quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Fragmentos da contemporaneidade

À semelhança daquilo que acontece com muitas outras personagens de Hergé, há pistas, das mais óbvias às mais obscuras, a articular estas figuras portuguesas com fragmentos da contemporaneidade que assistiu à sua criação.

Como exemplo do tipo de interrogação que desencadeiam, relembre-se uma hipótese levantada por Frederico Duarte de Carvalho na conferência «O Futuro de Tintin» (1 out. 2021), primeira das várias conferências paralelas à exposição, dada em conjunto com Nick Rodwell. 

O jornalista questionou, em jeito assumidamente especulativo, se a circunstância de Tintin se mascarar de «Álvaro», fazendo-se passar por sobrinho de Oliveira da Figueira, em Tintin no País do Ouro Negro (1949-1950), não teria ecos da detenção de Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro em abril de 1949, uma notícia que terá sido badalada em periódicos internacionais.

Esta referência do jornalista a Cunhal seria depois relembrada num curioso artigo do jornal Tal & Qual (no qual Frederico Duarte de Carvalho colabora), assinado ficticiamente pelo próprio Oliveira da Figueira («Quando Tintin foi Álvaro», Tal & Qual, 13 out. 2021, p. 15).

Este e outros aspetos já tinham sido abordados por Frederico Duarte de Carvalho num breve artigo que nos chega através de um post de 2015 do blogue O Tintinófilo – Tintin em Portugal. No final desse pequeno texto, é recordado também o facto de «Álvaro», na mesma aventura de Tintin, se ter infiltrado nos aposentos de Müller, um vilão com o mesmo apelido de Adolfo Simões Müller, o já aqui referido diretor da revista portuguesa O Papagaio, que estreou As Aventuras de Tintin em Portugal (terá sido simples coincidência?) .

Daniel Peres, 2023

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