segunda-feira, 18 de julho de 2011

Falso Tintin em aventura da revista "Pato Donald"


Publicação portuguesa coloca em acção figuras decalcadas dos originais criados pelo desenhador belga Hergé Caso não é único e tem mesmo tradição estrangeira.

Não, o título deste texto não é engano. Na revista portuguesa "Pato Donald", n.º107, de Março de 2004, já à venda, a história "O Artista Liberto", é protagonizada por Donald e o prof. Pardal que, chegados a França em resposta a um pedido de socorro, deparam com um certo Denden, o seu cão Malu, e os amigos Capitão Hadciuck (proprietário do barco "Hergé"), Dipent e Dipend e Professor Dopole. Neles, qualquer leitor de BD minimamente atento, reconhece Tintin, Milu e os restantes companheiros de aventuras, caricaturados ao estilo Disney. Denden aparece num terço das 30 páginas da história, de forma inconsequente, valendo pela homenagem que o autor, o italiano Corrado Mastantuono, um desenhador extremamente versátil, faz a Hergé.

Mas este não é, nem de perto nem de longe, o primeiro falso Tintin da história. Um dos primeiros pertence a um português, Sérgio Luiz, que, em 1939, fez do célebre herói de Hergé personagem das três primeiras pranchas das suas "Aventuras do boneco rebelde" (Edição Baleiazul/Bedeteca, 1999).

Mas nem todos os pastiches da obra de Hergé são tão inocentes como os casos citados. Se tem havido homenagens sentidas ao herói ou ao autor (veja-se "Hergé 1983 l'hommage de la bande dessinée", reedição recente do número especial que a revista "A Suivre" lhe dedicou em 1983), também se encontram obras que apostam no pretenso desvendar dos seus segredos e vícios, bem como a sua utilização em publicidade ou para defesa das mais diversas causas - há poucos meses, a Greenpeace utilizou-o num cartaz. No site "Tintin et moi" (http://tintinetmoi.free.fr/sitesparodies.htm) são apresentados mais de 600 casos.

A um outro nível estão as edições pirata de álbuns, que nascem um pouco por todo o lado, desde a Bélgica natal do autor até ao Vietname ou à China, sejam elas "novas histórias" - só o site "Tintin est toujours vivant" (http://perso.wanadoo.fr/prad) mostra excertos de mais de centena e meia - ou edições não autorizadas dos álbuns de Tintin, que começaram logo com "Tintin no país dos sovietes" (algumas coloridas), surgidas devido ao facto de Hergé sempre ter recusado a reedição da história, publicada pela primeira vez em álbum em 1930 e só disponibilizada ao grande público em 1999.

Diversas são também as versões "finalizadas" de "Tintin et L'Alph'Art", o álbum que Hergé deixou incompleto aquando da sua morte. Em comum, quase todas as obras têm tiragens muito baixas e preços elevados.

Mas também há falsos Tintin" autorizados, como aconteceu com "Objectif Monde", desenhada por Didier Savard, o mini-álbum de 24 páginas a preto e branco com que o "Le Monde" assinalou os 70 anos do herói, em 1999.

Se qualquer motor de busca da Internet permite encontrar "falsos" Tintin, experiente digitar "Tintin en Irak" para descobrir uma feroz crítica à iniciativa de guerra norte-americana feita por um certo Youssouf, que se tem especializado em narrativas feitas à base do corte e colagem de vinhetas de Hergé, com novos textos.

Pedro Cleto, Jornal de Notícias, 16/03/2004

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