quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

João Afonso


João Afonso decidiu musicar diversas obras de literatura clássica, numa edição livro/CD de 70 páginas, que conta com os contributos de notáveis artistas plásticos, fotógrafos e escritores portugueses.

"Livros" reúne, deste modo, 14 canções inéditas de João Afonso num CD que integra um livro ilustrado por António Afonso Lima e é enriquecido com olhares diversos sobre obras literárias que fazem parte do "som das leituras" do músico.

O Livro-CD, verdadeiro artigo de coleção, percorre a biblioteca de João Afonso com textos de Alice Vieira, Mário de Carvalho, Isabel Rio Novo, Joel Neto, Hélia Correia, Afonso Reis Cabral, Ricardo Araújo Pereira, Paulo José Miranda, Luciano Amaral, Jorge Silva Melo, Frei Bento Domingues e Afonso Cruz, juntamente com ilustrações de António Afonso Lima.

A faixa 2 é dedicada a "Tintim" e o livro tem o texto "Haddock em chinelos" da autoria da escritora Alice Vieira.

 RTP

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Últimos dias da exposição ‘Hergé’ trazem programação paralela

Já só tem até ao dia 10 de Janeiro para visitar a exposição dedicada ao autor de As Aventuras de Tintin, George Remi (1907-1983), mais conhecido como Hergé. Por isso, nestes últimos dias, a Galeria Principal da Fundação Calouste Gulbenkian estará aberta todos os dias, para permitir um maior número de visitantes. Se ainda não foi conhecer “o homem por trás do mito”, é a última oportunidade para descobrir vários objectos vindos directamente do Museu Hergé, em Lovaina, Bélgica, que mostram facetas pouco conhecidas do escritor e desenhista. Mas há mais.

Além de estarem previstas visitas guiadas todos os dias, entre as 16.00 e as 17.00 ou as 18.00 e as 19.00, a Fundação Calouste Gulbenkian preparou também uma programação complementar considerável. Destaca-se, por exemplo, o “balanço” da exposição, a 6 de Janeiro, pelas 18.00, com uma conversa entre a curadora Ana Vasconcelos e João Paulo Paiva Bóleo, profundo conhecedor do universo da banda desenhada.

Mais tarde, no dia 8, a partir das 16.00, a performer Catarina Molder irá procurar evocar e desconstruir a figura da fictícia Bianca Castafiore, a Diva de As Aventuras de Tintin, que perdeu a noção do tempo e do mundo, recusando-se a sair do seu pedestal.

Já a 9, pelas 17.00, o Auditório 2 recebe uma conferência de Dominique Maricq, arquivista nos Studios Hergé e autor de vários livros sobre a obra de Georges Remi. Segue-se, no dia 10 de Janeiro, pelas 18.00, no Auditório 3, uma “Espécie de catacrese!”, com uma conversa com Patrícia Portela e José Pedro Serra sobre os contributos de Hergé para uma grande narrativa do século XX. Mas antes, ainda há um outro apontamento de destaque. Nos dias 8 e 9 de Janeiro, haverá uma surpresa. Sim, leu bem: nem a Time Out sabe o que se vai passar. Bem, sabemos que “a Galeria Principal será invadida pelo som que o desenho faz”. O que é que isso quer dizer? É esperar para ver (ou ouvir).

A maior parte destas actividades são de entrada gratuita mediante levantamento de bilhete, disponível na bilheteira da Fundação a partir do dia útil anterior ao evento.

In TimeOut


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Sem Rei Nem Roque


O livro "Sem Rei Nem Roque", de João Palma e Rodrigo de Matos, foi publicado em 2021 pela Oficina do Livro.

O livro pretende desvendar as origens de algumas das expressões populares mais divertidas da língua portuguesa.

Uma das expressões é "Tintim por tintim" e o que nos interessa mais é o desenho de rodrigocartoon!

http://www.rodrigocartoon.com

https://www.facebook.com/rodrigocartoon

sábado, 11 de dezembro de 2021

Hergé e Tintin, inseparáveis

 “Há coisas que os meus colaboradores podem fazer sem mim e mesmo melhor do que eu. Mas dar vida a Tintin, a Haddock, a Tournesol, aos Dupondt e a todos os outros, creio que serei o único a poder fazê-lo: Tintin (e todos os outros) sou eu, exactamente, como Flaubert dizia ‘Madame Bovary c’est moi!’ São os meus olhos, os meus sentidos, os meus pulmões, as minhas tripas!… É uma obra pessoal, tal como a obra de um pintor ou de um romancista: não é uma indústria! Se outros pegassem no Tintin, talvez o fizessem melhor ou não. Uma coisa é certa: fá-lo-iam diferente e, assim, nunca seria o Tintin!…” Desta maneira se justificava Georges Remi (1907-1983), nome real de Hergé, o criador da famosa personagem, em entrevista a Numa Sadoul, publicada em “Tintin et Moi” (Casterman, 1975).

Parte do trabalho de Hergé e da ligação da sua obra a Portugal podem ser vistos no duplo catálogo recentemente editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (a propósito da exposição que ali decorre até Janeiro) e pela editora belga Moulinsart – “Hergé” e “Hergé em Portugal”. O primeiro título passa pela biografia e criação do artista, num percurso que atravessa a fase da pintura influenciada por Miró ou Dubuffet e o trabalho de publicidade a que Hergé também se dedicou, visita a construção das histórias de Tintin (estruturação do argumento e dos desenhos) e de outros títulos, revela a preocupação documental que antecedia a fixação das aventuras, procura a actualidade e força das personagens, reproduz pranchas, cartazes, esboços e traz o pensar de Hergé mediante excertos ilustrativos de intervenções, justificações e apreciações, num ritmo que acompanha a organização da exposição, trabalho coordenado por Ana Vasconcelos, Joana Marçal Grilo, Maria Cristina Barbosa e Maria Helena Melim Borges.

O segundo título, “Hergé em Portugal”, coordenado por António Cabral e reunindo textos de autores diversos, faz a ponte para a recepção que o herói do jornal “Le Petit Vingtième” teve no nosso país, uma narrativa eivada de informações, de curiosidades e de arrojo. Apesar de Hergé ter aparecido em Portugal pela primeira vez em 1927, numa revista da Covilhã, “Scout Lusitano”, Tintin só cá chegará em 1936, através da influência do padre Abel Varzim e da publicação “O Papagaio”. Peculiaridades lusitanas foram várias – por cá se imprimiram, pela primeira vez, as histórias em policromia, já que os desenhos chegavam a preto e branco; houve vinhetas suprimidas, discursos alterados e nomes livremente traduzidos; foram adaptados títulos das obras (“Tintin au Congo”, de 1930/1931, foi traduzido por “Tim-Tim em Angola”, em 1939); houve discussões editoriais entre Abel Varzim e Adolfo Simões Muller; em Portugal saiu a primeira edição de “Tintin no País dos Sovietes” em país não francófono; os direitos de Hergé foram pagos, várias vezes, em géneros… Paralelamente, Tintin foi tendo o seu círculo de amigos, de tal forma que Amadeu Lopes Sabino, um dos co-autores deste catálogo, afirma ter chegado “ao universo de Hergé antes de nascer”, numa clara alusão à idade em que começou a entender as histórias de Tintin.

Acompanhado do seu inseparável “fox-terrierMilou, Tintin teve aventuras em todos os continentes, publicadas entre Janeiro de 1929 e Abril de 1976, com polémicas à mistura, mostrando as convulsões do mundo, rodeado de personagens que acabaram por se imortalizar com ele (incluindo um tal Oliveira de Figueira, português que surge em quatro títulos da colecção, bom vendedor e falador desmedido), sem histórias de amor, passando pela ciência, pela política, por tensões sociais e por uma imaginação vertiginosa.

João Reis Ribeiro in Setubalense

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O Independente - 1992


O jornal "Independente", de 26 de Junho de 1992, publicou no suplemento "Vida 3" uma entrevista de  Sara Adamopoulos a Léon Degrelle, um belga de extrema-direita que teve ligações a Hergé e que estava exilado em Espanha desde 1944 onde morreu em 1994.

Agradecimentos ao blog Porta da Loja que publicou recentemente uma entrada sobre essa edição.

https://portadaloja.blogspot.com/2021/10/degrelle-e-o-elogio-da-alemanhanazi.html


segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

"O editor português de Tintin enviou a Hergé alimentos durante a ocupação alemã de França"

É a terceira edição mundial colorida de Tintin no País dos Sovietes aquela que os leitores portugueses têm a partir de agora direito a ler, pois até ao momento só foi autorizada em dois países (Holanda e Dinamaca) além de França. A primeira edição em livro aconteceu em 1930, em 1981 foi publicada uma edição fac-simile, em 1999 passou a integrar a colecção dos álbuns de Tintin, mas só em 2017 é que teve uma versão a cores.

Em entrevista, o responsável da editora Casterman para a área da banda desenhada, Benoît Mouchart, explica as razões de uma complexa história para um livro tão especial, que faz parte de um sucesso que atingiu 230 milhões de álbuns vendidos, foi traduzido em 77 línguas - o português foi a primeira tradução num país não-francófono -, e que no nosso país já foi impresso dois milhões de vezes.

Benoît Mouchart foi o director artístico do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, que deixou em 2013 para ingressar na Casterman, tendo no seu currículo uma impressionante colecção de títulos sobre esta arte, entre os quais Hergé Íntimo, publicado em 2011.

Entre as revelações sobre Hergé, que tem neste momento uma exposição na Fundação Gulbenkian, em Lisboa - onde será realizada a apresentação oficial de Tintin no País dos Sovietes -, está uma bem curiosa a propósito de ser portuguesa a primeira impressão das aventuras do seu principal herói fora do mundo francófono: «Hergé ficou muito feliz com essa situação, tanto que se correspondeu de forma extensa com o editor português. Aliás, este enviou-lhe uma grande quantidade de alimentos não perecíveis durante o período de restrições da ocupação alemã de França".

Esta foi a única aventura de Tintin que Hergé manteve a preto e branco. Porque teimou nessa situação?

O trabalho de colorir as aventuras de Tintim foi empreendido por Hergé a pedido da Casterman em 1942, mas o ocupante alemão limitava severamente o papel e não viu com bons olhos a publicação de álbuns tão inócuos como eram na altura Tintim na América ou A ilha Negra. Portanto, Hergé deixou este livro de lado. Depois da Libertação, durante a Guerra Fria, provavelmente não teria ficado muito feliz com o reaparecimento de um livro tão comprometido como este era. O tempo de Soljenitsyne e de um olhar crítico sobre o totalitarismo soviético ainda não havia chegado...

Tintin no País dos Sovietes foi publicado em formato livro em 1930 e só foi reeditado em 1969. Hergé não se revia nas posições políticas desta aventura?

Hergé não era de todo comunista e ao longo dos anos tornou-se adepto de uma certa neutralidade política. Ele considerou este livro um documento que, principalmente, mostra o seu início como jovem autor. Na verdade, descobrimos aqui uma forma gráfica muito redonda, influenciada pela Art Déco e pelos comics americanos de Geo McManus. É uma forma de desenhar que tem consistência própria dentro do livro, e da qual Hergé só vai desistir realmente durante a elaboração do Lótus Azul. Ele não tinha vergonha do que fizera, mas havia uma preferência clara por outras aventuras de Tintin, a começar pela de Tintin no Tibete.

Este olhar próprio de um tempo passado está muito presente em Tintin no País dos Sovietes. Houve adaptações ao texto na reedição de 1969 ou na de 2017?

O texto dos diálogos não foi retocado sob nenhuma forma, antes é um verdadeiro arquivo de como foi o processo desse livro, ficando liberto de qualquer alteração a não ser o acrescento da cor.

A passagem do álbum a cores era um passo natural ou resultou de um interesse editorial?

Esta foi uma ideia proposta pela Moulinsart [responsável pelo legado] e que a Casterman aceitou por ser uma oportunidade de mergulhar esta aventura primitiva num banho de juventude, e uma oportunidade de olhar de forma diferente para as imagens que a compõem. O trabalho do colorista Michel Barreau é excepcionalmente delicado, daí que se reveja o desenho de Hergé com um olhar especial!

É neste álbum que o repórter Tintin escreve a sua única reportagem. Por que nunca mais enviou para a redação do Petit Vingtième - ou outro jornal - os seus artigos?

Em banda desenhada muita coisa pode acontecer entre os quadradinhos. É a isso que chamamos a magia da elipse... Se Hergé nunca achou por bem mostrar-nos Tintin novamente a redigir reportagens, é porque a verdadeira aposta da sua arte de contar histórias pretendia traduzir movimento e velocidade. E o que se verifica é, a par desse mistério, permitir também ao leitor usar a sua própria imaginação.

Algumas das aventuras de Tintin têm sido consideradas politicamente pouco corretas, designadamente por terem uma visão colonialista ou de segregação racial. Hergé alguma vez comentou - ou aceitou - estas opiniões?

Deixemos falar Hergé, que respondeu desta forma numa entrevista para a RTBF em 1979: "Depois do álbum Tintin no País dos Sovietes, eu queria fazer Tintin na América, para mostrar as duas potências em confronto. Nesse momento, contudo, o editor do jornal Petit Vingtième quase me implorou ao dizer: "Você não pode fazer isso com a nossa bela colónia do Congo, sobre Leopoldo II, os missionários e a nós que lhes levámos a civilização, etc." Então, eu fiz Tintin no Congo sem muito entusiasmo. Se tivesse de reescrever Tintim no Congo hoje, seria muito diferente. Mas tudo evoluiu e mudou, eu também mudei, e o repórter Tintin ficou um espelho da realidade. Isto porque todo o jornalista é uma espécie de espelho que reflete os acontecimentos que vai olhar. Tintim refletia o que a maioria das pessoas pensava sobre esses dias na Rússia bolchevique. Quanto à ideia colonialista, praticamente todo o mundo foi colonialista. Isso não era um problema então, o branco tinha sido criado para levar a civilização aos outros. Tintin não era racista, mas era um colonialista como toda a gente naquela época."

A personagem muito portuguesa de Oliveira da Figueira foi um prémio para os leitores portugueses?

Não posso responder pelo Hergé, mas este excelente comerciante é uma figura muito simpática, mesmo que consiga fazer o nosso herói comprar muitas bugigangas que não necessita!

Há conhecimento da razão por que Hergé criou Oliveira da Figueira e como a caracterizou daquela forma?

Hergé era um humorista e um caricaturista. A bonomia e a simpatia de Oliveira da Figueira são, sem dúvida, traços que este homem do Norte enviou aos para os das margens do Mediterrâneo.

Hergé tinha um personagem favorito, além de Milou, para contracenar com Tintin?

Parece-me que ele sempre referiu a sua afeição pelo capitão Haddock, que parece ser o verdadeiro herói de Tintim e os Pícaros, mas também do inacabado Tintin e a Alph-Art.

Ao vermos estas páginas encontramos quadradinhos que irão ser repetidos noutras histórias como é o caso de quando está com o escafandro (p.69) na aventura O Tesouro de Rackham, o Terrível. Era uma homenagem consciente de Hergé ao seu primeiro livro com Tintin?

Hergé tinha uma memória visual muito grande e, sem qualificar de forma consciente as suas reminiscências, estas eram imagens muito gráficas que vinham em muito do cinema mudo burlesco. Elas voltaram a ser desenhadas porque seriam atraentes para o autor.

Na exposição Hergé, na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, está exposto o diário de Tchang Tchong-jen. O arquivo de Hergé contém outros "tesouros" como este?

Hergé guardou muitos esboços e desenhos originais, mas também o fez com toda a sua riquíssima correspondência. Muitos documentos importantes ​​já estão disponíveis no Museu Hergé, em Louvain-la-Neuve, e também na bela exposição que os portugueses têm a sorte de poder visitar em Lisboa.

Os grandes heróis de banda desenhada têm tido continuações por outros autores - é o caso de Astérix e de Blake e Mortimer. Com Tintin isso não acontecerá?

Hergé foi bem claro em várias entrevistas sobre não querer que Tintin lhe sobreviva sob a forma de novas histórias. Esta é a posição que o herdeiro tem mantido desde então. No entanto, juridicamente, nada o poderia impedir se assim o decidisse, afinal a responsabilidade do criador sobre a sua obra foi transferida para os seus herdeiros. São eles os detentores dos direitos autorais e não o editor e são quem tem o direito e a decisão de continuar ou não o trabalho de Hergé. No entanto, essa questão não está na ordem do dia.

Alguma vez será terminado o álbum Alph-Art que ficou incompleto?

Hergé não teria gostado. Posso garantir que não foi até agora contactado qualquer autor para realizar esse trabalho.

In Diário de Notícias