segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Roubo em Sintra

 A carta de Oliveira da Figueira chegara a Moulinsart misteriosa e enigmática.O amigo português de Tintin pedia ao repórter belga que viesse  a Portugal investigar o misterioso roubo de um valioso rubi  na Quinta da Piedade  em Sintra, requeria-se discrição e celeridade.

Chegados a Sintra, Tintin, Milú e o capitão Haddock instalaram-se em casa de Oliveira da Figueira no Largo do Vítor, Milú logo ladrando atrás de Sissi, a gata siamesa que pachorrenta dormitava na soleira da casa.

-Pois ainda bem que veio, meu caro.A minha amiga, a marquesa do Louriçal está muito preocupada, pois o rubi é valiosíssimo, veio para  Portugal pelas mãos de um seu familiar que aqui se instalou no tempo de Junot,há duzentos anos .Mas ela é muito avessa à imprensa e deseja discrição.E lembrei-me de si!

-Compreendo.Podemos começar por visitar o local então!.

-Havemos de encontrar os iconoclastas, com mil milhões de macacos!-rugiu estimulado o capitão Haddock, mirando um quadro de Burnett na parede.

No dia seguinte, serra acima lá foram até à Quinta da Piedade pela estrada de Monserrate no jipe cheio de tralha de Oliveira da Figueira, agora negociante de antiguidades orientais, deixara-se de viagens pelo mundo.

A Quinta, rodeada de frondosas árvores, era um pequeno paraíso, vista deslumbrante, a Pena em fundo.O rubi desaparecera de um cofre de parede atrás dum retrato de Napoleão. Nem sinais de arrombamento, tinha sido aberto por quem conhecia a combinação. Na biblioteca, a marquesa num cadeirão, o segundo marido, vinte anos menos, ao lado, contou a história da jóia desaparecida.

- Meus senhores, em 1802, um ladrão de nome Marcel, roubou em Paris, 82 rubis orientais raríssimos, entre eles um com 24 quilates. Em 1807 Marcel foi preso na Bastilha e condenado à morte, mas a troco duma fuga consentida que o salvou da guilhotina deu a um antepassado meu esse rubi, o qual desde então se tem mantido na nossa família-foi contando, a marquesa tinha ascendência francesa e um trisavô fora director da famosa prisão de Paris, o tal a quem Marcel dera o rubi a troco de o deixar escapar.

Tintin pediu para ver a casa, e saber quem a ela tinha acesso.

-Comigo vive o meu marido, René, o mordomo, o Perestrelo, e a cozinheira, a Marília. Mas há dias dei uma recepção, vamos ter um recital aqui em Sintra e fez-se uma homenagem à famosa cantora lírica Castafiore- recordou, o marido em pé ofereceu whisky, só Haddock aceitou.

-Castafiore? A Castafiore está em Portugal? -perguntou surpreso o capitão Haddock

-Sim, está em Seteais, vai actuar nos jardins amanhã á noite, junto com o José Carreras.

Tintin deu uma volta pela quinta. Junto a uma trepadeira, dois vultos agachados pareciam mirar algo.

-Boa tarde! -atirou

Os intrusos, sobressaltados, na pressa de se levantarem chocaram um com o outro.Eram os detectives Dupont e Dupond.

-Vocês aqui? Que fazem estes peripatéticos idiossincráticos aqui ?-vociferou o capitão,sempre embirrara com eles e o seu bigodinho retorcido.

-Não se assuste, caro capitão. Estamos a investigar para uma companhia de seguros!- explicou Dupont, tirando o chapéu em cumprimento.

-Sim, há um seguro de cinco milhões de euros, sabia? -logo acrescentou Dupond, seguro de desvendar uma novidade.

-E já descobriram algo? -interrogou Tintin.

-Quase, quase.Vêm esta coisa no chão? - e Dupond, apontou um detrito acastanhado no chão, junto à trepadeira-É o resto dum charuto cubano, um Monte Cristo nº 5, dos puros! -e com um lenço pegou o vestígio, ar ufano, Sherlock Holmes não faria melhor.

Juntos foram ter com a marquesa: se tinha reparado em algum convidado na recepção fumando charuto. Recordava-se efectivamente, um amigo do comendador Berardo fumava, o cheiro intenso recordava-lhe o personagem, um armador grego, pensava, a negócios em Viana do Castelo, ela detestava o cheiro de charuto.

-Mas espere, o meu mordomo, o Perestrelo deve saber o nome, havia uma lista de convidados.

O velho Perestrelo, fleumático, buscou numa gaveta a lista da festa. Grego ou parecido, havia um Giorgios Papadopoulos, de Salónica, um careca de bigode escuro e monóculo no olho direito, lembrava-se de com Berardo discutirem a nova exposição do Tate Modern.

-Monócolo? Grego? Está tudo explicado! –interrompeu Tintin,fazendo luz-O nome não é esse, mas sim Rastapapoulos.É um famoso ladrão internacional , pensava que tinha morrido num naufrágio em Djibuti há 3 anos, foi noticiado na imprensa.Afinal safou-se!

-E onde o poderemos encontrar? -questionou René,interessado.

-Segundo o Berardo, está na Penha Longa, querido, parte esta semana-esclareceu a marquesa, recordada.

Logo se dirigiram para o hotel no carro de Oliveira da Figueira,com sorte ainda o encontrariam.

Lá estava Rastapapoulos, relaxado, bebendo um bloody mary no clube de golfe, sorridente contemplava o green. Vendo-os chegar,  reconheceu aquelas figuras familiares de outras peripécias e correu a esconder-se num lavabo. Mas já Tintin lhe atalhava o passo, enquanto o capitão Haddock o imobilizava pelo pescoço numa zona isolada do relvado.

-Alto aí tratante ditirâmbico, esdrúxulo ladrão de jóias! -gritou, enquanto lhe torcia o braço, Dupond e Dupont, na peugada algemaram-no, presa grossa, afinal o falso morto estava vivo e bem vivo.

-Eu não fiz nada! O que me querem? – gritou ofegante,esbracejando

-Confessa onde guardaste o rubi, miserável escatológico! -ameaçou o capitão.

-Que rubi? Apenas vim jogar golfe, não sei de nada!

-O rubi que roubaste em Sintra, confessa!

-Foi o marido da marquesa que me pediu que lhe simulasse um assalto, não o queria vender mas ia dá-lo como roubado para receber o seguro!

Ainda tais palavras não estavam concluídas quando pela esquerda, René, revólver em punho, punha fim à cena.

-Parecia um plano perfeito, mas você é um amador, Rastapapoulos.É pena que nunca se vá saber que estava vivo depois de estar morto.C’ést la vie!

Preparava-se para atirar quando Milú saltando sobre ele o abocanhou na perna, caindo com a dor, soltando um disparo para o ar desgovernado.Logo Tintin e o capitão o imobilizaram enquanto os Dupont seguravam o enraivecido Rastapapoulos.

Presos os ladrões, rubi no cofre, todos no dia seguinte admiravam a Castafiore, rouxinol estridente nos jardins de Seteais, cantando a Norma de Bellini. Todos? Todos não. O capitão Haddock já meio zonzo saboreava um bourbon num salão do Hotel, já a Pena eram dois e os Dupont quatro.

publicado por Fernando Morais Gomes, 24/11/2010

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blogue solitário venceu as tertúlias de café pondo milhões a "comunicar" sem falar e  discutir sem argumentar, quando as críticas dispensam a voz sentida e exaltam o teclado solitário, desassossegue-se, pois, pelo meio de um café. Com adoçante.

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sábado, 6 de novembro de 2010

É assim o Tintin de Spielberg (mais só no Natal de 2011)

"The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn", de Steven Spielberg, vai ser muito provavelmente o grande sucesso de bilheteira do Natal de 2011.
O filme deverá chegar às salas a 28 de Dezembro do próximo ano e será o primeiro de uma trilogia que está a ser cozinhada por Spielberg e Peter Jackson, o realizador de "O Senhor dos Anéis". A revista inglesa "Empire" revelou no início desta semana, em exclusivo, as primeiras imagens reais do filme, que tornam mais palpável o que Spielberg quis dizer quando explicou que o seu objectivo era "alcançar uma espécie de hiper-realidade que integrasse a linha clara de Hergé". Não desfigurar o estilo do desenhador belga é, para Spielberg, um ponto de honra: "Assumo-me como garante de que a trilogia que estou a preparar com Peter Jackson será fiel à arte de Hergé".
Filmado em 3D e recorrendo à técnica utilizada por James Cameron em "Avatar", que permite transpor movimentos e expressões faciais de actores para personagens de animação, o "Tintin" de Spielberg vai custar 135 milhões de dólares (quase cem milhões de euros), numa produção que envolve, além da DreamWorks de Spielberg, a Sony e a Paramount. O realizador anunciou este projecto há dois anos, no festival de Cannes, mas a intenção vem de longe. "No funeral de Hergé, em 1983, lembro-me de ter dito à sua viúva, Fanny, que queria muito adaptar as aventuras de Tintin ao grande ecrã, mas que respeitaria a obra do seu marido". Embora a produção esteja a decorrer sob rigoroso segredo e se conheçam poucos detalhes do filme, boa parte do elenco foi já divulgada: o actor britânico Jamie Clegg será Tintin, Andy Serkis, o Gollum de "O Senhor dos Anéis", interpretará o irascível Capitão Haddock, os polícias gémeos Dupond e Dupont ficam a cargo de Simon Pegg e Nick Frost, e Daniel Craig foi escolhido para o papel de Rackham o Vermelho. É certo que Spielberg já levantou um bocadinho o véu, mas o pouco que disse, soando bastante prometedor, dificilmente permitirá formar uma imagem aproximada do que o filme possa vir a ser: "Deve muito não apenas ao 'film noir', mas também a todo o teatro brechtiano", diz o realizador, acrescentando que, "ao mesmo tempo, é uma aventura infernal".
Para abrir esta trilogia, Spielberg e Jackson escolheram uma história que se estende por dois álbuns de Tintin (o 11º e o 12º) originalmente publicados na primeira metade dos anos 40: "O Segredo do Licorne" e "O Tesouro de Rackham o Terrível". E Peter Jackson, que dirigirá o próximo filme, já adiantou que está a pensar adaptar "As Sete Bolas de Cristal". Mas não garante. "Também gosto muito dos que se passam nos Balcãs, como 'O Ceptro de Ottokar', que daria um óptimo thriller".

Luís Miguel Queirós (PÚBLICO)