domingo, 22 de novembro de 2015

Desenho de livro de Tintim vendido por mais de 700 mil euros

Um desenho do livro de BD “Tintim no Congo” foi hoje vendido por 700.600 euros, num leilão em Paris, França.

O desenho a lápis e guache, concebido por Hergé para o álbum de 1937, estava avaliado entre 300 mil a 500 mil euros, segundo a casa leiloeira, e foi comprado por um licitador na sala, depois de uma disputa, ao telefone, entre dois colecionadores europeus.

Uma edição original do álbum “O caranguejo das pinças de ouro”, de 1942, também da série “As aventuras de Tintim”, foi vendida por 25.200 euros.

No total, as obras do autor belga de banda-desenhada que foram hoje leiloadas renderam 1,1 milhões de euros.

In Observador

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Johan


Johan de Moor pour une expo au Portugal. link, 27/02/2015

Johan

Em 2008 passou por Lisboa tendo sido entrevisto por Carlos Pessoa.

P - O que é preciso para ser um bom cartoonista?

- Trabalho para diários, o que exige um training especial com os textos. Investi nisso e cheguei a ganhar o prémio para o melhor desenho de imprensa da Bélgica. Como o cartoon é feito por uma ou duas imagens, é necessário concentrar, sintetizar um acontecimento. É um pouco como o trabalho do jornalista, que tem de sintetizar a informação disponível. Mas é fascinante!

P - E na banda desenhada?

É diferente. Pode trabalhar-se num quadradinho durante um dia e no seguinte durante uma hora... E depois vem alguém que, perante o quadradinho que levou uma hora a fazer, diz que é uma obra-prima, porque é mais gráfico ou outra coisa qualquer! É normal. Quando já se anda nisto há muitos anos, é necessário manter sempre a calma e estar descontraído, sem cair na tentação de forçar as coisas. Cada autor tem o seu próprio código de leitura e de desenho e é necessário não o violentar.

P - No começo de tudo esteve a continuação das peripécias de Quick e Flupke.

- Sim. Deu-me a possibilidade de entrar pela porta grande na banda desenhada e constituiu também uma grande escola prosseguir a obra de Hergé, mesmo sendo uma série de segunda linha.

Recortes, Kuentro, 2008/12

FIBDA 2004

Em Abril de 2002, foi anunciado o regresso de Lucky Luke, após a morte do criador Morris, a 17 de Julho de 2001. Morris deixou bem expressa a vontade de que a série tivesse continuidade após a sua morte, e a editora Dargaud, já responsável pelo bem sucedido regresso de Blake e Mortimer (em 1997, após a morte do criador Edgar-Pierre Jacobs em 1987), aceitou este desafio.

A escolha de autor para dar continuidade às aventuras do cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra recaiu sobre a dupla Laurent Gerra (argumentista) e Achdé (desenhador). Os dois autores estiveram presentes no primeiro fim-de-semana do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), com o lançamento da edição portuguesa do novíssimo álbum de Lucky Luke (pelas Edições Asa).

Nesse mesmo fim-de-semana, estava também no FIBDA Johann de Moor, convidado no âmbito da exposição da nova BD flamenga. Johann é o filho de Bob de Moor, que terminou o segundo volume de “As 3 Fórmulas do Professor Sato” após a morte de Jacobs, e que foi sempre apontado como o continuador de Tintin após a morte de Hergé (se Tintin continuasse). O próprio Johann assegurou durante algum tempo a continuação de Quim e Filipe, outra série de Hergé (publicada em Portugal pela Verbo).

Nessa medida, juntaram-se os três autores no auditório para uma conversa sobre “O Regresso dos Clássicos”.

A questão da possibilidade de regresso de Tintin foi colocada, em jeito de recolha de opinião, aos três autores. E foi entendida como uma questão pertinente. Daqui a alguns anos, Tintin poderá parecer um discurso menos actual, e poderá levantar um problema de perda de leitores. Nesse momento (ainda distante), o regresso de outros clássicos (como Lucky Luke) poderá pesar, assim como o facto de o desejo de Hergé para que não houvesse continuidade da personagem após a sua morte não ter sido tão explícito como o desejo de Morris para que Lucky Luke continuasse, por exemplo.

(...)

Johan de Moor chegou a Quim e Filipe pela via da animação. Pouco tempo depois da morte do criador de Tintin, numa altura em que Johann trabalhava no Estúdio Hergé, teve o consentimento da viúva de Hergé e da editora Casterman para avançar com o projecto de adaptação ao cinema de animação da dupla Quim e Filipe. Terminada a série animada, Johan de Moor assinou ainda um álbum com 23 histórias. Foi então que a viúva de Hergé repensou a ideia, e parou o projecto da continuidade de Quim e Filipe.

Johan de Moor orgulha-se do trabalho que fez com Quim e Filipe, mas não lamenta a decisão da viúva de Hergé, que lhe permitiu avançar para projectos mais pessoais. Primeiro com Gaspard de la Nuit (quatro álbuns de 1987 a 1991, em colaboração com Stephen Desberg), e depois com a hilariante La Vache (oito álbuns a partir de 1992, de novo com Desberg), numa paródia impiedosa ao estilo James Bond. Com a mudança de editor, La Vache passa a Lait Entier (dois álbuns desde 2001).

(...)

A banda desenhada flamenga reflecte uma realidade cultural, da Flandres e também de Bruxelas, distinta e independente da francófona, ainda que complementar.

A questão linguística é fundamental. Com as portas dos editores francófonos fechadas a quem não falava fluentemente francês, os autores da Flandres viram-se obrigados a criar a sua própria BD.

Ao contrário da banda desenhada francófona, a BD flamenga não se afirmou nos jornais e revistas especializados (Tintin, Spirou, etc.), mas na imprensa quotidiana. Esta diferença histórica fundamental veio acentuar determinadas características únicas ao nível da forma: na BD flamenga trabalha-se muito o formato da tira, e não há uma preocupação tão grande no detalhe (já que tanto o ritmo de produção como o ritmo de leitura são mais rápidos, e a má qualidade do papel também não permitia grandes riscos ao nível da técnica). Com o tempo, a BD flamenga começou a reflectir sobretudo a realidade da Flandres, enquanto a BD francófona começa a projectar-se para o exterior. A BD flamenga começa a ter géneros preferenciais, com destaque para a aventura humorística, privilegiando as séries.

Em termos históricos, a BD flamenga representa um gigante escondido na identidade cultural da Flandres: quem conhece a série Jommeke (Gil et Jo), de Jef Nys, com mais de 45 milhões de álbuns vendidos? Quem conhece as colecções Suske en Wiske (Bob et Bobette), Nero (Néron), Bessy ou De Rode Ridder (Le Chevalier Rouge), que, tal como Jommeke, contam com mais de duzentos títulos?

Já os autores que se integram na BD francófona beneficiam da projecção internacional característica desta forma de BD: Morris (o criador de Lucky Luke, primeiro convidado internacional do FIBDA), Berck, Vance, ou Bob de Moor são conhecidos autores flamengos que se integraram no modelo francófono na sua produção ao nível da BD.

Nos últimos anos, a BD flamenga tem sofrido transformações importantíssimas. Como explicou Johan de Moor, a oferta editorial concentrou-se num único grande editor, exclusivamente vocacionado para a BD infantil de grande público. A exposição que foi apresentada no FIBDA 2004 é uma forma de mostrar que existem autores que querem (e são capazes de) fazer outros tipos de BD, com uma criatividade narrativa e no tratamento da imagem que desafia limitações de género. Johan de Moor é um bom exemplo.

Pedro Mota, Noticias da Amadora nº 1597, 09/12/2004

Johan de Moor é filho de um "clássico" da BD europeia (Bob de Moor) que começou a trabalhar com o pai na fabricação convencional das histórias curtas de Quick e Flupke (de Hergé) antes de se afirmar, no final dos anos 80, como o artista original e criador que é.

Publico

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Duas páginas de Tintin vendidas por mais de 1,5 milhões de euros


Duas páginas originais do álbum "O ceptro de Ottokar" de Tintin, publicado em 1939, foram hoje leiloadas em Paris por mais de milhão e meio de euros, anunciou a leiloeira Sotheby's.

Segundo a Sotheby's o valor da venda, 1.563.000 euros, é "um recorde mundial", sendo que o preço base de licitação estava situado entre os 600.000 e os 800.000 euros.

Com um tamanho entre 40 a 60 centímetros e desenhadas a tinta-da-china, as 14 vinhetas das duas páginas leiloadas mostram o ataque militar sofrido pelo avião onde seguiam Tintin e o seu cão, Milou, publicadas na revista belga "Le Petit Vingtième".

Esta foi a "peça estrela" do leilão da vasta coleção do belga Jean-Arnold Schoofs, considerada uma das maiores do mundo dos quadradinhos, das quais 132 lotes foram vendidos por um total de 2,7 milhões de euros.

In Lusa

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Desenho de Tintin leiloado por 1,1 milhões

Um desenho inédito das aventuras de Tintin foi leiloado esta semana em Hong Kong por cerca de 1,1 milhões de euros. O trabalho, assinado pelo autor belga Hergé, pertence ao livro ‘O Lótus Azul’, lançado em 1936, cuja ação passa por Xangai. "‘O Lótus Azul’ é considerado pelos especialistas a obra-prima de Hergé. Além disso, era raro falar da China na Europa dos anos 30", afirmou Eric Leroy, perito em banda desenhada da leiloeira francesa Artcurial, responsável pela venda daquele que é, também, o único original do livro ainda na posse de um particular, neste caso um colecionador asiático. Em maio, a Artcurial vendeu uma capa de ‘Tintin In America’, desenhada à mão, pelo valor recorde de 2,6 milhões de euros.

http://www.cmjornal.xl.pt/cultura/detalhe/desenho_de_tintin_leiloado_por_11_milhoes.html

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Até tu, Brutus!

O Governo perdeu a voz. E precisa urgentemente de pastilhas para a garganta. Entrou, vestido de Castafiore, aquela que nos livros de Tintin, quando cantava, fazia com que os vidros se quebrassem. Algumas corporações tremeram e taparam os ouvidos, paralisadas de medo.

Poucos meses depois tudo mudou. O Governo faz soar a sua voz mas ela perde-se no meio do ruído de todas as oposições possíveis. A oposição ao Governo que menos se ouve é a do PSD.

Pode ser uma táctica. Talvez Marques Mendes acredite que lhe poderá suceder o mesmo que a Sócrates. Que o Governo caia por cansaço, como aconteceu com o equilibrista Santana Lopes. Sem mexer um dedo Sócrates tornou-se o líder maioritário do executivo.

O chefe do PSD muito provavelmente acredita na mesma coisa. Sócrates, sem ter feito qualquer tirocínio como tribuno calejado da oposição, chegou a São Bento. Foi uma viagem à velocidade do TGV. As ideias soltas que tinha para governar ficaram nos apeadeiros onde não teve tempo para ficar.

Marques Mendes ainda precisa um pouco mais da poção da oposição. Mas, com o problema de voz, de transparência e de autoridade de grande parte do Governo, um dia destes Marques Mendes chega ao poder.

Já começam a haver muitos Brutus no círculo de Sócrates.


Comentários

Nunca tinha imaginado o Sócrates vestido de Castafiore. Bela metáfora ! Já agora, o Mendes de Pintadinho de Branco (Tournesol), Soares e Alegre de Zig e Zag (Dupont e Dupond) e Sampaio de Capitão Rosa (Haddock). A "peça" podia ser levada à cena no teatro Maria Matos. Consta que o director artistico, sr Diogo Infante, é um fã da Castafiore !!! 

Se Molière fosse vivo ! - Breogan

Começo a duvidar da qualidade do articulista. Pese embora o agradável e evidente manejo da escrita. Com as suas habituais figuras de estilo. Ou as construções retóricas, incluindo uma ironia quanto baste. O que, na minha humilde perspectiva, geralmente enobrece um texto. Só que, retirado o estilo, a forma é pobre. Ficam apenas as ideias de FS. Brutus de si mesmo? Enfim, isto para refutar duas destas ideias. 1º) Vai sendo cada vez mais óbvio que Sócrates tem mais que «ideias soltas». E já conhecemos algumas. Umas mais miseráveis (nomeações de boys) que outras (plano tecno, "apuramento" do investimento público). Há também "ideias" claramente estruturantes. O exemplo maior será o da normalização de alguns sistemas sociais públicos. Hoje mesmo saiu o modelo para a reestruturação do sector energético. Para já, parece-me bom. E até, nalguns aspectos, surpreendente. Pela inovação em privilegiar o mercado. 2º) Não sei se Marques Mendes chegará, ou não, ao poder. E se o fará tão rapidamente quanto FS, pelos vistos, desejaria. Duvido é que o faça contando «com o problema de voz, de transparência e de autoridade» de Sócrates. "Problemas" que, existindo, não são mais excessivos que o costume. Já com Brutus... talvez. Até porque já não andará de punhal em riste. Consta que o terá trocado por um teclado novo...

ATÉ TU, SOBRAL? - Marx

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A Capital da BD

Expresso

Outras Terras

A capital da BD

TINTIM, Lucky Luke, Gaston Lagaffe, Boule e Bill, Spirou, Fantasio e Marsupilami, Blake e Mortimer, Bob e Bobette, Quick e Flupke, Nero, os Schtroumpfs e tantos outros heróis da banda desenhada são nados e criados na Bélgica, um pequeno país com apenas 170 anos de existência e um terço da dimensão de Portugal. Não admira pois que a Bélgica seja o país com mais desenhadores e argumentistas por metro quadrado e maior número de álbuns vendidos por ano: 40 milhões, dos quais 30 milhões são exportados.

Só Tintim e Bob e Bobette, por exemplo, já venderam cada um mais de 80 milhões de exemplares. Quando Daniel De Bruycker, poeta e ex-crítico do diário «Le Soir», afirma: «Somos o único país que se interroga sobre se existe realmente», apetece pedir-lhe que «não se preocupe» porque é essa aparente não-existência da Bélgica que lhe dá a criatividade, sentido de humor e irreverência que faltam a muitos países que se arrogam de instituições sólidas e velhas tradições e que vivem à sombra de troféus passados.

Quando o suíço Rodolphe Töpffer, professor num colégio interno, criou em 1827 a primeira série de histórias em imagens para distrair os seus alunos, estava longe de pensar-se que esta forma de expressão viria a ser considerada a nona arte e para muitos a mais universal de todas. Nem mesmo a Hergé passaria pela cabeça que as primeiras aventuras do repórter Tintim e do seu cão Milu, publicadas no «Petit Vingtième» em 1929, um suplemento infantil de um jornal diário de Bruxelas, dariam origem ao maior sucesso editorial de sempre de histórias aos quadradinhos, abrindo caminho a uma importante escola belga de banda desenhada. E se o facto de a Bélgica conviver com três línguas oficiais - francês, neerlandês e alemão - e um sistema político complexo, cria inegavelmente dificuldades de comunicação, tem a vantagem de estimular a imaginação e obrigar a formas de expressão alternativas. E a BD tem essa capacidade, única no mundo das artes, de saber superar, graças ao poder das imagens e à simplicidade dos textos, todas as barreiras: etárias, culturais, linguísticas ou geográficas.

O sucesso de tintim

 O êxito imediato de «Tintim no País dos Sovietes», levou Hergé a publicá-la em livro, um ano depois, nascendo assim o primeiro álbum de BD. Em 1938, Rob-Vel funda o jornal «Spirou», que começa por publicar autores americanos, mas a II Guerra Mundial interrompe a importação de histórias americanas e os criadores belgas entram em cena, dando origem à escola de Charleroi, caracterizada por um estilo mais humorístico e uma linguagem mais desbocada do que a escola de Hergé. Entre eles estão Jijé, que desenvolve a personagem Spirou e acrescenta Fantasio; André Franquin, que retoma estas personagens, acrescentando-lhes o Marsupilami, e que mais tarde cria o hilariante Gaston Lagaffe; Roba, o autor de Boule e Bill; Morris, que cria Lucky Luke, e Peyo, o pai dos Schtroumpfs. Do lado de Hergé, que em 1946 criou o Jornal «Tintim», inteiramente dedicado à divulgação de autores belgas, estão E.P. Jacobs (Blake e Mortimer), Paul Cuvelier (Corentin), Jacques Martin (Alix), Vandersteen (Bob e Bobette), Tibet (Ric Hochet), entre outros. Nos anos 70 surgiram novos movimentos, nomeadamente as bandas desenhadas para adultos - a revista «A Suivre» divulga muitos deles - mas nessa altura já os velhos heróis infantis tinham sido lidos e amados por várias gerações de crianças e estavam irremediavelmente entranhados no imaginário dos leitores.

Uma visita a Bruxelas tem muitos pontos de interesse, mas em nenhum caso e sob nenhum pretexto poderá ser esquecida a arte maior dos belgas - a BD - presente em todos os cantos da cidade: murais, livrarias, lojas de objectos BD e o Centro Belga da Banda Desenhada, ponto de partida ideal para iniciar o roteiro. Este museu abriu ao público em 1989, nos antigos armazéns Waucquez, uma casa «Arte Nova» desenhada por Victor Horta e salva «in extremis» da demolição e transformação em parque de estacionamento. O edifício foi fielmente restaurado e hoje integra a maior bedeteca do mundo, o museu do imaginário, que conta com 650 autores, o espaço Saint-Roch, onde são mostradas pranchas originais (o museu possui cerca de 1500), exposições permanentes e temporárias (está a decorrer uma retrospectiva da obra de Roba, o autor de Boule e Bill) e ainda uma videoteca, a livraria Slumberland e o restaurante Victor Horta.

Os murais foram uma ideia de um grupo de autores de BD, que no início dos anos 90 decidiram pintar uma série de empenas e fachadas de edifícios em mau estado, a fim de chamar a atenção do público para o estado de degradação do património arquitectónico da cidade. Desde então, este movimento não parou de crescer e hoje existe já um percurso oficial da banda desenhada. No centro, na zona da Grand Place, é possível observar alguns destes murais, que reproduzem cenas conhecidas da BD belga: Lucky Luke, Rue de la Buanderie, Quick e Flupke, Rue Haute, Victor Sackville, Le Passage e Broussaille, Rue du Marché au Charbon, são alguns exemplos. Quanto às livrarias especializadas, o problema é escolher; há-as de todas as tendências e para todas as bolsas. Como diria o capitão Haddock, o companheiro de Tintim, «Com mil milhões de macacos!!!»

Informações:

Centro Belga da BD

Rue des Sables, 20 - Tel. 2191980

Percurso da Banda Desenhada

Mapa e informações no TIB

(Turismo de Bruxelas) - Tel. 5138940

Festival do Desenho Animado

Passage 44 - De 29/02 a 11/03 de 2000

Livrarias especializadas

La Bande des Six Nez, a maior e a mais reputada de Bruxelas.

BD's novas e em segunda mão. Chaussée de Wavre, 179 http://www.labandedessixnez.com

Brüsel, bd. Anspach, 100

Sans Titre, Av. de Stalingrad, 8

Ziggourat, Rue Dejoncker, 34

The Skull, Chaussée Waterloo, 336

ISABEL MARGARIDA DE SOUSA, Expresso, 11/12/1999


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Quim e Filipe - Quick & Flupke

As travessuras de Quick et Flupke  iniciaram-se no «Le Petit Vingtième» em 23 de Janeiro de 1930.

Os protagonistas são dois garotos das ruas de Bruxelas, que adoram inventar toda a espécie de engenhocas.

Contudo, as suas travessuras só lhes criam problemas, metendo-se em grandes sarilhos com os seus pais e com as autoridades, particularmente com o agente nº 15.

As histórias são apresentadas numa prancha, inicialmente a preto e branco, mas após a Segunda Guerra Mundial foram coloridas e compiladas em álbuns. Os dois primeiros foram editados em Janeiro de 1949 e o 11º em Janeiro de 1969. 

Mais tarde, entre 1975 e 1982, foi feita uma nova edição das mesmas histórias, «Les exploits de Quick et Flupke», agora em seis volumes. 

Em 1984, a série foi adaptada ao cinema de animação, com 260 filmes de um minuto cada. 

Paralelamente, os álbuns foram retocados por Johan de Moor. A colecção foi publicada pela Casterman, em 12 volumes, entre 1985 e 1991.

A Difusão Verbo editou, entre 1982 e 1987, uma colecção de 12 álbuns com as aventuras já retocadas por Johan de Moor, baptizando-os de Quim e Filipe. As Aventuras de Quim e Filipe foram reeditadas no ano 2000.

Também o boletim «Correio Juvenil» da Verbo publicou nos anos 80 e 90 as histórias dos heróis, tendo o calendário de 1986 lhes sido dedicado.

(https://tintinofilo.weebly.com/as-revistas1.html)

Tropelias de Trovão e do Relâmpago - Diabrete (1941/1942)

Aventuras e desventuras de Quim e Filipe (1982-1987)



(duas capas onde nas paredes estão imagens de Tintim e Milou)

https://arquivo.pt/wayback/20090427133802/http://br.geocities.com/bdnostagia/Quick_Flupke.htm

ROL DE LIVROS: detalhe da recensão

Aventuras e desventuras de Quim e Filipe. 11

de Hergé

recenseador: Guilherme Castilho (Gulbenkian)


Rol de Livros é o nome pelo qual se designa o vasto conjunto de recensões críticas sobre o que de mais relevante entre nós se edita desde os anos 60 do passado século, quer se trate de originais portugueses, quer de traduções. Actualizada mensalmente, esta rubrica inclui apreciações feitas por quarenta e seis personalidades, cujos nomes poderá encontrar no campo Autor Recenseador, na pesquisa.

Ao efectuar a sua pesquisa, encontrará duas espécies de fichas na base de dados: no formato original; ou em texto digitalizado. Este procedimento resulta da preocupação sentida pela Fundação Calouste Gulbenkian em preservar a autenticidade de cada conteúdo, tendo sido digitalizadas somente as fichas susceptíveis de serem revistas pelos respectivos autores.

https://arquivo.pt/wayback/20070612133123/http://www.leitura.gulbenkian.pt/index.php?area=rol

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Quem é quem. As personagens de Tintim da política portuguesa


Do extrovertido Serafim Lampião/Marcelo ao mordomo Nestor/Durão.

Portas diz-se Oliveira da Figueira. Mas a vida pública portuguesa tem outras pesonagens do Tintim.

Marinho e Pinto / Capitão Haddock

É o mais bruto dos políticos no activo, à imagem do capitão Haddock. Embora ninguém o tenha ouvido dizer “com mil milhões de mil macacos” nem chamar a nenhum adversário “ectoplasma”, andou lá perto. Haddock é corajoso (Marinho e Pinto também), mas contraditório (idem). Não vive no castelo de Moulinsart, mas não larga o conforto de Bruxelas. 

Passos Coelho e Paulo Portas / Dupont e Dupond 

Passos Coelho é primeiro-ministro e é o gémeo liderante da coligação. Durante muito tempo, principalmente nos primeiros dois anos e até à crise da demissão irrevogável de Portas, PSD e CDS distiguiram-se notoriamente, com o CDS a pedir crescimento e Vítor Gaspar a enfurecer os centristas. Mas as coisas mudaram: hoje Passos Coelho e Paulo Portas actuam como Dupont e Dupond. E assim será até 4 de Outubro. 

Paulo Portas / Dupond

Quem conhece Paulo Portas sabe que ele não gostaria de estar no papel em que está: no Dupond, que praticamente se limita a repetir as frases já utilizadas previamente pelo gémeo Dupont. Mas foi o que se passou nos últimos dois anos e agravou-se ainda mais nos últimos tempos, desde que PSD e CDS decidiram concorrer em coligação. Se houver derrota, Portas pode deixar a posição de Dupond – até pode ser libertador... 

Cavaco Silva / Professor Tornesol

O professor Tournesol é desastrado – como Cavaco Silva sempre foi – e muitas vezes diz coisas incompreensíveis. Mas, por muitas trapalhadas em que se tenha metido ao longo de todas as aventuras de Tintim (como Cavaco durante toda a sua vida política), todos lhe reconhecem sabedoria. Na realidade, não reconhecer sabedoria a Cavaco, que está no poder há mais de 30 anos, seria um erro de análise. Mas Tournesol poderia falar do sorriso das vacas nos Açores...

Ana Gomes / Bianca Castafiore

Bianca Castafiore, “o rouxinol milanês”, tem uma legião de admiradores em todo o lado por onde passa, mas aparece muitas vezes na hora errada e diz as coisas mais inconvenientes para o establishment do momento. Ana Gomes não é uma cantora lírica, mas muitos no PS olham-na como uma mulher excessivamente interventiva, que vem estragar os momentos consensuais.

Marcelo Rebelo de Sousa / Serafim Lampião 

Serafim Lampião é o mais extrovertido das personagens das aventuras de Tintim. Está sempre em casa, em qualquer lado onde esteja, exactamente como o professor e futuro candidato a Presidente da República. Serafim Lampião não é institucional: entra no Castelo de Moulinsart como se fosse a sua casa. É vendedor de seguros e vende-os em qualquer lado. Marcelo vende outras coisas com facilidade. 

Durão Barroso / Nestor

Quem pode ser o mordomo do Castelo de Moulinsart, residência do capitão Haddock nas aventuras de Tintim? Afinal foi Durão Barroso que teve o papel de receber os grandes líderes nos Açores antes de partirem no dia seguinte para a invasão do Iraque. Foi aí que ficou conhecido como o “mordomo” das Lajes, o que lhe permitiu o salto para Bruxelas, onde na realidade quem manda é a Alemanha e Angela Merkel. 

Ricardo Salgado / Rastapopoulos

É um dos vilões das aventuras de Tintim. Rastapopulos é um milionário que se envolve em negócios pouco claros. No momento em que se prepara a venda do Novo Banco – que ainda pode vir a custar muito dinheiro aos contribuintes –, é claro que a figura da vida pública portuguesa só pode ser Ricardo Salgado, o outrora dono disto tudo, que neste momento está preso em casa vigiado pela polícia. 

Ana Sá Lopes, Jornal I, 02/09/2015

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A propósito de Oliveira da Figueira


O vice-primeiro-ministro Paulo Portas comparou-se recentemente ao personagem das aventuras de Tintin, Oliveira da Figueira, como aquele homem, simpático, capaz de vender seja o que for, mesmo as maiores inutilidades. Portas achou piada à imagem e não hesitou em apresentar-se publicamente como um exemplo do moderno Oliveira da Figueira. Acontece que o líder do CDS fez uma leitura redutora da importância da personagem portuguesa inventada por Hergé.
O vice-primeiro-ministro não pode “vender” Portugal de uma forma básica. Falta-lhe cultura para perceber o que realmente representou Oliveira da Figueira nas aventuras de Tintin e, em última análise, na vida pessoal do próprio Hergé. Se soubesse, Portas poderia ir muito mais longe. Portugal poderia ir muito mais longe.
É essa pequenez de espírito que nos reduz e faz ser cada vez mais pobres. Vamos então tentar educar os nossos atuais governantes. É que a frase é mesmo esta: educar. E a melhor forma de o fazer é mostrar factos que eles parecem ignorar, mas estão lá para quem os quiser e souber ler.
Oliveira da Figueira surgiu pela primeira vez nas aventuras de TintinOs Cigarros do Faraó”. É uma obra editada originalmente entre 8 de Dezembro de 1932 e 8 de Fevereiro de 1934. Se formos a ver, o português mais famoso nessa altura era o ditador que, em 1933, criou o Estado Novo: António de Oliveira Salazar. Chamar a um português “Oliveira da Figueira” era então um jogo de palavras com o nome de duas árvores – uma indicação também de um judeu convertido a novo-cristão – e o nome do ditador.
Aliás, anos mais tarde, quando Hergé cria a figura do ditador sul-americano Alcazar, tal soa também ao nome do ditador Salazar. Não sei ainda se Paulo Portas sabe que Portugal foi o primeiro país do mundo a traduzir para outra língua as aventuras de Tintin. Adolfo Simões Muller, que tem um busto no Jardim das Amoreiras, foi o responsável pela introdução das aventuras de Tintin em Portugal. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando o irmão de Hergé esteve preso num campo de prisioneiros, o autor de Tintin foi pago por Simões Muller com o envio de latas de sardinha para o irmão. Um segundo detalhe sobre a importância de Oliveira da Figueira e que Paulo Portas, caso tenha a coleção completa de Tintin lá em casa, pode confirmar. Na aventura “Tintin no País do Ouro Negro”, obra publicada originalmente entre 1939 e 1940, o personagem Oliveira da Figueira volta a surgir. Só que, desta vez, tem um protagonismo que vai muito mais além do simples vendedor de banha da cobra, com o qual Portas se quer hoje comparar. Nessa aventura, Tintin tem de se infiltrar na casa do Dr. Muller – mais um nome com ligação a Portugal, pois era o do editor português. Então, o repórter assume uma falsa identidade e muda o seu nome. Passa a ser um sobrinho órfão de Oliveira da Figueira, que chegou de Lisboa. E Tintin chama-se Álvaro, um nome português – será que Hergé já tinha ouvido falar de Álvaro Cunhal? Pois bem, graças à cumplicidade do comerciante português, o belga consegue resgatar o pequeno Abdallah, o filho traquina do Emir Kalish Ezab. Oliveira da Figueira desempenha assim, na aventura “No País do Ouro Negro” uma importância que supera o simples vendedor. E revela-se essencial para o triunfo do herói.
Ora, enquanto tivermos políticos que não conseguem revelar-se essenciais para o triunfo das ideias e dos valores que defendemos, ficamos reduzidos à imagem de um estereótipo. É isso que Paulo Portas quer? Eu acho que ele quer o mesmo que eu, mas a diferença é que eu conheço melhor as aventuras de Tintin do que ele.

Frederico Duarte Carvalho

Jornalista e escritor

In Oje

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Quem é quem? As personagens de Tintim da política portuguesa!

Marinho e Pinto
Capitão Haddock

É o mais bruto dos políticos no activo, à imagem do capitão Haddock. Embora ninguém o tenha ouvido dizer “com mil milhões de mil macacos” nem chamar a nenhum adversário “ectoplasma”, andou lá perto. Haddock é corajoso (Marinho e Pinto também), mas contraditório (idem). Não vive no castelo de Moulinsart, mas não larga o conforto de Bruxelas.

Cavaco Silva
Professor Tornesol 
O professor Tournesol é desastrado – como Cavaco Silva sempre foi – e muitas vezes diz coisas incompreensíveis. Mas, por muitas trapalhadas em que se tenha metido ao longo de todas as aventuras de Tintim (como Cavaco durante toda a sua vida política), todos lhe reconhecem sabedoria. Na realidade, não reconhecer sabedoria a Cavaco, que está no poder há mais de 30 anos, seria um erro de análise. Mas Tournesol poderia falar do sorriso das vacas nos Açores...

Passos Coelho/Paulo Portas
Dupont/Dupond 
Passos Coelho é primeiro-ministro e é o gémeo liderante da coligação. Durante muito tempo, principalmente nos primeiros dois anos e até à crise da demissão irrevogável de Portas, PSD e CDS distiguiram-se notoriamente, com o CDS a pedir crescimento e Vítor Gaspar a enfurecer os centristas. Mas as coisas mudaram: hoje Passos Coelho e Paulo Portas actuam como Dupont e Dupond. E assim será até 4 de Outubro. 

Paulo Portas
Dupond 
Quem conhece Paulo Portas sabe que ele não gostaria de estar no papel em que está: no Dupond, que praticamente se limita a repetir as frases já utilizadas previamente pelo gémeo Dupont. Mas foi o que se passou nos últimos dois anos e agravou-se ainda mais nos últimos tempos, desde que PSD e CDS decidiram concorrer em coligação. Se houver derrota, Portas pode deixar a posição de Dupond – até pode ser libertador... 

Durão Barroso
Nestor 
Quem pode ser o mordomo do Castelo de Moulinsart, residência do capitão Haddock nas aventuras de Tintim? Afinal foi Durão Barroso que teve o papel de receber os grandes líderes nos Açores antes de partirem no dia seguinte para a invasão do Iraque. Foi aí que ficou conhecido como o “mordomo” das Lajes, o que lhe permitiu o salto para Bruxelas, onde na realidade quem manda é a Alemanha e Angela Merkel

Ricardo Salgado
Rastapopoulos 
É um dos vilões das aventuras de Tintim. Rastapopulos é um milionário que se envolve em negócios pouco claros. No momento em que se prepara a venda do Novo Banco – que ainda pode vir a custar muito dinheiro aos contribuintes –, é claro que a figura da vida pública portuguesa só pode ser Ricardo Salgado, o outrora dono disto tudo, que neste momento está preso em casa vigiado pela polícia. 

Ana Gomes
Bianca Castafiore 
Bianca Castafiore, “o rouxinol milanês”, tem uma legião de admiradores em todo o lado por onde passa, mas aparece muitas vezes na hora errada e diz as coisas mais inconvenientes para o establishment do momento. Ana Gomes não é uma cantora lírica, mas muitos no PS olham-na como uma mulher excessivamente interventiva, que vem estragar os momentos consensuais.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Paulo Portas compara-se a personagem portuguesa de Tintim que vendia tudo

O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, comparou-se a Oliveira da Figueira, o personagem português criado por Hergé na série Tintim, que se tornou célebre por vender qualquer coisa em pleno deserto através da persuasão.


"Senti-me uma espécie de Oliveira da Figueira. Lembram-se de uma personagem do Tintim que vendia tudo nos mercados externos, tinha uma pasta e vendia uma série de produtos? Eu lembro-me do azeite português", afirmou Portas esta segunda-feira, durante a inauguração da Feira Internacional de Maputo (Facim), quando se referia, em declarações aos jornalistas, à sua assiduidade em eventos deste género.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Spirou & Tintin

Referências: Excelentes Spirou sob o fantasma de Tintin

Blake & Mortimer vive ainda, enquanto uma espécie de criatura de Frankenstein em BD, suspensa no tempo. Porque é que o mesmo não se pode dizer de Spirou & Fantasio? Porque Spirou nunca foi de ninguém. Quer dizer, o melhor Spirou é o de André Franquin, ponto. Mas a personagem sempre teve vários autores que, ao contrário daquilo que sucede no actual exercício necrófilo em torno das personagens de Jacobs, tentaram trazer coisas novas ao universo, não repetir acordes. Parece incrível, mas (alguma) liberdade criativa acaba por dar bons resultados... Não é estranho?

Os dois mais interessantes álbuns deste género que li são Le Groom vert-de-gris de Olivier Schwartz (desenho) e Yann (argumento) e sobretudo Le Journal d'un ingénu de Émile Bravo. Porquê? Porque são excelentes livros, que calharam ser em banda desenhada e protagonizados por Spirou e Fantasio. Claro que esse último facto lhes dá outro poder evocativo, o que não sucederia não fossem os heróis versões de conhecidas personagens da BD infanto-juvenil. E em ambos os casos a presença do humor físico (o bom velho "slapstick" dos filmes mudos) e a essência das personagens para além da caracterização gráfica (o sério Spirou, o trapalhão Fantasio) asseguram que o leitor não se esquece disso. Mas ambos os livros podem ser lidos por quem não conhece muito de Spirou, ou aprecia o género de BD que tende a simbolizar.

O interesse passa pelos Grandes Temas que servem aqui de mote, e pelo modo inteligente como os autores os referem de um modo realista sem perder de vista a essência da BD de aventuras juvenil que Spirou & Fantasio representa. Sem perder de vista, mas não se coibindo de a desafiar. Em Le Groom vert-de-gris o fulcro é a obscura relação entre o Colaboracionismo e a Resistência na Bélgica ocupada da Segunda Grande Guerra. Melhor: entres os vários tipos de Colaboracionismo (genuíno, interesseiro, politicamente motivado ou como arma de espionagem), e os vários tipos de Resistência, por vezes antagónicos (comunista, anti-comunista). Um tema que, após décadas de ausência, se vai tornando um pouco menos sensível na Europa, abordado criticamente na sua complexidade, e já não com o maniqueísmo que apenas reconhece heróis e traidores. Em BD podem citar-se as interessantes obras do argumentista francês Philippe Richelle (Amours Fragiles ou Opération Vent Printanier). Já no cinema há outros excelentes exemplos, como o holandês Zwartboek/O Caderno Negro (2006, o filme que "resgatou" Paul Verhoeven), o francês Un Secret (2007, de Claude Miller), ou o dinamarquês Flammen & Citronen (2008, de Ole Christian Madsen).

Em Le Journal d'un ingénu, temporalmente anterior, discutem-se as tensões pré-Guerra que levariam ao estado de coisas retratado em Le Groom vert-de-gris. Mas a obra de Émile Bravo é um livro superior na sua complexidade e subtileza, misturando a geopolítica global, política nacional, e a oposição entre o jornalismo político e o jornalismo cor-de-rosa, sem nunca perder o humor característico da série "normal". Le Journal d'un ingénu usa ainda o esquilo Spip (uma espécie de consciência-Grilo Falante da série) de um maneira muito inteligente, e com um toque de sarcasmo negro notável. Tudo surge no fluir da história, nada é forçado, e variam-se os mecanismo narrativos. As movimentações de políticos Nazis e Polacos na véspera da ocupação da Polónia e início "oficial" do conflito, ou a discussão em torno dos comunistas internacionalistas "ingénuos" e dos estalinistas "duros" são explícitas. Já a questão judaica surge indirectamente através das acções de duas personagens secundárias. E a oposição entre o partido proto-fascista Rexista  e os comunistas na Bélgica, ou a importância da Guerra Civil Espanhola, aparecem em diálogos de miúdos que jogam à bola num descampado, profeticamente arbitrados por Spirou.

Por outro lado, o que falta ainda como Grande Tema em ambas as histórias é também claro: para além do colonialismo ausente está a identidade esquizofrénica da Bélgica Multicefálica Flamengo-Valonico-Bruxelense. Pelos vistos este é uma tema ainda mais difícil de abordar....

Há também nestes livros a homenagem à influência maior que é claramente Tintin, até talvez com um rumor de orfandade. Blake & Mortimer continua, Spirou & Fantasio também, constrangimentos legais limitam até as representações-homenagens à personagem de Hergé. O que não impede que em Le Groom vert-de-gris haja inúmeras citações a livros de Tintin ou que nele surjam sorrateiramente Hergé, Tintin, Milou ou Quick & Flupke, outras personagens do autor. Ou Edgar Pierre Jacobs e a sua personagem Francis Blake. Ou inúmeras outras pessoas, personagens e referências (mal) escondidas nos cenários. Só por isso este livro é uma delícia para os aficionados da BD franco-belga, quer para os fãs da mais realista linha-clara de Hergé e Jacobs, quer para os da mais caricatural Escola de Marcinelle, que têm Spirou como referência. Este manancial de "fan-geek" só não se torna limitativo porque a história não cede no realismo que se atribuiu, embora mesmo nas cenas mais violentas, como o ataque falhado da Resistência na estação de comboios, os autores usem vários "gags" visuais, condicionando um pouco o alcance da narrativa. Por entre os Grandes Temas Schwartz e Yann nunca resistem à tentação de acrescentar mais um toque humorístico mesmo que despropositado, parecem uns miúdos.

Mais uma vez em Le Journal d'un ingénu Émile Bravo tinha trunfado o tema da homenagem com a sua subtil "transformação" de Spirou em "Tintin". Uma transformação momentânea, como que a respeitar os limites das personagens e o fulcro da história. Porque há de facto limites que Le Groom vert-de-gris de certo modo transgride ao representar Spirou e Fantasio como claros intervenientes directos que escolheram um lado até às últimas consequências. E, numa boa solução do argumento, cada um ignora as convicções do outro. No anterior Le Journal d'un ingénu os protagonistas ainda não perceberam que há lados e que é crucial escolher um, sabe-lo-ão no final. Até lá mantêm a ingenuidade, a vida dentro de uma redoma que seria a da maioria dos seus concidadãos da época, preocupados com o pessoal, alheados do mundo. Esta é de resto a atitude mais comum na BD/literatura/cinema infanto-juvenil (e não só) de aventuras (e não só), que tende a isolar uma crise/variável, mantendo o resto constante e inquestionado. Usando referências de um género de banda desenhada (sem violência explícita, ou psicologias baratas) Bravo usa-as para contar uma excelente história que o transcende, mas não se coíbe de discorrer sobre as suas limitações. A par das séries de arqueologia mitológica anglo-saxónica como League of Extraordinary Gentlemen de Alan Moore e Kevin O'Neil e sobretudo Planetary de Warren Ellis e John Cassaday esta é uma das mais impressionantes Meta-BDs que tive oportunidade de ler, precisamente porque, ao contrário de outras tentativas (as de Trondheim, por exemplo) não tenta constantemente provar o quão arguto é o autor.

Na aparência Le Groom vert-de-gris parece mais revolucionário, precisamente porque desafia as espectativas do género; apesar do humor inusitado e das citações constantes define-se como um livro "adulto". Ao manter-se dentro das fronteiras Le Journal d'un ingénu encontrou o melhor modo de as tornar irrelevantes.

Spirou et Fantasio: Le Journal d'un ingénu por Émile Bravo. Dupuis, 2008 (19/20).


Spirou et Fantasio: Le Groom vert-de-gris por Olivier Schwartz (desenho) e Yann (argumento). Dupuis, 2010 (17/20).

João Ramalho-Santos, Jornal de Letras, 06/07/2011

Ler mais: http://aeiou.visao.pt/referencias-excelentes-spirou-sob-o-fantasma-de-tintin=f611336#ixzz1X7ThGoge

LE GROOM...

Spirou é um dos heróis mais famosos da banda desenhada belga. Apesar de ter sido criado por Rob-Vel, o seu grande desenhador foi, sem dúvida, Franquin, que lhe deu consistência e uma dimensão acima da média. Depois de muitos outros autores, os quais foram conduzindo Spirou a patamares inferiores, surgiu agora uma nova aventura, Le Groom Vert-de-Gris da autoria de Schwartz (desenhos) e Yann (argumento). Uma nova e imensa lufada de ar fesco surge neste livro, passado em Bruxelas no tempo da ocupação nazi.

Para além da trama e dos excelentes desenhos, esta dupla de autores resolveu prestar homenagem a alguns monstros sagrados da BD belga.

De entres os vários homenageados destaco o incontornável Hergé, o mestre.

Vejamos alguns exemplos:

Quick e Flupke, les gamins de Bruxelles


Le Jeu de Balle, le marché aux puces, a feira da ladra bruxelense, onde podemos ver Hergé tomando notas e, logo atrás, Aristides Filoselle tentando dar uso à sua arte.

Finalmente podemos ver Raymond Leblanc, grande responsável pela criação do Journal Tintin, quando estava preso pelos nazis e demonstrava, já, a sua paixão pelas Aventuras de Tintin!

Uma excelente história, um bom exercício de memórias, uma homenagem merecida a todos aqueles para quem um álbum de banda desenhada, é muito mais que apenas um livro!

Publicada por Pan, 03/07/2009


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Papá provoca Caos na Gulbenkian!


Segundo o jornal Público o director actual do Próximo Futuro, António Pinto Ribeiro, irá demitir-se da Gulbenkian e é dado como exemplos do “autoritarismo” a ordem para que não se vendesse na livraria da fundação o álbum de "BD Papá em África", do sul-africano Anton Kannemeyer (cidade do Cabo, 1967), um dos autores que a Gulbenkian recebe a 15 de Maio, num debate promovido pelo Próximo Futuro. 

O livro, que o crítico do PÚBLICO José Marmeleira classifica como ácido e feroz em histórias e imagens, começa por parecer um pastiche de Tintin no Congo, de Hergé, mas acaba por se revelar, através de uma sátira mordaz ao autor belga que aqui é representado envelhecido a abater animais e até um africano negro, uma crítica violenta ao colonialismo e à sociedade afrikaner em que o próprio Kannemeyer cresceu. 

Elisabete Caramelo, directora de comunicação da fundação, confirmou ao início da tarde que Pinto Ribeiro pediu a desvinculação da fundação, o que foi aceite pela Administração. Quanto ao livro, garantiu que já está à venda e que foi apenas “retirado temporariamente para que se pudesse identificar que se trata de uma Banda Desenhada para adultos”.

Ao final da manhã de hoje, confirmou o PÚBLICO por telefone junto de um funcionário da livraria/loja, o álbum editado em Portugal pela Chile [sic] com Carne.

https://bedeteca.wordpress.com/2015/04/24/copypaste-papa-provoca-caos-na-gulbenkian/

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Um documento com 73 anos redefine quem tem a custódia de Tintin

Afinal, os direitos de Tintin não têm como única morada Moulinsart, a localidade e castelo ficcionais da série de BD que é também o nome da sociedade belga que gere o legado de Hergé. Uma pequena associação de fãs holandesa conseguiu uma vitória judicial baseada na revelação um documento assinado por Hergé que pode redefinir a custódia de Tintin.
As aventuras do jornalista criado pelo belga Hergé e que tem como famoso amigo o Capitão Haddock, dono do castelo de Moulinsart, são um império valioso que até aqui é gerido pela sociedade Moulinsart SA, que se dedica à gestão dos direitos de publicação e exploração da “marca Tintin”. A Fundação Hergé, criada em 1987 pela viúva do desenhador, é por seu turno uma organização sem fins lucrativos e gere o museu dedicado à personagem e seu universo em Bruxelas.
Ora em 2012, a Moulinsart processou a Association Hergé Genootschap, um clube de fãs do autor belga que publica uma revista/fanzine trimestral que não é vendida, a Duizend Boomen (em holandês, mil árvores) em que reproduz algumas tiras de Tintin, argumentando que a associação não tem direitos sobre a obra. Esses direitos de reprodução e uso custariam à associação de fãs belga cerca de um milhão de euros. Mas o caso chegou este fim-de-semana a um desfecho que muitos admitem ser inesperado – o tribunal de recurso de Haia não só deu razão à associação como abriu um precedente quanto à possibilidade de a Moulinsart cobrar pela reprodução e uso de excertos de tiras de Tintin.
Isto porque o advogado da associação holandesa apresentou em tribunal um documento assinado por Hergé – o seu verdadeiro nome era Georges Remi (1907–1983) – em que este entregava todos direitos de Tintin (publicado entre 1929 – 1976) à editora Casterman. O documento em causa data de 1942, foi entregue por um perito na obra que quis manter-se anónimo e, aceite em tribunal (a sua validade não foi contestada por qualquer uma das partes nem pela família do desenhador belga), estabelece que a Moulinsart não tem poder absoluto sobre Tintin.
“Parece que a Moulinsart não é aquela que decida quem pode usar material dos livros”, lê-se na decisão do tribunal, citada pela AFP. “A grande questão é agora saber se outros [clubes de fãs] têm de continuar a pagar à Moulinsart” quando usam material dos livros de Tintin, comentou o presidente da associação belga que saiu vencedora deste caso, Stijn Verbeek. O El País abre também a porta à possibilidade de outras publicações que usaram excertos de livros de Tintin e que pagaram por elas poderem exigir agora o seu dinheiro de volta.
"A decisão holandesa é surpreendente”, disse ao diário francês Le Figaro Didier Pasamonik, chefe de redacção do site especializado em BD ActuaBD, que detalha que no passado houve tensões e discussões mais acaloradas entre a Casterman e a Moulinsart sobre o assunto mas sempre vencidas pela Moulinsart.
“Estou incrédulo”, diz por seu turno ao mesmo diário Numa Sadoul, autor do livro Tintin et moi. Entretiens avec Hergé (1975). “Isto significa que agora é Casterman que irá gerir os direitos de Tintin. Isso vai mudar completamente o jogo e melhorar significativamente as relações dos jornais, fanzines e editoras com Tintin.”
Didier Pasamonik chama a atenção para a especificidade da lei holandesa neste caso. “O que é interessante neste momento é que o tribunal em Haia oferece uma nova interpretação da relação entre a Casterman e a Moulinsart, uma leitura dissonante do que havia sido feito pelos tribunais belgas. No que se refere esta decisão, é sobre citações de imagens de Hergé numa revista de fãs. Em França, o direito de citar uma imagem não existe. No entanto, na Holanda, há”, explica o perito, que considera mesmo que se levanta uma questão mais ampla: “que tal uma harmonização europeia?”  

A opinião geral parece ser de que é necessária ainda alguma cautela perante a decisão até se perceber o seu verdadeiro impacto. Nem a Casterman nem a Moulinsart comentaram ainda publicamente a decisão. 

João Amaral Cardoso em Público.pt

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Avião do Tintim retido em Lisboa devido a colisão com manga de embarque

F

O A320 'Rackham', decorado e baptizado em homenagem à criação do belga Hergé, foi obrigado a passar uma noite na Portela, o aeroporto de Lisboa. Não são conhecidas as causas do acidente, que não provocou feridos.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dodo Nita em Portugal

O tintinólogo romeno Dodo Nita, autor da monografia Tintin en Roumanie, vai estar em Portugal, mais propriamente, no XI Festival Internacional de BD de Beja. Será uma conversa com Pedro Mota no sábado, 30 de Maio, na Casa da Cultura de Beja. À tarde, no memo local, estará Stanislas, o desenhador da biografia desenhada de Hergé, publicada em Portugal pela Mundo Fantasma com o título As aventuras de Hergé.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tamtam 1999

 


 O trocadilho funciona pelo menos em três idiomas:

· O olho negro

· L'œil noir

· The black eye land



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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Estações da vida


Comecei a lê-los bem antes dos sete anos e, se ainda for vivo, espero continuar a leitura depois dos setenta e sete. O meu primeiro contacto com o Tintin/Tintim foi através do DN que editava todas as semanas uma secção de BD. Já agora, seria uma ideia feliz o DN publicar em livro esse trabalho pioneiro na divulgação da banda desenhada belga e portuguesa. 


Para mim, as "Jóias da Castafiore" é o melhor livro do Tintin. Claro que o "primeiro amor" nos marca sempre e o primeiro livro que li chamava-se o "Tesouro de Rackham, o Vermelho".

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Uma história das arábias

Quando o mês de Setembro de 1939 está a chegar ao fim, a última aventura da série Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão é bruscamente interrompida a meio. A decisão é do próprio Hergé, que pode consagrar todo o seu tempo e energia a Tintim. No dia 25 de Setembro daquele ano começa uma nova aventura do seu herói nas páginas do "Le Petit Vingtième". Esta história, anos mais tarde intitulada "Tintim no País do Ouro Negro", é hoje distribuída com o PÚBLICO.

Nessa fase final do ano, a iminência da guerra total pesa no quotidiano de todos os europeus. Como os demais concidadãos, o criador de Tintim é mobilizado e parte para um quartel na cidade de Turnhout, no Norte da Bélgica. Para assegurar a continuação da banda desenhada nas páginas do jornal, Hergé organiza-se para fazer chegar todas as semanas à redacção as duas pranchas da história.

Misteriosas explosões estão no centro das atenções dos irmãos Dupond(t), chamados a esclarecer o enigma. Para Tintim, porém, são os inquietantes ecos da actualidade - "A situação é grave", "Teremos guerra?", "Chamada de reservistas", lê no jornal - que o preocupam e lhe chamam a atenção. Poucas vezes a consonância entre realidade e ficção foi tão precisa.

Nos primeiros dias de Abril de 1940, as tropas alemãs invadem a Dinamarca e a Noruega. Hergé consegue a sua desmobilização por razões de saúde. No meio de tanta instabilidade (à cautela, o jornal enviou a todos os colaboradores um pré-aviso de despedimento e o próprio Hergé está tecnicamente desempregado desde Fevereiro), a aventura de Tintim continua a ser publicada há quase oito meses. Em pleno deserto, o herói volta a enfrentar o doutor Müller, mas encontra-se em maus lençóis: o malfeitor derrubou-o e prepara-se para o atingir à queima-roupa quando...

Os leitores não chegarão a saber como é que Tintim sai daquele aperto, pois o jornal "Vingtième Siècle" cessa abruptamente a publicação em 10 de Maio de 1940. Desta vez, não há qualquer golpe de teatro imposto pelo ficcionista, mas a imposição brutal de uma realidade: as tropas de Hitler invadem a Holanda, a Bélgica e a França, lançando estes países no caos. Dois dias mais tarde Hergé apresenta-se às autoridades militares, mas é dado como inapto e volta para casa. Não ficará desempregado muito tempo, pois começa a trabalhar poucos meses depois no jornal colaboracionista "Le Soir", de Bruxelas.

Para voltar a ter notícias de "Tintim no País do Ouro Negro" e saber como o herói sai da situação, é necessário dar um salto no tempo de alguns anos, para nos determos no final do Verão de 1948. Ao regressar de férias, marcadas por mais uma das suas recorrentes crises pessoais, Hergé traz uma insuspeita energia para o trabalho. No Outono, retoma aquela aventura na revista "Tintin" (edição belga), saindo exactamente com o mesmo formato com que será depois publicada em álbum.

Ao longo dos anos, a galeria de personagens tinha sido enriquecida e Hergé não o podia ignorar. É o caso, nomeadamente, de Haddock, cuja ausência terá de ser explicada aos leitores. A solução é eficaz, pois o capitão é mobilizado nas primeiras pranchas e só volta a surgir quase no fim da aventura com os salvadores de Tintim, que estava em mais uma situação de aperto. O artista reordena algumas das sequências da história, faz entrar em cena Girassol e o castelo de Moulinsart, e reintroduz o inefável comerciante português Oliveira da Figueira. Mas as estrelas convidadas são o emir Ben Kalish e o seu irrequieto filho Abdallah, graças aos quais Hergé injecta na narrativa uma deliciosa série de "gags" que põem os nervos em franja a toda a gente.

https://arquivo.pt/wayback/20050701161921/http://www.bedeteca.com/index.php?pageID=recortes&recortesID=1170

Uma história das arábias

Carlos Pessoa, Público, 23 de Janeiro de 2004

Copyright: © 2004 Público; Carlos Pessoa

© 2002 Bedeteca de Lisboa  

sexta-feira, 20 de março de 2015

Avião que homenageia Tintin aterra em Lisboa


Aterrou hoje, em Lisboa, o novo avião da Brussels Airlines que faz homenagem ao herói de Banda Desenhada Tintin. A companhia tem três aviões pintados com os tesouros belgas. Os outros dois representam a selecção do país e um festival de música.




sábado, 14 de março de 2015

As imprecações do Capitão Haddock

É frequente os mais carismáticos heróis da Banda Desenhada terem um parceiro, um inseparável amigo e companheiro de aventuras, que serve quase sempre de seu contraponto, distinguindo-se por possuir outros dons e outras características (que também caem no goto dos leitores), mostrando uma faceta mais humana, com defeitos e virtudes — o que contribui para elevar o padrão das suas aventuras, sem prejuízo do estatuto mítico do herói principal. Isto tanto nas séries realistas como nas humorísticas…
Nesta peculiar categoria de personagens secundárias que rapidamente ascendem também ao “estrelato”, vem-nos de imediato à memória a incontornável figura do Capitão Haddock, talvez o mais famoso de todos os comparsas que enriqueceram criações emblemáticas, onde a aliança entre duas personagens, mesmo que diametralmente opostas, pede meças aos heróis solitários… embora já sejam poucos os que seguem por este caminho.
Tintin conheceu-o na aventura “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”, em que Haddock fazia o papel de um marinheiro alcoólico e embrutecido, com frequentes acessos de cólera, alucinações e perdas de memória, mas que graças à amizade com o jovem aventureiro conseguiu regenerar-se, passando a ter hábitos mais moderados. Excepto quanto à linguagem… que, pelo contrário, se tornou ainda mais irascível, recheada de extravagantes expressões oriundas de um copioso “jargão” que o velho marinheiro se compraz em refinar, somando-lhe novas injúrias, como uma espécie de glossário que não se cansa de rever e enriquecer.
Mais tarde, ao desvendar o segredo da “Licorne”, Haddock herdou um nome aristocrático e um sumptuoso palacete em Moulinsart, onde habita, em boa paz e harmonia, juntamente com Tintin, o professor Tournesol e o mordomo Nestor… mas nem por isso aprendeu a refrear os seus excessos de linguagem.
Aqui têm mais um hilariante exemplo (à boa maneira de Hergé) dessas intempestivas manifestações de mau humor — quase sempre provocadas por peripécias que bulem com os seus sentimentos e a sua noção de justiça, mas também, sob o efeito do álcool, com o seu vício e o seu feitio brigão —, extraído igualmente do episódio “O Caranguejo das Tenazes de Ouro” (Le crabe aux pinces d’or), que é um autêntico festival de impropérios!
Ninguém consegue ter como Haddock, na ponta da língua, um vocabulário tão truculento, tão vivo, tão espontâneo, de tão grande riqueza e variedade verbal, lembrando uma torrente que jorra de um geiser fumegante ou uma cascata que rola fragorosamente por uma encosta, abafando todos os outros ruídos. Sobretudo quando ele usa um megafone, como na cena seguinte, a todos os títulos memorável, de Coke en stock.

Esta página foi publicada no Cavaleiro Andante nº 405, de 3/10/1959, revista onde Haddock ficou conhecido como Capitão Rosa, nome que o Diabrete tinha sido o primeiro a consagrar entre os leitores portugueses.


Jorge Magalhães in Blogue O Gato Afarrabista

terça-feira, 10 de março de 2015

Hergé em versão animada

A vida e obra do criador de Tintin, Georges Rémi (1907-1983), mais conhecido como Hergé, vão ser tema de uma série animada que deverá estrear dentro de dois anos.
A concepção está entregue ao estúdio de animação francês Normaal, já responsável pelas recentes versões em desenhos animados de Gaston Lagaffe e de Snoopy.

Segundo Alexis Lavillat, um dos responsáveis do estúdio, foi estabelecido um acordo com a sociedade Moulinsart SA, que gere os direitos da obra de Hergé, para a realização de uma obra de ficção, que abordará não apenas a vida do desenhador belga mas também as suas principais criações em banda desenhada. Assim, para além de Tintin, poderão também ser recordados Quick et Flupke (Quim e Filipe na versão portuguesa) ou Jo, Zette et Jocko (Joana, João e o macaco Simão).

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Fevereiro de 2015)

Pedro Cleto em As Leituras do Pedro

segunda-feira, 9 de março de 2015

Cartaz da exposição sobre Vasco Granja


A exposição Vasco Granja e o Cinema de Animação, patrocinada pela Fundação D. Luís I, patente no Centro Cultural de Cascais até ao próximo dia 19 de Abril tem no panfleto de promoção as personagens Tintin e Milou.

domingo, 8 de março de 2015

Capa original de 1938 de Tintim vendida por 453 mil euros

No segundo leilão que a Sotheby's dedica à banda desenhada bateram-se uma dúzia de recordes mundiais.

A prancha original de uma capa de 1938 da revista Le petit Vintième que tinha como protagonista Tintin, criado por Hergé, foi vendida neste sábado em Paris por 453 mil euros, anunciou a leiloeira Sotheby's.
A capa, que comemorava o 10.º aniversário da revista, e em que aparecia Tintin, bem como Milou, Quick, Flupke, Jo, Zette e Jocko, assim como um auto-retrato do próprio Hergé, estava num lote dos 288 que estiveram a leilão, referiu um porta-voz da Sotheby's citado pela agência EFE. O preço final ficou abaixo da estimativa inicial, que era, no máximo, de 480 mil euros.
No total, o conjunto desses lotes de banda desenhada — entre os quais havia muitos outros autores consagrados, como Enki Bilal, Moebius, Hugo Pratt ou Albert Uderzo — foi vendido por um total de 3,8 milhões de euros.
O segundo lote mais caro foi outra obra de Hergé, em concreto uma prancha do seu período preto e branco, em 1939, do álbum intitulado Le Sceptre d'Ottokar, adquirida por 327 mil euros, acima da estimativa de 270 mil euros.
Em terceiro ficou a capa de Corto MalteseLes Celtiques, publicada por Hugo Pratt em 1980, e que as várias ordens de compra fizeram subir o preço até aos 315 mil euros, quando os especialistas tinham calculado um preço de 240 mil euros.
Outra das estrelas da sessão foi uma página original desenhada por Albert Uderzo para Asterix, la grande traversée, publicada em 1975, que se vendeu por 243 mil euros, disparando muito acima dos 155 mil euros estimados.
A Sotheby's destacou que neste leilão, o segundo de banda desenhada organizada pela leiloeira em Paris — a primeira foi em Julho de 2012 —, bateram-se cerca de uma dúzia de recordes mundiais.

O mais elevado desses recordes foi uma prancha original de Winsor McCay de 1907 da sua série Little Nemo, adjudicada por 50 mil euros.