sábado, 11 de dezembro de 2010

O alter-ego de Tintin

O suplemento Tabu do jornal Sol publica um artigo sobre a morte de Palle Hud, o inspirador de Tintin.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Morreu Palle Huld, que inspirou a personagem Tintin (1912-2010)

Morreu Palle Huld , cuja adolescência é apontada como a fonte onde Hergé foi beber inspiração para criar uma das mais famosas personagem de banda desenhada, o repórter Tintin .
Em 1928, venceu uma competição organizada por um jornal destinada a escolher um adolescente para viajar pelo mundo como repórter. Aos 16 anos, viajou pelos EUA, Japão, Sibéria e Alemanha, em apenas 44 dias. A aventura tornou-o famoso, tendo sido recebido por 22 mil pessoas no seu retorno à Dinamarca.
Segundo uma das muitas teorias acerca de Tintim, Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé, soube da sua história e criou a personagem à imagem e semelhança do adolescente Huld.
O ator dinamarquês foi membro da companhia de teatro real da Dinamarca e apareceu em 40 filmes realizados no seu país, entre 1933 e 2000. Estava afastado há muitos anos do cinema. As causas da morte não foram divulgadas.

In Expresso

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tintin no Diário de Notícias

Hoje, o DN publica duas páginas inteiramente dedicadas ao Tintin.

A única das dez línguas mais faladas no mundo que ainda não tinha uma versão das aventuras de Tintin dispõe já dos primeiros oito álbuns. Ao todo, as histórias do famoso repórter belga estão traduzidas em mais de 80 línguas e já foram vendidos mais de 230 milhões de exemplares.
As aventuras do mais famoso repórter belga acabam de ser traduzidas em hindi, o idioma mais falado na Índia, estimando-se em cerca de 565 milhões os novos potenciais leitores. Este é mais um passo de gigante para o reconhecimento universal de Tintin, personagem de banda desenhada criada em Janeiro de 1929 pelo belga Hergé e que a partir de agora passa a estar disponível na segunda língua mais falada do mundo. De entre os dez idiomas mais utilizados este era mesmo o único que faltava a este herói que tem acompanhado várias gerações desde os anos 30 do século XX. Segundo o site oficial da editora que detém os direitos de publicação dos 24 álbuns criados por Hergé, são mais de 80 as línguas em que estão traduzidas as deambulações de Tintin pelo mundo, e as vendas já ultrapassaram os 230 milhões de exemplares.
E se Portugal foi o primeiro país não francófono a publicar as aventuras de Tintin, na revista Papagaio, em Abril de 1936, desde 1952 que os principais idiomas contam as atribuladas histórias do famoso repórter.
Os primeiros oito álbuns da versão em hindi já chegaram às livrarias da Índia e são uma grande vitória para Ajay Mago, editor da versão hindi e presidente da Om Books International. Segundo explicou à France Press, é o culminar de um processo que se arrastou durante cinco anos. As negociações com a Casterman começaram em 2005 "e só no início de 2008 é que aceitaram", revelou. Os mais de 560 milhões de potenciais leitores foram, certamente, um argumento de peso. Mas a editora francesa fez questão de não trair a versão original e foram precisas três traduções para que Ajay Mago conseguisse luz verde para avançar com a publicação de 12 das 24 histórias de Tintin. Os primeiros oito álbuns já foram colocados à venda, devendo os restantes quatro chegar ao mercado em 2011, ano que ficará marcado pela estreia no cinema de O Segredo do Licorne, com realização de Steven Spielberg (ver texto na página ao lado). De entre as três viagens pela Índia de Tintin - O Lótus Azul, Os Charutos do Faraó e Tintin no Tibete -, apenas as duas primeiras estão para já disponíveis.
"Com mil milhões de macacos!", em português a expressão favorita do Capitão Haddock, "foi o mais difícil de traduzir", explicou Ajay Mago, um apaixonado pelas aventuras de Tintin e ele próprio tradutor dos álbuns. "As grandes diferenças culturais, sociais, de linguagem e de sensibilidades" foram as maiores dificuldades com que se deparou. "As piadas praticamente não podem ser traduzidas. E se algumas frases ou referências podem ser facilmente entendidas na Europa, na sua grande maioria são desconhecidas dos leitores de hindi", adiantou. Sem alterar a narrativa básica, Mago teve de recorrer a piadas ou expressões similares, sempre que possível em hindi, para facilitar a compreensão dos leitores indianos", relatou. Os nomes das personagens também sofreram alterações. Por exemplo, para chamar o seu fiel ajudante, Tintin não chamará Milu mas sim Natkhat e a dupla de detectives Dupond e Dupont ficarão conhecidos como Santu e Bantu.
Mas se é impressionante o facto de as histórias de Tintin estarem traduzidas nas línguas mais faladas do mundo, não é menos impressionante o facto de algumas das aventuras, inicialmente publicadas no suplemento juvenil Le Petit Vingtième, do diário católico belga Le Vingtième Siècle, onde Hergé era chefe de redacção, estarem traduzidas em vários dialectos. Desde o galego ao galês, passando até pelo criolo das Ilhas Maurícias, e até pelo latim e pelo esperanto.

É em finais de Outubro de 2011 que se começa a estrear na Europa Tintin e o Segredo do Licorne, de Steven Spielberg, que será também o primeiro filme rodado em digital, pela técnica de motion capture e em 3D pelo autor de Tubarão e A Guerra dos Mundos. O argumento aglutina as histórias de três álbuns do herói de Hergé, O Caranguejo das Tenazes de Ouro, O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham o Vermelho. Peter Jackson, que em princípio realizará um segundo filme das aventuras de Tintin, fornece os efeitos especiais através da sua companhia Weta Digital e é co-produtor, juntamente com Spielberg e Melissa Mathison. Esta ainda prevista uma terceira fita, assinada ou de novo por Steven Spielberg, ou rodada em parceria por este e por Jackson. Os britânicos Jamie Bell e Andy Serkis interpretam, respectivamente, Tintin e o Capitão Haddock. Recorde-se que esta não é a primeira vez que Tintin é adaptado ao cinema com actores de carne e osso (mesmo que digitalizados, como é o caso destes filmes). Em 1961 e 1964, o belga Jean-Pierre Talbot interpretou o herói de Hergé, nos filmes As Aventuras de Tintin e O Mistério das Laranjas Azuis, que tiveram direito a álbuns fotográficos.

Os Charutos do Faraó (1934), O Lótus Azul (1934) e Tintin no Tibete (1960) são três das missões do enviado especial Tintin que passaram por terras indianas. Na primeira aventura, Tintin surge a bordo de um cruzeiro rumo ao extremo oriente. A bordo encontra um egiptólogo extravagante, Philémon Siclone, que está à procura do túmulo do faraó Kih-Oskh. Após variadíssimas peripécias, e com Dupont e Dupond sempre no seu encalce, acaba por chegar à Índia, onde ataca o tráfico de ópio, desmantelando uma organização de traficantes. E é precisamente na Índia que se inicia a acção de O Lótus Azul, quando Tintin se encontra no palácio do seu amigo, o marajá de Rawhajpoutalah. Aí é contactado por um mensageiro chinês e o desenrolar da história passa-se na China, onde o repórter só consegue levar a bom termo a sua missão graças à ajuda do jovem chinês Tchang.
E é precisamente o seu esforço para ajudar este amigo o tema central de Tintin no Tibete. Em férias numa estação alpina, Tintim lê num jornal que um avião caiu no Nepal e sonha com Tchang pedindo socorro. Após descobrir que o amigo se encontrava de facto no avião, Tintin parte à sua procura, acompanhado pelo Capitão Haddock.
In DN

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Roubo em Sintra

 A carta de Oliveira da Figueira chegara a Moulinsart misteriosa e enigmática.O amigo português de Tintin pedia ao repórter belga que viesse  a Portugal investigar o misterioso roubo de um valioso rubi  na Quinta da Piedade  em Sintra, requeria-se discrição e celeridade.

Chegados a Sintra, Tintin, Milú e o capitão Haddock instalaram-se em casa de Oliveira da Figueira no Largo do Vítor, Milú logo ladrando atrás de Sissi, a gata siamesa que pachorrenta dormitava na soleira da casa.

-Pois ainda bem que veio, meu caro.A minha amiga, a marquesa do Louriçal está muito preocupada, pois o rubi é valiosíssimo, veio para  Portugal pelas mãos de um seu familiar que aqui se instalou no tempo de Junot,há duzentos anos .Mas ela é muito avessa à imprensa e deseja discrição.E lembrei-me de si!

-Compreendo.Podemos começar por visitar o local então!.

-Havemos de encontrar os iconoclastas, com mil milhões de macacos!-rugiu estimulado o capitão Haddock, mirando um quadro de Burnett na parede.

No dia seguinte, serra acima lá foram até à Quinta da Piedade pela estrada de Monserrate no jipe cheio de tralha de Oliveira da Figueira, agora negociante de antiguidades orientais, deixara-se de viagens pelo mundo.

A Quinta, rodeada de frondosas árvores, era um pequeno paraíso, vista deslumbrante, a Pena em fundo.O rubi desaparecera de um cofre de parede atrás dum retrato de Napoleão. Nem sinais de arrombamento, tinha sido aberto por quem conhecia a combinação. Na biblioteca, a marquesa num cadeirão, o segundo marido, vinte anos menos, ao lado, contou a história da jóia desaparecida.

- Meus senhores, em 1802, um ladrão de nome Marcel, roubou em Paris, 82 rubis orientais raríssimos, entre eles um com 24 quilates. Em 1807 Marcel foi preso na Bastilha e condenado à morte, mas a troco duma fuga consentida que o salvou da guilhotina deu a um antepassado meu esse rubi, o qual desde então se tem mantido na nossa família-foi contando, a marquesa tinha ascendência francesa e um trisavô fora director da famosa prisão de Paris, o tal a quem Marcel dera o rubi a troco de o deixar escapar.

Tintin pediu para ver a casa, e saber quem a ela tinha acesso.

-Comigo vive o meu marido, René, o mordomo, o Perestrelo, e a cozinheira, a Marília. Mas há dias dei uma recepção, vamos ter um recital aqui em Sintra e fez-se uma homenagem à famosa cantora lírica Castafiore- recordou, o marido em pé ofereceu whisky, só Haddock aceitou.

-Castafiore? A Castafiore está em Portugal? -perguntou surpreso o capitão Haddock

-Sim, está em Seteais, vai actuar nos jardins amanhã á noite, junto com o José Carreras.

Tintin deu uma volta pela quinta. Junto a uma trepadeira, dois vultos agachados pareciam mirar algo.

-Boa tarde! -atirou

Os intrusos, sobressaltados, na pressa de se levantarem chocaram um com o outro.Eram os detectives Dupont e Dupond.

-Vocês aqui? Que fazem estes peripatéticos idiossincráticos aqui ?-vociferou o capitão,sempre embirrara com eles e o seu bigodinho retorcido.

-Não se assuste, caro capitão. Estamos a investigar para uma companhia de seguros!- explicou Dupont, tirando o chapéu em cumprimento.

-Sim, há um seguro de cinco milhões de euros, sabia? -logo acrescentou Dupond, seguro de desvendar uma novidade.

-E já descobriram algo? -interrogou Tintin.

-Quase, quase.Vêm esta coisa no chão? - e Dupond, apontou um detrito acastanhado no chão, junto à trepadeira-É o resto dum charuto cubano, um Monte Cristo nº 5, dos puros! -e com um lenço pegou o vestígio, ar ufano, Sherlock Holmes não faria melhor.

Juntos foram ter com a marquesa: se tinha reparado em algum convidado na recepção fumando charuto. Recordava-se efectivamente, um amigo do comendador Berardo fumava, o cheiro intenso recordava-lhe o personagem, um armador grego, pensava, a negócios em Viana do Castelo, ela detestava o cheiro de charuto.

-Mas espere, o meu mordomo, o Perestrelo deve saber o nome, havia uma lista de convidados.

O velho Perestrelo, fleumático, buscou numa gaveta a lista da festa. Grego ou parecido, havia um Giorgios Papadopoulos, de Salónica, um careca de bigode escuro e monóculo no olho direito, lembrava-se de com Berardo discutirem a nova exposição do Tate Modern.

-Monócolo? Grego? Está tudo explicado! –interrompeu Tintin,fazendo luz-O nome não é esse, mas sim Rastapapoulos.É um famoso ladrão internacional , pensava que tinha morrido num naufrágio em Djibuti há 3 anos, foi noticiado na imprensa.Afinal safou-se!

-E onde o poderemos encontrar? -questionou René,interessado.

-Segundo o Berardo, está na Penha Longa, querido, parte esta semana-esclareceu a marquesa, recordada.

Logo se dirigiram para o hotel no carro de Oliveira da Figueira,com sorte ainda o encontrariam.

Lá estava Rastapapoulos, relaxado, bebendo um bloody mary no clube de golfe, sorridente contemplava o green. Vendo-os chegar,  reconheceu aquelas figuras familiares de outras peripécias e correu a esconder-se num lavabo. Mas já Tintin lhe atalhava o passo, enquanto o capitão Haddock o imobilizava pelo pescoço numa zona isolada do relvado.

-Alto aí tratante ditirâmbico, esdrúxulo ladrão de jóias! -gritou, enquanto lhe torcia o braço, Dupond e Dupont, na peugada algemaram-no, presa grossa, afinal o falso morto estava vivo e bem vivo.

-Eu não fiz nada! O que me querem? – gritou ofegante,esbracejando

-Confessa onde guardaste o rubi, miserável escatológico! -ameaçou o capitão.

-Que rubi? Apenas vim jogar golfe, não sei de nada!

-O rubi que roubaste em Sintra, confessa!

-Foi o marido da marquesa que me pediu que lhe simulasse um assalto, não o queria vender mas ia dá-lo como roubado para receber o seguro!

Ainda tais palavras não estavam concluídas quando pela esquerda, René, revólver em punho, punha fim à cena.

-Parecia um plano perfeito, mas você é um amador, Rastapapoulos.É pena que nunca se vá saber que estava vivo depois de estar morto.C’ést la vie!

Preparava-se para atirar quando Milú saltando sobre ele o abocanhou na perna, caindo com a dor, soltando um disparo para o ar desgovernado.Logo Tintin e o capitão o imobilizaram enquanto os Dupont seguravam o enraivecido Rastapapoulos.

Presos os ladrões, rubi no cofre, todos no dia seguinte admiravam a Castafiore, rouxinol estridente nos jardins de Seteais, cantando a Norma de Bellini. Todos? Todos não. O capitão Haddock já meio zonzo saboreava um bourbon num salão do Hotel, já a Pena eram dois e os Dupont quatro.

publicado por Fernando Morais Gomes, 24/11/2010

https://cafecomadocante.blogs.sapo.pt/21063.html

blogue solitário venceu as tertúlias de café pondo milhões a "comunicar" sem falar e  discutir sem argumentar, quando as críticas dispensam a voz sentida e exaltam o teclado solitário, desassossegue-se, pois, pelo meio de um café. Com adoçante.

https://cafecomadocante.blogs.sapo.pt/403.html

sábado, 6 de novembro de 2010

É assim o Tintin de Spielberg (mais só no Natal de 2011)

"The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn", de Steven Spielberg, vai ser muito provavelmente o grande sucesso de bilheteira do Natal de 2011.
O filme deverá chegar às salas a 28 de Dezembro do próximo ano e será o primeiro de uma trilogia que está a ser cozinhada por Spielberg e Peter Jackson, o realizador de "O Senhor dos Anéis". A revista inglesa "Empire" revelou no início desta semana, em exclusivo, as primeiras imagens reais do filme, que tornam mais palpável o que Spielberg quis dizer quando explicou que o seu objectivo era "alcançar uma espécie de hiper-realidade que integrasse a linha clara de Hergé". Não desfigurar o estilo do desenhador belga é, para Spielberg, um ponto de honra: "Assumo-me como garante de que a trilogia que estou a preparar com Peter Jackson será fiel à arte de Hergé".
Filmado em 3D e recorrendo à técnica utilizada por James Cameron em "Avatar", que permite transpor movimentos e expressões faciais de actores para personagens de animação, o "Tintin" de Spielberg vai custar 135 milhões de dólares (quase cem milhões de euros), numa produção que envolve, além da DreamWorks de Spielberg, a Sony e a Paramount. O realizador anunciou este projecto há dois anos, no festival de Cannes, mas a intenção vem de longe. "No funeral de Hergé, em 1983, lembro-me de ter dito à sua viúva, Fanny, que queria muito adaptar as aventuras de Tintin ao grande ecrã, mas que respeitaria a obra do seu marido". Embora a produção esteja a decorrer sob rigoroso segredo e se conheçam poucos detalhes do filme, boa parte do elenco foi já divulgada: o actor britânico Jamie Clegg será Tintin, Andy Serkis, o Gollum de "O Senhor dos Anéis", interpretará o irascível Capitão Haddock, os polícias gémeos Dupond e Dupont ficam a cargo de Simon Pegg e Nick Frost, e Daniel Craig foi escolhido para o papel de Rackham o Vermelho. É certo que Spielberg já levantou um bocadinho o véu, mas o pouco que disse, soando bastante prometedor, dificilmente permitirá formar uma imagem aproximada do que o filme possa vir a ser: "Deve muito não apenas ao 'film noir', mas também a todo o teatro brechtiano", diz o realizador, acrescentando que, "ao mesmo tempo, é uma aventura infernal".
Para abrir esta trilogia, Spielberg e Jackson escolheram uma história que se estende por dois álbuns de Tintin (o 11º e o 12º) originalmente publicados na primeira metade dos anos 40: "O Segredo do Licorne" e "O Tesouro de Rackham o Terrível". E Peter Jackson, que dirigirá o próximo filme, já adiantou que está a pensar adaptar "As Sete Bolas de Cristal". Mas não garante. "Também gosto muito dos que se passam nos Balcãs, como 'O Ceptro de Ottokar', que daria um óptimo thriller".

Luís Miguel Queirós (PÚBLICO)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Edições Asa


Texto do Diário Digital, divulgado após a sessão de lançamento, ocorrido em 29 de Setembro de 2010, no espaço "Tintin", em Lisboa.

Nuno Artur Silva: «Tintin percorreu todo o século XX»

O espaço Tintin, em Lisboa, acolheu como era esperado a apresentação dos seis primeiros livros das aventuras do jornalista mais famoso do Mundo (até Outubro de 2011 deverão estar publicados todas as 24 obras). Há dois aspectos a reter nesta nova colecção: o nome do herói perdeu a letra «m» no final e voltou à sua versão original e, principalmente, as histórias ganharam um formato diferente (mais pequeno e de capa dura), o primeiro do Mundo, o que preenche de orgulho a responsável pela banda desenhada da ASA e também tradutora das obras, Maria José Pereira. Profundo admirador da BD criada pelo belga Hergé, Nuno Artur Silva defendeu que a edição das aventuras de «um herói que não existiria nos nossos dias faz todo o sentido», recomendando a sua leitura num dia chuvoso e com bolachas como companhia…

Maria José Pereira considera que Nuno Artur Silva é uma das pessoas que «mais conhece» Tintin em Portugal e por isso foi convidado pela ASA para falar sobre as aventuras do jornalista. O argumentista recusou os elogios mas, durante a sua apresentação, foi notório verificar o seu conhecimento, falando sem recorrer à anotações e com uma grande clareza sobre alguns dos aspectos deste clássico da BD. «E um clássico serve de referência para várias gerações», defendeu.

A principal mensagem que Nuno Artur Silva procurou transmitir aos presentes no Espaço Tintin foi que a BD de Hergé consegue ser uma espécie de resumo do século XX, «atravessa por inteiro o século passado».

«Tintin marca um paradigma na BD, o paradigma da linha clara, que deixou muitos discípulos, não só no desenho, mas também no design e na própria história. Tintin é um tipo de herói que não encontra o seu espaço nos nossos dias devido a sua clareza. Hoje o mundo é mais complexo. Portanto, agora as aventuras de Tintin não seriam possíveis.»

Aventuras que levaram o jornalista pela América, por África, pelo Tibete mas também pela Lua. «As suas andanças esgotaram o Mundo», considera Nuno Artur Silva. «Esse Mundo já não existe e por isso faz todo sentido a publicação das suas aventuras. Um Mundo onde ainda existia uma certa ingenuidade.»

O argumentista acredita que o «quadradinho da BD mais importante é o que não está lá, é o que existe na nossa cabeça, o que está no meio de dois quadradinhos, a nossa imaginação». E ler Tintin é um caminho para esse estado imaginário, já que estamos sempre à espera do que vai acontecer no próximo quadradinho.

Nuno Artur Silva salientou também na sua apresentação os personagens secundários dos livros, que, para si, ganham mais corpo que o próprio Tintin, «que não tem existência pessoal, é apenas um veículo que faz rodar a aventura, uma figura idealizada. As figuras de carne e osso são os outros, que têm interrogações, que mostram as suas dúvidas, a raiva, as suas emoções».

Sobre o novo formato, o apresentador das Aventuras de Tintin foi franco e considerou a posição da ASA de «ousada», embora considere que o risco deverá ser recompensado.

Sobre as suas aventuras de sempre, Nuno Artur Silva nomeou «Tintin no Tibete» (salientou o valor da amizade), «O Segredo do Unicórnio» (o primeiro dos três filmes adaptados por Steven Spielberg, com estreia marcada para o próximo ano) e «As Sete Bolas de Cristal», entre outros.

«Num dia de chuva é uma óptima alternativa a televisão, a internet e ao computador. Voltar ao papel com um prato de bolachas, reconciliarmos com o caos e a confusão do Mundo».

Pedro Justino Alves, Diário Digital, 29/09/2010

Texto oportuno, a fazer algo pouco vulgar: uma reportagem escrita relacionada com um evento de BD.

Geraldes Lino, 4 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DE “TINTIN”, COM NOVA TRADUÇÃO E NOVO FORMATO, PELA ASA

AGÊNCIA LUSA

A edição é o passo visível de um negócio que aconteceu em 2009, quando a Asa passou a deter os direitos em Portugal das histórias de Tintin, detidas internacionalmente pela chancela belga Casterman.

Os álbuns de Tintin que estavam no mercado português tinham, desde finais dos anos 1980, a chancela da Editorial Verbo e a personagem principal tinha sido traduzida para Tintim (com “m” no fim).

Maria José Pereira, responsável pela banda desenhada na Asa, não revelou o valor envolvido no negócio de transferência, mas admitiu que a edição da nova tradução de Tintin era "um sonho pessoal de há muito tempo".

"Bati-me muito por este contrato e as negociações não foram fáceis, arrastaram-se por mais de um ano", disse.

A nova edição chega ao mercado num formato mais pequeno (19,5 x 28 cm), "mais apelativo para um público mais novo" e com outra tradução de Maria José Pereira e Paula Caetano a partir do original.

"Quisemos dar mais atenção à linguagem, dar-lhe uma sequência, condensar as ideias sem encher muito os balões", disse a editora, garantindo que os nomes das restantes personagens não sofrem alterações.

Neste mês de Setembro foram editados os seis primeiros volumes, numa sequência cronológica de publicação, referiu Maria José Pereira, sendo disponibilizados, por exemplo, "Tintin no país dos sovietes", "Tintin no Congo" e "Tintin na América".

Em Novembro serão editados outros seis volumes, prevendo-se que toda a coleção de 24 álbuns esteja disponível no mercado até Outubro de 2011, mês em que se espera a estreia da adaptação de Tintin ao cinema por Peter Jackson e Steven Spielberg.

Para Maria José Pereira, as aventuras de Tintin são uma "obra de grande qualidade" e alguns volumes são "documentos históricos" criados há mais de setenta anos por George Remi, mais conhecido por Hergé.

A Asa, que integra o grupo Leya, tem atualmente o catálogo mais representativo de banda desenhada em Portugal, por juntar histórias de personagens como Astérix, Spirou, Alix, Gaston, Blake & Mortimer, Lucky Luke e autores como Hugo Pratt e Milo Manara.

Agência Lusa, 06/09/2010

As edições ASA lançaram no dia 29/09/2010 os primeiros seis álbuns do “Tintin”, de Hergé. Deixamos aqui dois textos – porque complementares (...) Kuentro

ASA TRAZ TINTIN DE VOLTA

A ASA adquiriu os direitos de publicação das aventuras de Tintin em Portugal e vai reeditar a colecção toda a partir de Setembro, mês em que sairão para as livrarias os primeiros seis títulos. O nome do herói nas edições em português (passa a ser Tintin, deixando de ser “Tintim”), um novo formato e novas traduções são, desde logo, as principais novidades. Serão muitas, no entanto, as surpresas em torno do regresso daquele que é um dos mais famosos heróis da BD europeia, criação do belga Hergé, e a editora anunciá-las-á mais próximo da chegada dos novos livros. Para meados de Setembro está a ser preparado um evento para o qual se espera contar com a presença e participação dos fãs de Tintin no nosso país.

Comunicado 23/08/2010

A edição do Tintin da ASA, é por ordem cronológica. Saiem em Setembro os 6 primeiros álbuns, que foram objecto de novas traduções e que vão ter um novo formato. f

Em relação às edições de BD, aprendi que muitas vezes o que queremos e o que propomos não corresponde ao que conseguimos concretizar até por razões que nos são externas. Assim, e porque não acho correcto alimentar nos leitores expectativas que não sei se algum dia concretizamos, opto sempre por confirmar o que no momento tenho como certo. Significa isto que, para já, não posso avançar nada em relação a edições fac-similadas e às edições dos livros dos filmes.

A curto prazo (que é final 2011) o objectivo é colocar no mercado os 24  álbuns da colecção. Até ao final de 2010 está prevista a edição dos primeiros 12 livros da "nova" colecção que iniciámos.

Em relação ao formato: é uma edição mais pequena, no formato do Tout Tintin, mas cartonada. Acho  que Portugal vai ser o primeiro país a ter este tipo de edição (na altura em que negociei o contrato só existia edição brochada neste formtato ou então uma edição cartonada que era ainda mais pequena; não sei se entretanto mais algum país já a considerou).

"Mais Valia" é um termo subjectivo e acho que só posso dar a minha opinião: para mim, esta será sempre a primeira edição Tintin na ASA, a "minha" primeira edição Tintin. Isto significa que se as primeiras edições podem ter algum valor "coleccionador", esta, terá sempre, para mim, um valor não mesurável que é o valor afectivo. Porque cada livro que publico e em que trabalho é a história que ele conta mais uma história que é minha e que só eu sei.

Mas os primeiros livros estão quase a chegar ao mercado e os leitores poderão julgar e decidir.

Maria José M. Pereira, 26/08/2010




Lançamento da nova coleção Tintin - Blog Tintinofilo - Tintim em Portugal (over-blog.com)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Jornal Abarca - Oliveira de Figueira, de Lisboa


Orlando Ferreira, administrador da RN Tejo, publicou um arigo no jornal ribatejano ABARCA nº 270 (XX ano) , onde aborda a temática de Oliveira de Figueira.


1) Oliveira da Figueira, de Lisboa, comerciante invulgarmente esperto, consegue até vender areia em pleno deserto! Os seus dotes de persuasão são tais que nem as vítimas/clientes notam! Apesar da sua aparência - chapelinho, careca e bigode de pontas retorcidas - Oliveira da Figueira revela uma rara destreza e o bom lado português: é um rei do "desenrasca", do improviso e da arte de dar a volta em situações complexas.

2) Tintin, jornalista que nunca escreveu uma única notícia, é considerado um herói e um símbolo de generosidade e abnegação. No entanto, para fazer ressaltar as suas qualidades, Hergé, o seu criador, enriqueceu-lhe a personalidade de uma forma inteligente e subtil colocando ao seu lado personagens pitorescas. Sem elas, Tintin não teria o indispensável contraponto. Milu, o Capitão Haddock, o Professor Tournesol e os Detectives Dupond e Dupont, com as suas fraquezas, movimentos desastrados e constantes complicações que engendram, fazem-nos sorrir (com simpatia) e não conseguem evitar-nos uma boa gargalhada. Oliveira da Figueira de Lisboa é um desses personagens. Um comerciante dotado de uma grande facilidade para vender tudo e mais alguma coisa, designadamente, objectos inúteis ou não necessários para os seus compradores. Hospitaleiro, está sempre pronto servir “um copo de vinho de Portugal, do sol do meu país”, nas suas próprias palavras.

3) Foi muito interessante a "vinda" de Tintin para Portugal. "Tim-Tim na América do Norte" foi o primeiro a aparecer, em 1936, com uma tradução que, tendo sido efectuadada nos anos 30, se pode considerar aceitável à luz da cultura de então e do hábito que havia de tudo aportuguesar. Nessa primeira aparição, os protagonistas chamavam-se Tim-Tim, Capitão Rosa e Pom-Pom, mais tarde Rom-Rom (Tintin, Capitão Haddock e Milu, respectivamente) sendo Tintin apresentado como um português, repórter de "O Papagaio", revista juvenil da Rádio Renascença que comprara os direitos sobre estas aventuras. Esse aportuguesamento do herói levou a que o português Oliveira da Figueira, passasse a Olivera de Málaga, "caixeiro-viajante fugido aos horrores da guerra de Espanha".

4) Tendo em vista a liberalização do sector dos transportes, foi recentemente aprovado o regulamento comunitário - (CE) Nº1370/2007 - que fará com que, até 31 de Dezembro de 2019, acabem todas as concessões dos operadores rodoviários. Inclusivé as nossas, as da Rodoviária do Tejo. Com este novo regulamento pretende-se garantir serviços de transporte de passageiros seguros, eficazes e de elevada qualidade num ambiente de concorrência regulada que garanta a transparência e elimine todas as disparidades existentes entre empresas de transporte dos diferentes Estados-Membros susceptíveis de falsear substancialmente as condições de concorrência. Estamos, de facto, perante um novo e muito diferente desafio… Concluindo: Quando descemos ao terreno da maioria das organizações portuguesas o que encontramos é um “híbrido difuso”. Mantém-se ainda o paradigma histórico - somos mais comerciantes do que empreendedores - mas continuamos a revelar uma arte que nos diferencia - o improviso. O nosso verdadeiro desafio é saber se somos capazes de tornar virtuosa esta coabitação entre a capacidade de improviso e o crónico arquétipo empresarial que ainda tem como herói o Oliveira da Figueira.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cartoon de Carlos Sêco

Carlos Seco, desenhador humorista do semanário Trevim, recorre, como tintinófilo, às personagens de Tintin para os seus trabalhos. Em Setembro de 2010, o seu blog publicou o  seguinte:


terça-feira, 1 de junho de 2010

A vida dos livros

A VIDA DOS LIVROS

De 12 a 18 de Janeiro de 2009.

Quando a personagem Tintim chega aos oitenta anos de vida, cumpre referir uma obra fundamental para o conhecimento do fenómeno. Falamos de “Hergé, Filho de Tintim” de Benoît Peeters (tradução de Paula Santana Leite; Verbo, 2007), livro publicado para assinalar o centenário do nascimento de Georges Remi. No ponto de partida desta biografia exaustiva, centrada na personalidade complexa do criador do herói de “Estrela Misteriosa” está a afirmação singularíssima de Hergé: “Tintim era eu, com tudo o que em mim existe de necessidade de heroísmo, de coragem, de sinceridade, de malícia e de desembaraço. Era eu, e garanto que nem perdia tempo a perguntar a mim mesmo se agradava ou não aos miúdos. E os temas que escolhia eram temas que me apaixonavam, sobre os quais havia algo a dizer, sobre os quais eu tinha algo a dizer”… E assim, na aparente simplicidade, Tintim é um caso especial.

 UM CASO À PARTE 

Tintim é, de facto, um caso à parte na história da banda desenhada. Em Portugal, “O Papagaio” em 1936 foi a revista que primeiro internacionalizou a personagem, graças ao Padre Abel Varzim e a Adolfo Simões Müller. As revistas “Diabrete”, “Cavaleiro Andante”, “Foguetão”, “Zorro” e “Tintin” continuaram depois essa tradição pioneira. A história é conhecida, está contada e reporta-se à estada do Padre Varzim em Louvaina (1930-1934), onde estudava Sociologia. O “Petit Vingtième” era o suplemento juvenil do jornal católico belga “Le Vingtème Siècle”, sendo dirigido pelo Padre Norbert Wallez, que o sacerdote português conhecia. Simões Müller, director de “O Papagaio”, revista juvenil da Rádio Renascença, foi alertado para a qualidade das aventuras de Tintim e assim apareceu “Tim-tim na América do Norte”. Foi a primeira tradução mundial e a primeira publicação a cores das aventuras do repórter do “Petit Vingtième”… Mas vamos ao que importa, no dia 10 de Janeiro de 1929, há 80 anos, nasceu Tintim e quando, na Bélgica, foram lançadas as aventuras deste jornalista de idade indefinida, mas com vontade muito determinada, Hergé (Georges Remi) estava convencido de que a nova figura era passageira e que talvez não tivesse vida longa. Surpreendentemente, o desenho impôs-se gradualmente por si e junto do público. E a verdade é que o autor teve a inteligência de abandonar o perfil amadorístico e incerto das primeiras produções, para passar a assumir, progressivamente, as marcas de uma nova escola e de uma nova arte. Nascia a “escola de Bruxelas” que viria a tornar-se inconfundível através da afirmação da “linha clara”, de que Hergé foi indiscutivelmente o chefe de fila. E a banda desenhada europeia ou as histórias de quadradinhos, como se dizia em Portugal desde as origens, ganhou autonomia artística e de público.

RAZÕES DE SUCESSO 

Pode dizer-se, simplificando, que há dez razões para o sucesso de Tintim. Antes de mais a ideia de aventura. Tintim representa, de facto, a emergência da aventura em estado puro – ora não temendo ir ao encontro das situações mais complicadas, ora garantindo estar à altura dos acontecimentos, agindo e vencendo. Além da aventura, mas fazendo parte desta, deve referir-se ainda a importância da viagem. O mundo é percorrido pelo jovem repórter, e Tintim é um viajante incansável, desde o início – o País dos Sovietes, a África (Congo) e a América. E depois vem o Egipto (“Os Charutos do Faraó”) e o fascínio do Oriente, em especial da China, e a adopção de uma nova técnica de pintura e de desenho que se baseia na antiga cultura oriental. Tchang Tchong Jen, um dos jovens estudantes chineses que Hergé conhece em Bruxelas, exerce uma influência decisiva na evolução da nova arte, no sentido da maturidade. E é a técnica chinesa de desenho e de preenchimento de todos os espaços nos quadradinhos que torna a banda desenhada numa arte extremamente atraente, actual e com grandes virtualidades artísticas – já que relaciona intimamente as pessoas, as ideias e os lugares, desde o Médio Oriente à América do Sul, passando pela China e pela Índia, pela Europa Oriental (representada por dois países imaginários, Sildávia e Bordúria), com um desvio de rota que chega à Lua. Mas “O Lótus Azul” representa a viragem na obra de Hergé, porque apresenta em substância uma nova perspectiva no tratamento de um tema, fruto de maior rigor documental.

ELIXIR DE JUVENTUDE

Mas há ainda a referir uma terceira razão de sucesso. Tintim representa a juventude (generosa e disponível) sem ter um discurso tradicional e moralista (apesar do começo…), com uma atitude alegre, aberta, capaz de entender a inovação e as diferenças. Trata-se de uma juventude de espírito e de atitude, que será caracterizada como indo dos 7 aos 77 anos. Por isso, Hergé fala de heroísmo, de coragem, de sinceridade, de malícia e de desembaraço… Mas se Tintim é jovem, usa a imaginação. Em cada aventura há novas ideias, novos ingredientes e uma quase loucura (saudável e inconformista) que o leva a arriscar tudo, generosamente. Aliás, não é possível fazer a história da pop-art sem referir Hergé, referido expressamente por Andy Warhol e Roy Lichtenstein. E quem fala de imaginação, terá de referir também a ligação íntima da banda desenhada ao cinema. Cada uma das pranchas e os respectivos quadradinhos têm um sentido e um ritmo propositadamente cinematográficos – desde os grandes planos ao uso dos balões para os diálogos, o campo e o contra-campo e, nos continuados, o corte das cenas para dar o “suspense”. A história mistura-se com a técnica de ilustração, e essa simbiose vai ser característica da “escola da linha clara”. A partir de 1946, as reedições a cores das obras dos anos 30 vão ser marcadas pela ligação muito feliz entre uma narrativa palpitante e uma estética cuidada (que chegará ao seu auge em “Tintim no Tibete”, no final dos anos cinquenta, onde Hergé faz a invocação do seu amigo Tchang, que perdera de vista, mas cujo contacto retomará). Refira-se ainda a participação fundamental, quanto ao cuidado formal, do desenhador e colorista Edgar P. Jacobs (o autor de Blake e Mortimer, amante de ópera, que levou à criação da inconfundível Bianca Castafiore com a sua ária das jóias do “Fausto” de Gounod) e do argumentista Jacques Van Melkebeke, quanto aos enredos e às referências históricas (por exemplo em “O Segredo do Licorne” e “O Tesouro de Rackham o Terrível”). A sexta razão de êxito tem a ver com o culto do ar puro, num sentido ecológico avant-la-lettre, que é uma das marcas de aventura de Tintim e dos seus companheiros. O sétimo motivo diz respeito à liberdade com sentido de justiça – como vários leitores têm referido (António Mega Ferreira tem insistido, e muito bem, neste tema). De facto, há um essencial sentido de autonomia e liberdade de espírito e de ideias no herói de Hergé, muito mais forte do que todas as tentativas de falar e insistir no suposto “colaboracionismo” do seu autor com os fascismos. Basta vermos o anti-racismo com Tchang ou lermos com atenção “O Ceptro de Otokar”, observando que o vilão se chama Müsstler, para percebermos que, apesar de qualquer cedência circunstancial, há na personagem Tintim marcas de inconformismo, universalismo e cosmopolitismo. Para essa liberdade contribui ainda a ironia (oitavo motivo), sempre bem presente, capaz de fazer compreender melhor o mundo e os outros (Haddock, Girassol, Oliveira da Figueira, etc. etc.). Por fim, a curiosidade resulta não da convergência de um sentido geral de modernidade, segundo o qual nada do que é humano nos pode ser estranho (lembre-se, de novo, o lugar de Tintim na pop-art). Esse mesmo sentido de modernidade leva-nos ainda à compreensão da complexidade, que Hergé cultiva, ligando vida e mundo, razão e emoção, e projectando na sua obra angústias e dificuldades existenciais, como em “Tintim no Tibete”… Benoît Peeters segue, a par e passo, o atribulado percurso de Hergé, que nos permite compreender a sua personalidade muito complexa, os seus dramas e o modo como estes se projectaram na figura de Tintim. E faz uma análise minuciosa, por exemplo, das vicissitudes pós-guerra em virtude de Hergé ter publicado vasta colaboração no “Le Soir”, cabendo um papel fundamental a Raymond Leblanc, editor vindo da Resistência, na ilibação de Georges Remi quanto às acusações de colaboracionismo. O rigor histórico dá-nos, assim, o “genoma mítico” de Tintim.

A VIDA DOS LIVROS

De 26 de Janeiro a 1 de Fevereiro de 2009.

Na sequência da referência em "A Vida dos Livros" à obra de Benoit Peeters "Hergé Filho de Tintim" recebi mensagem do Dr. João Paulo Paiva Boléo, a que respondo gostosamente:

Meu Prezado Amigo

Fico-lhe gratíssimo pela mensagem que me enviou (...). Permita-me que publique em "A Vida dos Livros" da próxima semana esta missiva, onde darei conta dos seus justíssimos reparos. 

Ora vejamos, diz-me que  "o livro de Peeters é interessante, e até se lerá mais fluentemente, mas a biografia do centenário é a de Philippe Goddin, Hergé -Lignes de vie (Moulinsart, 2007), essa sim fundamental do ponto de vista documental, e que consegue equilibrar razoavelmente ser de algum modo oficial e procurar ao mesmo tempo ser independente. A de Peeters - é uma opinião pessoal - é interessante sobre a obra mas nem sempre gere bem a admiração/distância e inclui factos não (com)provados". Estou de acordo, de facto a biografia do Peeters saiu aqui com essa referência da editora, que não é correcta. Erro meu. Também concordo com o seu elogio a Peeters, que tem luz própria no mundo e na história da BD (basta lembrarmo-nos da feliz associação com Schuiten).  Nada a acrescentar.

Segundo ponto. Diz-me ainda que "a propósito da Castafiore, noutro ponto importante, (...), a intervenção de Jacobs na versão a cores do Ceptro de Ottokar foi importantíssima, só que essa aventura ainda foi das que saíram primeiro no Petit XXème a preto-e-branco, em 1938/39, história onde surge, como sabemos, a Bianca Castafiore, precisamente no virar de um ano para o outro. Ora Hergé e Jacobs só se conheceram - segundo todas as fontes - em 1941, e só começaram a trabalhar juntos em 1944, pelo que a criação da soprano não teve naturalmente nada a ver com qualquer influência de Jacobs (que aliás seria perversa - Jacobs adorava ópera e Hergé detestava...)". Tem toda a razão, o lapso também é meu. De facto Edgar P. Jacobs aparece nesta história (a de Georges Remi) só em 1941. Conheço bem a versão a preto e branco de "O Ceptro". É, aliás, uma das provas da aversão anti-totalitária de Hergé (Musstler...). Na versão a cores, o próprio Jacobs, entre outros (Hergé, Germaine etc.), é retratado na festa do palácio do rei da Sildávia... 

Por fim, diz-me ainda: "Estes são os pontos principais, mas permito-me chamar ainda a atenção para outro de carácter geral. A expressão histórias aos quadradinhos não existe «desde as origens», mas ao que tudo indica apenas desde os anos 1940". Também tem razão. Aí trata-se de verdura minha, uma vez que sendo dos anos cinquenta, tenho a memória dos "quadradinhos" como expressão consagrada... Ninguém falava de BD. Só quando me tornei assinante da revista "Tintin" belga passei a usar essa expressão francófona. O seu a seu dono, e quem sabe sabe... 

Agradeço-lhe muito os seus comentários e reparos, Dr. João Paulo Paiva Boléo e devo-me declarar seu fiel leitor e modesto aluno nestes temas. De facto, estas afinidades electivas são um prazer, e o importante é o diálogo que proporcionam. Um forte abraço muito grato do

sexta-feira, 14 de maio de 2010

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sábado, 8 de maio de 2010

Avanço Proletário

Uma "fonte" - anónima, como é regra em Portugal - fez-nos chegar às mãos o relato de um diálogo em telemóvel proveniente do Echelon, a rede de satélites espiões anglo-americanos que é suposta boicotar as exportações eurocontinentais. Segue a transcrição.

Ministro do reino Franco Oriental - Viste que os pequeno-burgueses irlandeses querem boicotar o avanço proletário para a unificação europeia?

Chefe de governo da Sildávia - Dizes bem. Tão a subir na vida e não querem o alargamento.

Franco Oriental - Os nossos camaradas gaélicos já tomaram medidas. Viste que já estão a meter os votantes na ordem? Querem novo referendo, novo tratado de Nice...

Sildávia - Foram os nossos camaradas?

Franco Oriental - Quem havia de ser? Aqui, já estamos no poder, com a ajuda discreta do Sr. Coronel Kadhafi. Não confiamos no voto burguês. Ainda por cima o referendo, um instrumento bonapartista para enganar as massas... e não viste anteontem na TV5, o nosso camarada chefe de governo Cisalpino disciplinar os célticos, acolitado pelo premier, o da Bética Cisguadiana a sorrir, todo caladinho?

Sildávia - Vi, até fiquei um pouco preocupado. Pareceu-me que os pequenos países estavam a ser tratados por cima da burra, desculpa a franqueza.

Franco Oriental - Ó camarada, estás com um desvio nacionalista e pequeno-burguês...

Sildávia - Fui eleito pelos sildávios para melhorar as liberdades e o nível de vida deles com o apoio da União Europeia.

Franco Oriental - Hão-de melhorar. Mas só se se integrarem na fase actual da luta de classes à escala mundial.

Sildávia - Que nova fase é essa?

Franco Oriental - Não tens estudado a nossa imprensa... O imperialismo yankee domina o mundo. Só a Europa o combate. Na Europa, estão no poder os militantes mais qualificados da nova classe operária, dos trabalhadores científicos, informáticos e de serviços. Vimos que o estalinismo falhou. Estamos na vanguarda da nova classe operária: nos partidos socialistas, nas burocracias nacionais, na burocracia europeia...

Sildávia - É isso a nova fase da revolução?

Franco Oriental - Estamos a criar um Estado social que será um modelo para o mundo. Os partidos da burguesia democrática também apoiam esta nova fase da revolução mundial porque são anti-yankees.

Sildávia - Talvez, mas nós precisamos de independência nacional e de mais fundos europeus. Com esta Política agrícola comum, com os exíguos recursos próprios da União Europeia, vamos é reconstruir o Império Austro-Húngaro.

Franco Oriental - Nada de aventureirismo... A fase actual da revolução é o federalismo. A dos impostos comuns e das eleições europeias será no século XXII.

Pelo que o leitor viu, o Echelon trocou a espionagem económica pela política e dedica-se a identificar os revolucionários infiltrados. Os donos do Echelon lá sabem.

A Revolução Proletária

Luís Salgado de Matos, Público, 11 de Junho de 2001