sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Jornal Público


 



O jornal Público chegou a publicar, entre 2003 e 2005, a colecção de livros e ainda os  DVD com as aventuras de Tintim.

«A publicação integral das aventuras de Tintim é o mais recente elo de uma relação estreita entre o PÚBLICO e a banda desenhada.» (Carlos Pessoa, Público, 12/09/2003)

Mostramos imagens do site e imagens dos anúncios de imprensa na sua versão em inglês porque foram encontrados em portfolio internaionais.





Tintim na sala de aula

Propostas, ideias e sugestões para introduzir Tintim nos programas escolares

Quantos antílopes são mortos involuntariamente em “Tintim no Congo”? A resposta precisa é menos importante do que saber que consequências pode ter para um dado ecossistema a eliminação maciça e descontrolada de espécies que pertençam naturalmente a esse mesmo habitat. Deve dizer-se, em abono da verdade, que o herói de Hergé das primeiras aventuras caça pelo prazer do “gag” e não por qualquer outra motivação menos nobre. É também de elementar justiça lembrar que nesse tempo – estamos a falar do início dos anos 30 – as preocupações ecológicas não se inscreviam de todo nos programas sociais ou políticos do planeta… Ainda assim, o editor escandinavo de Tintim não deixará passar em claro estas “perversões” e Hergé lá acabará por salvar o rinoceronte que o herói mata com dinamite na mesma aventura, alterando essa sequência da aventura.

Ecologia, Biologia e Ciências da Terra

Hergé não merece, apesar de tudo, que sejamos muito severos com ele. De facto, o autor manifesta uma certa preocupação de veracidade e rigor ao conferir a certas espécies os seus comportamentos habituais – é o caso das piranhas em “A Orelha Quebrada”, os bisontes em fuga em “Tintim na América”, os peixes-voadores em “Carvão no Porão”, o gorila de “A Ilha Misteriosa”, o cisne agressivo de “O Caso Girassol” ou o lama temperamental de “O Templo do Sol”.

Por outro lado, Tintim faz-nos descobrir, de aventura em aventura, uma dimensão real ou mítica da natureza. Os verdejantes vales da Escócia (“A Ilha Negra”) e as dunas do deserto (“Os Charutos do Faraó”) proporcionam outras tantas abordagens da fauna e flora de todo o mundo (os rododendros nos contrafortes do Tibete na aventura “Tintim no Tibete”, por exemplo), complementada com referências a espécies que hoje estão ameaçadas de extinção (é o caso dos crocodilos em “O templo do Sol”). Finalmente, as áreas disciplinares de Biologia e Geologia, assim como Ciências da Terra e da Vida encontrarão bons materiais de apoio no díptico “O Segredo do Licorne”-“O Tesouro de Rackham o Terrível” (a descoberta dos mundos submarinos e das ricas formas de vida que ali existem), em “A Estrela Misteriosa” (os sismos), em “Voo 714 para Sydney” (vulcões e ilhas vulcânicas) e em “O Templo do Sol” (eclipses), entre outros álbuns.

Geografia e História

Quem diz aventura, diz viagem: Tintim é um repórter que corre mundo, mais como viajante do que como jornalista. Por isso, muitos dos seus álbuns são outras tantas oportunidades de conhecer realidades sociais, geográficas e culturais muito distintas e todas elas bem diferentes do que são no presente.

A Escócia de “A Ilha Negra” é uma autêntica balada sobre os Highlands, onde nada parece ter mudado depois de Tintim ter passado por lá.

Em “O Templo do Sol”, o herói de Hergé mergulha no sonho inca e no passado glorioso de uma civilização que esconde mal a miséria actual do povo peruano.

“Tintim no Congo” aproxima os leitores de uma realidade colonial, que já prenunciava o actual desastre de um continente à deriva.

Em “Tintim na América” é o crescimento de uma grande nação, com as suas contradições (criminalidade e lei seca) e movimentações sociais (expansão para Oeste, a importância do petróleo), a que nos é dado assistir.

Tintim vai até aos Balcãs (“O Ceptro de Ottokar”), percorrendo o imaginário reino da Sildávia que situa na ex-Jugoslávia, epicentro de um conflito brutal há menos de uma década.

A cultura e a civilização egípcias encontram um bom pretexto de abordagem em “Os Charutos do Faraó”.

Mais longe, o herói viaja pela China e confronta-se com a presença ocidental em Xangai e o ocupante japonês da Manchúria em “O Lótus Azul”.

Anos mais tarde, Tintim regressa ao Extremo-Oriente (“Tintim no Tibete”) para procurar o seu amigo Tchang, que conhecera na aventura precedente, revelando ao mundo as subtilezas de uma cultura que, paradoxalmente, só chegou ao Ocidente depois da invasão do país pela República Popular da China.

Política e Direitos Humanos

Hergé foi acusado em certos períodos da sua vida e em algumas aventuras – nem sempre de forma justa e bem fundamentada – de racismo e conservadorismo político. O autor foi sensível a algumas dessas acusações, o que se traduziu na reformulação ou supressão de sequências (por vezes pranchas inteiras) de algumas das aventuras em edições posteriores, libertadas do que tinham de mais datado e conjuntural. E o seu álbum mais controverso – “Tintim no País dos Sovietes”, que é também a primeira aventura do herói – nunca mais viria a ser editado nem submetido a qualquer reformulação, ao contrário do que sucedeu com todas as aventuras anteriores à Segunda Guerra Mundial.

Para além destes aspectos, é pertinente referir que Hergé nunca virou as costas aos problemas sociais do seu tempo. Assim, o conflito do Médio Oriente está presente em “Tintim no País do Ouro Negro”; a escravatura e o tráfico humano atravessam “Carvão no Porão”; a guerra-fria e o confronto político ideológico entre superpotências são os temas centrais de “O Caso Girassol”; “Tintim no Congo” é o espelho das políticas coloniais e o negativo do processo de independência dos povos africanos na segunda metade do século XX; a condição da nação tibetana tem uma oportunidade de abordagem a partir de “Tintim no Tibete”; por fim, Hergé aborda numa óptica não colonialista a condição dos índios alcoolizados e ridicularizados pelos turistas em “Tintim e os Pícaros”, que tem como pano de fundo a situação explosiva na América Latina (guerrilha, combate ao narcotráfico, corrupção generalizada, etc.). 




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