sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Tintin responde

Nos anos '60 e '70 publicou-se em Portugal a Revista Tintin. "A revista dos jovens dos 7 aos 77 anos", juntava algumas histórias de BD de vários autores, à razão de duas páginas por semana para cada história.

Este é o número 19, de 4 de Outubro de 1969, e custava na altura 5$00. Está já devidamente assassinado a golpes de caneta, naturalmente. Incluía os seguintes: Strapontam ("Contra Aranhex"), Astérix ("O Combate dos Chefes"), Taka Takata, O Incrível Désiré, Achille Talon, Cubitus, Lucky Luke ("Pedro Cucaracha e os Pés-Azuis"), Michel Vaillant (Rallye em Portugal") e (claro) "Tintim no Tibet".

Para além das histórias (e isto é que interessa) havia também passatempos e uma parte de correio do leitor intitulada "Tu escreves... Tintin responde."

O que realmente me cativa aqui é a inocência transbordante. Talvez ainda fruto do lápis-azul, as cartas parecem todas escritas por miúdos de calções amarelos e joelhos esfolados. Por exemplo, o trecho transcrito agradece o osso (!!) que o leitor enviou ao Milou... numa carta mais adiante, responde-se a um Zeca e termina-se assim: "como são vários os Zecas que me têm escrito ultimamente, referencio que neste caso, trata-se do morador da Rua Visconde de Santarém" - hoje em dia já ninguém se pode chamar Zeca e dizer onde mora; e há quarenta anos atrás já havia o problema das traduções, com um autodenominado "Tintinzão de 30 anos" (mais parece nick do MIRC) a queixar-se da diferença entre o título em Português da história do Lucky Luke e o título original "Alerte aux Pieds bleus".

A personagem Tintim responde na primeira pessoa, o que até funciona bem. Lembro-me que em miúdo acreditava que era realmente o Tintim a responder às coisas, e que interpretava o desenho mais como uma fotografia do que outra coisa ("que giro... o cão lambe cartas").

A estreia de uma nova BD na revista - "Os Franval - Caçadores sem armas" merecia também destaque. Os primeiros esboços de uma consciência ecológica surgiam com a história de uma família que luta em África para acabar com a caça. Pelo meio há o cenário do Pós-II Guerra Mundial e os necessários Alemães como maus-da-fita, nesta fase da história ainda escondidos.

Mas isto levanta-me uma questão: passam a história toda a mandar vir com os Alemães, com o mito da raça ariana, etc... mas depois as crianças da família são todas loirinhas de olhos azuis.

E já agora... tem um belo chapéu Sr. Franval. Essa pele de leopardo realça-lhe os olhos e os seus ideais ecológicos.

Publicado por Jota P\ Extenso, 17/10/2007

Sempre tive uma relação dificil com o Tintim. O homem sempre me pareceu digno de embirração. Aquele ar de gajo que é incapaz de pedir sequer um copo-de-água ao balcão, e que fica com os créditos todos por resolver "mistérios" de forma invariavelmente fortuita. Pelo meio costuma haver uma situação potencialmente mortal para ele, em que é salvo por Milou, o cão que toda a gente acha que é uma cadela, e se calhar têm razão.

Ok, talvez as coisas não sejam exactamente assim. Mas eu disse que embirrava com o Tintim.

No entanto, se o vir na rua, até lhe dou uma palmadinha nas costas.

Publicado por Jota P\ Extenso, 17/10/2007


Lead da rubrica "Quadrinhos" da revista "Tintin" (coordenação de Vasco Granja)


Numa outra rubrica da sua responsabilidade “Tu escreves... Tintin responde” onde VG respondia à correspondência juvenil da revista, recebeu um dia uma carta de um jovem leitor onde o mesmo se interrogava se era mesmo o Tintin que respondia aos leitores. 

Um rápido esclarecimento foi publicado uns dias depois e contava assim: “O meu nome é realmente Tintin. Não se trata de um pseudónimo”. 

Para memória futura, fica assim esclarecida a origem de mais um dos muitos pseudónimos que VG foi adquirindo ao longo do seu percurso de vida, o de “senhor Tintin”.


Lead da rubrica "Museu da Banda Desenhada" da responsabilidade de Vasco Granja na revista " Tintin".

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