domingo, 26 de novembro de 2023

Oliveira / Castafiore

A loja Oliveira / Castafiore fica situada na Rua Freitas Gazul, nº5, Campo de Ourique, Lisboa

«Quando [a loja] Oliveira e Castafiore abriu as portas, da antiga drogaria em Campo de Ourique, a ideia era mostrar os tesouros que temos vindo a recolher um pouco por todo o mundo.

O norte de África faz parte desse itinerário, pelas suas paisagens extraordinárias, pela sua cultura vibrante, e não menos pela sua produção de ornamentos em matérias naturais.»


https://www.facebook.com/oliveiraecastafiore

https://www.instagram.com/oliveiraecastafiore/

"Tudo o que é antigo, curioso, antiguidades ou vintage"

2ª a 6ª | 13h às 19h


cartão antigo do Sr Oliveira da Figueira 

Sr Oliveira da Figueira

Vende, Compra, Troca e Restaura - Tudo Antigo e Curioso

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Castafiore

Casacos, Carteiras, Bijuteria, Lenços e até Gravatas


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Chico Alcagoita 1000

 

largodoscorreios, 09/11/2023
https://largodoscorreios.wordpress.com/2023/11/09/venturas-e-desventuras-do-chico-alcagoita-mil-um-milhar/

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Editorial Verbo


Hergé (1907 - 1983), criador belga de banda desenhada. Foi o criador do Tintim e a Editorial Verbo tem vindo a editar toda a sua magnífica obra. É um dos mestres da "escola belga" de banda desenhada. Os seus desenhos testemunham uma sólida cultura histórica, geográfica e científica.

Tintim faz 75 anos

Após a comemoração do 20º aniversário da morte de Hergé -- o criador de Tintim -- em Março do ano passado, chegou a vez do próprio Tintim fazer anos!

Dia 10 de janeiro de 2004 faz 75 anos que o Tintim surgiu pela primeira vez na revista “Petit Vingtième”, a preto e branco, onde se manteve até 1940, data em que se mudou para outro jornal, o “Le Soir”, até 1944.

A partir de 1942 todos os livros do Tintim passaram a ser publicados a cores e a maioria das antigas histórias a preto e branco, foram coloridas e reduzidas para se adaptarem ao novo formato.

Em 1946, Tintim já aparece na sua própria revista, e a partir daí todas as histórias recebem tratamento colorido.

Esta data é mais uma oportunidade para relembrarmos e revivermos este fantástico personagem, do qual existe um pouco dentro de cada um de nós.

Seja o gosto pela aventura, o espirito distraído do Prof. Girassol ou o bom coração do fiel capitão Haddock, As Aventuras de Tintim despertam algo em todos os leitores dos 7 aos 77... Vinte anos após a morte do seu criador Hergé, as aventuras do pequeno repórter de poupa levantada continuam a cativar e fascinar milhões de leitores pelo mundo inteiro.

Traduzido em 50 línguas e com mais de 200 milhões (milhões!) de exemplares vendidos, As Aventuras de Tintim estão hoje reconhecidas como revolucionárias no desenvolvimento da banda desenhada. A documentação profunda, o perfeccionismo, o impulso aventureiro do jovem herói e a clareza dos desenhos são características principais do trabalho de Hergé.

retirado do antigo Site da Editorial Verbo [2004]

A Editorial Verbo comemora os 75 anos de Tintim com a publicação de um álbum facsimilado, que reproduz a edição de 1934 publicada no “Petit Vingtième”- “Os Charutos do Faraó” e com a edição de um livro muito especial “Tintim e a Alph-Art”!

Nesta aventura “Petit Vingtième”- “Os Charutos do Faraó” Tintim vê-se implicado, por acaso e contra a sua vontade, num tráfico de estupefacientes que o vai levar até à India. Na luta contra os traficantes de droga, do Egipto à India, Tintim cruza-se com personagens que mais tarde vamos voltar a encontrar nas suas aventuras: o enigmático Rastapopoulos, os polícias Dupont e Dupond, o senhor Oliveira da Figueira, um português, entre outros.

Tintim e a Alph-Art é o último trabalho do criador de Tintim. Trata-se de um álbum com uma «quase» aventura, uma série de pranchas onde se vê o desenho e o texto do que, com tempo, haveria de ser mais um álbum para os fãs de Tintim.

Aqui se encontram muitos personagens já conhecidos de outras histórias, implicados desta feita numa intriga que envolve o mundo da arte moderna. Apesar de incompleta, não faltam a esta aventura os ingredientes habituais de humor, os trocadilhos, as críticas inteligentes, as alusões a factos verdadeiros e os mal-entendidos, que geram sempre, por parte do leitor, reacções de surpresa e de gargalhada.

É um livro inédito, indispensável a qualquer fã, coleccionador ou apreciador da obra de Hergé!

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Ainda em ano de comemoração do 75º aniversário desta célebre personagem da BD, a Editorial Verbo quis presentear todos os fãs e admiradores do Tintim com 3 fantásticas novidades:

Agenda de Bolso 2005 - 144 páginas - 9,3 X 16,40 cm - 7,45 €

Agenda de Secretária 2005 - 144 paginas - 16,8 X 21,50 cm - 14,95 €

Calendário 2005 - 26 páginas - 30 X 30 cm - 13,00 €

Todos eles têm imensas ilustrações e reproduções de tiras de algumas aventuras do Tintim.

A partir de Outubro de 2004 disponíveis nos nossos circuitos comerciais habituais.

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«A Editorial Verbo associa-se ao centenário do nascimento de Hergé, cujos álbuns do Tintim edita, com a publicação da uma biografia, por Benoît Peeters, que foi lançada em 2007.»

retirado do antigo Site da Editorial Verbo

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PRIMEIRAS EDIÇÕES

Para quem gosta de colecionar as primeiras edições de qualquer álbum como eu, tentar encontrar as primeiras edições do Tintim em português de Portugal não foi tarefa fácil!!

Como todos sabemos a Verbo foi a primeira a publicá-lo.

Como curiosidade os três primeiros álbuns saíram com o fundo da contracapa em branco. [E a reedição da Ilha Negra saiu ainda com o fundo da contracapa em branco.]

Para chegar a eles foi preciso primeiro tentar descobrir o primeiro de todos publicados e ao saber que saiu em 1988, fui procurar por esse ano no Depósito Legal de cada álbum que eu encontrava e após várias tentativas o primeiro foi a Ilha Negra, o seguinte O Ceptro de Ottokar e o terceiro O Caranguejo das Tenazes de Ouro e depois é só seguir a ordem de publicação original através do título que aparece na contracapa na parte onde diz "A Publicar:".

Se na contracapa o primeiro título que aparece na zona de álbuns já publicados for a Ilha Negra, é garantido que seja uma primeira edição do titulo que está na capa desse álbum. Ou seja, a Verbo começou a publicar a partir da Ilha Negra e seguiu a ordem cronológica de publicação do Tintim a partir daí e sempre aparece nas primeiras edições como sendo a Ilha Negra o primeiro da lista de publicados na contracapa até ao álbum Tintim e os pícaros inclusive. Tendo chegado ao último álbum da coleção, o próximo foi a Orelha Quebrada que é mencionado no "A Publicar:" a seguir foi os Charutos do Faraó, Lotus Azul, Tintim na América, Tintim no Congo e por último o Lago dos Tubarões, este último já com uma contracapa diferente.

Outra dica, se na contracapa tiver os álbuns todos publicados mas tendo fotos das capas, são todos reedições.

José Oliveira, Facebook Bd Rara em Português, 2023

A Verbo Publicações Periódicas começou por lançar os livros com as Aventuras e Desventuras de Quim e Filipe (1982-1987) e as Aventuras de Joana, João e o Macaco Simão (1981-1982). Em 1988 publicou os primeiros livros de Tintim. A ligação terminou em Janeiro de 2009.

A Ilha Negra - 271501 - 1988

O Ceptro De Ottokar - 271502 - 1988

O Caranguejo Das Tenazes De Ouro - 271503 - 1989

A Estrela Misteriosa - 271504 - 1989

O Segredo Do Licorne - 271505 - 1989

O Tesouro De Rackham O Terrível - 271506 - 1989/1990

As 7 Bolas De Cristal - 271507 - 1990

O Templo Do Sol - 271508 - 1990

No País Do Ouro Negro - 271509 - 1990

Rumo À Lua - 271510 - 1991

Explorando A Lua - 271511 - 1992

O Caso Girassol - 271512 - 1992

Carvão No Porão - 271513 - 1992

Tintim No Tibete - 271514 - 1992

As Jóias Da Castafiore - 271515 - 1992

Voo 714 Para Sidney - 271516 - 1993

Tintim E Os Pícaros - 271517 - 1993

A Orelha Quebrada - 271518 - 1993

Os Charutos Do Faraó - 271519 - 1994

O Lótus Azul - 271520 - 1994

Tintim Na América - 271521 - 1995

Tintim No Congo - 271522 - 1996

O Lago Dos Tubarões - 271523 - 1999

No País Dos Sovietes - 271524 - 1999

Tintim E A Alpha-Art - 271527 - 2004

24 vezes Tintim

Entre 10 de Janeiro de 1929 e 13 de Abril de 1976 foram publicadas as primeiras versões das 24 aventuras de Tintim e Milou (os títulos são os da edição portuguesa da Verbo).

Tintim no País dos Sovietes - “Le Petit Vingtième”, de 10-01-1929 a 11-05-1930.

Tintim no Congo - “Le Petit Vingtième”, de 05-06-1930 a 11-06-1931.

Tintim na América - “Le Petit Vingtième”, de 03-09-1931 a 20-10-1932.

Os Charutos do Faraó - “Le Petit Vingtième”, de 08-12-1932 a 08-02-1934.

O Lótus Azul - “Le Petit Vingtième”, de 09-08-1934 a 17-10-1935.

A Orelha Quebrada - “Le Petit Vingtième”, de 05-12-1935 a 25-02-1937.

A Ilha Negra - “Le Petit Vingtième”, de 15-04-1937 a 16-06-1938.

O Ceptro de Ottokar - “Le Petit Vingtième”, de 04-08-1938 a 10-08-1939.

O Caranguejo das Tenazes de Ouro - “Le Soir”, de 17-10-1940 a 18/19-09-1941.

A Estrela Misteriosa - “Le Soir”, de 20-10-1941 a 21-05-1942.

O Segredo do Licorne - “Le Soir”, de 11-06-1942 a 14-01-1943.

O Tesouro de Rackham, o Terrível - “Le Soir”, entre 19-02-1943 e 23-09-1943.

As 7 Bolas de Cristal - “Le Soir”, entre 16-12-1943 e 02/03-09-1944 (publicação interrompida pela libertação de Bruxelas, durante a Segunda Guerra Mundial, e só retomada mais tarde nas revistas “Coeurs Vaillants” e “Tintin”).

O Templo do Sol - “Tintin” (edição belga), entre 26-09-1946 e 22-04-1948.

Tintim no País do Ouro Negro - “Tintin”, de 16-09-1948 a 23-02-1950.

Rumo à Lua e Explorando a Lua - “Tintin”, de 30-03-1950 a 30-12-1952. É uma única aventura, que só aparecerá em separado na edição em álbum, respectivamente, em 1953 e 1954.

O Caso Girassol - “Tintin”, de 22-12-1954 a 22-02-1956.

Carvão no Porão - “Tintin”, de 31-10-1956 a 01-01-1958.

Tintim no Tibete - “Tintin”, de 17-09-1958 a 25-11-1959.

As Jóias da Castafiore - “Tintin”, de 04-07-1961 a 04-09-1962.

Voo 714 para Sydney - “Tintin”, de 27-09-1966 a 28-11-1967.

O Lago dos Tubarões - 1973, adaptação em álbum (Casterman) do filme de animação com o mesmo título.

Tintim e os Pícaros - “Tintin”, de 16-09-1975 a 13-04-1976.

https://arquivo.pt/wayback/20100809090846/http://static.publico.clix.pt/coleccoes/tintim/indexLISTAcoleccao.htm

https://tintinofilo.weebly.com/difusatildeo-verbo.html

No País dos Sovietes - FS - Cartonada, Setembro de 1999

Os Charutos do Faraó - FS - 271526 - Cartonada, Julho de 2003 

Outras edições:

Livro de Colorir 1, 2

Tintim O Sonho e a Realidade - 2005 - Código: 271528 - ISBN: 972-553-437-9

Tintim Livro Jogos - 2006 - Código: 271729 - ISBN: 972-22-2577-4

Hergé - Filho de Tintin - 2007

EDIÇÕES ASA ADQUIREM OS DIREITOS DE TINTIN E ANUNCIAM RELANÇAMENTO DA SÉRIE NA PRIMAVERA DO PRÓXIMO ANO

Por Carlos Pessoa, Público, 27/09/2009


Insatisfação com as vendas é a principal razão para pôr fim ao contrato. O herói da BD franco-belga vai mudar de nome na nova colecção de aventuras

Depois de figurar durante mais de 20 anos no catálogo da Editorial Verbo, Tintin passará a ser publicado pela Edições Asa a partir de 2010. A editora Casterman, detentora universal dos direitos das aventuras do herói belga, pôs termo em Janeiro passado ao acordo que a ligava à Verbo desde 1988.

A principal razão, explicou ao PÚBLICO Willy Fadeur, director do departamento de direitos internacionais daquela editora, foi a "insatisfação" com as vendas dos álbuns, consideradas "insuficientes tendo em conta a notoriedade do herói e do seu criador".

As diligências para encontrar um sucessor começaram de imediato e terminaram com a escolha da Asa. "Para nós, o mercado português, francófilo e bedéfilo, é de primeira linha", diz Fadeur. "Sempre mantivemos com ele excelentes relações profissionais e de amizade. Iremos fazer tudo para relançar Tintin em Portugal com grande entusiasmo", garantiu. Os valores do negócio não foram divulgados.

Maria José Pereira, responsável pelo departamento de BD da Asa, assegura que os primeiros álbuns estarão nas livrarias na Primavera de 2010. O objectivo do editor português é pôr no mercado toda a colecção de aventuras de Tintin (24 álbuns) antes da saída, prevista para 2011, da longa-metragem que o cineasta americano Steven Spielberg está a rodar.

O editor português já trabalha em novas traduções e assegura que o herói vai recuperar o seu nome original - Tintin em vez do Tintim que surgia nos álbuns da Verbo: "É o nome da personagem e uma marca. Não há razão para não fazermos a alteração."

Maria José Pereira confirmou também que está a ser preparado um ambicioso programa de lançamento da série, cujos detalhes só começarão a ser conhecidos em Novembro.

A mudança de editor, negociada com êxito num período de tempo relativamente curto, é uma boa notícia para toda a gente. As Edições Asa ganham para o seu catálogo uma das séries mais emblemáticas (e também mais lucrativas) da banda desenhada mundial. Os fãs da série, por seu lado, podem contar com uma presença mais agressiva do herói no mercado português, onde sempre teve um lugar relativamente discreto.

A Casterman ganha alguma margem de manobra relativamente à sociedade Moulinsart, gestora dos direitos mundiais de Hergé, que rendem mais de 16 milhões de euros por ano. Nick Rodwell, marido de Fanny Vlaminck (segunda mulher de Hergé e herdeira do património do artista) e administrador da Moulinsart, exprimiu em Abril o seu descontentamento com a forma como o editor franco-belga tem gerido os direitos sobre os álbuns de Tintin. Nunca foi oficialmente afirmado, mas admitia-se nos meios ligados à BD que as divergências pudessem acabar em divórcio entre os dois parceiros.

Passados quase seis meses, não houve novos desenvolvimentos e Willy Fadeur, interpelado sobre o assunto, foi lacónico: "A Casterman é contratualmente o gestor mundial dos direitos das aventuras de Tintin e tenciona continuar a sê-lo".

Portugal foi o primeiro país não francófono a publicar Tintin, em 1936 (revista O Papagaio). Foi também o primeiro país do mundo onde se puderam ler as aventuras do famoso jornalista a cores, ainda antes de isso acontecer na Bélgica ou em França. O herói surgiu mais tarde em outras publicações periódicas, como O Diabrete, Cavaleiro Andante, Foguetão e Zorro. A partir de 1968 teve uma publicação própria - a revistaTintin- que saiu até 1982.


(Maria José Pereira saiu da Asa em 2013 e entrou para a Babel que tinha comprado a Verbo)


sexta-feira, 10 de novembro de 2023

As jóias de Castafiore [versão da revista Tintin]

Numa edição da ASA, vamos poder ver e ler "As jóias de Castafiore", na versão pré-publicada na revista belga e francesa Tintin, em 1961. Essa versão também foi publicada em Portugal na revista Zorro.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

João Pedro George

«Eu e o meu irmão mais velho viemos para Portugal numa altura em que os meus pais estavam em Luanda e já aqueles três exércitos de libertação se digladiavam nos bairros. Decidiram mandar-nos para Portugal ao cuidado de uma hospedeira de bordo, porque eles queriam ficar e ver se ainda era possível continuar. A minha primeira memória, tinha três anos, é essa separação dos meus pais. Lembro-me que levava o Tintim – O Templo do Sol e cada vez que vejo um álbum do Tintim é a minha Madalena de Proust. É a imagem que mais me remete para a infância. (...)»

Entrevista a Ana Sá Lopes, Público, 02/06/2023

O livro "Não É Fácil Dizer Bem" (Tinta da China, 2006) de João Pedro George inclui um texto inédito "Raios E Coriscos!", que abre a secção "Obsessões", com várias referências a Tintim. Algumas ideias do texto foram depois usadas em algumas crónicas de 2022 da revista Sábado. As Edições 70 lançaram este ano o livro de crónicas "Viajar na Maionese" que  também engloba essas crónicas recentes.

Tintim em Luanda, Revista Sábado,  03/02/2022

Tintim Em Portugal, Revista Sábado,  10/02/2022

Tintim No Brasil, Revista Sábado,  17/02/2022

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Tintim em Luanda  . 03/02/2022

QUANDO EM MAIO de 1975, aos três anos de idade, desembarquei em Portugal, vindo de Angola, trazia debaixo do braço um álbum das aventuras de Tintim (O Templo do Sol), naquelas edições brasileiras da Record.

(...)


Pequenino e dócil, com os olhos assustados e tensos, mas sempre com aquele livro do Tintim debaixo do braço: apertava-o como se fosse um objecto precioso, o único existente à minha volta, a única prova tangível de que não seria recusado e abandonado.

Tintim em Portugal  . 10/02/2022

Quando do aeroporto da Portela me levaram para o 9º andar de um prédio de Benfica, não fazia a mais pequena ideia do que era Portugal.

(...)


il. Miss Inês https://www.instagram.com/p/CaAzeNHqLIi/
 

Tintim no Brasil . 17/02/2022

Hoje, uma época eivada de cinismo e pragmatismo, repórteres como Tintim ou Robert Mitchum seriam considerados ingénuos, uns tolos idealistas que se julgam incorruptíveis e têm a pretensão de conseguir escapar à manipulação e às iniciativas de sedução ou anexação dos donos do dinheiro.

Na semana passada, obedecendo a um impulso confessional, contei-vos como os álbuns do Tintim fazem emergir do meu passado toda a espécie de reminiscências inesperadas da infância (a paixão pelo Tintim contrai-se nesse período, mas ataca mais tarde ainda com mais força)

(...)

https://www.sabado.pt/opiniao/cronistas/joao-pedro-george/detalhe/tintim-no-brasil


Com Mil Raios e Coriscos!

O capitão Haddock foi o primeiro herói da minha infância. Quando aos três anos de idade desembarquei em Portugal, vindo de Moçambique, trazia debaixo do braço um álbum do Tintim, O Templo do Sol, naquelas edições brasileiras da Record. Não me esqueço. Nunca mais me vou esquecer. Viemos sozinhos, eu e o meu irmão mais velho, ao cuidado de uma hospedeira de bordo amiga da família, enquanto os meus pais se deixavam ficar para trás, em Lourenço Marques. A violência da separação e a chegada a uma terra estranha, onde nunca pusera os pés, marcaram-me para toda a vida. Talvez por isso as minhas primeiras memórias coincidam com essa época. E talvez por isso me tenha afeiçoado tanto àquele marinheiro rabugento e eternamente zangado.

Há tempos decidi finalmente ir buscar a casa dos meus pais os livros de BD que durante anos, comigo já aqui no bairro da Graça, tinham ficado esquecidos no sótão. Durante meses andei entretido a reler esses velhos álbuns aos quadradinhos, vasculhando a memória, suspirando nostalgicamente pelo passado. Não tenho dúvidas, o capitão Haddock é uma personagem fabulosa, talvez das mais extraordinárias de toda a banda desenhada. Haddock surgiu pela primeira vez em O Caranguejo das Tenazes de Ouro (1940), o álbum nº 9 das aventuras do jovem repórter do Petit Vingtième. Tintim já tinha ido entretanto ao País dos Sovietes, ao Congo do Rei Leopoldo III, à América de Al Capone, à China da guerra sino-japonesa, à terra dos Faraós e às ditaduras de opereta da América Latina. Tintim e Haddock conhecem-se a bordo do cargueiro Karamboudjan, que transportava nos porões caixas de conserva com ópio (facto que o capitão, obviamente, ignorava). Haddock é um alcoólico, com uma sede pior que a de Tântalo. É um vulgar bebedolas com maus vinhos que tem comportamentos autodestrutivos e violentos, chegando mesmo a ameaçar a vida de Tintim. Logo ali, ainda mal se conhecendo, Tintim diz ao capitão: “Vai prometer-me não beber mais. Pense na sua dignidade, capitão! Que diria a sua velha mãe se o visse nesse estado?...” Haddock rompe em soluços, desata a chorar pelas barbas abaixo: “BU-UH... BU-U-UH... MAMÃ!... M-MAMÃ-Ã!” Tentado constantemente pelo álcool (de preferência o uísque velho, de malte, mas também rum, conhaque de três estrelas ou champanhe, tudo menos água, esse líquido nauseabundo), Haddock é fraco mas com bom coração. O livro termina com Haddock a dar uma palestra para a Rádio Centro sobre o tema “o álcool, inimigo do marinheiro”.

No álbum seguinte, A Estrela Misteriosa, aquele em que Haddock se torna verdadeiramente numa das personagens principais do mundo de Hergé, o capitão reaparece como Presidente da Liga dos Marinheiros Antialcoólicos. Claro que vai ter muitas recaídas, e esse será um dos seus traços característicos, o que aliás o torna muito mais humano que Tintim. Este, pelo contrário, é uma personagem perfeita, logo menos complexa. Tintim raramente tem dúvidas quando se trata de ir socorrer alguém, mesmo que na outra ponta do planeta. Haddock protesta, hesita, “que estupidez, ir à Lua!”, por ele ficaria sempre no sumptuoso castelo de Moulinsart. Mas acaba por partir, mesmo que contrariado e furioso. Tintim nunca se irrita, nunca chora, nunca tem medo. O capitão é espontâneo, efervescente, não se contém, é ruidoso, descabelado, solta faíscas. São famosas as suas cóleras. Épicas. Os insultos fervem-lhe na boca, fica escarlate de raiva. Blasfema. Explode como um vulcão. Como Hergé confessou a Numa Sadoul, “Haddock sou eu quando preciso de me exteriorizar”. Até em termos gráficos, Haddock é uma personagem mais complexa. A cara de lua cheia de Tintim nunca muda de expressão, ao passo que o rosto do capitão assume múltiplas formas e o corpo é muito mais flexível e elástico.

Haddock “escolhe cuidadosamente as palavras, como um poeta. Sim, como um poeta, gosta das palavras que soem bem, de palavras sonoras e raras” (Jacques Marny). Os seus ataques de nervos são verdadeiros compêndios de insultos. Aqui fica uma selecção, que podem utilizar abundantemente no vosso quotidiano:

Flibusteiros, marinheiros de água doce, mercenários, açambarcadores, judas, renegados, esquizofrénicos, rizópodos, ectoplasmas, emplastros, trogloditas, aztecas, sapos do deserto, vendedores de tapetes, iconoclastas, zulos, parasitas, bexigosos, sacripantas, esclavagistas, tecnocratas, vegetarianos, quadrúpedes, corsários, hidrocarbonetos, canacas, giroscópios, doríferos, zuavos, antropopitecos, anacolutos, invertebrados, tocadores de gaita-de-foles, bichos-de-conta, velho pepino, sinapismo, escolopendras, velho cachalote, coleópteros, atarracados, anacoretas, bichas-solitárias, piróforos, colocíntidas, zigomicetes, gargarejos, cataplasma, saguins, espécie de iconoclasta míope, fanfarrão de orquestra, cretinos dos Alpes, equinodermes, fagote de Madagascar, galináceos, espécie de babuínos, cercopitecos, velhacos feitos de extracto de cretino, turcos, saltimbancos amestrados, espécie de analfabeto diplomado, bacalhau atlético, zebróide, protozoários, lagarto desmontável, bando de zapotecas, patagónios, micróbio, ornitorrinco, espécie de logaritmo, ratos neurasténicos, ciclotrão, pepino em conserva, pedaço de morcego, cabeça de martelo, emplastro em banha de ouriço, concentrado de mexilhão bexigoso, viviseccionistas, torcionários, antropófagos, astronauta de água doce, espécie de selvagem interplanetário, subproduto de ectoplasma, bugre subnutrido, cretino dos Balcãs, autodidactas, bugre de creme de emplastro à base de idiotice, polígrafos, bazucas dos Cárpatos, selvagens preparados com molho tártaro, incendiários, fenómeno de canibal, anticristo, barroco, coloquinta, visigodos, pedaços de energúmenos com nariz de coco, espécie de equilibrista, cretinos do Himalaia, espécie de Cró-Magnon, mamelucos, macrocéfalos, rocambole, filoxera, megalómano, sátrapa, espécie de lobisomem com gordura de ranúnculo, pirómanos, baco, belzebu, velha coruja enferrujada, oficlídio, espécie de diplodocus escapado directamente da pré-história, pterodáctilo.

João Pedro, blog Espanar, 27/08/2004

http://esplanar.blogspot.com/2004/08/com-mil-raios-e-coriscos.html

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As fúrias verbais do capitão Haddock são compêndios de insultos. Deixo aqui alguns, que os líderes políticos poderão sempre utilizar: rizópodos, ectoplasmas, coleópteros, equinodermes, protozoários, colocíntidas, zigomicetes, zapotecas, ornitorrincos, macrocéfalos, anacolutos, hidrocarbonetos, vendedores de tapetes, tocadores de gaita-de-foles, escolopendras, espécie de iconoclastas míopes, fanfarrões de orquestra, saltimbancos amestrados, lagartos desmontáveis, espécie de logaritmos, astronautas de água doce, espécie de selvagens interplanetários, ratos neurasténicos, autodidactas preparados com molho tártaro...

João Pedro, blog Espanar, 14/02/2005


sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Dupond Et Dupond

Imagens autocolantes encontradas, já há alguns anos, nas paredes da cidade do Porto referente a algum grupo de dj's. O nome era Dupond Et Dupond.

 Música bestial - primeiro estranha-se, depois entranha-se...

Música improvável - Brevemente num bar perto de si...