quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Endiabrado

Revista Imprensa

«Tu tens oito, dez, doze anos...

Não perdes um livro do Harry Potter e já estás à espera do próximo.

Gostas de heróis da tua idade, gente mexida, com ideias, atrevida, que arrisca e quer mudar o mundo.

Achas que consegues meter nesse grupo de amigos, que admiras, o Jaime?

Ele tem a tua idade mais ano, menos ano, é português e tem tudo para ser mais um dos teus heróis. E usa uma arma poderosa, tão poderosa que todos já a provaram um dia, para tirar uma dor, fazer esquecer um problema, colar uma cadeira, até remendar um buraco: uma pastilha elástica.

Isso mesmo! O Jaime quer ser o teu herói com uma pastilha elástica. Conseguirá?

Tu é que decides se ele merece ser, para ti, o que foram para mim muitos que já não chegaste a conhecer, ou que hás-de ouvir falar qualquer dia: a Mafaldinha, O Astérix e o Obélix, e especialmente o Tintin. O Tintim era endiabrado. Só que demorou muito tempo a gostar de pastilha elástica.»

Marcelo Rebelo de Sousa

2002 -  Apresentação do novo livro de Manuel Arouca

Segunda aventura de Jaime, o Pastilha Elástica, uma vez mais contra o terrível Cabeça de Abóbora e a sua trupe de animais ao serviço do mal. Entre castelos assombrados, aviões da Segunda Guerra Mundial, grutas profundas de vulcão, terras maravilhosas onde todos são felizes ou cenários gelados da Antártida, desenrola-se uma aventura durante a qual a sobrevivência de grandes áreas do planeta Terra é posta em risco, incluindo Baía, a terra do nosso herói e da sua família


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tintin No Congo




O problema deste “Tintin no Congo”, de 1946, é que NÃO É um produto da sua época, mas antes um falso produto da sua época, e mesmo independentemente disto é uma obra medíocre. O verdadeiro produto da sua época e da idade do seu autor é a primeira versão, de 1929, obra absolutamente deliciosa, quase obra prima. A versão de 1946 (que posteriormente também teve correcções – pelo menos uma) é um erro crasso. Insistir na reedição desta e não na outra é como alguém que cresceu fisicamente continuar a comportar-se e a falar como criança.

Manuel Caldas, 16/02/2012 08:51

(...) Infelizmente, se bem que entenda que poderá haver da parte de quem colocou a questão da primeira forma poder estar a ter outros interesses menos elevados, e na verdade os tribunais não poderem estar a legislar sobre a História de uma determinada forma, a verdade é que "Tintin no Congo" não é uma obra totalmente desprovida de questões éticas muito problemáticas. Não poderás negar que É, sem sombra de dúvida, um produto do seu tempo, significando com isso um instrumento da propaganda própria de uma Bélgica colonialista e que cria profundamente na missão civilizacional do Cristianismo numa suposta "selvagem" África. Além do mais, o Congo nem era colónia belga, mas pessoal do rei! E todos os tintinófilos sabem que a famosa vinheta em que Tintin ensinava aos congoleses a "sua" capital, Bruxelas, na versão portuguesa (igualmente num período áureo e reforçado do nosso próprio colonialismo), passava a ser sobre a capital "Lisboa". Só na segunda versão do álbum é que passou a ser uma aula de matemática. Mas muitos dos outros aspectos que continuavam a mostrar a "superioridade" do bonzinho e branco belga Tintin (há maus brancos na história, mas vejam-se de perto) mantêm-se e isso é insustentável nos nossos dias. Claro que não gostaria de ver nem a obra "truncada" nem "censurada" por decisão judicial, pois isso não é forma de educar sobre a História. Mas cabe-nos a nós, leitores de segundo grau, ter algum cuidado em querer dizer que a obra é totalmente inocente do que a acusam.

Toda a História está cheia de obras, umas menores outras maiores, que têm passagens que se tornam problemáticas em termos éticos e políticos numa outra época posterior. Isso é um dos aspectos que nos torna sempre possivelmente "um pouco melhor" que o passado (se bem que todos teremos sempre os erros das nossas próprias épocas). Não é razão para negar a História ou fazer desaparecer esses textos, mas é sim para os ler criticamente e inseri-los no seu tempo, percebendo em que eram moral e eticamente fortes e onde fracos. "Tintin no Congo", tal como outros álbuns do Hergé, têm os seus aspectos fracos.

Pedro Moura, 12/02/2012 20:17

(...)

Pois bem, enquanto símbolo, precisamente, deve fazer parte dos discursos de uma nação pensarem profundamente sobre o que é que eles representaram num determinado momento e o que eles podem representar no futuro. "Branquear" a história é sempre perigoso, sem dúvida, mas querer apagar a utilização de Tintin enquanto instrumento de um determinado tipo de propaganda ideológica é exactamente isso. E pouco importa ao próprio Hergé ou aos seus paladinos dizerem que ele não fazia trabalho ideológico, pois não há pior ideologia do que aquela que não se vê a si mesma...

Não nos podemos esquecer que Tintin, claro, é uma personagem fictícia e, mais, de vários livros, alguns dos quais foram sendo refeitos em vários aspectos. Mas apontar ao "Tintin no Tibete" ou ao "Carvão no Porão" e querer que os valores aí expressos passem para todos os outros livros, ocultando a relativa ignorância que se apresenta em "O Templo do Sol", o posicionamento político conservador liberal em "Entre os Pícaros" ou os mais antigos, é um exercício de pura preguiça mental.

Atenção, nós não estamos isentos deste exercício enquanto portugueses. Sempre que oiço alguém fazer rasgados elogios dos "Descobrimentos" ou de como "abrimos mundos ao mundo", sinto um arrepio na espinha por essas mesmas pessoas se esquecerem do que isso significou enquanto história do esclavagismo, e dos crimes que isso implicou. Aliás, em muitos dos comentários em torno da acção deste cidadão do Congo, um pouco pela internet, a cabeça do racismo aparece de imediato, usualmente pintalgada de uma estúpida ignorância da história colonial, que criou as bases precisas pela miséria em que muitos desses países hoje vivem, e que servem somente para que os "brancos" não compreendam porque é que os africanos não aproveitaram a nossa "missão civilizadora". É nestas atitudes que se apanham nas curvas os ignorantes perigosos.

Ora, "atacar" Tintin não é assim tão displicente como isso. Há matéria suficiente para o estudar, no contexto da sua época, e demonstrar como era de facto um trabalho conservador em varias dimensões. O contraste tem de ser feito com outros trabalhos gráficos do mesmo espaço europeu e que revelavam princípios bem mais atentos ao sofrimento dos outros, à condição de subalternos e á necessidade de combater pela dignidade humana universal. Apelar ao facto de que o "tintin" era simplesmente uma revista infantil, logo, que não valia a pena fazer um trabalho mais sério, é areia para os olhos. Não quer isto dizer que tenhamos agora que queimar livros em praça pública, mas pelo menos encetar estas discussões e não proclamar de forma final que "Tintin não é racista" (ou que "Tintin é racista"). Mais, o facto de um autor se desculpar mais tarde não dirime as responsabilidades da obra, que fica. A banda desenhada está cheia de representações negativas do Outro (veja-se o livro de Frederik Strömberg, "Black Images in the Comics" para apanhar de tudo, de McCay a Eisner, de Tezuka a outros... o problema é que a representação redutora de África continua hoje a ser feita na banda desenhada mais comercial) e é preciso apontar o dedo.

(,,,)

Pedro Moura14/02/2012 08:36

(comentários retirados do blog Leituras do pedro)

sábado, 8 de junho de 2013

Grande leilão ligado ao universo de Tintin este sábado

Cerca de 500 lotes de objetos ligados ao universo de Tintin, incluindo uma prancha de "A Estrela Misteriosa" e esboços raros, são leiloados no sábado, pela casa Artcurial, em Paris, foi hoje divulgado.

"Esta pode ser a nossa última venda de material de Hergé, devido à falta de mercadoria. A 'gama alta' é cada vez mais difícil de encontrar", disse à agência France Presse Eric Leroy da Artcurial, que organiza o 15.º leilão dedicado a Tintin em 20 anos.

"Existe uma grande paixão por Hergé, o artista mais caro da banda desenhada, a quem chamamos o Van Gogh da BD", disse ainda.

Em junho de 2012, o recorde do mundo para uma obra de Hergé foi obtido com uma capa em guache de "Tintin na América", vendida por 1,3 milhões de euros.~

Álbuns e esculturas integram o leilão, que propõe um esboço em grafite para "Tintin no Tibete" (1959), o álbum preferido de Hergé e o mais procurado, avaliado em 140.000 euros.

Um outro esboço, de "Perdidos no Mar" (1958), é proposto pelo mesmo valor, enquanto um terceiro de "As Joias de Castafiore" (1963) está avaliado em 50.000 euros.

A prancha original em tinta-da-china de 1942 de "A Estrela Misteriosa" tem o preço estimado de 160.000 euros.

A obra de Hergé "atravessa o século XX, de 1929 a 1983", lembrou o responsável da Artcurial. "Nascemos com imagens de Tintin, morremos com imagens de Tintin!", comentou Eric Leroy, ao assegurar que a personagem conta com um "mercado de colecionadores ávidos".

Lusa, publicado por Ricardo Simões Ferreira

in Diário de Notícias

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Calendário Timtim

A tabacaria-papelaria de Lisboa editou um calendário de 1977 com as figuras do Tintin e Milou.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pintadinho ou Tournesol?

No último fim-de-semana, ao ler no suplemento "Actual" do Expresso as comemorações do centenário do nascimento do Hergé (para quem não sabe, o autor do Tim-Tim), voltei umas décadas atrás à descoberta da banda desenhada que fiz nos anos 50 (teria sido em 1952?) nas páginas do "Cavaleiro Andante", uma revista que todas as semanas nos dava em episódios várias histórias de heróis que nos faziam esperar continuação na semana seguinte. O "Templo do Sol" do Tim-Tim foi uma das primeiras, a que se seguiram "Da Terra à Lua" e outras tantas.

Os jornais dão-nos agora conta da ligação entre Hergé e Adolfo Simões Muller que viria a ser o director do "Cavaleiro Andante" e que para esta revista herdou os direitos que detinha da anterior revista "O Papagaio" onde Tim-Tim foi publicado pela primeira vez em Portugal.

Mas o mais curioso é que para mim, só muitos anos depois, quando conheci os álbuns do TinTim, a Milou deixou de ser a Rom-Rom, o Capitão Haddock deixou de ser o Capitão Rosa e o Professor Tournesol deixou de ser o Professor Pintadinho. Porque todos os nomes de todos os personagens tinham uma versão portuguesa nesses tempos do "Cavaleiro Andante".

JPF, 22/05/2007

Reviver heróis da juventude

A Pública, distribuída aos domingos com o Público, fez-me no último domingo recuar uns bons anos (diria melhor umas décadas) ao recordar os livros de Emílio Salgari. E de repente vieram-me à memória as aventuras de Sandokan e de outros dos heróis cujas histórias se liam na altura: Texas Jack, Buffalo Bill, o Capitão Morgan. E também as incontornáveis revistas semanais do Cavaleiro Andante e do Mundo de Aventuras onde conheci o Tintin, o Blake e Mortimer e o Flash Gordon entre tantos outros. Cujas histórias se iam desenvolvendo todas as semanas pois cada página da revista era dedicada a uma história que continuava na semana seguinte...

JPF, 26/04/2007

O blog terminaria em Novembro de 2007 após o falecimento de JPF.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Cinema e BD - Na sombra de Hergé

O blogue BDBD publica um texto interessante referente às adaptações da obra de Hergé ao cinema.


Só de passagem, lembramos aqui, essa aparatosa e repulsiva obra cinematográfica spielberguiana (obrigado, Manuel Caldas, por teres compreendido a nossa opinião nada frouxa) que foi o filme "Tintin e o Segredo do Licorne". Um desastre, uma traição!...
Muita gente sabe, e também muita gente não sabe, que há outros três filmes (longas metragens) feitos anteriormente.
Em Cinema de Animação (incorrectamente insultado como "Desenhos Animados"), "Tintin e o Lago dos Tubarões", e com o actor belga Jean-Pierre Talbot, digno, fisionómicamente, após alta pesquisa, com parecenças que não traíssem o aspecto de "Tintin". 
Com este "actor" belga aconteceram apenas duas fitas (uma terceira, ao que consta, ficou apenas idealizada...): "Tintin e o Mistério do Tosão de Oiro" e "Tintin e as Laranjas Azuis".
Agora, vamos lá por partes, sem vaidades intelectualóides:

TINTIN E O LAGO DOS TUBARÕES, foi realizado em 1972, na versão de Cinema de Animação, por Raymond Leblanc e com argumento de Michel Régnier, ou seja, o famoso argumentista Greg (amigo pessoal de Hergé).
Em cima do acontecimento (mesmo assim, o filme que estreou em Portugal no ex-Cinema Condes de Lisboa, era fraco...), esta fita foi directamente adaptada para álbum de Banda Desenhada. E foi publicada, entre nós, sob o denodado empenho de José Luís Fonseca (a propósito, que é feito deste "editor" consciente?!).
O álbum esgotou e, quando a Verbo o quis reeditar, tal foi imbecilmente proibido pelos "patrões hergeanos" da Bélgica!...
Entretanto, ainda nos anos 60 (dos nossos passados recentes milénio e século), surgiram os dois únicos filmes com actores de carne-e-osso.
O problema maior foi o "descobrir" um "Tintin"!... Foram bem aturadas as devidas buscas, até que, numa praia de Ostende (Bélgica), ele lá estava! Tratava-se do jovem desportista Jean-Pierre Talbot, singularmente aproximando-se de como idealizaríamos um "Tintin" de carne-e-osso! Foi, correcto, o actor certo (mesmo que algumas mentes frouxas tal o contestem) para ser um "TINTIN"!
Tais filmes foram: "Tintin et le Mystère de la Toison d'Or" ("Tintin e o Mistério do Tosão de Oiro" - com cenas rodadas na Grécia e na Turquia) e "Tintin et le Mystère de les Oranges Bleues" ("Tintin e as Laranjas Azuis" - rodado parcialmente em Espanha)...
Antes de prosseguirmos, fazemos notar que Hergé não foi tido e quase não achado nos argumentos destes três filmes. Apenas autorizou que usassem os seus personagens. Bravo, Hergé!...

Mas... e Jean-Pierre Talbot?
Pois, nasceu na belga Spa a 12 de Agosto de 1943. Foi na praia belga de Ostende (Bélgica), quando era monitor desportivo, que ele foi "descoberto" para ser... "Tintin". Apresentado a Hergé, este aceitou-o de imediato, pois era fisicamente, um "Tintin" perfeito, um Tintin ado-adulto, não mais uma criança de temerárias atitudes...
Nestes dois filmes, apenas dois actores foram os mesmos: Jean-Pierre Talbolt (Tintin) e Max  Eloy (o mordomo Nestor) e, em ambos, o argumentista  fundamental foi André Barret.
Em 1961, foi realizado "TINTIN ET LE MYSTÈRE DE LA TOISON D'OR" (Tintin e o Tosão de Oiro) por Jean-Jacques Vierne, donde se destacam as interpretações do grande actor clássico francês Georges Wilson (1921-2010)  como "Comandante Haddock" e ainda, Charles Vanel, em participação especial, como "Padre (Ortodoxo) Alexandre" e Georges Loriot como "Professor Tournesol".

Em 1964, Philippe Condroyer, realizou "TINTIN ET LE MYSTÈRE DES ORANGES BLEUES" (Tintin  e o Mistério das Laranjas Azuis)... que quase deu num fiasco. O argumento não pegou. O talento do actor Jean Bouise (1929-1989), como "Comandante Haddock", foi aqui muito apalhaçado... No primeiro filme "Tournesol" é vivido pelo actor Georges Loriot e no segundo pelo actor espanhol Félix Fernandez, onde aparece também a tremenda Bianca Castafiore, interpretada por Jenny Orléans.

Estes três filmes, apesar da sua discutível qualidade, não deixam ser importantes e fundamentais no coleccionismo dos verdadeiros tintinófilos... Ora, pois!
De qualquer modo, para tristeza nossa, tais respectivos DVD's só se encontram em França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça... pois, entre nós, nem a "francesa" FNAC os consegue importar!... Uma lástima de todo incompreensível!
Quanto aos respectivos álbuns-BD, directamente adaptados dos filmes, mesmo nos mercados francófonos, são caras raridades....
  
Recordamos, em "fim-de-festa", que... "O Templo do Sol", na Bélgica, foi triunfalmente adaptado a opereta (e gravado, mas num esgotadíssimo DVD) e, há poucos anos, também foi levado ao Teatro (não sabemos se há alguma gravação em DVD de tal espectáculo), na Suíça, a narrativa tintinesca "As Jóias da Castafiore".