quarta-feira, 18 de abril de 2012

Tintin no Alentejo Popular de 07.04.2011 por Luiz Beira



Quando se fala do artista belga Georges Rémi (22 de Maio de 1907-3 de Março de 1983), ou seja, o grande mestre Hergé, «todo o mundo» estremece. A maioria esmagadora, porque o admira em pleno e... alguns «cor de burro quando foge» que, invejosos e plenos de veneno, o deturpam. É esta a sina dos eternos génios!
Certo é que Hergé não era um deus. Era um ser humano. Com virtudes, defeitos, climas de venetas... Tivemos a honra de o entrevistar ao vivo em 1966, em Bruxelas, para a nossa extinta revista «Platei». Ficou-nos desde então, uma enternecedora simpatia pelo modo tão afável como nos recebeu. Alguns anos mais tarde, agora já por correspondência (desde 1966, sempre trocávamos cartões de Boas Festas), houve uma segunda entrevista, que veio a ser publicada em «O Mosquito» (5.ª série).
Hergé é, sobretudo, o seu «herói» Tintin. Ele próprio se identificava como sendo este jovem herói, embora muitos digam que ele se parodiava no pândego Comandante Haddock...
Se bem que tenha afirmado «Tintin, C’est Moi» (Tintin Sou Eu), Hergé foi também, Totor, Quick e Flupke, Jo-Zette-Jocko, etc.. De qualquer modo, é Tintin que o carimba.
Pois muito e muito se tem escrito sobre tamanho mestre da Banda Desenhada. E muito se virá ainda a escrever... Hergé é um verdadeiro «messias» da Banda Desenhada, pois há o antes dele e o depois dele.
E quando nós, os hergeófilos em consciência, pensávamos  que já tudo tinha sido esclarecido (pois há tanta obra afim...), eis que deparámos com uma obra inquietante e pertinente: «La Vie Secrète d’Hergé», por Olivier Reibel, sob edição Dervy. É um volume respeitável, estudo ou ensaio, de 400 e tal páginas.
Terrível! Ponto por ponto, o autor revela-nos em obra admiravelmente exaustiva a personalidade e a obra de Hergé, muito especialmente sobre o herói Tintin. É a reviravolta necessária na consciência dos admiradores do autor e herói em questão! Não é um ataque a Hergé. É apenas o desvendar da personalidade e obra tintinesca deste autor da Banda Desenhada.
E é aqui que as coisas se baralham: tudo isso (a série «Tintin») foi «meramente» criado... ou, sibilinamente, nessa série, existe um brioso código?
O autor do volume «aproxima» Hergé dos Templários, dos Rosa-Cruz, da franco-maçonaria, da Teosofia, das ciências ocultas, etc.. E demarca-o sempre num aspecto: Hergé jamais foi simpatizante a ideias ou regimes totalitários, fossem de esquerda ou de direita, fossem monárquicos ou republicanos.
Esta obra sobre Hergé é, sem dúvida, de obrigatória leitura e análise. Tomara que as edições Asa/Leya tenham a consciência e a coragem de a editar em português, tal como as edições Verbo tiveram  a consciência e a coragem de editar «Hergé, Filho de Tintin», de Benoît Peeters. São duas obras complementares e bastante desmistificadoras.
E no que nos toca, a nós, portugueses: neste volume, das páginas 345 a 349, há um capítulo bem «curioso», com o título: «Oliveira da Figueira et Fernando Pessoa». Ah, pois!... Muito importante lê-lo! Com um curto erro: Reibel indica que «Oliveira», em português, significa o fruto (e não a árvore), quando este, em português, é azeitona (ou oliva, vamos lá...). De resto, é muito interessante esse «jogo» de Oliveira da Figueira-Tintin-Fernando Pessoa... Leiam!

Os «Tintin» incompletos/desconhecidos

Um breve registo para os que ainda não sabiam: o álbum derradeiro com Tintin, que Hergé elaborava, foi «Tintin e o Alph-‑Art», que acabou, mesmo assim, por ser publicado em diversos países, incluindo o nosso. Mas houve ideias e esboços sobre as «aventuras de Tintin», que Hergé «abandonou» (ou adiou?), das quais indicamos o devido registo: «Un Jour d’Hiver Dans un Aeroport», «Le Mystère du Diamant Bleu» (houve depois, uma versão teatral) e «Tintin et le Thermozèro». Por sua vez, «Tintin et Milou Chez les Toréadors», de Jean Roquette (1947), é uma novela com os personagens da série. E, esquecendo «O Lago dos Tubarões» (expresso para Cinema de Animação) e as duas longas metragens com Jean-Pierre Talbolt, há a registar as versões teatrais: «Le Temple du Solei» (versão opereta com um elenco francófono e outro flamengo, na Bélgica) e, em 2002, na Suíça, o tão aplaudido espectáculo adaptado de «Les Bijoux de la Castafiore». e Isolda») e «Charles Brandon» (2007-2010, «Os Tudor»).

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