domingo, 30 de outubro de 2011

Spielberg

Os 24 volumes (um inacabado) das aventuras de Tintin são o legado mais importante do belga Hergé, de seu nome verdadeiro Georges Prosper Remi. O seu impacto transcendeu o domínio das histórias aos quadradinhos, transformando o autor num verdadeiro símbolo nacional da Bélgica. Curiosamente, e apesar de falecido há quase 30 anos, Hergé não é estranho ao facto de, agora, Steven Spielberg surgir a realizar As Aventuras de Tintin. De facto, no começo dos anos 80, Hergé confessou-se admirador de Spielberg (que tinha acabado de lançar Os Salteadores da Arca Perdida, primeiro título da saga de Indiana Jones), considerando mesmo que, em cinema, ele seria o único a poder "fazer justiça" ao seu herói. Por essa altura, já Spielberg adquirira os direitos de adaptação de Tintin. No começo de 1983, estando em Londres para a rodagem de Indiana Jones e o Templo Perdido, Spielberg programou uma viagem à Bélgica para se conhecerem: o encontro nunca se realizou, já que Hergé veio a falecer no dia 3 de Março desse ano, contava 75 anos.

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Aliás, foi o próprio Steven Spielberg que admitiu a ligação entre o jovem repórter e o experiente arqueólogo, uma vez que o realizador se tornou fã da obra de Hergé nos anos 1980, quando preparava as aventuras de Indiana Jones. A adaptação da banda desenhada de Tintin para cinema é, por isso, um sonho antigo de Spielberg.

Nos anos 1980, o realizador ainda chegou a marcar um encontro com Hergé, mas o autor belga morreu sem que Spielberg tivesse conseguido garantir a compra dos direitos. Só em 2006, depois de longas negociações, é que a viúva de Hergé autorizou a adaptação. Todo este tempo de espera - durante o qual outras adaptações foram surgindo para cinema e televisão - serviu para um desenvolvimento da tecnologia cinematográfica, que permite agora a Steven Spielberg alegar que se mantém mais próximo e fiel da obra de Hergé.

(LUSA-2011)

Quase no fim da vida, Hergé encetou uma negociação duríssima com o realizador Steven Spielberg com vista a adaptação das histórias de Tintin ao cinema. Desse choque entre advogados europeus e norte-americanos resultou um livro prático de Direito de Autor que até ensina a fazer contratos. Afinal o Direito pode ser belo e prático. Ora, como é óbvio, os nossos livros de Direito que os pobres alunos "estudam" não têm nem Hergé, nem Spielberg, só têm o António e o Bento, às vezes a Maria também entra neste mundo sectário... É uma pena mas é verdade e por favor não culpem os professores mais velhos, há novos muito piores!

Manuel Lopes Rocha, 09/12/1996

https://arquivo.pt/wayback/20000608200940/http://www.ip.pt/top5webzine/asphalt_jungle/a_000001.html

O CAMINHO PARA EL DORADO de Eric «Bibo» Bergeron e Don Paul

NO JÁ habitual duelo entre a Disney e a DreamWorks no campo da animação (pelo menos entre nós pois os seus filmes aparecem geralmente em simultâneo na quadra do Natal), a primeira ganhou desta vez de forma clara. Veja-se o caso de Dinossauro: uma história clássica do estúdio, que se serviu dela para algumas inovações técnicas que deram nova vida a temas conhecidos. O Caminho para El Dorado é também uma história com a «marca» do estúdio de Spielberg, mas parece, formalmente, uma obra de rotina, isto é, que se limita a usar métodos já provados para contar uma história igual a muitas outras. Certamente que isto não é problema de maior (por vezes pode mesmo ser uma virtude) mas neste caso a comparação impõe-se desfavoravelmente para a DreamWorks.

De qualquer modo O Caminho para El Dorado é um filme de aventuras divertido, cheio de ritmo e acção, dirigido para um público juvenil e para outro, mais maduro, que conhece bem a obra e os interesses culturais e cinematográficos do mentor da DreamWorks. De facto, este filme de animação é, em certa medida, uma espécie de «balanço» desses interesses e obra, e revelador também dos métodos de produção e pesquisa de temas do estúdio.

Em época ainda próxima da comemoração da descoberta da América há cinco séculos, O Caminho para El Dorado retoma o tema da exploração do Novo Mundo, acompanhando a expedição de Hernan Cortez, e segue na pista do trabalho do estúdio rival com Pocahontas. Quanto ao argumento ele revela também uma série de marcas e estereótipos que caracterizam a DreamWorks, da mesma forma que os que se encontram em Dinossauro mostram os da Disney. Desde logo as marcas de um cinema que desde sempre marcou Spielberg: o de aventuras e de grande espectáculo à Cecil B. DeMille.

(...)

Mas a influência maior que passa por A Caminho de El Dorado é um velho projecto que Spielberg parece ter desistido de levar a cabo: a adaptação do álbum de Hergé Tintin e o Templo do Sol, que os estúdios belgas da Belvision levaram a cabo há cerca de duas décadas, no que foi um dos seus melhores trabalhos embora de forma um pouco rudimentar.

A influência encontra-se não só na recriação da selva atravessada pelos heróis, como em vários episódios facilmente identificáveis, em particular a descoberta da entrada para a cidade dourada, atrás de uma queda de água, e, no interior, o encontro com os aztecas (maias no caso de Tintin).

MANUEL CINTRA FERREIRA, Expresso, 08/12/2000

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