sábado, 20 de julho de 2019

Tintin e a Lua


O desejável e o possível...

A proximidade de mais um aniversário - o 50.º! - da chegada a solo lunar do primeiro homem - Neil Armstrong - é o pretexto para a edição, pela ASA, de um volume duplo que contém o díptico lunar de Tintin: Rumo à Lua e Explorando a Lua.

Pontos fracos e fortes da edição, já a seguir.

A edição é positiva, sem dúvida. Chama - ou tenta chamar… - as atenções para Tintin, aproveita o mediatismo que a data redonda vai ter e faz regressar às livrarias um título marcante da criação de Hergé.

Mais, fá-lo num formato maior - similar ao original… - ao da edição regular disponível actualmente.

No entanto, esta foi - foi? - uma oportunidade perdida para ir um pouco mais além.

Os leitores - alguns leitores, uns poucos leitores, quantos seriam? - queriam mais. Queriam, para além dos dois álbuns do ciclo da Lua, numa versão diferente se possível, alguns extras. Um dossier sobre a sua elaboração, esboços, material auxiliar, acima de tudo, possivelmente, a história de 4 páginas que os Estúdios Hergé fizeram sobre a viagem da NASA que levou os primeiros seres humanos à Lua… Aquilo que a Casterman (também) lançou em França, numa iniciativa semelhante que, no entanto, conta mais umas três dezenas de páginas que a edição portuguesa, inclui um dossier sobre a concepção dos dois álbuns e reproduz não a versão ‘final de álbum’ - aquela que todos conhecemos - mas sim a que foi originalmente publicada na revista Tintin, que inclui variações nalgumas sequências. Com um senão, o formato maior e a edição mais volumosa traduz-se no preço mais elevado: 34 €.

Reproduzir esta edição da Casterman, seria uma hipótese. Interessante. Desejável. Se seria viável no contexto da edição de BD no seio da ASA, tenho muitas dúvidas…

E tenho muitas dúvidas se, comercialmente, seria uma aposta mais vantajosa, se os compradores - mais exigentes - que atrairia a mais, compensariam aqueles que o preço mais elevado iria afastar...

Para o bem e para o mal - palpável, se assim preferirem, fica uma bela edição, do ponto de vista gráfico, no formato adequado para reprodução da arte original de Hergé.

Pouco mais que curiosidade para quem já tem estas histórias noutras edições - da Verbo, do Público, da ASA… - mas uma boa edição, mediaticamente relevante quando daqui a poucas semanas se falar dos 50 anos dos primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, indicada para quem nunca leu Rumo à Lua/Explorando a Lua. Leiam filhos, sobrinhos, netos…

E, para esses - e os outros - fica também a oportunidade de lerem ou relerem aquela que foi, possivelmente, a aventura de Tintin mais elaborada que Hergé criou, pela pesquisa - em jeito de antecipação, muito fiel ao que a NASA levou realmente a cabo cerca de 15 anos depois - que esteve na sua origem, que lhe confere - mesmo hoje - uma grande credibilidade científica.

Em termos narrativos, apesar de algum excesso de texto - a que a tal credibilidade obriga - é uma obra do melhor Hergé, na posse de todos os seus (muitos) recursos, muito conseguida em termos gráficos. Veja-se, por exemplo, como o foguetão lunar se tornou uma das imagens de marca do século XX, reproduzido, copiado, emulado à exaustão.

Narrativamente, é um relato muito sólido, com uma equilibrada combinação da tal base realista, com a ficção, assente em doses adequadas de suspense - acentuado pelo ritmo de publicação em revista que ‘obrigava’ a deixar o leitor ‘pendurado’ no final de cada página - acção, humor e uma invulgar componente dramática quando comparada com outras aventuras do repórter de poupa. Veja-se, a título de exemplo, a sequência que antecipa a alunagem do foguetão que leva Tintin, Haddock, Girassol, Milu e… ou boa parte da sequência final do livro.

Um bom pretexto - desnecessário mas sempre útil… - para voltar a Tintin… e à Lua!

Tintin e a Lua - Inclui os álbuns Rumo à Lua e Explorando a Lua

Hergé

ASA

Portugal, 25 de Junho de 2019

227 x 305 mm, 128 p., cor, capa dura

19,90 €

Leitura e escrita de Pedro Cleto, As Leituras do Pedro, 07/07/2019

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Tintin esteve na Lua antes de Armstrong

Tintin pisou o satélite terrestre 16 anos antes dos americanos

Comemora-se, este sábado, meio século dos primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, mas a verdade é que Hergé colocou os seus heróis no satélite terrestre 16 anos antes.

Na verdade, foi em 1953 que Tintin desceu as escadas exteriores do célebre foguetão em xadrez vermelho e branco e exclamou: "...pela primeira vez na História da Humanidade ALGUÉM CAMINHOU NA LUA!", como se pode ler em "Tintin e a Lua", a recente edição da ASA, da dupla aventura lunar do repórter belga, que é uma boa oportunidade de recordar ou descobrir a obra mais exigente do criador belga, em termos científicos.

A profunda investigação que esteve na origem do díptico "Rumo à Lua/Explorando a Lua", respetivamente os 16.º e 17.º álbuns na cronologia de Tintin, e que em muitos aspetos antecipou quase duas décadas a missão da NASA, faz com que a obra mantenha grande parte da sua atualidade e a capacidade de prender o leitor pela forma equilibrada como gere o suspense, a ação, o humor e mesmo uma forte intensidade dramática - em momentos como a alunagem ou o regresso à Terra.

Mesmo nos aspetos que sempre mereceram alguma contestação, como a forma do foguetão ou a sua propulsão atómica, foram devidamente escudados por Hergé nas mais recentes invenções da época da criação da banda desenhada, originalmente publicada entre 1950 e 1953. A descoberta de gelo por Tintin foi secundada recentemente pela NASA, e outros detalhes, como a recolha de amostras de rochas lunares, anteciparam a expedição norte-americana que trouxe mais de 300 kg delas para a Terra.

A importância dos preparativos, a perceção da enorme dimensão do projeto, a vida a bordo - sustentada pela maquete do foguetão que Hergé mandou fazer para garantir a credibilidade das sequências - ou a sensação de pequenez do ser humano face à dimensão da Terra e da Lua avistadas do espaço, são outros dos fatores que fazem desta uma obra notável e única.

F. Cleto e Pina in JN

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Fronteiras

Que é feito da Sildávia e da Bordúria, perguntarão os leitores, que costumam estar tão interessados em assuntos internacionais.

Recapitulemos: a Sildávia, reino centro-europeu de onde foi enviado o primeiro voo tripulado à Lua, é hoje uma próspera república e futuro membro da União Europeia. O rei Ottokar IV foi deposto num golpe militar que (diz-se) teve influência bordúria, mas a democracia regressou depressa, o que permitiu negociações frutuosas com Bruxelas e um rápido processo de adesão comunitária. A Sildávia é uma democracia parlamentar com taxas de crescimento económico a rondar os 6%. O seu rendimento per capita ultrapassou recentemente o português. Klow, a capital, tem meio milhão de habitantes e forte sector turístico, baseado na rica gastronomia. Tem atraído deslocalizações industriais do Vale do Ave.

Durante anos de isolamento, a Bordúria viveu um largo período da ditadura de Plekszy-Gladz e só recentemente alcançou a democracia, na chamada revolução azul-da-prússia. A sua selecção nacional quase conseguiu o apuramento para o mundial de futebol, tendo sido eliminada no play-off pela equipa sul-americana de San Theodoros.

Ao contrário do que se temia, Sildávia e Bordúria nunca chegaram a entrar em guerra uma com a outra.

Bem, isto é o pouco que sei sobre o assunto. Será que os leitores têm mais informações?

Este texto foi publicado em 10/10/2006 num blogue de que fui fundador, Corta-Fitas.

O post está extremamente desactualizado. Como sabem, logo a seguir à sua adesão à UE, a Sildávia foi forçada a pedir um empréstimo ao FMI, devido às dívidas contraídas com o programa espacial, e aplica neste momento um duro pacote de austeridade, após ter sido nomeado um governo de tecnocratas. Todos os dias há manifestações em Klow, a capital, e as agências de rating classificam a dívida sildava com notação de bb-.

A Bordúria teve recentemente eleições e regressou ao poder o partido do velho ditador Plekszy-Gladz, que controlou todo o processo de privatizações e cujos aliados se apoderaram das melhores empresas. A corrupção é generalizada e o país duplicou a sua despesa com armamento, para renovar as fardas dos três ramos das forças armadas (o concurso foi ganho pela empresa Armani). O jornal independente (Independensky) foi encerrado.

https://arquivo.pt/wayback/20140104175054/http://forteapache.blogs.sapo.pt/230003.html

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Caricatura de José Gomes

HOMENAGEM A UM PROFESSOR E AMIGO

Fazer sorrir os amigos é sempre uma oferta especial em datas de aniversário.

Por isso fica o meu desenho em homenagem a Francisco Amaral. Já tinha enviado, em data própria, o desenho capturado pela minha excelente (pffff) câmara de telemóvel...mas, agora segue o desenho digitalizado e com mais brincadeira.

As caricaturas devem (na minha opinião) expressar algo mais do que os traços da pessoa...deve ser um registo de alguma brincadeira que também a caraterize o caricaturado - é assim que penso e que faço.

José Gomes, 14/04/2015


O realizador do programa de rádio "Íntima Fracção", Francisco Amaral, de 68 anos, morreu em Abril de 2019.