sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Explorando o filão Tintim (2004)

No ano em que se comemora o 75º aniversário da criação de Tintin, o herói de Hergé é notícia em Portugal, por várias razões, entre as quais, a publicação de “Tintin e a Alph-Art”, o álbum que a morte de Hergé em 1983 deixou inacabado, ainda em estado de esboço e que agora surge com a mesma apresentação gráfica do resto da colecção.

Apesar do estado ainda demasiado embrionário do álbum deixar apenas adivinhar que poderíamos estar perante uma boa aventura de Tintin, em que Hergé guia o seu herói pelos meandros da arte contemporânea, este “Tintin e a Alph-Art” revela-se uma óptima forma de o leitor descobrir as várias etapas do método de trabalho de Hergé e a complexidade dos trabalhos preparatórios que o depuramento e a aparente simplicidade da “linha clara” escondem.

Igualmente revelador da evolução do estilo de Hergé é a versão facsimilada da edição original a preto e branco de “Os Charutos do Faraó”, que a Verbo lançou no Verão passado e que, se não tem ainda a perfeição do traço e a eficácia narrativa da nova versão redesenhada e colorida pelos Estúdios Hergé, tem uma espontaneidade ingénua e dimensão da aventura em estado puro, que de alguma forma se perdeu na versão que a maioria dos leitores conhecem.

O aparecimento destas duas edições, prova que há público interessado e entusiasta em número suficiente para justificar o lançamento de obras destinadas mais ao coleccionador informado do que ao leitor casual, o que não é de estranhar pois Portugal foi o primeiro país não-francófono a publicar as aventuras de Tintin. E isso aconteceu a partir de Abril de 1936 no “Papagaio”, revista dirigida por Adolfo Simões Muller, onde Tintin apareceu a cores, numa altura em que na própria Bélgica as suas histórias ainda eram publicadas a preto e branco, tornando-se rapidamente num dos símbolos da revista, com participações especiais em outras séries (de que Hergé não deve ter tido conhecimento) como o fabuloso “Boneco Rebelde”, de Sérgio Luís.

Mas, apesar da popularidade da série em Portugal e do herói de Hergé ter dado o nome a uma revista que formou toda uma geração de leitores, actualmente entre os trinta e os quarenta anos, a verdade é que a bibliografia sobre Hergé em português é reduzidíssima. As (honrosas) excepções são o rebuscado “Tintin no Psicanalista” de Serge Tisseron, o excelente dossier sobre os 70 anos da série no nº 1 da 3ª série da revista “Quadrado” e o livro “As Aventuras de Hergé”, de Bocquet, Fromental e Stanislas, já aqui abordado nestas páginas (ver “Diário As Beiras” de 13/09/2003).

Assim, permanecem inéditas em português obras fundamentais como “Le Monde d’Hergé” e “Hergé, Fils de Tintin”, de Benoit Peeters; “Tintin et Moi” de Numa Sadoul; “Le Coloque de Moulinsart”, de Henry Van Lierde e Gustave du Fontbare; a biografia de Hergé, escrita por Pierre Assouline; “Tintin chez Jules Verne”, de J.P. Tomasi e M. Deligne, “Tracé RG: Le Phénomène Hergé”, de H. Van Opstal; “Tintin et les Heritiers”, de Huges Dayez e “Les Dupondts sans Peine”, de Albert Algoud, pelo que a publicação em livro dos textos que no jornal Público acompanharam a publicação da série, podia de alguma forma ajudar a minorar esta lacuna.

Infelizmente, o que “As Aventuras de Tintin no Público” recolhe, são precisamente os textos menos interessantes sobre os álbuns, em que Carlos Pessoa se limita, de forma algo acrítica e superficial, a debitar algumas banalidades sobre cada título, ficando ausente, talvez por uma questão de direitos, as bem mais interessantes declarações de Hergé a Numa Sadoul a propósito de cada história. Assim, este livro soa um pouco a oportunidade perdida, feita mais com o intuito de aproveitar o sucesso da colecção vendida com o “Público”, do que de constituir uma opção importante em termos da bibliografia nacional dedicada ao criador de Tintin.

(“Tintin e a Alph-Art”, de Hergé, Difusão Verbo, 56 pags, 14,50 €

“As Aventuras de Tintin no Público”, de Carlos Pessoa, Público/Oficina do Livro, 64 pags, 4 €

“Os Charutos do Faraó” (edição facsimilada), de Hergé, Difusão Verbo, 130 pags, 18 €).

João Miguel Lameiras, Diário As Beiras, 25/09/2004

Copyright: © 2004 Diário As Beiras; João Miguel Lameiras


NUMA SADOUL

Também sobre o universo de Tintin (ou Tintim?) e sobre o seu criador – entrando um pouco no domínio da investigação que se segue (entrevistas, inquéritos e dados estatísticos) - foram publicadas no jornal Público ao longo do ano de 2003 (continuando em 2004) 17 entrevistas de Numa Sadoul a Hergé sobre as diferentes histórias do Tintim que iam sendo publicadas juntamente com o jornal. De notar que todas as entrevistas se encontram disponíveis quer no site do Público, quer no site da Bedeteca.

Adalberto Barreto, 2004

«ficando ausente, talvez por uma questão de direitos, as bem mais interessantes declarações de Hergé a Numa Sadoul a propósito de cada história». JML

Entrevista de Carlos Pessoa a Numa Sadoul (1993)

A COLECÇÃO DO PÚBLICO



- Explorando a Lua 26-09-2003

- A Ilha Negra 03-10-2003

- O Ceptro de Ottokar 10-10-2003


- A Estrela Misteriosa 24-10-2003


- O Tesouro de Rackham o Terrivel 07-11-2003


- O Lótus Azul 21-11-2003

- Voo 714 Para Sydney 28-11-2003

- Tintim na América 05-12-2003

- Carvão no Porão 12-12-2003

- Tintim no Tibete 19-12-2003

- Tintim no Congo 26-12-2003

- A Orelha Quebrada 02-01-2004


- O Caso Girassol 16-01-2004


- Tintim E o Lago dos Tubarões 30-01-2004


- Templo do Sol 13-02-2004

- Tintim No País dos Sovietes 20-02-2004

- Tintim E Os Pícaros 27-02-2004



Informações complementares:

1 - entretanto terão surgido outras obras fundamentais que poderiam ter edição portuguesa.

2 - a edição portuguesa de "Hergé, Filho de Tintim" foi editada em 2007.

3 - Foram editadas em português duas edições anteriores de Albert Algoud dedicadas a Tournesol e Haddock. O autor lançou uma obra em francês sobre Oliveira da Figueira.

4 - A edição ilustrada de “Tintin Et Moi : Entretiens Avec Hergé” de Numa Sadoul foi reeditada em Maio de 2025. 






terça-feira, 16 de setembro de 2025

Philippe Goddin (1944-2025)


O universo de Tintin perdeu um dos seus nomes maiores: o belga Phillipe Goddin, erudito enciclopédico da obra de Hergé e do seu herói, morreu aos 81 anos. Entre outros títulos de referência, Goddin escreveu a monumental 'Hergé-Chronologie d'Une Oeuvre', em sete volumes, a biografia 'Hergé: Lignes de Vie-Biographie' e 'L’Aventure du journal Tintin'.

O incansável "hergeólogo", como era conhecido, estava agora a publicar, com a colaboração de Dominique Maricq, a série de livros 'Tintin-Hergé: Les Coulisses d'Une Oeuvre', sobre os bastidores da criação dos álbuns de Tintin, um por álbum, tendo saído há pouco tempo o trabalho relativo a 'A Ilha Negra'.

Especialista também em Paul Cuvelier, o "pai" de Corentin, e grande apreciador de Edgar P. Jacobs e 'Blake e Mortimer', Philippe Goddin foi Secretário Geral da Fondation Hergé e era uma das figuras de proa da Association Les Amis d’Hergé, em cuja revista escrevia há várias décadas. Como escreveu Didier Pasamonik no site 'ActuaBD', "a sua desaparição deixa um vazio imenso (...) voltou-se uma página, é o fim de uma época".

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

David & Hergé


O encontro estava marcado para as 12h40. Cheguei à baixa trinta minutos antes, mas queria aproveitar a ida ao Porto para fazer algumas compras a granel. Corri entre a Rua do Rosário e o Centro Comercial Miguel Bombada e pelo rabo do olho entrevi dois leitores, sentados no interior de dois cafés distintos, junto às montras. A câmara fotográfica, fechada dentro da mala que levava ao ombro, pedia-me que parasse e aproveitasse as oportunidades — afinal de contas estava sem conteúdo para o Acordo Fotográfico havia quase dois meses. Mas o meu sentido de pontualidade falou mais alto e segui em frente. Quando por fim, já de compras feitas, entrei no restaurante Sabores & Açores, que era o meu ponto de encontro, parecia que o David esperava por mim, para me oferecer a fotografia e a conversa de que eu tanto precisava.

“Estou a ler um livro teórico, chamado “The comics of Hergé – When the lines are not so clear”, que saiu há dois anos sobre a obra do Hergé, o autor do Tintin. Estou a fazer um doutoramento sobre Banda Desenhada e esta leitura é uma atualização científica. Consiste num conjunto de ensaios, de vários autores. Estou a gostar muitíssimo, porque é uma perspetiva de fora, uma visão americana sobre uma obra que é belga, e há sempre novos detalhes em cada ensaio. É muito interessante mesmo!”

O David formou-se na área da Literatura e do Cinema. Também por isso, lê muito e de tudo um pouco, embora admita que não se dedica tanto à poesia e a textos dramáticos. Naturalmente, no meio dos muitos livros que já leu, torna-se difícil eleger um que tenha sido determinante, mas a este propósito David consegue surpreender-me ainda assim:

“Bem, já que tenho nas mãos um livro sobre o Hergé, devo dizer que as aventuras de Tintin foram sem dúvida importantes, porque foi com elas que aprendi a ler, tinha três ou quatro anos. Agora leio esses álbuns com uma perspetiva crítica e teórica que não tinha na altura, obviamente, mas continuam a ser tão maravilhosos e emocionantes como dantes. Levaram-me a viajar e deixaram-me este sonho de viajar a sério quando crescesse. E é isso que eu tenho vindo a fazer constantemente.”

Posted on November 19, 2018 by acordofotografico *

Acordo Fotográfico - Sandra Barão Nobre - David Pinho Barros - Hergé - 4

* Livros, pessoas e fotografias numa homenagem ao ato de ler.



sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Cavaleiro Andante


A minha geração teve uma relação especial com a revista “Cavaleiro Andante”, dirigida por Adolfo Simões Müller. Apesar da resistência que encontrávamos em alguns dos nossos professores de Português relativamente às histórias aos quadradinhos, hoje referidas como 9ª Arte ou Banda Desenhada, pudemos encontrar no “Cavaleiro Andante” e na sua escola um bom aliado na demonstração de que era possível ter qualidade no uso da língua e no incentivo à leitura.  A revista que recebíamos ao sábado, com prazer e alvoroço, permitia termos bons argumentos a favor da qualidade das narrativas ilustradas. Recordo os debates amenos, mas incisivos, no Liceu Pedro Nunes, com alguns professores resistentes e a evolução no sentido do reconhecimento de que esse era um importante contributo para a boa leitura. E assim fomos vendo passarem para o nosso campo os antigos críticos.   

Na Exposição sobre Hergé na Fundação Calouste Gulbenkian recordei esse tempo com António Cabral, o grande impulsionador da iniciativa. Hoje reconhece-se a qualidade excecional do autor belga e o papel fundamental que desempenhou no campo cultural. Do mesmo modo, o introdutor de Tintin em Portugal, Simões Müller, pôde contribuir decisivamente para incentivar o prazer da leitura, com exigência de qualidade. E quando alguns de nós passámos a assinar a revista “Tintin” belga foram as nossas professoras outrora críticas as primeiras a reconhecer os efeitos positivos da BD nos progressos no ensino das línguas, como modo de ligar o multilinguismo, o enriquecimento pedagógico e a abertura de horizontes de um humanismo universalista. António Mega Ferreira já recordou, mais de uma vez, como o Tintin foi um marco de liberdade para a nossa geração. E no caso de Adolfo Simões Müller podemos lembrar os testemunhos de Luísa Ducla Soares, a afirmar que o jornalista e escritor foi um herói da sua infância – “que através dos seus livros, que não esqueço, me iniciou na literatura”; ou de Alice Vieira, a dizer da alegria que era no dia em que chegava o “Cavaleiro Andante”. E David Mourão-Ferreira, recordando o Serviço das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian, lembrava o papel desempenhado pelo diretor do “Cavaleiro Andante” “ao tornar acessíveis e aliciantes, a sucessivas gerações de jovens, algumas obras-primas da literatura universal e, particularmente, da literatura portuguesa”. E João Paulo Paiva Boléo refere Müller como “um dos monstros sagrados da direção de revistas juvenis e de banda desenhada, de que inicialmente nem gostava”.

Nas férias de verão, em casa de meus avós, no Algarve, como não tínhamos acesso ao “Cavaleiro Andante” ao sábado, recebíamos religiosamente, à segunda feira, pelo correio, enviado pelo nosso pai, um pequeno rolo, que era acolhido com entusiasmo. Os correios eram ciosos cumpridores dos prazos e a leitura da revista estava devidamente escalonada, para que, com os meus irmãos, pudéssemos usufruir daquele néctar escrito e ilustrado nas melhores condições. Era uma equipa heroica que cuidava com esmero da revista. Os nomes não podem ser esquecidos – Maria Amélia Bárcia, no secretariado da redação, e Fernando Bento, referência fundamental ao lado dos melhores europeus, na direção gráfica. Depois havia tudo o mais – e sobretudo a magia dos continuados e o “suspense” cuidadosamente cultivado de uma semana para outra. E assim tornámo-nos apaixonados da literatura, do cinema, das artes plásticas, da história e da ciência, acompanhando a mais bela das histórias de uma amizade em “Tintin no Tibete”, seguindo as pegadas no Yéti, o abominável homem das neves, como antes fôramos à lua ou partilháramos a luta pelos direitos humanos em “Coke en Stock”.

Guilherme d'Oliveira Martins, DN, 12/10/2021

 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Quim e Filipe

Entre 1984 e 1986 foi produzida uma série de animação com Quim e Filipe (Quick et Flupke no original). No IMDB são indicados 260 episódios. A duração era de pouco mais de 1 minuto cada.

A obra teve a colaboração de Johan de Moor.

A série deu em Portugal mas em data não conhecida. 

Um dos episódios, com dobragem em português, foi partilhado no youtube por Mónica Albuquerque.




https://www.youtube.com/watch?v=neRfz6M_INc

Production Companies:

Atelier Graphoui / Casterman Animation / Communauté Française de Belgique / Graphoui / Herge Studios

Distributors:

Radio Télévision Belge Francophone (RTBF)

(Belgium, 1984) (TV)

Verenigde Arbeiders Radio Amateurs (VARA)

(Netherlands, 1987-1989) (TV)

https://www.imdb.com/title/tt0432672/

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Deputado Borges de Carvalho


15 DE JULHO DE 1982 - DEBATE PARLAMENTAR

O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Jorge Miranda.

O Sr Jorge Miranda (ASDI): - Sr Presidente, Srs Deputados Entendeu por bem o Sr Deputado Borges de Carvalho anteceder a sua declaração de voto de uma afirmação, segundo a qual a ASDI neste debate se teria pautado por uma submissão a chantagem do Partido Comunista Português Esta expressão e tão descabida e tão injusta que eu limito-me a repudia-la.

Contudo, não deixarei de lembrar ao Sr Deputado Borges de Carvalho que, se chantagem houve, ela foi exercida sobre toda esta Assembleia, incluindo o partido do Sr Deputado...

Aplausos do Sr Deputado César de Oliveira.

...na medida em que, tendo sido agendada para determinado dia da semana passada a votação do artigo 113.º da Constituição, com as alterações vindas da Comissão Eventual para a Revisão Constítucional, essa votação não se fez nesse dia - só hoje foi feita - devido exactamente à iniciativa política do Partido Comunista Português, iniciativa que provocou a celebração de um acordo de que e signatário o partido do Sr Deputado - não o nosso! -, tendente à resolução da questão das disposições transitórias.

Nos e que não cedemos a chantagens, pois nem sequer celebramos nenhum acordo!

Apenas quero dizer que a nossa posição foi a de que, sendo posta a questão, ela devia ser discutida no órgão competente, da Assembleia, e não fora da própria Assembleia.

Aplausos da ASDI, da UEDS e de alguns deputados do PS.

O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Lopes Cardoso.

O Sr Lopes Cardoso (UEDS): - Eu diria que o Sr Deputado Borges de Carvalho perdeu a ocasião de parafrasear um colega seu da bancada AD anunciando uma declaração de voto De facto, o Sr Deputado não fez uma declaração de voto, mas sim declarações sobre os votos alheios.

O Sr. António Vitorino (UEDS) - Muito bem!

Não sabe fazer uma declaração de voto própria!

O Orador: - Aliás, o Sr Deputado Borges de Carvalho comporta-se como o albanês da AD. Eu explico-lhe, se o Sr. Deputado não percebe: no momento mais aceso do conflito sino-soviético e da velha amizade sino-albanesa, nos congressos internacionais os albaneses eram geralmente encarregados de dar os recados mais ou menos malcriados que os chineses julgavam inoportuno dar E o comportamento do Sr Deputado em relação a AD.

Aplausos da UEDS e da ASDI e risos do PCP.

Quanto ao substantivo da questão, o Sr. Deputado vem de certa maneira

acusar-nos, ao dizer que tomamos uma posição de ultima hora, de termos dado uma pirueta. Ai, eu hesito um pouco, pois em matéria de piruetas o Sr. Deputado e o seu partido são, realmente, uma autoridade.

O que acontece é que o Sr Deputado não e capaz de distinguir entre coerência e piruetas, pois se é uma autoridade em piruetas, em coerência não tem autoridade nenhuma!

Aplausos da UEDS e da ASDI.

O Sr Presidente: - Sr. Deputado Borges de Carvalho, embora tenha pedido a palavra para contraprotestar, são já 20 horas.

O Sr Borges de Carvalho (PPM)- - Sr. Presidente, se não houvesse objecção da Câmara, responderia já.

Protestos do PS, do PCP, da ASDI, da UEDS e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que não há bom ambiente para que possa responder agora, o que poderá fazer as 22 horas, quando retomarmos os nossos trabalhos.

Está suspensa a sessão.

Eram 20 horas.

O Sr Presidente: - Esta reaberta a sessão.

Eram 22 horas e 25 minutos.

O Sr. Presidente: - Pedia a atenção da Câmara para o tacto de que a sumula distribuída na sequência da Conferência dos Presidentes dos Grupos Parlamentares hoje realizada, suscitou algumas duvidas e, porventura, até pode conter algum lapso em relação ao calendário e ao horário das reuniões previstas.

Queria esclarecer a Câmara de que as decisões tomadas hoje se referem as próximas semanas e não a semana que esta em curso.

Em relação à semana em curso, portanto às sessões de hoje, amanhã e sexta-feira, o que ficou acordado e o que consta da sumula n.º 50 da reunião da passada segunda-feira, dia 12, onde se diz, nomeadamente, o seguinte na semana corrente haverá reunião na terça-feira ate às 21 horas - não foi assim pelas razões que conhecem -, na quarta-feira e na quinta-feira, portanto hoje e amanhã, haverá reunião de manhã as 10 horas, à tarde ate as 20 horas e à noite ate à l hora da madrugada, na sexta-feira, haverá reunião das 10 às 13 horas.

Isto é o que está acordado, e que confirmo, em relação à semana em curso As alterações que introduzimos, na sequência da conferência realizada esta tarde, dizem respeito às reuniões das próximas semanas.

Se houve qualquer falta de clareza na comunicação que foi distribuída aos grupos parlamentares, peço que ma revelem. Mas a situação e esta.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP) - Dá-me licença. Sr Presidente!

O Sr. Presidente: - Faça o favor.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Sr. Presidente, do nosso lado não temos nada a objectar ao que o Sr Presidente acaba de dizer.

No entanto, queria solicitar, desde já, ao Sr Presidente aquilo que, por falta de tempo, não chegou a ser resolvido na reunião Haveria interesse que o Sr. Presidente determinasse que os serviços distribuíssem os "borrões" do Diário.

O Sr. Presidente: - Esse assunto foi abordado na reunião, Sr. Deputado.

O Orador: - com 48 horas de antecedência em relação ao envio para a Imprensa Nacional Porque, de contrario, e totalmente impossível fazer as correcções - e algumas são indispensáveis - porque de todo em todo não se percebe o que ía esta Isto porque nesta altura tratando-se da matéria que se trata, seria importante que elas tossem feitas.

O Sr Presidente: - Sr. Deputado, mantenho o que disse ao Sr Deputado Jorge Lemos na Conferencia, ou seja, que vamos procurar uma solução que, por um lado, não comprometa um estorço que, como todos sabem, temos estado a fazer, no sentido de um menor atraso na publicação do Diário e por outro lado não comprometa o registo das declarações dos Srs Deputados aqui na Assembleia.

O Orador: - Sr Presidente não e uma questão de registo, e uma questão de emendar gralhas que tornam o Diário ilegível Nos somos pela publicação atempada do Diário mas desde que ele seja legível.

O Sr Presidente: - Certamente Sr Deputado Tem a palavra o Sr Deputado Sousa Tavares.

O Sr. Sousa Tavares (PSD): - Sr Presidente ainda não temos o programa de trabalhos para a próxima semana.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o seu grupo parlamentar esteve representado na conferencia, suponho que pelo Sr Deputado Reinaldo Gomes, que o poderá informar Por outro lado. suponho que o Gabinete já fez a distribuição da sumula que. justamente, ocasionou as dificuldades de compreensão a que me referi. Mas se há qualquer atraso, vamos procurar supri-lo imediatamente.

Antes do intervalo para jantar tinham sido proferidos vários protestos a propósito de uma declaração de voto do Sr. Deputado Borges de Carvalho.

Para contraprotestar, tem a palavra aquele Sr. Deputado.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr Presidente. Srs Deputados Tenho aqui alguns apontamentos de ha bocado mas não sei se estarão completos se darei as respostas cabais, ou se já me terei esquecido de algumas partes importantes dos protestos que foram feitos a minha declaração de voto.

Começaria pelo Sr Deputado Jorge Miranda. Aliás, vejo que este Sr Deputado não esta presente, mas peço aos seus colegas de bancada que lhe transmitam o meu contraprotesto.

Propriamente, antes de contraprotestar, queria prestar as minhas homenagens ao Sr Deputado Jorge Miranda. Terei talvez sido demasiado duro na forma como protestei contra aquilo que, de facto, para mim. merece um protesto veemente Terei talvez sido um pouco duro, e por isso não quero deixar de começar por homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda pela forma como tem entendido a sua missão de deputado e pela forma como contribuiu e continua a contribuir para a revisão constitucional.

Quero homenagear o Sr. Deputado Jorge Miranda, a sua figura de democrata, de professor, de cidadão, de português.

Também não posso esquecer que das intervenções talvez mais profundas e dignas de nota acerca do Conselho da Revolução, terá sido a própria tese de doutoramento do Sr. Deputado Jorge Miranda. Foi de facto, um dos poucos professores portugueses de Direito que teve a coragem de dizer que o Conselho da Revolução era um orgão de soberania não democrático Por isso também a minha homenagem.

A diferença que ha no entendimento das coisas entre mim e o Sr. Deputado Jorge Miranda e talvez uma diferença naquilo que diz respeito ao que e ou não uma cedência a uma chantagem.

O Sr. Deputado Jorge Miranda afirmou que tinha havido chantagem e acrescentou que ela tinha sido exercida sobre todos nos Depois disso disse que quem tinha cedido era a AD e não a ASDI.

Ora para nos a extinção do Conselho da Revolução e linear, e liquida, não tem adiamentos Entre nos não se discute, isso e adquirido Nem podemos pensar, da maneira como entendemos a democracia e os democratas, que para algum democrata possa haver duvidas ou hesitações a esse respeito.

Por isso, mesmo que tosse formalmente, achamos que a atitude da ASDI nesta matéria foi uma surpresa desagradável. Essa, sim, foi uma cedência formal as exigências do PCP Nessa medida a critiquei, nessa medida a continuo a criticar, e não dou qualquer espécie de razão aos argumentos aduzidos.

Quanto ao Sr Deputado Herberto Goulart, queria apenas fazer duas observações V. Ex.ª classificou a l a fase dos trabalhos de revisão constitucional - que antecederam a elaboração do relatório - como atribulada e repentina Se V. Ex.ª estava, realmente, atribulado, devo dizer-lhe que o problema e seu Nos não sentimos grandes atribulações, não nos constou nem nos foi comunicado que houvesse partidos atribulados nesta Casa. Assim, julgamos que o processo se desenvolveu e se encerrou de forma perfeitamente normal.

Quanto ao artigo 113.º propriamente dito.

O Sr. Vilhena de Carvalho (ASDI): - Já há quorum.

Risos.

O Orador: - Faço vénia ao sentido de humor do Sr. Deputado Vilhena de Carvalho, e tomo nota da comunicação de que já ha quorum Vou ser mais rápido.

Em relação ao Sr Deputado Herberto Goulart, devo dizer que quando V. Ex. ª afirma que foi por causa desse final repentino dos trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional que não se discutiu ai esse problema, devo dizer-lhe - como já aqui disse hoje - que o artigo 113.º foi discutido na Comissão Eventual para a Revisão Constitucional, como VV. Ex.ªs sabem, ha muitos e muitos meses Se ninguém levantou o problema foi porque não quis e não porque não pensasse nele.

Quanto ao Sr Deputado Lopes Cardoso, terei que dizer que não sei falar albanês e como já que sou o - albanês da AD", não sei como lhe hei-de responder.

De qualquer maneira, julgo que o que ha de mais substancial no seu protesto e a referência a que não ouviu, da minha parte, nenhuma declaração de voto.

Isso faz-me lembrar uma figura - não do albanês, mas outra muito conhecida na minha juventude e que ainda hoje leio com prazer -, que é a do professor Tornesol.

Quando eu era jovem, traduzia-se para professor Pintadinho de Branco. Uma das suas características fundamentais era ser surdo. Usava uma corneta acústica. Verifico que o Sr Deputado não tem corneta acústica, não ouviu a minha declaração de voto. O mais que lhe posso aconselhar é que se dirija aos serviços de redacção, onde encontra a declaração de voto, inclusivamente, escrita.

Finalmente, foi formulado um protesto pelo Sr Deputado Veiga de Oliveira Este Sr Deputado brindou-nos com uma declaração de voto maximalista, ortodoxa, recuperadora de todos os slogans da mais pura ortodoxia do PCP. Brindou-nos com uma declaração de voto de tal maneira cheia de "molho que ate houve deputados mal intencionados que interpretaram ser essa a causa da saída da Camará, nessa altura do Sr. Deputado Vital Moreira.

Eu não o faço, evidentemente, mas não deixo de notar que o Sr. Deputado Veiga de Oliveira, logo a seguir, teve a preocupação de me tratar por chairman Essa expressão, na língua da Sr. Thatcher e do Sr. Ronald Reagan, talvez seja uma espécie de compensação. Enfim...

Disse o Sr. Deputado Veiga de Oliveira que durante os trabalhos da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional tinha ficado bem patente que os deputados pensavam que esta matéria só podia ser discutida nesta ocasião e que os deputados pensavam isto, aquilo ou aqueloutro Eu não sei o que os deputados pensam, não tenho dotes de hipnotizador, nunca fiz lavagens ao cérebro a ninguém, para ver o que ía esta dentro.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Dá-me licença que o interrompa?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Desculpe, mas eu não disse isso. O que eu disse e que era proverbial nos trabalhos da Comissão, a sua relativa falta de memória. Isto foi um ponto.

O outro foi que tinha sido discutida a questão de se considerar este artigo 113.º como um artigo de chegada e não de partida. Isto e, o artigo pressupunha a discussão e votação de muitos outros Por outro lado, em subcomissão colocou-se a questão das normas transitórias que poderiam garantir o conhecimento exacto do sentido da votação deste artigo.

Esta é a verdade isto e factual e foi por isso que eu, não querendo chamar-lhe nenhum nome nem imputar-lhe nenhuma mentira, disse simplesmente que era conhecida a sua relativa falta de memória.

O Orador: - Talvez eu tenha falta de memória. Sr Deputado No entanto, a minha falta de memória não e tanta que não me lembre perfeitamente que nenhum partido - muito menos o partido de V. Ex.ª - fez qualquer proposta nesse sentido, que nenhum partido quis que as disposições transitórias tossem discutidas aquando do debate do artigo 113.º. Isso fica tudo dito em relação as acusações que fiz ao seu partido e que neste momento renovo.

De resto, não sei se no fim não nos e legitima uma ultima reflexão. Sr Deputado Não sei já hoje e aqui, se os entraves que o Partido Comunista, com algum sucesso, conseguiu pôr a votação não terão saído furados E isto não porque a votação se tenha feita mas porque tenha sido feita hoje. Amanhã VV. Ex.ªs teriam outra "claque" para os apoiar nestas matérias.

Aplausos, do PPM do PSD e do CDS.

(...)

Debates Parlamentares (1982)