quinta-feira, 9 de novembro de 2023

João Pedro George

«Eu e o meu irmão mais velho viemos para Portugal numa altura em que os meus pais estavam em Luanda e já aqueles três exércitos de libertação se digladiavam nos bairros. Decidiram mandar-nos para Portugal ao cuidado de uma hospedeira de bordo, porque eles queriam ficar e ver se ainda era possível continuar. A minha primeira memória, tinha três anos, é essa separação dos meus pais. Lembro-me que levava o Tintim – O Templo do Sol e cada vez que vejo um álbum do Tintim é a minha Madalena de Proust. É a imagem que mais me remete para a infância. (...)»

Entrevista a Ana Sá Lopes, Público, 02/06/2023

O livro "Não É Fácil Dizer Bem" (Tinta da China, 2006) de João Pedro George inclui um texto inédito "Raios E Coriscos!", que abre a secção "Obsessões", com várias referências a Tintim. Algumas ideias do texto foram depois usadas em algumas crónicas de 2022 da revista Sábado. As Edições 70 lançaram este ano o livro de crónicas "Viajar na Maionese" que  também engloba essas crónicas recentes.

Tintim em Luanda, Revista Sábado,  03/02/2022

Tintim Em Portugal, Revista Sábado,  10/02/2022

Tintim No Brasil, Revista Sábado,  17/02/2022

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Tintim em Luanda  . 03/02/2022

QUANDO EM MAIO de 1975, aos três anos de idade, desembarquei em Portugal, vindo de Angola, trazia debaixo do braço um álbum das aventuras de Tintim (O Templo do Sol), naquelas edições brasileiras da Record.

(...)


Pequenino e dócil, com os olhos assustados e tensos, mas sempre com aquele livro do Tintim debaixo do braço: apertava-o como se fosse um objecto precioso, o único existente à minha volta, a única prova tangível de que não seria recusado e abandonado.

Tintim em Portugal  . 10/02/2022

Quando do aeroporto da Portela me levaram para o 9º andar de um prédio de Benfica, não fazia a mais pequena ideia do que era Portugal.

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il. Miss Inês https://www.instagram.com/p/CaAzeNHqLIi/
 

Tintim no Brasil . 17/02/2022

Hoje, uma época eivada de cinismo e pragmatismo, repórteres como Tintim ou Robert Mitchum seriam considerados ingénuos, uns tolos idealistas que se julgam incorruptíveis e têm a pretensão de conseguir escapar à manipulação e às iniciativas de sedução ou anexação dos donos do dinheiro.

Na semana passada, obedecendo a um impulso confessional, contei-vos como os álbuns do Tintim fazem emergir do meu passado toda a espécie de reminiscências inesperadas da infância (a paixão pelo Tintim contrai-se nesse período, mas ataca mais tarde ainda com mais força)

(...)

https://www.sabado.pt/opiniao/cronistas/joao-pedro-george/detalhe/tintim-no-brasil


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