segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Mario de Carvalho

ANTRE TEJO E ODIANA

De origem alentejana, Mário Costa Martins de Carvalho nasceu em Lisboa, na maternidade Alfredo da Costa em Setembro de 1944. Após uma breve passagem por Setúbal, a família instalou-se definitivamente na capital onde o seu pai foi um agente comercial bem-sucedido.

As frequentes deslocações a Alvalade onde tinha família, na própria vila e numa herdade próxima, o Monte da Vinha, deixaram-lhe a viva memória desse Alentejo da infância. E, bem assim, das situações de miséria e humilhação presenciadas nos tempos em que os camponeses trabalhavam de Sol a Sol e as forças policiais procediam como num país ocupado.

A avó um dia mostrou-lhe um poço em que estiveram escondidos dentro de um saco de lona os livros de seu pai, na ocasião em que ele foi preso pela polícia política, ainda solteiro. Nessa altura, contaram-lhe mais tarde, seu pai e os companheiros de prisão foram brutalmente espancados.

COMPANHEIROS TOM E JIM

Aprendeu a ler antes dos cinco anos, ensinado pela mãe, com a ajuda da «Cartilha Maternal» de João de Deus. Descobriu, nesses tempos, colecções d’ «O Mosquito», do «Capitão Morgan», e «Texas Jack» deixadas pelos familiares que já tinham crescido. Ainda não haviam chegado os tempos de «o Cavaleiro Andante» e «O Mundo de Aventuras». Mas Tintim anunciava-se com um comparsa chamado Capitão Rosa, um cão chamado Rom-rom e um amigo distraído, conhecido por Professor Pintadinho de Branco. Foi durante umas férias em Alvalade que o pai lhe trouxe um exemplar de «As Aventuras de Tom Sawyer» da Biblioteca dos Rapazes. Seguir-se-iam «A Ilha do Tesouro» de Stevenson e «A Ilha de Coral» de Ballantyne.

RUA DAS ENFERMEIRAS DA GRANDE GUERRA

Morou, durante anos, à Penha de França, na Rua das Enfermeiras da Grande Guerra, larga e íngreme, que há-de aparecer mais tarde nos seus textos, de forma mais ou menos transfigurada. Lisboa, brilhante e plurifaceta, será, a par do Alentejo, uma presença deslumbrada nas suas obras. Passou por um estranho colégio particular em que as professoras gritavam e davam reguadas. Aos sábados aparecia um capitão doutrinador, regurgitando Deus, Pátria e Família. O Externato «Martim de Freitas» era só para rapazes, mas as proprietárias transgrediam e admitiam raparigas que escondiam num quarto sempre que havia suspeitas de fiscalização ou denúncia.

CAVALGADA HERÓICA, RUMO AO ROYAL

MdC passou mais tarde ao liceu de Gil Vicente, o que representou um alargamento de horizontes abrangendo a Graça, a Senhora do Monte, Santa Clara, Alfama, Mouraria. As reminiscências dessas correrias até ao Castelo de São Jorge emergem em «Casos do Beco das Sardinheiras» e «O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana».

Na Rua da Graça, o velho e elegantíssimo cinema Royal apresentava sessões duplas, não raro com um complemento de suculentos westerns em magnífico Technicolor. Ao invés dos outros cinemas, as sessões do Royal começavam às 15, 15H, com um quarto de hora de atraso para permitir aos rapazes do liceu, depois de uma correria ofegante, chegar a tempo à sala escura. Antes, numa dessas tardes, um padre levemente enfadado dava umas aulas sonolentas de religião e moral que tiveram a vantagem de trazer ao conhecimento as histórias da Bíblia.

Por essa altura, a frequentação dos cinemas de bairro, Royal, Lys, Rex, Imperial, tinha como limite, para além da zona Almirante Reis/Graça as mesadas e as restrições censórias. A revista de cinema «Plateia» rebrilhava de estrelas e starlettes, laboriosamente maquilhadas, em cores de verniz carregado. Um filme como «Escrito no Vento» de Douglas Sirk era para maiores de 18 anos; «Shane», de George Stevens, era para maiores de doze usava-se toda a espécie de batotas e subterfúgios para iludir a vigilância à entrada.

O FASCISMO PEQUENOTE

O regime não se manifestava apenas na repressão das actividades políticas e dos direitos sociais. Existia um fascismo do quotidiano baseado num exercício arrogante de pequenos poderes, nas proibições arbitrárias, na humilhação permanente do outro. A «licença de isqueiro» e a proibição da «mão na mão» são apenas aspectos caricatos de um quotidiano opressivo e cinzento. Em 1959 MdC chegou a ser preso por legionários num calabouço do Castelo de S. Jorge por falar inglês com uma amiga inglesa sem ser «intrépete” (sic) oficial. Outros colegas do liceu passavam humilhações semelhantes por pecadilhos infantis. Era o tempo aviltado das denúncias, da bufaria, da corrupção formigueira, de um Portugal rasteirinho e torpe. Nos próprios liceus o autoritarismo imperava. Nomeava-se para chefes de turma os mais graduados da mocidade portuguesa, uma organização juvenil fardada, militarizada que praticava a ordem unida da tropa, exibia a saudação fascista de braço estendido, e impunha uma bizarra farda de camisa verde e calção amarelo cintado em fecho de lata com o «S» de Salazar. Tudo o que não era proibido era obrigatório. MdC escapou à ordem unida inscrevendo-se na secção de xadrez e passou a ser um entusiasta de Botwinik, Smyslov e razoável praticante da abertura Inglesa e da defesa Karo-Kahn. Não por acaso uma das personagens de «Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina» será jogador de xadrez.

(...)

Deu-se ao trabalho de escrever este texto, muito resumido e na terceira pessoa para criar maior distância e para que conste, prometendo entrar no pormenor quando tiver ocasião.

https://arquivo.pt/wayback/20180407234305/http://www.mariodecarvalho.com/vida

domingo, 28 de outubro de 2018

Tempo de Janela

Tintim e o VIH/SIDA

Sim, porque não? Não é preciso sequer gostar do assunto ou conhecer as suas peripécias para os reconhecer, são ícones da nossa sociedade.

Quem é que nunca ouviu falar do Tintim? Ou da SIDA?

As semelhanças não ficam por ai, tal como a SIDA, também o Tintim pode ser observado e comentado sobre várias perspectivas. Politicas, sociais e claro, artísticas. Para analisarmos a obra de Hergé também temos de compreender o seu autor e com isso corremos o risco de nos afastarmos do que realmente interessa, o prazer de ler as historias do franzino Jornalista Belga.

Para quem gosta, o que interessa se nunca o vimos numa redacção de jornal ou que realmente só exerça essa função nas suas 3 primeiras aventuras? Ou que nem este número seria consensual entre os puristas da Obra? Qual é a relevância prática de quem desfruta de uma aventura de Tintim e Milu em tentar ligar as raras mas peculiares figuras femininas das histórias com a personalidade conturbada de Georges Remi, por exemplo? Apenas pelo prazer de as ler, para mim é perfeitamente perdoável certos preconceitos e cliches nas historias iniciais, reflexos da era em que foram criados, que o próprio Autor reconhecia e dos quais se tentou redimir no decurso da restante obra. Mas isso é para mim. Hergé foi preso várias vezes depois da II Guerra Mundial acusado de colaborar com o invasor Nazi. Hoje em dia continua a ser alvo de processos judiciais o tomo "Tintim no Congo/em África" acusado de racismo. A verdade é que realmente o artista trabalhou como tal para um jornal controlado pelo Ocupante e Tintim no Congo descreve os Africanos como o Mundo Ocidental os via nos anos 30 do sec XX, os bons selvagens, simples, honestos e atrasados. Agora podemos explorar-los à mesma, não podemos é caricaturá-los.

Para ironia desta historia toda de preconceitos, "Tintim no Pais dos Sovietes" era acusado pelos Comunistas e uma certa esquerda mais radical de ser um reles panfleto anti-Soviético. O livro foi impedido de ser traduzido e publicado em Portugal durante mais de 10 anos depois do 25 de Abril. Depois caiu o muro...

Era verdade, sempre foi, Hergé nunca conheceu a URSS e limitou-se a acreditar na propaganda anti-Comunista da época. A verdade, sabemos agora, era que a imaginação dele apenas beliscava a dura realidade de uma violentíssima ditadura.

Este é o exemplo de uma maneira de abordar "As Aventuras de Tintim e Milu" por Hergé. Distantes, clínicos, analisando factos e contradições, condenações e atenuantes.

Para quem aprecia o conhecimento dos factos para poder ter uma opinião própria é interessante, mas sempre irrelevante se já gostamos da historias criadas para os jovens dos 7 aos 77 anos.

Menor relevância tem para aqueles que apenas conhecem a personagem e nunca deram muita atenção ao assunto. Porque a Banda Desenhada não é, no geral, um assunto que lhes diga alguma coisa.

Este género de abordagem é essencial, é necessário que alguém a faça. Mas não vai atrair novos leitores ou influenciar muito os hábitos de leitura dos fans.

Para mim, que me encontro no grupo destes últimos, mas que antes disso sou completamente maluquinho por B.D., é até tanto ou mais interessante discutir as técnicas, os estilos, as influencias. Mas é o género de conversa aliciante para artistas de Banda Desenhada ou grandes admiradores da Arte. Mais uma vez, serve para criar ou fortalecer opiniões, dar sentido a afinidades, explicar mudanças mas não cria nada, só por si; para além, talvez, da vontade de saber mais...

E é completamente desinteressante para quem não tem nada a haver com o assunto.

...No entanto, deixo aqui as analogias subtis e pulo direitinho no assunto SIDA pela mão de Hergé.

Pelo seu estilo, neste caso. A Linha Clara.

Sem entrar em detalhes aborrecidos, o estilo é....bem, aquilo que se vê sem se reparar.

É a simplicidade do desenho em beneficio da narrativa. Um traço constante, bem delineado, cores fortes, proporções realistas.

E que me serve para realçar a falta que isso faz a nós todos, infectados ou não, sobre o VIH. Um discurso acessível a todos, sem um peso Académico insuportável mas com substancia suficiente para ser interessante.

Voltemos ao Tintim e ao facto de que se pode ser conhecido sem ser compreendido. Assim como o VIH/SIDA também o jovem herói pode ser objecto de varias interpretações, algumas muito distantes da realidade. E tal como no VIH, também com Tintim e Milu muitas vezes essas más interpretações não parecem ter origem clara ou um proposito definido. E tal como na doença em que tanto Seropositivos e Seronegativos, muitas vezes com as melhores intenções mas sem reflectirem muito sobre o assunto, continuam a acreditar e a reproduzir tantas falsas noções sobre a doença e TUDO o que lhe está relacionado, também Tintim sofre dos mesmos males pela mesma razão: Desconhecimento no sentido em que o pior cego é aquele que não quer ver.

Em Portugal, no caso do trabalho de Hergé, temos Milu, esse desconhecido.

Agora temos a internet, já não é possível.

Basta ir ao Portal oficial de Tintim (Tintin) e ler a biografia do cachorro.

Está em Francês, Inglês e Holandês.

É que durante toda a minha vida tropecei de vez em quando em alguém que afirmava:

-Milu é uma cadela!

É daquelas que não dá (dava) para dar troco ou sequer valer o esforço mesmo que se tenha revista e colecção de livros atrás de nós, como me chegou a acontecer.

Ou era porque a tradução era Brasileira, ou por isto ou por aquilo, mas sempre argumentos tão parvinhos e com aquela simplicidade de raciocínio tão infantil que nos sentimos uns monstros em o desmanchar, que nunca levei nenhuma dessas discussões a sério. Mas comecei a ficar curioso no porquê da lenda. E para não vos estar a aborrecer com transcrições variadas em várias linguas das aventuras de Tintim em que Milu é descrito como um cachorro, basta acreditar no pessoal da fundação Hergé:

O nome Milu é inspirado no diminuitivo de uma amiga do Autor, Malou.

Depois continuam a descreve-lo, a ele, cão.

É "il" para aqui, "il" para ali...

"Il", não "elle".

Ele, não ela.

Serve isto logo para desfazer um dos argumentos da teoria da cadela que diz que Milu é um nome feminino por isso tem de ser uma fêmea. Talvez, mas o cão chama-se, na verdade, Milou e não Milu, apesar de se ler da mesma forma. Será daqui a confusão? Um especialista (obviamente distraído) chegou a levantar a hipótese de a causa da lenda estar relacionada com o facto de se chamar "a milu" na primeira tradução e publicação de uma aventura de Tintim em Portugal, "O Templo do Sol", no Cavaleiro Andante de 1952. Ora eu sou o feliz proprietário de um exemplar desse tesouro que é o primeiro ano de publicação do Cavaleiro e posso assegurar:

Nessa altura, Tintim era Tim-Tim, o capitão Haddock, capitão Rosa, o professor Girassol era o Sr Pintadinho de Branco e Milu... é o Rom-Rom!

Sobra um ultimo argumento mas esse é ridículo: Milu não tem pilinha. Pois não, nem Jolly Jumper, um assumido garanhão, também companheiro inseparável de outro herói, o Lucky Luke. Nem nenhuma personagem da B.D. orientada para o publico juvenil tem pilinhas. Nem tem sexo, fazem amor, quanto muito. Porque juvenil não é infantil. (E B.D. para adultos também não é sinónimo de pornografia). E é mesmo falar do que não se sabe, se for essa a razão. E é não perceber que Milu é o companheiro de Tintim, não têm género. Não é cão nem cadela, é MILU, o Fox Terrier mais célebre do Mundo!

É perder tempo a discutir o sexo dos anjos, como é tanto o nosso hábito.

São os boatos e associação de factos que nada tem em comum a não ser o facto de quem os associa são indivíduos que não perdem tempo em os analisar...ou não sabem.

Assim, Tintim e SIDA, porque não, com mil raios e trovões?!?


Como falar de cor é sempre arriscado, utilizei o site oficial de Tintim e a wikipédia como apoio para escrever este texto. Precisava de saber escrever os nomes de forma correcta, os factos já eu (pensava que) conhecia e não me interessava a biografia para o caso. Georges Remi morreu já há uns anitos (1983) e tornou-se Imortal através da sua Obra. O resto...

Já ia no fim do meu texto quando reparo na ultima linha da página Portuguesa da wiki sobre Hergé:

2007 - Segundo uma notícia divulgada no jornal belga Le Soir, Hergé terá falecido após a contracção do vírus da sida.

...

Dou por mim a pensar:

- Mudou alguma coisa? Não teria escrito o texto se soubesse antes?

Tenho ainda 37 anos para pensar nisso...

SIDA e as Suas Metáforas #4

Publicado por maria vital

Publicada por alex em Agosto 03, 2008

http://sidadaniaportugal.blogspot.com/



domingo, 14 de outubro de 2018

Editorial Ibis


Fundada em 1958 a Editorial Ibis, que estava sediada na Venda Nova (Amadora), foi a primeira grande editora que existiu em Portugal, especializada, sobretudo, na edição de colecções/cadernetas de cromos e álbuns de banda desenhada. 

Entre 1958 e 1969, a Editorial Ibis editou várias colecções/cadernetas de cromos [algumas das quais reproduzidas a partir das suas homólogas editadas em Espanha], a maioria das quais, diga-se a propósito, de grande qualidade, quer em termos gráficos, quer em termos do conteúdo informativo veiculado através de cromos bem desenhados e coloridos ou reproduzidos com rigor. 

A partir de meados da década de 60, a Editorial Ibis passou também a editar álbuns de banda desenhada exclusivamente de origem franco-belga.

Encerrou as suas atividades em Novembro de 1972 fundindo-se com a Livraria Bertrand.

http://www.guiadosquadrinhos.com/editora-estrangeira/editorial-ibis/2065

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A Editorial Ibis, que estava sediada na Venda Nova (Amadora), foi a primeira grande editora que existiu em Portugal, especializada, sobretudo, na edição de colecções/cadernetas de cromos e álbuns de banda desenhada. 

Porém, antes de começar a editar álbuns de banda desenhada, exclusivamente de origem franco-belga, a Editorial Ibis iniciou a sua actividade através da edição de colecções/cadernetas de cromos, algumas das quais reproduzidas a partir das suas homólogas editadas em Espanha.

Assim, entre 1958 e 1969, a Editorial Ibis editou várias colecções de cromos, a maioria das quais, diga-se a propósito, de grande qualidade, quer em termos gráficos, quer em termos do conteúdo informativo veiculado através de cromos bem desenhados e coloridos ou reproduzidos com rigor. 

A partir de meados da década de 60, a Editorial Ibis passa também a editar álbuns de banda desenhada, cujas histórias e respectivos heróis são provenientes das duas melhores revistas europeias de banda desenhada da época: a revista belga “Tintin” (1946-1988) e a revista francesa “Pilote” (1959-1989). Até 1972, a Editorial Ibis edita, em parceria com a Livraria Bertrand (no início da década de 70), vários álbuns (a maioria com a capa cartonada) de alguns dos mais importantes e famosos heróis da banda desenhada franco-belga. 

Já em 1968, a Livraria Bertrand associava-se à Editorial Ibis e lançavam, como co-proprietárias, aquela que se viria a tornar numa das mais famosas revistas portuguesas de banda desenhada do século XX: a revista “Tintin”. 

Contudo, a partir de Novembro de 1972, a propriedade da revista fica apenas na posse exclusiva da Livraria Bertrand, uma vez que a Editorial Ibis cessa a sua actividade e existência, acabando por se fundir na própria Bertrand. É assim que, a partir de 1972, a Livraria Bertrand passa definitivamente a ocupar o lugar que era anteriormente pertença da Editorial Ibis, no que diz respeito à edição exclusiva de álbuns de banda desenhada franco-belga. 

Para além da edição de colecções de cromos e de álbuns de banda desenhada, a Editorial Ibis também enveredou, durante as décadas de 60 e 70, pela edição de livros juvenis, integrados em colecções dirigidas especificamente a jovens rapazes e raparigas, cujas histórias pertenciam ao género “romance de aventuras”. 

Algumas dessas histórias eram também adaptações de séries famosas de televisão, como por exemplo, “Rim-Tim-Tim”, “Lassie”, “Bonanza” e do cinema, como “Tarzan”. Os livros tinham a capa cartonada e a cores e, no seu interior, o texto alternava com o formato em banda desenhada a preto e branco.

Adaptado do site http://timtimportimtim.com.sapo.pt/

Séries publicadas:

Astérix, Barba-Ruiva, Bernard Prince, Blake & Mortimer, Blueberry, Bob Morane, Chick Bill, Clifton, Howard Flynn, Humpá-pá, Lucky Luke, Michel Vaillant, Spaghetti, Strapontan, Tanguy & Laverdure, 3 As (Os), Turma (A)

[actualizado em 21-12-2014]

https://bedetecaportugal.weebly.com/ibis.html

https://biblobd.blogspot.com/2018/01/editorial-ibis-ensaio-de.html

Em 1968 por iniciativa de Jaime Mas, o catalão filho de Francisco Mas da Editorial Íbis, iniciou-se a publicação em Portugal de uma revista congénere da «Tintin» belga. A editorial Íbis e a editora Livraria Bertrand eram sócias.

Tinha como diretor o Jaime Mas e como chefe de redação o Dinis Machado, que foi ocupar na Íbis o lugar do Roussado Pinto que fora abrir uma editora própria.

https://bloguedebd.blogspot.com/2015/10/a-vida-interior-das-redacoes-dos.html

As colecções de cromos Ver e Saber com a história da Aviação e a história da Marinha foram editados pela Editorial Íbis. A caderneta de cromos "O Templo do Sol" foi composta e impressa nas oficinas gráficas da Editorial Ibis.

DINIS MACHADO

Um dia, telefona-me o Roussado Pinto a perguntar se eu queria ir trabalhar com ele. Fui para a Íbis, que era um mastodonte de coisas incríveis, subprodutos que vinham de Espanha, anedotas, colarinhos de beatos, Kansas City… O Tintin surgiu porque ele, além de querer ocupar as máquinas, também queria uma revista de banda desenhada. Quando a Íbis faliu, continuei a fazer a revista para a Bertrand.

https://arquivo.pt/wayback/20191115124048mp_/http://ofuncionariocansado.blogspot.com/2008/10/dinis-machado-entrevista-ler-em-2002.html

Bom, mas antes de ser o escritor de "O Que Diz Molero" e ao contrário do que muitos dos seus leitores julgam, já Dinis Machado se metera nas lides da ficção. Foi na década de 50, depois da gloriosa aventura do "Diário Ilustrado", jornal que provocou um redemoinho tão forte na paz podre do regime salazarista que acabou por se asfixiar a si mesmo. E deixou Machado casado e desempregado.

Roussado Pinto, "escritor compulsivo", que depois da funesta experiência do "Diário Ilustrado" se convertera em "editor de fancaria" através da Ibis, convidou-o para trabalhar com ele. Foi de resto aqui que nasceu a edição portuguesa do "Tim-Tim" e também a colecção "Rififi" - policiais que sobravam à "Vampiro" ou que esta se descurara em reservar os direitos. Este era o pelouro de Machado, que um dia, num aperto de prestações por pagar, decidiu que era capaz de escrever "policiais melhores do que aqueles". Mas precisava que lhe paguem adiantado

Com alguma surpresa Roussado Pinto concordou e estabeleceu logo ali as condições do contrato: três livros por ano a seis contos cada. Havia outra condição: arranjar um pseudónimo americano, para dar verosimilhança ao autor. Ele próprio agia assim e adoptara o nome literário de Ross Pyn.

(...) cumpriu o compromisso de Dinis Machado para a Ibis, que algum tempo depois foi à falência e vendida aos bocados.

"O Tim-Tim e eu com ele fomos comprados pela Bertrand" - e assim se iniciou um outro ciclo da vida de um "puto reguila" que "filosoficamente foi sempre do Bairro Alto".

António Melo, Público, 04/02/2001