quarta-feira, 17 de novembro de 2021

"Le Sr. Oliveira da Figueira... & les aventures de Hergé et Tim-Tim au Portugal" é o título de um livro que será colocado à venda em França no próximo dia 10.

O seu autor, Albert Algoud, especialista na obra de Hergé, já publicou vários livros sobre ela, entre os quais o "Dicionário ilustrado dos insultos do Capitão Haddock", que a ASA edita entre nós este mês.

Oliveira da Figueira surgiu pela primeira vez em "Os charutos do faraó", na edição a preto e branco de 1934, apresentado então como um vendedor fala-barato que convence o herói a comprar um sem número de objetos inúteis. Regressaria ao convívio de Tintin, de forma esparsa, em "Tintin no país do ouro negro" (1939) e em "Carvão no porão", como Oliveira de Figueira. Em "As jóias da Castafiore" (1963) é um dos que envia ao Capitão Haddock os parabéns pelo casamento com a cantora lírica. No total, o mercador surge em cerca de seis dezenas de vinhetas, sempre solícito para ajudar Tintin.

Ficcionando a biografia de Oliveira da Figueira, Algoud atribui-lhe raízes judias, o que leva a abordar a questão da expulsão dos judeus em Portugal, desenhando uma linha genealógica que se inicia com os primos Jorge e Gonçalo de Oliveira, naturais da Figueira da Foz, a quem no século XVI D. Manuel concedeu o monopólio do comércio com a Índia, numa interessante combinação de história e ficção. Baseado nos trejeitos e expressões presentes na primeira aparição, adivinha traços de homossexualidade na personagem, e explora as várias ligações a Portugal existentes nas suas aparições, bem como a sua suposta morte na versão a preto e branco daquele primeiro álbum, que Hergé eliminaria na versão colorida. Refere curiosidades como o facto do bigode de Oliveira da Figueira ser uma homenagem de Hergé a... Salvador Dalí ou a nacionalidade espanhola, como Olivero de Malaga, que lhe foi atribuída por "O papagaio" em 1937, na primeira versão portuguesa de "Os charutos de faraó", rebaptizada "As aventuras de Tim-Tim no Oriente", uma vez que a personagem desagradava a Adolfo Simões Müller, também pela proximidade a um certo Oliveira... Salazar.

O segmento biográfico é acompanhado de uma análise bastante completa do historial da edição de Tintin em Portugal, o primeiro país não francófono a publicar o herói, e o primeiro em todo o mundo a fazê-lo a cores, incluindo um extenso glossário que vai do Abade Abel Varzim e de Adolfo Simões Müller até às sardinhas com que os direitos de Tintin foram pagos durante a II Guerra Mundial!

O livro, com 160 páginas, faz parte da colecção "Bibliothéque Lusitaine Poche" das Éditions Chandeigne, "especializadas no mundo lusófono há mais de 30 anos", como explicou ao JN o editor Michel Chandeigne: "Grande apreciador de Tintin desde a juventude; conhecendo as singularidades da edição de Tintin em Portugal e a existência de uma personagem portuguesa, pareceu-me que havia matéria para um livro interessante, por isso, naturalmente, pensei em Albert Algoud, um dos grandes especialistas franceses de Tintin".

Dada a recusa, por parte da Moulinsart, de autorização para utilizar "as espantosas imagens coloridas de "O papagaio"", explica Chandeigne, foi proposto a "um dos grandes desenhadores franceses, Philippe Dumas, que evocasse no seu estilo humorístico o universo de Hergé, sem o copiar", o que ele fez, reproduzindo algumas das capas de "O papagaio", a livraria portuense Timtim por Timtim, Castafiore numa casa de fados, Milu com uma bandeira portuguesa ou o protagonista a dar vivas ao... Futebol Clube do Porto.

"Le Sr. Oliveira da Figueira... & les aventures de Hergé et Tim-Tim ao Portugal" será apresentado no Instituto Francês de Lisboa no dia 23 de Novembro, às 19 horas, estando marcada uma sessão de autógrafos com Albert Algoud e Philippe Dumas no dia seguinte, às 19 horas, na livraria Palavra de Viajante.

F. Cleto e Pina in Jornal de Notícias

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