quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A Gazeta Cru


No espaço "A Gazeta Cru - O Suplemento Ilustrado do Bon Vivant!" do antigo jornal Blitz era publicada a banda desenhada "Superfuzz" mas tinha outras secções como a coluna "Quadradinhos" com notícias de BD, desenhos com os "Cromos do Rock" e também "Lendas da BD" onde foram publicados cromos alusivos a várias personagens de BD com desenhos de Rui Ricardo ou Esgar Acelerado.

Num dos cromos apareceu Tintin com uma braçadeira de nazi e Milu a rosnar os dentes. 

http://esgar-acelerado.blogspot.com/

Edição do Jornal Blitz de 18/05/2004

domingo, 19 de janeiro de 2025

Hergé em formato familiar - 89 anos de Joana, João e o Macaco Simão

O nascimento da série, escrita e desenhada por Hergé, deve-se a um pedido dos responsáveis do periódico católico francês Coeurs Vailants, que, a partir de 1930, já publicava as aventuras de Tintin, que desejavam uma série onde os heróis tivessem uma família, com um pai e uma mãe, ao contrário de Tintin, cujas ligações familiares eram obscuras e desconhecidas.

Assim nasce a série com os personagens Jo e Zette, filhos do engenheiro Legrand, e de Jocko, chimpanzé adoptivo da família. Contudo, Hergé desembaraça-se rapidamente dos pais das crianças, colocando-as como as personagens centrais de rocambolescas aventuras.

A série estreia-se com o episódio "Le rayon du mystére" na Coeurs Vailants nº 3 (8º ano) de 19 de Janeiro de 1936 em pranchas em bicromia. A partir de Outubro de 1936, a série é também publicada no periódico belga  Le Petit Vingtiéme, agora a preto e branco.

Mais tarde, com a colaboração de Jacques Martin, a série é colorida e publicada na revista Tintin. Foram realizadas cinco aventuras. Uma sexta, inacabada, foi realizada por Bob De Moor, que responde a uma solicitação de Hergé para adaptar o argumento "Tintin et le Thermozéro". Contudo, o trabalho de adaptação do episódio de Tintin, "A ilha negra", às exigências do editor britânico, impede que De Moor realize o projecto.

A última prancha da série é publicada na revista Tintin nº 328 de 3 de Fevereiro de 1955.

Em Portugal, a série toma o nome de Joana, João e o Macaco Simão, tendo a Difusão Verbo publicado integralmente a obra. A revista Zorro e o suplemento Quadradinhos (1ª série) do jornal A Capital também publicaram algumas aventuras.

[O «Correio Juvenil», revista dos amigos do Clube Verbo, também publicou algumas pranchas da série.]

Bibliografia portuguesa:

O «Manitoba» não responde (Le Rayon du Mystère 1er épisode, Le "Manitoba" ne répond plus), 1936, Zorro #89 a #140; Quadradinhos (Jornal A Capital) #14 a #39; Álbum Difusão Verbo [1981]

A erupção do Karamako (Le Rayon du Mystère 2ème épisode, L'éruption du Karamako), 1937, Zorro #141 ao #192; Quadradinhos (Jornal A Capital) #40 a #65; Álbum Difusão Verbo [1981]

Destino Nova Iorque (Destination New York), 1951, Álbum Difusão Verbo [1982]

O testamento do Sr. Pump (Le testament de M. Pump), 1951, Álbum Difusão Verbo [1982]

O vale das cobras (Le valée des cobras), 1954, Álbum Difusão Verbo [1982]

Bedeteca Portugal, 19/01/2016

Os 75 anos dos “irmãos mais novos” de Tintin (2011)

Corria o ano de 1936. O sucesso de Tintin – então a viver a sua sexta aventura, “O Ídolo Roubado” – era crescente, mas não fazia a unanimidade. A prová-lo, chegava a Hergé uma carta de França, da revista católica “Coeurs Vaillants” que também publicava as aventuras de Tintin, pondo em causa o repórter de poupa, onde se lia que o herói “não ganha a sua vida, não vai à escola, não tem pais, não come, não dorme… Isso não é lógico”. E, em jeito de encomenda, desafiava Hergé a criar alguém “cujo pai trabalhe, que tenha uma mãe, uma irmã mais nova, um animal de estimação”, contou o desenhador numa entrevista a Numa Sadoul. Em suma, um bom exemplo para os jovens leitores da revista Aproveitando personagens criados para um trabalho publicitário, Hergé daria assim origem a Jo, Zette e Jocko (conhecidos em Portugal como Joana, João e o Macaco Simão), estreados há 75 anos, a 19 de Janeiro de 1936, na “Coeurs Vaillants”.

Juntos, até 1939 viveriam o tempo de três aventuras, entre o preto e branco, a bicromia e a cor, ou melhor, duas aventuras e meia porque “Jo et Zette au Pays du maharadjah”, só seria concluída 15 anos mais tarde, sob o título “O Vale das Cobras”, nos anos 1950, quando as restantes histórias foram remontadas, divididas e coloridas, totalizando assim a série cinco álbuns.

Os seus protagonistas eram dois irmãos, Joana e João, o pai, o engenheiro Legrand, a mãe, doméstica, e Simão, um macaco, o tal animal de estimação da “encomenda”.

Se o traço estava próximo do utilizado em Tintin, embora seja evidente uma menor entrega do desenhador, em termos narrativos a estrutura era também semelhante à dos álbuns de Tintin, com uma boa dose de ficção-científica, fruto da ocupação do pai. Apesar das bases da “encomenda”, em cada aventura a célula familiar era desfeita rapidamente, pois os miúdos metiam-se em enrascadas, geralmente relacionadas com a profissão do pai, deixando os progenitores em casa, aflitos e expectantes, aguardando o seu regresso de algum destino distante e exótico ou não tenham os heróis visitado a Ásia, a África e o Pólo Norte, em aventuras ingénuas e rocambolescas mas bem estruturadas. Apesar de alguns dos feitos destes “irmãos mais novos” de Tintin (especialmente a pilotagem de aeronaves e engenhos estranhos) soarem pouco credíveis dada a sua tenra idade.

O humor, muitas vezes fruto das intervenções bem-intencionadas mas trapalhonas do macaco Simão, está também presente em todos os relatos, em especial no derradeiro álbum, “O Vale das Cobras, no qual ocupa quase a metade inicial do relato, num longo intróito que poderia apontar para uma eventual inflexão narrativa da série que, no entanto, não teve continuidade.

A título de curiosidade, uma leitura atenta revelará uma série de sequências que parecem decalcadas de álbuns anteriores de Tintins, como poderá facilmente comprovar quem quiser perder algum tempo. Ou melhor, ganhar, porque estas histórias resistiram ao passar do tempo e continuam-se a ler-se com bastante agrado.

Em Portugal, Jo, Zette e Jocko estrearam-se na revista Zorro, no número #89, a 20 de Julho de 1964, com “O Manitoba não responde”, que seria publicada até ao #140, iniciando-se no número seguinte “A erupção do Karamako”, que prosseguiria até ao Zorro #192, de 11 de Junho de 1966. As mesmas histórias seriam depois publicadas no suplemento “Quadradinhos” do jornal “A Capital”, a partir do número 14, de 5 de Junho de 1972. Cerca de 10 anos mas tarde, a Editorial Verbo publicaria integralmente a série em cinco álbuns, republicados mais tarde, entre 1997 e 2000.

A ASA, que actualmente está a reeditar As Aventuras de Tintin, ainda não tem prevista uma data para a reedição desta série, que a Casterman recuperou num único volume em 2008.

Pedro Cleto (Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 19/01/2011)

 As "Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão" são mais um tijolo no edifício da linha clara erguido pelo mestre belga (2001)

Embora sem grande burburinho, a Verbo tem vindo a editar em língua portuguesa toda a obra de Hergé. Começou, evidentemente, pelas 23 Aventuras de Tintim, publicou em 12 volumes as Aventuras e Desventuras de Quim e Filipe e concluiu, no final do ano passado, a edição das Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão. Esta é a mais familiar de todas as obras do mestre belga e a menos extensa das suas três séries, com apenas cinco volumes publicados e reformulados pela editora Casterman durante a década de 50, após a fundação do hoje lendário Studio Hergé.

Tendo em conta a projecção internacional que Tintim obteve, desde que a 10 de Janeiro de 1929 foi lançado no "país dos sovietes", torna-se inevitável que todas as restantes criações de Hergé permaneçam, de alguma forma, na sua sombra. Assim acontece com as Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão, que diante de obras-primas da Nona Arte como "O Lótus Azul" ou "As Jóias de Castafiore" fazem modesta figura, mas que, se forem devidamente enquadradas na época e conhecidos os motivos da sua criação, merecem ocupar um lugar de destaque nas estantes dos bedéfilos.

Na verdade, foi o mesmo abade Norbert Wallez que dirigia o Petit Vingtième, onde surgiu o repórter Tintim, que estimulou Hergé a criar as personagens de Joana, João e do macaco Simão (originalmente baptizados como Jo, Zette et Jocko). A razão era simples: educado nos bons preceitos do catolicismo, não agradava particularmente a Wallez o facto de Tintim ser um rapaz solitário, sem pai nem mãe, e pouco preocupado com a propagação dos valores familiares. Assim sendo, convidou Hergé a apostar numa série onde os heróis ostentassem orgulhosamente os seus progenitores e transbordassem de amor filial a cada virar de página.

Num primeiro momento, Hergé parece ter seguido as directivas do devoto abade, ao criar dois irmãos inseparáveis, cujo pai, monsieur Legrand, é engenheiro aeronáutico (embora no último volume da série, O Vale das Cobras, o senhor Legrand deixe os aviões para se dedicar à construção de pontes), e a mãe, como na altura convinha, é uma dedicada dona de casa. O macaco, embora liberte raríssimos pensamentos, serve sobretudo para adornar a acção, dar pancada aos maus e ajudar nos gags físicos, claramente influenciados pelo cinema burlesco, que proliferam pelas pranchas.

No entanto, se a família de João e Joana está presente, Hergé várias vezes a envia para longe, e não pode propriamente ser erguida como modelo de virtude: as crianças estão sempre a meter-se em sarilhos (ainda que para salvar o mundo) e os pais nunca parecem desencorajá-los de entrar nas mais desvairadas aventuras.

A primeira saga da dupla (mais o macaco), O "Raio Misterioso", é publicada em 1936 no semanário francês Coeurs Vaillants. De 1937 a 1939 é a vez de "A Estratonave H. 22". Ambas as aventuras seriam reformuladas no início dos anos 50, à semelhança do que aconteceu com as primeiras aventuras de Tintim, com a entrada em funcionamento do Studio Hergé - por onde passou gente como Edgar Pierre Jacobs, Bob De Moor ou Jacques Martin -, sendo cada história dividida em dois episódios para lançamento em álbum.

Aquele que seria o quinto e último livro da série, "O Vale das Cobras", começou a ser publicado em 1939, com o nome de "Jo et Zette au Pays du Maharadjah", mas foi interrompido após 25 pranchas e apenas retomado 15 anos depois, com a colaboração de Martin.

Este é, naturalmente, o mais maduro dos álbuns de Joana, João e do macaco Simão, sobretudo em termos gráficos, mas não tem a frescura das duas aventuras de maior fôlego, e muito em particular de O Raio Misterioso. Muito antes de Hergé lançar Tintim na sua visionária viagem ao espaço, em "Rumo à Lua" e "Explorando a Lua", já o criador da linha clara dava largas à sua imaginação, criando pequenos gadgets e entretendo-se a exibir o seu fascínio pela tecnologia. As Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão não terão o vigor das obras do pequeno repórter, mas podem perfeitamente ser consideradas como pequenos balões de ensaio, através dos quais Hergé pôde apurar a sua linguagem. Pode não parecer muito, mas é mais do que suficiente.

João Miguel Tavares / DN, 30/07/2001


O VALE DAS COBRAS

Autor: Hergé

Editora: Verbo

Páginas: 56

Género: Banda Desenhada

Preço: 2050$00

Classificação: ***

O "MANITOBA" NÃO RESPONDE (O Raio Misterioso)

Autor: Hergé

Editora: Verbo

Páginas: 56

Género: Banda Desenhada

Preço: 2050$00

Classificação: ****

A ERUPÇÃO DO KARAMAKO (O Raio Misterioso)

Autor: Hergé

Editora: Verbo

Páginas: 56

Género: Banda Desenhada

Preço: 2050$00

Classificação: ****

O TESTAMENTO DO SR. PUMP (A estratonave H.22)

Autor: Hergé

Editora: Verbo

Páginas: 56

Género: Banda Desenhada

Preço: 2050$00

Classificação: ***

DESTINO NOVA IORQUE (A estratonave H.22)

Autor: Hergé

Editora: Verbo

Páginas: 56

Género: Banda Desenhada

Preço: 2050$00

Classificação: ***

Direitos reservados

IMAGINAÇÃO. 

Onde está Tintim?...

Aventuras de Joana, João e o Macaco Simão – O Vale das Cobras

Texto e desenhos: Hergé (com Jacques Martin e Bob de Moor) 

Editora: Difusão Verbo, Lisboa, 1981

Na década de 1930, Tintim suscitava reservas ao conservadorismo: não tinha família, não estudava, era demasiado livre. A revista Coeurs Vaillants propõe assim a Hergé uma série com crianças normais, inseridas numa família tradicional. Nascem então Jo, Zette et Jocko – Joana, João e o Macaco Simão, em português –, os gémeos da família Legrand, composta pelo pai engenheiro, a mãe doméstica e um chimpanzé.

O Vale das Cobras, em curso de publicação em 1939, foi interrompido e só retomado na década de 1950 pelos Estúdios Hergé, concluído por Jacques Martin (Alix, Lefranc) e Bob de Moor (Barelli, Cori, o Grumete), saindo o álbum em 1957.

Numa estância de neve na Alta Saboia, Joana, João e Simão cruzam-se com o Marajá de Gopal, rei dum país imaginário nos Himalaias indianos. O marajá merece, por estupidez própria, figurar na galeria das grandes personagens secundárias de Hergé, que o qualificava como um Abdalá (O País do Ouro Negro) adulto. Entra em conflito com os miúdos porque estes ousam ultrapassá-lo no esqui, e como se não bastasse ainda apanha com uma bola de neve em cheio na cara. Qualquer contrariedade tinha como punição mínima o açoitamento do infrator, pelo que as coisas poderiam não lhe correr de feição; mas intervém o pai Legrand. Sanados os hilariantes incidentes, o engenheiro é convidado pelo soberano a construir uma ponte numa região remota do país. O que ambos não sabem é que o seu vizir pretende dar um golpe e ser marajá no lugar do marajá…

Mesmo a seis mãos, trata-se de puro Hergé, dando ideia, ao virar de cada página, que Tintim vai aparecer por ali... 

Ricardo António Alves, I, 25/11/2019

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Oliveira da Figueira


E eis que a páginas tantas, durante o sermão de Santo António aos peixes (e aos polvos, caranguejos e outros animalejos dos mares) na versão de Pedro Vieira de Moura e Bernard Majer, damos de caras com o mais português dos heróis de Hergé...

Pedro Cleto, 03/08/2024

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Tintin nasceu há 96 anos


Tintin e Hergé nomes grandes da BD europeia

Completaram-se, sessenta anos [1929-1989] após ter surgido, pela primeira vez na Europa, um dos heróis mais populares de sempre: Tintin.

O seu autor tornou-se tão famoso como o personagem, mas apenas através de um pseudónimo: Hergé.

A Banda Desenhada vive muito dos seus heróis, figuras que têm ajudado a preencher os sonhos e o imaginário de gerações de apaixonados leitores / visionadores. Tintin é um desses heróis, símbolo de generosidade, coragem e abnegação. O seu criador, Hergé, enriqueceu-lhe a personalidade de forma inteligente e subtil: colocou a seu lado, como amigos, personagens carismáticos cheios de tiques - geralmente humorísticos - e defeitos, que fazem ressaltar, simplesmente por contraste que lhe é favorável, as suas qualidades. Sem dúvida que o Capitão Haddock, o Professor Tournesol, os Detectives Dupond e Dupont são complementos de Tintin; eles fazem-nos rir, com simpatia, das suas fraquezas, dos movimentos desastrados que lhes trazem constantes inconvenientes, das suas quedas, das complicações que engendram. Sem eles, Tintin não teria o indispensável contraponto, o contraste valorizador; sem eles, enfim, é de crer que não tivesse atingido tão grande popularidade. A partir de uma determinada fase, Tintin já não existia como personagem único: ele era, afinal, o somatório das personalidades dos seus comparsas.

O criador de Tintin, Georges Prosper Remi nascera a 22 de Maio de 1907, em Etterbeek (Bruxelas); tinha portanto vinte e um anos quando Tintin dava os seus primeiros passos e sabe-se que a assinatura que se apresentava nesse episódio inicial já era a de Hergé, pseudónimo formado [pela] inversão das iniciais G e R do seu verdadeiro nome (érre, gê).

Antes disso, porém, apenas com dezasseis anos, Hergé havia começado a sua carreira artística na revista Le Boy-Scout. Aqui se encontram as suas primeiras histórias em imagens, cujos protagonistas são escuteiros, tal como o artista fora na sua infância. No inicio, as pranchas não eram assinadas; .apenas em Fevereiro de 1923 é possível encontrar o nome de Georges Remi. Mais tarde, em Dezembro de 1924, surge finalmente a assinatura Hergé que, de então em diante, passaria a identificá-lo.

Depois de terminados os seus estudos, em 1925, Remi começou de imediato a trabalhar no jornal diário "Le XXème Siècle" mas... no serviço de assinaturas! É, portanto, já no ambiente dos jornais que ele irá criar o seu primeiro herói fixo, um escuteiro de nome Totor. E, com o personagem, também a respectiva série "Totor, C.P. des Hannetons", um conjunto de episódios que se prolongarão até Julho de 1930. Registe-se que alguns deles foram publicados na revista portuguesa Tintin, sob o titulo Extraordinárias Aventuras de Totor, C.P. dos "besouros" (inicio no n.º 51 -14.° Ano - 01/05/1982).

Tintin, nasceu depois de Totor, e ambos têm semelhanças inegáveis. Totor terá sido, portanto, o modelo de Tintin; mas o verdadeiro modelo poderá encontrar-se em Paul Remi, irmão de Hergé, cinco anos mais novo. O primeiro episódio do personagem será Tintin no Pais dos Sovietes (Les Aventures de Tintin, Reporter au Pays des Soviets), publicado entre 10 de Janeiro de 1929 e 8 de Maio do mesmo ano, no Petit Vingtième (suplemento semanal, para a juventude, do diário católico "Le Vingtième Siècle"), e constituiu um sucesso; de tal maneira que, no ano seguinte, irá ser publicado em França, no semanário católico "Coeurs Vaillants". Em Portugal tal só viria a acontecer em 1982, na revista Tintin (n.° 12 - 15.° Ano - 31/07/1982), tendo a obra ficado incompleta, devido ao facto de aquela revista ter deixado de publicar-se.

É conhecido o facto de Hergé se ter decidido a prolongar as aventuras Tintin, por se ter dado conta da indiscutível popularidade ganha pelo personagem. Pode dizer-se que os quatro primeiros episódios que criou - Tintin no Pais dos Sovietes, Tintin no Congo (Tintin au Congo), Tintin na América (Tintin en Amérique), Os Charutos do Faraó (Les Cigares du Pharaon) - , não tinham uma verdadeira sequência, eram antes um conjunto de "gags". Isso seria consequência de Hergé conceber as suas histórias em função da publicação num jornal, e não para ser editado, logo à partida, em álbuns. Criar "suspense" diariamente era a preocupação primordial do autor, mesmo com prejuízo da fluidez da narrativa.

Apenas no sexto episódio das "Aventuras de Tintin", A Orelha Quebrada (L'Oreille Cassée), há uma modificação importante: passa a existir um "leit-motif" que percorre toda a obra, um objecto, a estatueta com a dita orelha quebrada, perseguida incessantemente pelos vários protagonistas.

Aliás, é também curioso observar-se a preocupação de Hergé em mudar constantemente o cenário das aventuras de Tintin. Vejamos alguns exemplos: Iniciando-se na U.R.S.S., passara a seguir para África, dai para os Estados Unidos, logo dera o salto para o Oriente - Os Charutos do Faraó, no Egipto, e O Lótus Azul (Le Lotus Bleu), na China -; em A Orelha Quebrada viajara para a América do Sul; seria a Escócia o local da acção de A Ilha Negra (L'Ile Noire); e a Syldavia (pais imaginário, situado algures nos Balcãs) localizar-se-ia o ambiente de O Ceptro de Ottokar (Le Sceptre d'Ottokar).

Outro aspecto interessante, para quem se debruce sobre a obra de Hergé, é detectar o momento em que surgem, pela primeira vez, os personagens de mais alto gabarito. É o caso dos inefáveis detectives Dupond e Dupont que, após uma primeira aparição (anónima) logo na primeira vinheta da edição a cores de Tintin no Congo, surgem em Os Charutos do Faraó, em álbum inicialmente impresso a preto e branco, em 1934 apresentados como X33 e X33 bis. E já que falamos dos dois impagáveis comparsas que, à parte uma pequena diferença nos bigodes, são rigorosamente iguais talvez mais do que se fossem gémeos, conclui-se que, afinal, nem sequer são familiares, pois os apelidos são diferentes!

É ainda neste episódio que se estreia um compatriota nosso, o Senhor Oliveira da Figueira, de Lisboa, tipo de vendedor de banha da cobra, "o branco-que-vende-tudo", capaz de impingir a Tintin desde um regador a um papagaio!

Em O Ceptro de Ottokar, surge uma figura muito conhecida: Bianca Castafiore. Ali começa a tortura de Tintin, ao ser forçado a ouvi-la cantar a sua eterna Ária das Jóias, de "Fausto". Ela é também, como personagem importante, a primeira protagonista feminina da obra.

Haddock, o velho marinheiro, bebedor incorrigível, tonitruante, passou a ser, logo que apareceu em O Caranguejo das Tenazes de Ouro (Le Crabe aux Pince d'Or), um dos mais interessantes personagens da série. O Capitão Haddock, inicialmente uma figura lamentável, totalmente dominada pelo álcool, ira ter, a partir do episódio A Estrela Misteriosa (L'Etoile Mystérieuse), um lugar muito importante na galeria Hergiana.

Tryphon Tournesol, o professor distraído e surdo, inicia a sua participação em O Tesouro de Rackam o Vermelho (Le Trésor de Rackam Le Rouge). É mais uma fonte originadora de cenas hilariantes que Hergé introduz na série. Para além do personagem, um outro elemento importante aparece no mesmo episódio: Moulinsart, a aristocrática moradia da família Haddock, baseado no verídico Castelo de Cheverny.

Hergé, a certa altura, parece ter prazer em juntar algumas destas personagens num só episódio. É o que acontece em Carvão no Porão (Coke en Stock), onde participam Rastapopoulos, Séraphin Lampion, Madame Bianca Castafiore e o senhor Oliveira da Figueira, figuras marcantes de peripécias anteriores.

"Tintin (e todos os outros) sou eu, tal como Flaubert dizia: "Madame Bovary sou eu!". São os meus olhos, os meus sentidos, os meus pulmões, as minhas tripas!... Creio que sou o único a poder animá-lo no sentido de lhe dar uma alma."

Assim falou Hergé. Mas, no que se refere a Tintin, raras são as vezes em que transparecem as suas emoções: talvez naquela cena em que, pela única vez na sua "vida", no episódio Tintin no Tibete (Tintin au Tibet, 4ª prancha), chora ao ter conhecimento do desaparecimento do seu amigo Tchang. Raras são nele, igualmente, as fraquezas humanas, mesmo as mais simples. Beber, por exemplo: somente nos é possível observá-lo, uma vez, de copo de cerveja na mão, em A Ilha Negra.

Quanto a aspectos prosaicos, como seja, ter uma profissão, sabe-se que é repórter, quase só porque assim nos é dito, pois apenas uma vez o vemos a escrever (ou melhor: a tentar escrever) um artigo, logo no episódio inaugural, No Pais dos Sovietes. E também fazendo fé nas suas palavras, quando, em A Ilha Negra, ele próprio se apresenta: "Aqui, o repórter Tintin". Ou Tim-Tim, como foi baptizado em português, na sua estreia entre nós, onde nos é apresentado da seguinte forma:

"O Papagaio", que é, como vocês sabem, a maior revista portuguesa, resolveu enviar a Chicago um dos seus mais hábeis repórteres, O célebre Tim-Tim."

Esta introdução aparecia, em legenda, sob três vinhetas coloridas que compunham a primeira página da revista O Papagaio n.° 53, de 16 de Abril de 1936. Era assim que, há quase cinquenta e três anos [1936-1989], os jovens bedéfilos portugueses tomavam contacto, naquela popular "revista para miúdos", com dois nomes grandes da BD europeia: Tintin, fabuloso herói de papel, sempre vivo nas páginas dos livros de Banda Desenhada, e Hergé, seu talentoso criador, que viria a falecer a 3 de Março de 1983.

Geraldes Lino, Selecções de BD nº 13 (Maio 1989)

Tintin nasceu há 60 anos, Geraldes Lino, Selecções BD n. 13 (1ª série) - 1989

https://arquivo.pt/wayback/20080212122134/http://bdlusa.cidadevirtual.pt/6tintin.htm

https://arquivo.pt/wayback/20020616224145/http://www.terravista.pt/Bilene/1280/tintin-2.htm

Entrada sobre Hergé no blog Divulgando BD (2007)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Fã de Tintim? 90 anos depois da estreia, é hoje publicada versão original de ‘O Lótus Azul’ com 124 páginas (e a cores)


Uma nova edição de O Lótus Azul, um dos livros mais icónicos de Tintim, chega hoje às livrarias francesas, marcando uma ocasião especial para os admiradores do universo criado por Hergé. Publicada originalmente em 1936 com 124 páginas a preto e branco, esta versão é agora apresentada pela primeira vez completamente a cores, oferecendo uma nova perspetiva sobre esta aventura ambientada em Xangai.

Esta luxuosa edição restabelece a versão original publicada em formato serializado na imprensa da época, antes de ser reduzida para 64 páginas pela editora Casterman, em 1946, para adequar-se ao formato convencional dos álbuns de Tintim. A coloração, com tons sépia e outras nuances cuidadosas, procura manter a autenticidade da visão de Hergé, mas adiciona uma dimensão visual contemporânea que promete encantar tanto novos leitores como fãs de longa data.

Benoît Mouchart, diretor editorial da Casterman, considera esta edição um marco significativo na história do autor. “Esta aventura representa um ponto de viragem cultural porque é o primeiro álbum em que Hergé começa a afastar-se dos estereótipos e preconceitos do seu ambiente”, afirmou. Segundo Mouchart, O Lótus Azul é também “o primeiro grande clássico de Hergé, pois é aqui que a famosa linha clara se começa a afirmar verdadeiramente”.

Anteriormente, os álbuns de Tintim apresentavam cenários que mais pareciam “postais ilustrados” ou “decorações de cinema burlesco”, destacou Mouchart. Com O Lótus Azul, Hergé demonstra uma maturidade artística e narrativa que consolida o seu estilo único.

Um dos aspetos mais marcantes desta história é a introdução de Tchang, personagem inspirado no amigo e mentor artístico de Hergé, o escultor e pintor chinês Zhang Chongren (ou Tchang). Este encontro foi decisivo tanto na vida pessoal como na carreira do autor.

Hergé era autodidata, e com Tchang começou a receber as suas primeiras lições de desenho reais”, explicou Mouchart. Mas a influência foi além da técnica artística: “Ele descobriu uma nova forma de espiritualidade e uma perspetiva diferente sobre o mundo.”

Para acompanhar o lançamento desta edição especial, a Casterman também publica uma biografia de Tchang, que morreu em 1998, em Nogent-sur-Marne, aos 91 anos. A obra explora o percurso de vida fascinante deste artista, desde as suas raízes na China até à sua longa amizade com Hergé, que permaneceu uma fonte de inspiração mútua ao longo das décadas.

Com esta edição restaurada e colorida de O Lótus Azul, os leitores têm agora a oportunidade de redescobrir a riqueza de uma obra que não só é um marco na evolução artística de Hergé, mas também um testemunho da sua capacidade de ultrapassar fronteiras culturais e artísticas. A obra já é considerada um tesouro pelos tintinófilos e promete consolidar ainda mais o legado intemporal de Tintim.

In Executive Digest

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Tim-Tim, O Grande Repórter de «O Papagaio»


Tim-Tim na América do Norte (Tintin na América, #53-#110) #53 de 16 de Abril de 1936 ao #110 de 20 de Maio de 1937

Tim-Tim no Oriente (Os Charutos do Faraó, #115-#161) #115 de 24 de Junho de 1937 ao #161 de 12 de Maio de 1938

Novas Aventuras de Tim-Tim (O Lótus Azul, #166-#205) #166 de 16 de Junho de 1938 ao #205 de 16 de Março de 1939

Tim-Tim em Angola (Tintin no Congo, #209-#244)  #209 de 13 de Abril de 1939 ao #244 de 14 de Dezembro de 1939

Tim-Tim e o Mistério da Orelha Quebrada ([O Mistério da] Orelha Quebrada, #247-#298) #247 de 4 de Janeiro de 1940 ao #298 de 26 de Dezembro de 1940

Tim-Tim Na Ilha Negra (A Ilha Negra, #301-#359)  #301 de 16 de Janeiro de 1941 ao #359 de 26 de Fevereiro de 1942

Tim-Tim no Deserto (O Caranguejo das Tenazes de Ouro, #366-#426) #366 de 16 de Abril de 1942 ao #426 de 10 de Junho de 1943

A Estrela Misteriosa (#435-#540) #435 de 12 de Agosto de 1943 ao #540 de 16 de Agosto de 1945

O Segredo da Licorne (O Segredo do Licorne, #617-#679) #617 de 6 de Fevereiro de 1947 ao #679 de 15 de Abril de 1948

1ª imagem - Tim-Tim e o Mistério da Orelha Quebrada (anúncio de 1940 n' O Papagaio)

2ª imagem - página de 1937 (fb)


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

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Nesta página gostamos de relembrar todo o tipo de coisas relacionadas com as personagens de Hergé de forma a dar mais visibilidade a algumas dessas homenagens ou simples referências a esse universo. 

Há muitas homenagens que só encontramos muito mas tarde e apenas por acaso. Porque existe na internet e encontramos à procura de outras coisas. Porque alguém chamou à atenção para isso, ao consultar algum portfolio de um artista, a  folhear uma publicação antiga ou mesmo em sites estrangeiros que conhecem coisas que não são tão divulgadas.

Mesmo sabendo que algo foi publicado podemos não ter mais dados por isso pode ser sempre importante o alerta. Coisas que foram publicadas em jornais antigos, em fanzines, na revista Tintin e em outras publicações que publicaram as aventuras de Tim-Tim, em publicações próximas de Abril de 1974 com referências. E muito mais...

Também podemos contactar algumas pessoas sem conseguir ter mais dados. Ou não saberem se algo diz respeito ao que procuramos ou se pode ser mera coincidência. 

Não podemos conhecer tudo e podemos não nos lembrar de algumas coisas porque nem sempre esta ideia de reunir em arquivo.

Tentamos ir colocando sempre novos "posts". Uns com mais importância outros nem tanto. Quem reparar que falta algo deve informar-nos mesmo que ocasionalmente até possa estar em agenda ou termos algo semelhante sobre  o assunto.

Por isso era importante se a página for alertada para o facto de estarem em falta coisas de que se lembram. Algo que um ilustrador fez (pode ser o próprio a alertar!), um texto de que gostaram, uma imagem ou artigo que consta numa obra mas que não seja tão conhecida por não se relaciona directamente com o n/ herói, etc

Mais vale sermos alertados mais do que uma vez do que desconhecermos a existência de algo.

As coisas existindo na net podem sempre ser encontradas. O nosso objectivo é centralizar o máximo que conseguirmos e assim ser mais fácil encontrar coisas que tenham interesse e fazer a sua divulgação.

EXEMPLOS

Em breve serão colocados imagens que só casualmente reparamos que tinham ligações a Tintin. Por exemplo numa das edições da Fanzine Efeméride com uma homenagem ao Tenente Blueberry. Numa  edição de 2004 da Bedeteca e do Público aparece numa ilustração uma figura parecida com Tintin e ainda ficámos na dúvida se seria elegível mas felizmente ele está com Milu. Ainda algumas imagens de Manuel João Ramos que foram colocadas no excelente site da "Bedeteca do Porto" mas que foram encontradas por acaso. 

Num comentário antigo no facebook de Marita Monteiro ela dizia que frequentava o café Tintin onde também costumava ver Mirita Casimiro (1914-1970). Não conseguimos confirmar onde era esse café e até quando existiu.

Ao ver uma reportagem televisiva sobre Zé Oliveira reparamos que um dos donos do licor Beirão e ligado ao Jornal "Trevim" da Lousã aparecia junto a alguns desenhos com o licor e havia ainda uma imagem com Tintin e Haddock mas no entanto não sabemos mais dados desse desenho.


Num site de um ilustrador português tem algumas imagens mas não conseguimos saber se ele é o autor por isso ainda não tínhamos publicado. 


Coincidências:

Existe uma expressão muito utilizada em português: "Tim Tim Por Tim Tim". (ciberdúvidas)

Povoação chamada Tintim em S. Pedro de Cadeira (Dic 1893).

Música:

"Hergè’s First Girlfriend" de José Dias [Live, 2018], "Sete Bolas De Cristal" de Mário Delgado [Filactera, 2002]. "Tintim casou" de Rita Guerra, GNR, Afonsinhos Do Condado, Ramon Galarza, ...

A maior parte das vezes é apenas uma referência à expressão "Tim Tim Por Tim Tim" (Bric À Brac, Celeste Rodrigues, Mísia) ou outras situações semelhantes. Por exemplo existem as canções "Não Sejas Tintim" dos Arte Jovem ou "Adeus, Tim Tim, Adeus" do Conjunto Pai E Filhos. Ou outras populares como "Tim Tim Dari Dari" ou "Tintim Dáridá" do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo, etc.

BD:

Graças a um site espanhol ficamos a saber que Tintin ou outras personagens aparecem nos álbuns "Astérix Entre os Belgas" e "Os 4 Ases e a vaca sagrada". E ainda há referências num dos livros de Émile Bravo.

Por vezes podem aparecer coisas curiosas em outras revistas portuguesas:

Volta Ao Mundo (2014) - Moulinsart

Juvebedê 86 (2021) - Expo Gulbenkian