE, J. Machado-Dias

36. HERGÉ, Pedro Vieira de Moura

37. TINTIN AND THE SECRET OF LITERATURE, Pedro Vieira de Moura

43. BD – O REGRESSO DO AMOK VERDE, Álvaro
47. BD – OS MONÓLOGOS MONÓTONOS DE UM VAGABUNDO, Hugo Teixeira
53. NOTAS SOBRE DOIS LIVROS DE ANDRÉ LEMOS, Sara Figueiredo Costa
54. DAMPYR EM PORTUGAL, João Miguel Lameiras
56. CRÍTICAS, Pedro Cleto
60. COLECCIONISMO & BD, Pedro Cleto
61. FANZINE – EFEMÉRIDE #2, Geraldes Lino
62. LANÇAMENTOS INTERNACIONAIS, Clara Botelho
64. MANGÁ EM CRISE NO JAPÃO? Clara Botelho
66. ECOS DO FESTIVAL DE CANNES, Clara Botelho
70. A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DE CARDOSO LOPES (TIOTÓNIO), Leonardo De Sá

COLABORAÇÕES – Clara Botelho, Dâmaso Afonso, David Soares, Geraldes Lino, João Miguel Lameiras, José Carlos Fernandes, Mário Freitas, Nuno Franco, Paulo Monteiro, Pedro Cleto, Pedro Vieira de Moura e Sara Figueiredo Costa.

AUTORES DE BANDAS DESENHADAS E ILUSTRAÇÕES – Álvaro, José Carlos Fernandes, Filipe Andrade (des.), Filipe Pina (arg.), Hugo Teixeira, Pedro Alves e Ruben Lopez.

(*) O texto de David Soares surgiu cortado (faltam 5 linhas na página 11, 3ª coluna, 4º parágrafo) por um acidente de montagem.

in KUENTRO - 27/07/2007

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A Aventura da Banda Desenhada


"As Minhas Aventuras Na República Portuguesa", com texto de Miguel Esteves Cardoso e desenhos de Jorge Colombo, é uma banda desenhada publicada em 28/04/1989 no suplemento "Vida 3" do jornal "O Independente". MEC aparece transformado em Tintim quando refere que comprou livros do nosso herói e não os conseguiu ler.