segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Tintim assinala entrada do euro
Uma amizade duradoura .
Segundo os correios belgas, "esta emissão pretende ser também uma modesta mas muito atraente contribuição para a amizade duradoura que une a Bélgica à República Democrática do Congo", pelo que estes dois selos do correio serão igualmente emitidos neste último país..
Esta não é, no entanto, a primeira vez que a célebre criação de Hergé é alvo de tal homenagem. A primeira aparição de Tintim em selos (conjuntamente com Milou e o Capitão Haddock), aconteceu em 1979, já na Bélgica, naquele que seria o primeiro selo da série "Philatélie de la Jeunesse," dedicada aos heróis dos quadradinhos daquele país, série essa que se tornaria anual a partir de 1986, e por onde já passaram, entre outros, Spirou, Lucky Luke, Blake e Mortimer, Boule e Bill, Gaston Lagaffe, Cubitus, Ric Hochet ou Luc Orient..
Vinte anos depois, 1999 podia quase ser classificado como o "ano Tintim" no que respeita à filatelia. De novo na Bélgica, numa folha intitulada "Volta ao século XX em selos", encontramos de Tintim, agora como o manipulador de uma marioneta que é nada mais nada menos do que... Hergé, o seu autor. No mesmo país, o bloco de nove selos comemorativo dos dez anos do Centre Belge de Bande Dessinée reproduzia criações de oito autores belgas já falecidos e uma fotografia com a réplica do foguetão em que Tintim foi à Lua. A viagem espacial de Tintim foi também o tema escolhido pela Holanda para um bloco com dois selos e, ainda no mesmo ano, em Angola, a emissão não oficial "Countdown to the Millenium" assinalava o ano de 1929 com um fotograma do desenho animado "Tintim e o Templo doSol"..
Também a França homenageou Tintim, no ano 2000, na segunda edição da sua "Fête du timbre", através da emissão de um selo, um bloco e uma folha miniatura. Esta "festa" anual tivera início um ano antes, com Astérix, e prosseguiu em 2001 com Gaston Lagaffe, estando previsto um selo dedicado a Boule e Bill para Março de 2002. Como curiosidade, refira-se que o selo com Tintim foi o de maior sucesso, pois vendeu 15 milhões de exemplares contra "apenas" 9,6 milhões do selo Astérix..
© 2001 Jornal de Notícias; Pedro Cleto
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Na sombra de Tintim
O contraste entre a fragilidade de Hergé e a força positiva de Tintim não podia ser mais gritante. Para quem foi habituado, através de aventuras sucessivas, a ver naquele herói da banda desenhada europeia um modelo de qualidades imutáveis, estes momentos de fraqueza pessoal são estranhos e, porventura, insuportáveis. Dizer que Tintim foi uma espécie de "alter-ego" superlativo e mesmo transcendente do desenhador - exprimindo, para todos os efeitos, o melhor do artista belga, mas sem estar sujeito às mesmas leis humanas que regeram a sua existência -, pouco ajuda a esclarecer este enigma fundamental: quem era Hergé e o que procurava ele exprimir através do seu herói?
Possivelmente, nenhum outro autor da BD mundial foi alvo de tantos estudos e análises académicas, ou de trabalhos jornalísticos. A reconstituição, ao longo dos anos, da história de vida do desenhador e argumentista belga parece não deixar espaço para zonas de sombra ou tempos de incerteza: sabe-se tudo sobre Hergé e nada se ignora sobre Tintim. E, contudo, continuam a surgir, com regularidade, livros centradas na obra e na vida do mestre belga. Um deles é este "As Aventuras de Hergé", com o qual o seu editor português decidiu assinalar, simultaneamente, os 20 anos da morte do autor (Março de 1983) e os 75 anos do aparecimento de Tintim, a celebrar no final de Janeiro do próximo ano.
O que singulariza este trabalho em relação aos demais é ser ele próprio uma banda desenhada, cujo protagonista, como o título sugere, é o próprio Hergé e não o seu personagem. Por outras palavras, os autores propuseram-se - e conseguiram-no plenamente, diga-se desde já - revisitar a vida do criador de Tintim numa sequência de quadros que traçam, de forma subjectiva e afectiva, o essencial do percurso do homem e do artista.
Vê-se claramente que Stanislas, Boucquet e Fromental estão afectiva e intelectualmente próximos de Hergé, que há uma aceitação e um esforço de demonstração da tremenda humanidade do artista, com as suas mais elevadas qualidades e mais densas fraquezas. Para quem pouco ou nada conhece do homem, esta é uma boa iniciação; para os outros, a leitura do livro permite estabelecer algumas cumplicidades em torno das diversas aventuras de Tintim, aqui e ali citadas ou apenas sugeridas. Para todos, esta excelente edição pode constituir um "aperitivo" à fruição dos álbuns que o PÚBLICO está a oferecer aos seus leitores.
As Aventuras de Hergé AUTORES Stanislas (desenho), Boucquet e Fromental (texto)
EDITOR Mais BD 64 págs., € 16,95
© 2003 Público; Carlos Pessoa
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Uma agitada aventura colonial

Ao contrário da história anterior ("Tintim no País dos Sovietes", que é também a primeira da série), Tintim é acolhido em África como um herói internacional e uma figura quase lendária. Aliás, a glória precede-o nessa saga africana, pois os representantes da grande imprensa internacional - curiosamente, Hergé inclui também o deferente delegado do "Diário de Lisboa"... - disputam entre si o privilégio de publicar em exclusivo as reportagens do herói. Mas este permanecerá fiel ao "Vingtième", onde esta BD será publicada entre 5 de Junho de 1930 e 11 de Junho do ano seguinte.
De um modo geral, o traço de Hergé apresenta-se mais firme, mas sem perda de espontaneidade. Quanto ao desenho dos animais, é o próprio autor a confessar que pediu "ajuda" às gravuras de Benjamin Rabier. Perante uma multidão de "pretos" preguiçosos, estúpidos e infantis que se exprimem em mau francês, Tintim louva os méritos e grandezas da mãe-pátria. Milu também não está pelos ajustes: ele aceitou ir a África para caçar grandes feras, no que é imitado pelo seu dono, que não tem o menor problema em matar animais a torto e a direito, eliminando até um rinoceronte com dinamite... No entanto, o herói não chega a ter adversários locais verdadeiramente maus, pois os negros desta história são demasiado pueris para serem perigosos.
Tal como acontecera a propósito de "Tintim no País dos Sovietes", o padre Wallez decide organizar uma recepção ao herói quando este regressa a Bruxelas. Uma multidão impressionante acolhe um Tintim de carne e osso e um Milu pedido de empréstimo ao dono de um café da cidade, que quase é esmagado no boulevard du Jardin Botanique por centenas de miúdos que lhe querem dar torrões de açúcar...
A publicação de "Tintim no Congo" não levanta qualquer polémica na época, de tal modo a história está conforme ao espírito da mentalidade europeia daquele tempo - por outras palavras, ter territórios ultramarinos é atributo dos grandes países e sinónimo de poder no concerto das nações. Só mais tarde, quando a questão colonial entra na agenda política, é que a aventura africana de Tintim passará pelo crivo da análise político-ideológica.
Esta BD valerá a Hergé acusações de colonialismo e racismo, das quais este se defende invocando a mentalidade reinante na sociedade belga dos anos 30 do século XX. É verdade, mas não o é menos, nesta fase inicial da sua obra, a colagem do artista aos valores culturais e ideológicos dominantes. E não deixa de ser curioso que, ao realizar a reformulação gráfica e de diálogos desta história, em 1946, o artista belga a deixe praticamente intacta em termos narrativos.
Hergé nunca escondeu o seu desamor por "Tintim no Congo". No entanto, querelas ideológicas e filosóficas à parte, permanece como um excelente documento sobre a imagem estereotipada que os europeus tinham do continente africano.

Hergé; Numa Sadoul
NUMA SADOUL:Foi dito e redito que era racista. Este é um bom momento para pôr as coisas a claro: que tem a dizer em sua defesa? Que responde quando o acusam de ser "racista"?
HERGÉ: - Respondo que todas as opiniões são livres, incluindo a de pretender que eu sou racista... Enfim, seja!... Há "Tintim no Congo", admito-o. Isso passou-se em 1930. Do país eu só conhecia aquilo que as pessoas diziam na altura: "Os negros são crianças grandes... Felizmente para eles, nós estamos lá!, etc..." E eu desenhei os africanos de acordo com esses critérios, no mais puro espírito paternalista que era o daquela época, na Bélgica. Mais tarde, pelo contrário, em "Carvão no Porão" - e isso, apesar de se falar na história em "pretoguês" - parece-me que Tintim dá provas sobejas do seu anti-racismo, não?... (...) Em "Tintim no Congo", tal como em "Tintim no País dos Sovietes", o que se verifica é que eu me alimentava com os preconceitos do meio burguês em que vivia. De facto, estas duas histórias foram pecados de juventude. Não é que eu os renegue. Mas, enfim, se tivesse que refazer as histórias, fá-las-ia de outra forma, isso é certo. Seja como for, todos os pecados têm redenção!...
Passemos então directamente a "Tintim no Congo".
- "Tintim no Congo"... Por que é que eu fiz "Tintim no Congo", e como é que o fiz?... Na realidade, depois do seu regresso da Rússia eu preferia ter enviado Tintim directamente para a América. Mas o padre Wallez persuadiu-me a começar pelo Congo: "É a nossa maravilhosa colónia, que tem tanta necessidade de nós, e além disso é necessário despertar vocações coloniais" e patati e patatá! Nada disso me inspirava muito, mas eu rendi-me a esses argumentos e pronto, lá fomos em força para o Congo! Como disse, fiz esta história na perspectiva da época, ou seja, de acordo com um espírito tipicamente paternalista... que era, posso afirmá-lo, o de toda a Bélgica. Passemos sem mais demora ao próximo álbum.
("Entretiens avec Hergé", de Numa Sadoul, Éditions Casterman).
© 2003 Público; Carlos Pessoa
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Sexto!
A 22 de Maio de 1907, nasceu em Bruxelas o criador de Tintim cuja criação, em 1929, estabeleceu uma forte ligação entre Hergé, o desenhador, e o jovem repórter aventureiro, a personagem: «Tintim sou eu.», disse Hergé.
Tintim é até hoje a mais famosa personagem da banda desenhada europeia.
Já no ano de 1930, Hergé tinha criado as Aventuras de Quim e Filipe, publicadas em Portugal, aventuras essas que reflectem a Bruxelas dos anos 30. Em 1935, desenhou Joana, João e o macaco Simão, série de ficção científica também editada em Portugal. As aventuras de Tintim a cores foram editadas em Portugal no jornal O Papagaio, em 1936.
Hergé morre aos 76 anos, deixando expresso que ninguém poderia continuar a sua obra.
A Bélgica comemora o centenário do nascimento de Hergé, assinalando-o com a colocação da primeira pedra do futuro Museu
Hergé, em Louvain-la-Neuve, cidade onde o cartoonista faleceu.
Em Portugal, a Editorial Verbo e o Festival de Banda Desenhada de Almada assinalam este centenário com uma exposição em parceria com a Fundação Hergé. E, para 2009, está planeada uma exposição retrospectiva, a mesma que o Centro Georges Pompidou acolheu até ao passado mês de Fevereiro.
Professora Maria de Lurdes Goulão, Jornal Toque de Saída, 2007 (Externato de Benedita)
https://arquivo.pt/wayback/20091219135818/http://www.externatobenedita.net/jornal/6_numero/pdf/n6_final.pdf
Sexto!
A Castafiore é um pequeno detalhe tintinesco, muito saboroso.
Evocá-la em acção num espaço confinado, a propos do centenário de Hergé é muito bem lembrado!
Aliás, a tira evoca muito bem Hergé e Tintim: os espaços abertos, a natureza como palco das acções humanas, o herói e as personagens próximas mas inquietantes que o rodeiam, os cálculos mentais rápidos...
Como as cerejas, outra diva me ocorre a propósito da transitoriedade e da, que contracena com Fernando Trueba em Belle Époque...
Obrigada pela tira online.
Quando é que há jornal?
por Ana Luisa Q - Quarta, 28 Novembro 2007, 15:59
Responder
Ainda bem que gostaste da Castafiore. Eu tinha escolhido os Dupond & Dupont; a Castafiore foi ideia do Samuel, e uma excelente ideia, como viste! A arte de ajustamento ao confinado espaço foi do Paulo. E a produção do artigo, da Milú (da nossa). Trabalho colaborativo, né? sorriso
Gostaríamos de ter o jornal amanhã, embora a previsão fosse 2ª feira. Mas dava mesmo muito jeito tê-lo amahã "nas bancas". No entanto a gráfica está cheia de trabalho. Vamos ver.
por Soledade Santos - Quarta, 28 Novembro 2007, 20:03
https://arquivo.pt/wayback/20081022134918/http://ecb-m.ccems.pt/mod/forum/discuss.php?d=1660