(Texto publicado no blogue «As Leituras do Pedro»)
Há 85 anos, um certo Tintin embarcava num comboio com destino ao País dos Sovietes.
Era a primeira de muitas viagens de um dos mais populares heróis que os quadradinhos já conheceram e cuja evocação continua já a seguir.
Repórter (de uma única reportagem) de profissão, aventureiro por vocação, ao serviço dos fracos e desprotegidos por opção, Tintin percorreu meio mundo. Países reais como a União Soviética onde iniciou o seu périplo, o Egipto, a sua Bélgica natal – era natural de Bruxelas, onde habitou na rua do Labrador n.º 26, antes de se mudar para o Castelo de Moulinsart – a Suíça, a Escócia, a China, os Estados Unidos ou o Perú ou estados imaginários (mas bem reconhecíveis) como a república (das bananas) sul-americana de San Theodoros ou as (rivais) balcãs da Bordúria e Sildávia. E, pelo meio, arranjou ainda tempo para visitar a Lua, numa aventura cujo realismo da antecipação à realidade, concretizada 20 anos depois por Neil Armnstrong, é notável.
Nessas viagens, narradas em 23 álbuns criados ao longo de meio século, enfrentou políticos corruptos e políticas opressivas, combateu raptores, falsificadores, traficantes de droga e de escravos e ditadores, deparou-se com o místico e o fantástico, tivessem eles origem nas antigas lendas incas ou nos (então actuais) OVNIs. Mas, acima de tudo, o que primeiramente o moveu foi a amizade, exposta de forma magistral, contra a opinião de todos, quando enfrentou (mais uma vez) a morte nas regiões geladas do Tibete em busca do amigo Tchang que todos - e a própria razão – acreditavam mortos.
O seu autor, Georges Rémi, aliás Hergé, criou-o nas páginas do Le Petit Vingtième e acompanhou-o sempre, no Le Soir ou na revista Tintin onde, após a guerra, encontrou a casa que melhor expressão deu à sua arte.
Agora, 85 anos depois da primeira aventura, 78 após a primeira tradução (a portuguesa, pela primeira vez a cores, na revista O Papagaio), 38 anos depois do último álbum, 31 passados sobre a morte do seu autor, passando ao lado de algumas polémicas bacoca e de acusações em busca de protagonismo, Tintin continua vivo, alvo de estudos e de objectos de colecção.
Nos próximos meses, a Casterman assinalará os 80 anos do sue primeiro álbum Tintin com uma edição especial de Os Charutos do Faraó, o livro La malédiction de Raspar Capac explorará mais uma vez o seu universo único e os países francófonos poderão coleccionar as miniaturas de Les Avions de Tintin. E, em 2015, chegará o segundo filme da trilogia assinada por Steven Spielberg e Peter Jackson, depois do primeiro ter feito (re)acender a chama do aventureiro.
Isto, enquanto se aguarda por 2052 quando, diz o director da Foundation Moulinsart que gere os direitos das criações de Hergé, poderá sair um novo álbum para garantir que a obra não cai no domínio público…
A não ser que antes o dinheiro fale mais alto e se encontrem justificações - como fez recentemente Uderzo... - para não respeitar a vontade do autor que sempre desejou que Tintin morresse com ele.
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