Completam-se em Janeiro de 2003, 30 anos que um grupo de entusiastas organizou pela primeira vez um encontro de banda desenhada em Angoulême. Trinta anos depois, a manifestação tornou-se no mais importante festival europeu dedicado à 9ª arte e, “como 30 anos não se fazem todos os dias”, está prometida uma ambiciosa programação para os festejar condignamente.
Como cabeça de cartaz, surge o belga François Schuiten, galardoado este ano com o Grande Prémio de Angoulême pelo conjunto da sua obra e que é, por isso, também o Presidente do Festival. Schuiten, que recentemente recebeu do Rei Alberto II, da Bélgica, o título de barão, uma honra raríssima para um autor de BD, será objecto de uma grande retrospectiva, que permitirá avaliar o percurso ímpar de um dos mais destacados autores da sua geração e de um dos mais consensuais premiados dos últimos anos. Esta exposição está rodeada de grande expectativa, pois na memória de todos está ainda a fabulosa montagem cénica “Le musée des Ombres” que Schuiten e Peeteres apresentaram em Angoulême em 1990, sendo também reconhecida internacionalmente a sua obra noutras áreas, como as estações de metro “Porte de Hal”, em Bruxelas, e “Arts et métiers”, em Paris, o pavilhão do Luxemburgo na Expo de Sevilha, ou o Pavilhão das Utopias, na expo de Hannover.
Outro nome em destaque é o do polaco Gregorz Rosinski, que esteve no último Festival de BD da Amadora, que exporá pranchas desde os seus primeiros trabalhos editados, ainda na Polónia, aos seus grandes sucessos no mercado franco-belga como “Le grand pouvoir do Chninkel”, “Thorgal” ou “Western”, e ainda pinturas e ilustrações diversas.
A Bélgica volta a ser o país convidado, estando prevista a presença, na inauguração desta exposição, do príncipe Philippe e da princesa Mathilde. Continuando a apostar na descoberta de diferentes formas de criar a 9ª arte, depois do Japão em 2001 e dos Estados Unidos, em 2002, o festival de 2003 dedicará um olhar especial à produção coreana e vietnamita. O programa inclui também encontros com grandes estrelas da banda desenhada mundial como os japoneses Otomo e Taniguchi, o americano Spiegelman, os britânicos Gaiman e McKean, os argentinos Muñoz e Sampayo ou o espanhol Prado que, “mais do que conferências tradicionais, pretendem propor, ao público, uma verdadeira troca, rica, humana, concreta” com os autores, acerca das suas técnicas e das suas formas de trabalho.
Uma homenagem a Reiser, nos 20 anos do seu desaparecimento, a obra de Nicolas De Crécy, o mundo de Troy, criado por Arleston, Tarquin e Mounier e o universo de “O vento nos salgueiros”, recriado por Plessix, serão outros dos pontos de interesse do festival que mantém as incontornáveis “bulles” onde funcionam as imensas feiras do livro e dos produtos derivados.
Pela segunda vez, depois do crítico e investigador João Paulo Paiva Boléo, em 1998, quando Portugal foi o país convidado de Angoulême, o júri do festival terá uma presença portuguesa, o que atesta a importância que o mercado nacional, actualmente em fase de grande expansão, tem para os franceses. A honra cabe a Maria José Pereira, anteriormente responsável do Departamento BD da Meribérica/Líber, actualmente a exercer as mesmas funções na ASA. Este júri, presidido por François Schuiten, é responsável pela atribuição dos troféus Alph’Art para os melhores álbum, desenho, argumento, diálogo e primeiro álbum, a seleccionar entre as mais de 1000 obras editadas ao longo deste ano em França.
(Caixa à parte)
A Rua Hergé e a Rua do 30º
Durante o 30º Festival Internacional de BD de Angoulême, terá lugar uma homenagem muito especial: pela primeira vez, “a cidade que vive a BD” homenageará um dos grandes autores da 9ª arte, dando o nome de Hergé a uma das suas artérias, no ano em que se comemoram 20 anos sobre a sua morte. Assim, a famosa rua Marengo, uma das mais movimentadas durante o festival, passará a chamar-se Rua Hergé, o que até é de inteira justiça, pois foi o criador de Tintin que a inaugurou oficialmente, em 1977, aquando da sua renovação. Até agora, só existia uma rua Hergé, uma minúscula artéria da comuna de Céroux-Mousty, na Bélgica.
Apenas durante o festival, a rua de Genéve, será temporariamente baptizada Rua do 30º e decorada com elementos alusivos a cada um dos autores até agora laureados com o Grande Prémio de Angoulême. Numerosos documentos fotográficos sobre os 30 anos do festival serão expostos nas montras comerciais desta rua.
Pedro Cleto, Jornal de Notícias, 22 de Novembro de 2002
Copyright: © 2002 Jornal de Notícias; Pedro Cleto
A BD que temos (1998)
DESDE o dia 22 que decorre o Festival de Banda Desenhada de Angoulême, em que Portugal é pela primeira vez o país convidado - o que naturalmente nos estimula a olhar o panorama actual da BD portuguesa. Já vai longe o tempo em que se aguardava com (in)contida expectativa a revista e/ou tira semanal de banda desenhada, cujas histórias se encontravam inefavelmente suspensas por um mágico «never ending».
No JuveBêDê nº 9 de Dezembro de 1998 aparece uma banda desenhada " Volta à Gália'98", da autoria de Tiago Marques.
Começa com uma visita ao Centro Nacional de BD e Imagem onde podemos ver uma estátua de Hergé.

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