domingo, 20 de julho de 2014

Exposição "Hergé - Cronista do século XX"


Reportagem da Oeiras Digital sobre a sessão de inauguração Hergé-Cronista do século XX, inaugurada ontem no Palácio dos Aciprestes, Fundação Marquês de Pombal.

Exposição Tintinófila na Fundação Marquês de Pombal em Linda-a-Velha

Foi hoje inaugurada a exposição Tintin - Cronista do século XX, patente na Fundação Marquês de Pombal em Linda-a-Velha, Oeiras. Além de uma mostra de objectos tintinófilos, houve uma conferência sobre o autor de Tintin a cargo do tintinófilo António Monteiro e um momento musical com belíssimas interpretações de trechos das óperas Carmen e Fausto, numa alusão à diva Castafiore.

Deixo aqui algumas fotos da exposição.







sábado, 19 de julho de 2014

Um mundo perfeito

Transcrevemos abaixo um artigo de opinião de Paulo Tunhas inscrito no sítio Observador:

A chamada “cultura popular” produziu algumas obras memoráveis no século XX, mas, com a excepção dos Beatles, nenhuma das que afectaram a minha geração me parece tão extraordinária como a de Hergé. 

As frias estão quase a chegar, e desta vez pode ser que sejam mais ou menos férias a sério. Pelo menos os preparativos vão pelo bom caminho. E não me refiro certamente ao tempo passado em frente à televisão por causa da Copa. Não que eu não goste de futebol (gosto) e que não tenha visto o maior número possível de jogos (vi). O problema é que, mais ainda que das vezes anteriores, me apanho num estado de grande indiferença sobre quem perde e ganha e incapaz de verdadeiramente “ser por” qualquer equipa com a energia que dantes tinha. Devo andar com muito medo de sofrer.

Pior: mal começa a perder uma equipa, que até pode ser aquela que vagamente prefiro que ganhe, passo a ser automaticamente pela outra, e até a desejar, com requintes de sadismo, uma valente cabazada (o Brasil-Alemanha satisfez-me plenamente desse ponto de vista). Pior ainda: como se o sadismo não fosse já mal suficiente, apanho-me, qual um “inocente de coração puro”, em momentos de heróico cristianismo, com grandes sentimentos de compaixão para com as almas doridas dos derrotados, sentimentos que mereceriam quase um lugar no Parsifal. Por outras palavras: o meu espírito anda, à custa do Mundial, a flutuar incessantemente entre paixões contraditórias e pouco recomendáveis.

Estas coisas devem-se evitar. Mas, como escreveu um sábio, calamitas virtutis occasio est, que é como quem diz: nas situações difíceis é que se vê quem somos. É assim nas grandes humilhações, das quais desde a semana passada me tornei especialista, e é assim também quando a alma, torturada, não encontra repouso. Felizmente, logo vi a solução, e, tomado de virtude, corri a uma estante, em direcção às obras completas de Hergé. Isso sim, isso é a tal preparação das férias.

A chamada “cultura popular” produziu algumas obras memoráveis ao longo do século XX, mas, com a eventual excepção dos Beatles, confesso que nenhuma daquelas que afectaram directamente a minha geração me parece tão extraordinária como a de Hergé, nomeadamente as aventuras de Tintim. As coisas da cultura popular têm sobretudo aquilo que poderíamos chamar um valor aderente. Isso é particularmente evidente na música pop. Associamos uma canção a uma pessoa, um lugar, um tempo. Se a voltamos a ouvir são essas pessoas, lugares ou tempos, aos quais a canção aderiu, que voltam até nós, e o valor da canção reside sobretudo nisso. O sentimento da “primeira vez” não se repete, cada escuta reenvia para uma primeira vez passada. Não acontece assim com a grande música. Podemos ouvir pela milésima vez a Paixão segundo Mateus de Bach e, de uma certa maneira, cada vez é a primeira vez. Há um mundo inteiro que se descobre mais uma vez a nós pela primeira vez, um mundo totalmente independente das nossas pessoas, tempos e lugares.

Longe de mim a ideia absurda de comparar Hergé a Bach, mas Hergé, à sua maneira, conseguiu também ele criar um mundo independente de qualquer aderência biográfica. De certo modo, descobrimos Hergé sempre pela primeira vez, por mais que conheçamos de cor (é o meu caso) todos os quadradinhos dos seus livros, alguns de uma beleza enorme ou de uma inquietante estranheza (várias imagens de sonhos, ou o faquir de O Lótus Azul, por exemplo). Descobrimos de novo os diálogos, em que Hergé é magistral. Descobrimos de novo os personagens e as situações. E a narrativa, por vezes brilhante, e, no início, muito devedora ao cinema americano. As Jóias da Castafiore é o ponto máximo, mas há muito mais. A primeira página de Carvão no Porão é um golpe de génio, bem como o fim de O Ouro Negro, em que o capitão Haddock tenta explicar várias vezes a Tintim como ali inverosimilmente chegou para o salvar, sem nunca o conseguir fazer e sem nós sabermos como o fez.

A inteligência do homem é fascinante, coisa que, de resto, as suas entrevistas tornam claro. Como por exemplo, quando comenta a génese de Serafim Lampião. Uma vez, em Bruxelas, um vendedor ambulante entrou-lhe pela casa dentro. Hergé conduziu-o à sala, e o vendedor disse-lhe, apontando-lhe o seu próprio sofá: “Mas sente-se, sente-se!”. Vale a pena ler o que diz. Dá na perfeição “o importuno em todo o seu esplendor”.

Começou “reaccionário”, acabou mais ou menos “progressista”, mas nem uma coisa ou outra afectaram minimamente a sua obra. (No fundo, talvez tenha sido sempre um conservador.) Pairou sempre por cima disso, e por isso os seus livros fornecem, como as obras de arte, uma compreensão indirecta do real. Quem não teve já, num restaurante, vontade de estrangular um pequeno Abdallah? Conhecemos, no nosso mundo banal, Serafim Lampião e Oliveira da Figueira. Até, com um bocado de sorte, um Rastapopoulos qualquer, ou o General Alcazar ou Bianca Castafiore, o Rouxinol Milanês. A América do Sul de A Orelha Quebrada – que desenhos! – revela-nos ainda hoje muito da região (“Viva a liberdade! Morte aos tiranos!”) e a Bordúria d’O Ceptro de Ottokar e de O Caso Tournesol põe em jogo, sucessivamente, fascismo e comunismo.
Mas, mais surpreendente ainda do que os desenhos ou a qualidade do texto e da narrativa, o que é mais raro, e quase miraculoso, é a sobrenatural adequação de um aspecto e de outro. A legibilidade das aventuras de Tintim vem dessa adequação perfeita. As palavras colam com as imagens e as imagens com as palavras. Umas pedem as outras. Parecem ambas duas expressões diferentes, mas necessariamente conjuntas, de uma realidade que se encontra para além delas, como também as personagens parecem necessitar umas das outras, como se fizessem parte de um mundo em que, por um decreto divino, tivessem todas sido criadas simultaneamente com a obrigação de se relacionarem entre si.

Tudo isto nos faz sair do nosso tempo próprio e torna-se um objecto de contemplação. Isso traz paz e repouso, o contrário exacto da irritação que a oscilação da mente provoca. Desirrita, se a palavra existisse. Entramos noutro mundo sempre de novo pela primeira vez. Um mundo ao avesso de bom número das correcções contemporâneas, para as quais é, em larga medida, incomportável. A ajuda que o amigo Hergé dá em certos momentos da vida… As férias vêm aí.


Dito isto, é certo e seguro que logo à noite (escrevo quarta-feira) vou ver o Holanda-Argentina. Espero que a Holanda ganhe, a não ser que ganhe a Argentina. E amanhã decido quem espero que ganhe a final, embora só decida definitivamente depois de ela acabar. À minha maneira, e tirando um dia ou outro, sou um sábio.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Exposição Hergé - Cronista do século XX

A empresa Thinkers – Projectos com Arte e a Fundação Marquês de Pombal  promovem, de 19 a 27 de Julho de 2014, uma semana dedicada à obra do famoso autor belga Georges Remi (Hergé), criador do célebre repórter da poupa.

O programa, disponível em www.thinkers.pt, inclui uma exposição de livros e objectos alusivos à obra de Hergé, durante a qual será proposto aos mais jovens um concurso de desenhos sobre o mesmo tema. Haverá uma sessão abertura, no dia 19 de Julho, pelas 15.30 h, durante a qual será proferida uma
palestra por João Paulo Paiva Boléo, sobre a vida e obra do autor, e uma sessão de encerramento, no dia 26 de Julho, com a realização de um debate sobre o mesmo tema.

Ao longo da semana estão previstas outras iniciativas, incluindo a possibilidade de visitas guiadas à exposição, projecção de filmes, concurso de desenho infantil, visitas de ATL’s, etc.

Tendo sido um dos principais criadores da Banda Desenhada franco-belga, especialmente da escola vulgarmente designada por “linha clara”, a importância de Hergé na literatura europeia do século XX é inegável. A sua obra, inicialmente destinada a um público infanto-juvenil, reveste-se de aspectos de análise histórica e sociológica que permitem e recomendam uma leitura a diferentes níveis.

Deste modo, este evento incluirá indubitavelmente variadíssimos motivos de interesse para um público vasto e de todas as idades, que desde já os organizadores convidam para uma visita.

A entrada é livre em todas as actividades.









domingo, 13 de julho de 2014

Cartaz de Manifestação

A Coligação Democrática Unitária, em 1995, aproveitou os irmãos Dupondt para ilustrar um cartaz de divulgação de uma manifestação a realizar em Lisboa em 14 de Setembro.

 in  http://arquivo.sinbad.ua.pt/Cartazes

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cartaz de Exposição de 1990

O Espaço Litoral Novo Século organizou em 1990 uma exposição de pintura, escultura, fotografia e vídeo sobre o tema Tintin e denominada Tintin por Tintin.

in http://arquivo.sinbad.ua.pt/Cartazes/2011000778

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Oliveira da Figueira no blogue do Centro Nacional de Cultura


A VIDA DOS LIVROS
De 7 a 13 de Julho de 2014.

Uma viagem até ao mundo da banda desenhada leva-nos, a nós portugueses, a uma figura estranha e inusitada - «Oliveira da Figueira» (Editions Moulinsart, 2012) - que nos merece séria reflexão, e que talvez não tenha sido ainda suficientemente estudada à luz da sua e da nossa natureza.


PORTUGUÊS DE GEMA… - A última vez que tive notícias dele foi através do meu Amigo Rogério Martins, que o tinha encontrado em Szohod, capital da Bordúria, um país que poucos conhecem, mas que por vezes regressa à ordem do dia. Estava bem e recomendava-se demais. As vicissitudes da vida trouxeram-lhe alguns dissabores, mas no essencial foi-se arranjando… A primeira vez que apareceu em Portugal, sendo ele um português de gema, e alfacinha, foi confundido com um espanhol. Foi no tempo em que Adolfo Simões Müller, em 1937, o trouxe para a revista «O Papagaio», ao lado de Tintin, numa altura em que ele vivia em Khemed, país onde nunca cheguei a encontrá-lo fisicamente. Como pessoa foi sempre cativante, de uma simpatia generosa, de uma imaginação pródiga, mas sempre cuidando do seu próprio interesse… Nunca revelou a sua idade, porque cultivou a indefinição como jogo de seduzir. Hoje, não sei que idade terá, mas dizem-me ainda estar vivo, algures, protegido, mas atento. Se consultarmos uma enciclopédia corrente ou mesmo a «wikipedia», o seu nome está devidamente biografado, sempre com o mistério da idade por revelar, não se sabendo exatamente onde pára. Um dia, disse-me que essa estratégia era intencional, pois o segredo é a alma do negócio. A sua primeira aparição é de 1932, como personagem de «Os Charutos do Faraó», um clássico da literatura de culto, num episódio em que Tintin é atirado ao Mar Vermelho, por engano, num sarcófago egípcio. Tendo sido salvo «in extremis», o jornalista encontrou-o na embarcação que milagrosamente o recolheu. Oliveira da Figueira põe-se-lhe então à inteira disposição: «se puder ajudá-lo, posso fornecer-lhe a preços competitivos qualquer artigo de que necessite». Começou então por um conjunto flamante de gravatas, às riscas, às bolas ou com figuras exóticas. Seguiu-se um lote de magníficos sabres, com lâminas de Toledo, mil outras bijuterias, além dos brindes: um despertador, escova de dentes etc… Tintin saiu literalmente ajoujado, com um balde, um regador, uma gaiola com papagaio, uns esquis, tacos de golfe, uma casota e uma coleira de cão, além do inevitável despertador – confessando: «Ainda bem que não me deixei levar pela conversa dele. A tipos como este acabamos sempre por comprar uma série de coisas inúteis». O que seria se se deixasse levar… Já na costa árabe, Oliveira da Figueira demonstrará a sua extraordinária arte de convencer. Chamam-lhe «o-branco-que-vende-tudo»… E ele reconhece-se orgulhoso: «Então que tal? Chama-se a isto eficiência! E o melhor é que os meus clientes voltarão». De facto, voltam, mas aquele que aparece é para protestar (sem razão plena, é certo), porque parece ter ingerido um naco de sabão, que lhe produz o óbvio mal-estar originado pelas bolas de sabão que o atormentam. Mas considera-se ignobilmente envenenado: «Antes da Lua Nova, o meu Senhor, o Xeque Patrash Pacha, ter-te-á castigado»…

NO PAÍS DO OURO NEGRO… - Figueira foi, mais tarde, encontrado no «País do Ouro Negro», em outra obra clássica, iniciada em 1939, logo interrompida pela guerra e recomeçada em 1948. Aí, Oliveira ajuda Tintin a encontrar os segredos do temível Dr. Müller, descobrindo um subterfúgio. Mascarado de sobrinho do comerciante, sob o nome de Álvaro, com um aspeto bizarro, levemente atrasado, quase invisual e vítima de uma estória de contornos mirabolantes que o português vai contando sem parar para distrair quantos tinham por missão impedir o acesso aos segredos do vilão. É extraordinária a capacidade fabulatória de Oliveira da Figueira. Inventa que o sobrinho é filho de um criador de caracóis, vítima de uma trama terrível que envolve uma mulher rica que morre de desgosto aos noventa e sete anos e a influência de duas imortais palavras, ditas em português, «Oh! Oh!», cujo sentido, alcance e influência nunca chegamos a conhecer… Depois, em «Carvão no Porão» («Coke en Stock», publicado no «Cavaleiro Andante», em 1959 e 1960, sob o título «Mercadores de Ébano»), Tintin e o seu amigo, Capitão Haddock, pedem apoio e hospitalidade em Wadesdah. Lembro-me, aos sábados de manhã, da expectativa que tínhamos antes de ler a continuação das peripécias. Oliveira da Figueira recebe surpreendido e assustado a visita noturna, com a cidade em estado de sítio, cheia de cartazes a pedir a captura de Tintin. «Que faz aqui, desgraçado? Não sabe que tem a cabeça a prémio?». O português conta o que se passa. Há agitação e um conflito entre a Arabair e o Emir… Tintin diz que precisa absolutamente de ajudar o Emir e Oliveira da Figueira informa que ele teve de fugir para casa do nosso conhecido Patrash Pacha. Tintin e Haddock treinam desesperadamente o equilíbrio das bilhas à cabeça, para que possam não dar nas vistas, mascarados de mulheres árabes, cobertas com burkas. O resultado do treino é desastroso, pois os estragos são enormes e os cacos enchem o armazém do comerciante, que se vê na obrigação de dizer às clientes que as bilhas estão esgotadas. No momento da verdade, tudo parece salvo, mas eis que uma mulher árabe descobre a barba hirsuta do capitão e foge escandalizada. O desastre anuncia-se, mas no final tudo se arranja graças de novo ao apoio providencial de Oliveira da Figueira.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS. - Quando Rogério Martins me deu notícias sobre o paradeiro do fura-vidas, há cerca vinte anos, reconheci que foi quem porventura melhor conheceu Oliveira da Figueira (leia-se «O Que Fica do que Passa», Asa, 1993). Lembro que, indo de Klow, a mítica capital da Sildávia (que também conheço), até Szohod, ouviu uma voz conhecida: «Porque lá disso de mercado sei eu, e ria, satisfeito com a boa disposição de sempre. O velho Oliveira da Figueira! Há anos que o perdera de vista. Explicou-me o esquema milagre. O governo borduro decide quem deve ganhar o leilão de uma firma a privatizar; o qual apesar de amigo, não tem dinheiro que chegue, como é evidente. O que então se faz é criar-lhe uma entidade financeira que, com discreto apoio do Estado, emite no mercado internacional obrigações a bom juro. E os bancos nacionalizados, usando sociedades-biombo, compram-nas todas. Assim, o dinheiro aparece, a transação é possível, a privatização faz-se. “Mas, Oliveira, isso cheira-me a pescadinha de rabo na boca. O novo proprietário fica endividado ao Estado”. - Não, caro amigo, porque entretanto os bancos vão sendo privatizados também, usando este processo cruzado. No fim, toda a gente é devedora e credora de toda a gente, mas o Estado desapareceu no meio das firmas intermédias» (…) E, olhando-me com aquela garotice tão enternecedoramente portuguesa, que os anos pelo oriente e a crosta austríaca não lhe tinham retirado: “Como vê, é tudo de facto muito simples! E tudo tem corrido sobre patins”. Em sottovoce: “Pessoalmente não me tenho dado nada mal”». Será ele símbolo nosso? Certamente, na sua presença em toda a parte, no pragmatismo, mas ficam as lições do que deve ser feito, dos pés assentes na terra, da exigência de semear e colher. Quanto à descrição final, estamos entendidos sobre os resultados… Oliveira da Figueira não esquece, como símbolo do viajante incansável, que Fernão Mendes Pinto e Diogo do Couto (do «Soldado Prático») descrevem.  

Guilherme d'Oliveira Martins

sábado, 5 de julho de 2014

Exposição tintinófila na Casa da Cultura de Sátão

A Casa da Cultura de Sátão inaugura no dia 19 de Julho de 2014, sábado, às 15h00, uma exposição sobre Tintin.

O evento é organizado pelo Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (G.I.C.A.V.) e pelo coleccionador António Mata.

A exposição estará patente até 19 de Agosto na Casa da Cultura de Sátão de terça a sexta-feira das 09h às 13h e das 14h às 18h e sábados das 13h às 17h.