Papá em África é uma crítica à dominação racial e colonial que atravessa, ainda hoje, em pleno pós-apartheid, a sociedade sul-africana, mostrando como certas estruturas sobrevivem à destruição dos quadros legais que lhes deram origem. Mas não se enganem, não vão encontrar na obra de Anton, caminhos ou sonhos para uma “nação arco-íris”; nem é oferecida nenhuma reinvenção do lugar do negro na BD ou alguma espécie de “herói” negro da resistência que pudesse ser “voz” da população negra sul-africana, de que Anton, aliás, na realidade não faz parte nem tem a pretensão de ser.
O objectivo central de Papá em África é pontapear com escárnio e pontaria certeira a hipocrisia e a (má) consciência da África do Sul branca, num pós-apartheid lobotomizado. Anton crítica corrosivamente o imaginário colonialista e racista, como aquele oferecido por Hergé em Tintim no Congo (1931), álbum que Anton admite ser a sua Bíblia visual, onde volta sempre para sacar mais uma imagem ou uma sequência narrativa.
Papá em África é o 25º álbum da editora Mmmnnnrrrg, a editar este mês com as assinaturas de Anton Kannemeyer e Tomi Misturi.
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